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Por Que Cavalos São Mencionados no Livro de Mórmon?

Ao Enos descrever a vida Nefita em seus dias (cerca de 5 séculos antes de Cristo), ele afirma que eles criaram “muitos cavalos” (Enos 1:21). A menção a cavalos em meio à animais domesticados pelos povos do Livro de Mórmon tem levantado questões nas mentes de algumas pessoas, devido à perspectiva predominante de que cavalos não foram encontrados nas Américas durante tempos anteriores à chegada de Colombo. Cavalos são mencionados apenas em alguma ocasiões no Livro de Mórmon (a última menção acontece em torno da época de Cristo):

Cavalos são mencionados uma vez, na contagem de Morôni do registro de Éter, como um dos animais que eram “úteis para o homem” entre Jareditas durante o Reino de Êmer (Éter 9:19).

* Néfi menciona cavalos selvagens entre os animais encontrados ao chagarem à Terra Prometida (1 Néfi 18:25).
* Enos afirma que em sua época, os Nefitas criaram “muitos cavalos” (Enos 1:21), mas como e porque eles eram usados não é mencionado.
* O Rei Lamôni possuía cavalos, o qual Amon e oitros servos prepararam para uma procissão real (Alma 18:9-10, 12; 20:6)
* Cavalos estavam inclusos no gado e provisões que os Nefitas levaram quando deixaram Zaraenla por sete anos para um local mais seguro, como uma tática defensiva contra os Ladrões de Gadiânton (3 Néfi 3:22; 4:4; 6:1) [1]

Nestas poucas referências, nenhum texto jamais afirma que cavalos eram usados para cavalgar ou em batalhas. Eles são em alguns casos mencionados com carruagens, mas jamais são descritos no ato de as carregarem. É difícil determinar exatamente que tipo de papel eles tiveram na vida diária dos povos do Livro de Mórmon, além da afirmação de que eles eram “úteis.”

Em 3 Néfi 4:4, cavalos são mencionados como parte das provisões que “haviam reservado para si…  a fim de poderem subsistir durante sete anos.”  A palavra “subsistir” pode implicar que cavalos naquele tempo de desespero podem ter sido utilizados como alimento. Felizmente, os Nefitas tiveram sucesso em sua estratégia defensiva e eventualmente foram capazes de retornar para suas próprias terras, “cada homem com a sua família, os seus rebanhos e as suas manadas, os seus cavalos e o seu gado, e todas as coisas que lhes pertenciam” (3 Néfi 6:1). Estes limitados detalhes parecem permitir a observação de Brant Gardner, “O ‘cavalo’ do Livro de Mórmon jamais cumpre as funções que esperamos de um cavalo.” [2]

Leitores podem interpretar a presença de cavalos no Livro de Mórmon de maneiras variadas.

1. Cavalos no registro Arqueológico

ossos de cavaloTalvez a abordagem mais direta consiste em presumir que cavalos, que posteriormente tornaram-se extintos, estavam presentes na área em que Nefitas e Lamanitas viveram. Não é incomum documentos de fontes primárias mencionarem coisas que arqueólogos não podem provar. De fato, é de se esperar que documentos autênticos nos darão novas informações a respeito do passado. [3]

Algumas evidências podem indicar a presença de cavalos na América em tempos Pré-Columbianos. O Dr. Wade Miller, um geólogo e paleontólogo internacionalmente respeitado, utilizou teste de Carbono-14 em várias amostras de cavalos encontradas em sítios arqueológicos por toda a América. Resultados preliminares tem retornado datas que variam entre 6000 A.C a 1400 D.C. [4] Daniel Johnson coletou e resumiu as evidências para cavalos na América antiga. Seus dados analizam as datações anômalas dos ossos de cavalos, obras de arte, e a variedade e distribuição de cavalos em tempos imediatamente posteriores à chegada de Colombo. [5]

2. Néfi poderia ter se apropriado da palavra “cavalo”

Outra abordagem para essa questão sugere que a palavra “cavalo” no Livro de Mórmon está sendo utilizada para se referir à um animal diferente. Por toda a história, quando imigrantes e viajantes encontraram espécies novas o qual não lhes eram familiares, eles frequentemente aplicaram rótulos de seus próprios idiomas em espécies que originalmente se referiam a animais diferentes. [6] Em muitos casos, o termo apropriado se tornou o nome comum.cervo

Por exemplo, os Gregos criaram o nome hipopótamo, que literalmente significa “cavalo de rio.” [7] O bisão Americano ainda é coloquialmente chamado de búfallo—o qual tecnicamente se refere a uma espécie diferente—uma prática que começou com os caçadores franceses que inicialmente exploraram o Oeste Americano. Os termos “alce” e “robin” também foram aplicados em animais Americanos por Europeus, apesar do fato de eles serem usados em referência à espécies totalmente diferentes no Velho Mundo.

Relevante ao tópico de cavalos no Livro de Mórmon é a confusão linguística que cavalos causaram quando os Espanhóis chegaram. Diferentes grupos Maias e Astecas aplicaram seus rótulos de “cervos” ou “antas” para os cavalos Espanóis, na ausência de uma palavra melhor. [8] Talvez as pessoas do Livro de Mórmon fizeram a mesma conexão de maneira reversa, aplicando seus termos do Velho Mundo para “cavalo” a outras espécies.

