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Filhos de Perdição – Natureza e Destino

Dentre os assuntos mais obscuros e que despertam em muitos a curiosidade em relação à doutrina de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, se encontram os ensinamentos sobre a natureza, obras e destino dos indivíduos denominados “Filhos de Perdição”.

Com o objetivo de esclarecer dúvidas e fornecer aos leitores pontos dignos de consideração, selecionamos as 9 questões mais comuns sobre o tópico.

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1. Quem são os Filhos de Perdição?

O site oficial da Igreja define os filhos de perdição como “seguidores de Satanás que sofrerão com ele na eternidade”, e os divide em dois grupos de indivíduos, “(1) aqueles que seguiram Satanás e foram expulsos do céu por rebelião na vida pré-mortal; e (2) aqueles a quem foi permitido nascer neste mundo com corpo físico, mas que depois serviram a Satanás e se voltaram totalmente contra Deus.”[1]

As escrituras vão além ao declarar que aqueles que se tornam filhos de perdição durante a mortalidade são indivíduos que cometem o “pecado imperdoável” ou “blasfêmia contra o Espírito Santo”, “negando a Cristo após haver recebido um perfeito conhecimento Dele”.[2]

Além de Satanás e seus seguidores, as escrituras mencionam ao menos duas pessoas que durante a mortalidade, foram caracterizados como filhos de perdição, sendo eles Caim e Judas Iscariotes.[3]

2. O que constitui o “pecado imperdoável” cometido por eles?

O Senhor em diversas ocasiões foi objetivo ao declarar que “ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.”[4] Entretanto, as escrituras mencionam o “pecado imperdoável” ou “blasfêmia contra o Espírito Santo”, como o único pecado que impossibilita ao transgressor qualquer esperança de perdão, seja nessa vida ou na vindoura.[2]

O Senhor em Doutrina e Convênios 132, sobre tal pecado declarou:

“A blasfêmia contra o Espírito Santo, que não será perdoada no mundo nem fora do mundo, é cometer assassinato derramando sangue inocente e consentir em minha morte depois de terdes recebido meu novo e eterno convênio, diz o Senhor Deus; e aquele que não guarda esta lei, de modo algum poderá entrar para a minha glória, mas será condenado, diz o Senhor.”[5]

Embora “derramar sangue inocente” seja imediatamente associado com o crime de assassinato, o Manual do Instituto, se referindo a este versículo esclarece:

“Conforme é utilizado nas escrituras, o termo “sangue inocente” tem um significado mais específico que no sentido normal. Em última análise, conforme o Elder Bruce R. McConkie ressaltou, o único sangue verdadeiramente inocente é o do Salvador. O Sangue Inocente é o de Cristo; e os que cometem a blasfêmia contra o Espírito Santo, que é o pecado imperdoável, dessa forma de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério. Elas são em outras palavras, pessoas que crucificariam a Cristo, tendo o pleno conhecimento de que Ele é o Filho de Deus (…) Por conseguinte, embora qualquer espécie de assassinato seja um pecado extremamente grave, nem todos os que matam são culpados de derramar “sangue inocente”, tornando-se assim filhos de perdição.”[6]

Em outras palavras, “negar” ou “blasfemar” contra o Espírito Santo é muito mais do que o simples ato de proferir palavras de descrença ou afirmações de ódio, ou como o profeta Joseph Smith ensinou:

“O que deve fazer o homem para cometer o pecado imperdoável? Tem que receber o Espírito Santo, ter os céus abertos a ele e conhecer Deus, e depois pecar contra ele. Depois de haver pecado contra o Espírito Santo, para ele não há mais arrependimento. Terá de dizer que o sol não brilha, enquanto o vê; terá de contestar Jesus Cristo, quando os céus lhe forem abertos, e negar o plano de salvação, com os olhos abertos para a realidade dele; e desse momento em diante, passa a ser um inimigo”.[7]

3. Qual é a natureza dos filhos de perdição?

A condição espiritual dos filhos de perdição é descrita nas escrituras como “vasos de ira”, condenados a sofrer tormento eterno em um local que é metaforicamente descrito como “fogo inextinguível”.[8] Joseph Smith se referindo à natureza degradada dos filhos de perdição declarou:

“Não se pode salvar tais indivíduos; Não se pode trazê-los ao arrependimento.”[9]

Filhos de perdição não são apenas iníquos, mas incapazes de arrependerem-se de seus atos, tendo cruzado todos os limites existentes na escala do pecado e rebelião. Deleitam-se no pecado, lutam dia e noite contra todo princípio de inteligência, progresso e luz, e por conhecerem sua impotência em atingir diretamente a Deidade, tem como objetivo atacar aquilo que o Senhor possui de mais precioso, seus filhos, buscando torná-los tão miseráveis como eles próprios são.