3. “Cavalo” Poderia Ser o Resultado de Traduções

tradução joseph smithÉ também possível que “cavalo” seja um “anacronismo proveniente de tradução.” Brant Gardner explica, “Não precisamos olhar além da versão do Rei Tiago da Bíblia para exemplos de anacronismo que acontecem apenas no processo de tradução e não no texto que está sendo traduzido.” Um exemplo proeminente é a menção de velas, os quais não foram inventadas em tempos bíblicos, apesar do termo ser usado em referência à lâmpadas de óleo. “Portanto, a palavra vela é um anacronismo, mas apenas na tradução.” [9]

Sem o texto original, é impossível certificar se “cavalo” se trata de uma espécie de empréstimo realizado pelos Nefitas ou um anacronismo causado por tradução, mas em ambos os casos a palavra “cavalo” não se referiria ao que leitores de nossos dias talvez presumam ou esperem. Todo indivíduo deve estar ciente de tais possibilidades ao lerem referências a cavalos e outras plantas e animais não comumente interpretados como estando presentes nas Américas durantes os tempos do Livro de Mórmon.

O Porquê

A razão de cavalos serem mencionados no Livro de Mórmon não é declarada. Como eles eram usados, quando e por quem, também não é dito. Certamente, a necessidade de afirmar que eles eram úteis em algumas ocasiões parece implicar algo notável ou incomum, ou de outra maneira o ponto não precisaria ser mencionado. De fato, em muitas culturas e muitas topografias, cavalos não são úteis, sendo difíceis de domar e caros em manter.

Enquanto não há uma resposta definitiva em relação ao porquê de cavalos serem mencionados no Livro de Mórmon, cada uma dessas opções criam espaço para explorações, reflexões, compreensão e especialmente fé adicional. Cada explicação possível também ensina importantes lições sobre arqueologia, escritos antigos, e traduções que precisam ser consideradas quando analizamos informações, pontos, questões e curiosidade a cerca do Livro de Mórmon.

1. Seja paciente com o registro arqueológico

wheeled-effigyPrimeiro, é melhor sermos pacientes com o registro arqueológico. Há ainda muito trabalho para ser feito, e muito para ser compreendido sobre a América Pré-Colombiana. A imensa maioria das ruínas da Mesoamérica permanece intocadas sob a selva, [10] e outras áreas na América tem recebido ainda menos atenção. Além disso, a preservação de ossos de animais é precária em selvas úmidas da Mesoamérica. [11] Considerando que o texto do Livro de Mórmon raramente menciona cavalos, a probabilidade de encontrarmos ossos ou otros restos de cavalos se torna ainda mais remota.

Ainda assim, muitos itens mencionados no Livro de Mórmon que no passado foram considerados anacronismos tem sido devidamente verificados. [12] É por essa razão que John E. Clark, um proeminente arqueólogo SUD declarou: “o Livro de Mórmon parece ficar melhor com a idade.” [13] Tais descobertas devem instar precaução sobre a tentação de fazer julgamentos finais baseados na ausência de evidência.

2. Os povos do Livro de Mórmon, de maneira não surpreendente, agiram como pessoas reaislib-500

Segundo, devemos esperar que os povos do Livro de Mórmon ajam e se comportem exatamente da forma com que pessoas reais tem se comportado no decorrer da história. É provável que, ao chegarem, Néfi tinha o mesmo problema que muitos outros possuíram na história, ao encontrarem novas espécies na Terra Prometida. Portanto, o antropólogo e estudioso Mórmon John L. Sorenson explicou, “Os Leítas teriam seguido [práticas comuns de nomeação] … ao adaptarem sua nomenclatura hebraica para aplicar à nova fáuna que haviam encontrado.” [14]


3. Uma tradução divina deve ser uma tradução real

livro de mormonFinalmente, até mesmo uma tradução divina deve ser tratada como uma tradução real, com todos as complicações que provém da transmissão de um texto para um novo idioma. Tendo estudado cuidadosamente a tradução do Livro de Mórmon, Brant A. Gardner oferece esse importante aviso: “o próprio fato de termos o Livro de Mórmon em tradução requer que olhemos anacronismo no texto de maneira cuidadosa. … Na maioria dos casos, é razoável pensar que estamos visualizando um anacronismo de tradução ao invés de um anacronismo histórico.” [15] Em última análise, qualquer tradução, mas especialmente uma tradução divina, pode propositalmente e beneficamente convidar seus leitores a refletir sobre muitas coisas, portanto os encorajando a estudar profundamente enquanto os permitem exercer fé ao serem confrontados com questões.

Artigo originalmente publicado pelo projeto Book Of Mormon Central e traduzido por Luiz Botelho.

| Livro de Mórmon
Publicado por: Luiz Botelho
Luiz Botelho serviu na Missão Santa Maria e atualmente mora em Provo-Ut. Estuda Antropologia na Utah Valley University e descobriu na Ciência, História, Filosofia e Teologia sua verdadeira paixão. Atualmente trabalha voluntariamente como Diretor Internacional da FairMormon, é autor do Interpretenefita.com e um dos Diretores da More Good Foundation no Brasil.
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