4. Serão os filhos de perdição ressuscitados?

As escrituras e profetas antigos e modernos são claros ao ensinar que todos os mortais, sem exceção, serão ressuscitados e se apresentarão para serem julgados. A diferença é que os filhos de perdição ressurgirão com corpos não glorificados.[10]

5. Qual é o destino final dos filhos de perdição?

A primeira coisa a se compreender é que a Igreja não possui uma posição oficial com relação ao destino final dos filhos de perdição. Diferentes líderes possuíram diferentes visões e a única coisa atestada por profetas e pelas escrituras é o fato de que apenas conhecerão completamente o estado final dos filhos de perdição, aqueles que forem participantes deste destino.[11]

Dentre as diferentes perspectivas referentes às Trevas Exteriores, o destino final dos filhos de perdição, há ao menos duas visões diferentes propostas por líderes da Igreja.

A teoria das trevas exteriores como um local de iniquidade, onde Caim e os filhos de perdição reinarão

Ao menos dois versículos das escrituras sugerem a ideia de que o destino final dos filhos de perdição constituirá no “reino do Diabo”, onde Caim por possuir um corpo, “reinará sobre Satanás”. [11]

O Manual do Instituto, referente a esta teoria, declara:

“Os filhos de perdição se constituem, e sempre continuarão a ser, cidadãos e oficiais do reino de Lúcifer. Mas aquele reino será, finalmente, confinado ao Geena. Ali eles ‘reinarão’, sob as leis e normas colocadas em vigor pelo reino do Diabo, das quais tivemos inúmeros exemplos na história da humanidade, durante as eras negras da ignorância, superstição, tirania e iniquidade. Imaginem um lugar onde as paixões malignas dos seres humanos e espíritos imundos têm livre ação, sem serem contidas pela influência do Evangelho! Esse é o reino do Diabo, onde os filhos de Perdição irão reinar.”[12]

Esta teoria apresenta as trevas exteriores como um local específico atrelado ao conceito de “reino do Diabo”, que possui “leis” e “normas” o qual a luz do Evangelho não exerce poder ou influência. Embora tal teoria ofereça uma perspectiva inicial sobre o assunto, ela não oferece um entendimento mais profundo da natureza das trevas exteriores quando comparado à outras referências e aparenta indicar o local como algo que para filhos de perdição poderia ser mais considerado como uma colônia de férias do que “tormento eterno”.

A Teoria da dissolução dos Espíritos

Uma outra teoria proposta por alguns líderes e que parece possuir um maior respaldo lógico e escriturístico, é a teoria da dissolução dos espíritos dos filhos de perdição, que os fariam regredir a seu estado inicial de inteligências desorganizadas.

Brigham Young foi um dos primeiros a refletir e se expressar sobre isso, quando afirmou:

“Eles serão decompostos, tanto a alma como o corpo, e retornarão a seus elementos nativos. Não afirmo que eles serão aniquilados, mas desorganizados, e será como se nunca houvessem existido, e enquanto nós viveremos e reteremos nossa identidade e contenderemos contra aqueles princípios que tendem à morte e dissolução (…) Eu desejo preservar a minha identidade, para que possam me ver nos mundos eternos assim com me veem agora.”[13]

Sobre este prisma, conhecendo parcialmente o destino daqueles que decaem a tal estado, as palavras de Leí a seus filhos rebeldes passem a fazer mais sentido, quando disse:

“Para que não sejais amaldiçoados com uma terrível maldição; e também para não incorrerdes no desagrado de um Deus justo, trazendo sobre vós a destruição, sim, a eterna destruição, tanto da alma como do corpo.”[14]

Outros versículos das escrituras parecem delinear ainda mais tal interpretação, promovendo o que parece ser um entendimento mais profundo do significado da segunda morte espiritual como um afastamento completo e absoluto das “coisas concernentes à retidão”.[15]

Doutrina e Convênios 88 parece oferecer um suporte ainda mais significativo a esta teoria, quando após citar os indivíduos que herdarão o Reino Celestial, Terrestrial e Telestial declara:

“E os que restarem também serão vivificados; contudo, regressarão a seu próprio lugar para usufruir aquilo que estiverem dispostos a receber, porque não estavam dispostos a usufruir aquilo que poderiam ter recebido.”[16]

O versículo claramente se refere aos filhos de perdição, visto que os indivíduos que herdarão os Reinos de Glória foram anteriormente citados. O uso da palavra “regressarão”, parece apoiar o conceito ensinado por Brigham Young da dissolução dos Espíritos, onde tais filhos rebeldes serão desorganizados e retornarão às trevas exteriores, onde não há lei mas reina as trevas, escuridão e o caos, na inicial condição de inteligências desprovidas de corpo ou identidade.

Ter isso em mente nos oferece um maior entendimento da motivação de Satanás na luta contra a luz e seu destino atormentador.

6. Foi Judas Iscariotes um filho de perdição?

Embora novamente tenha existido uma diversidade de opiniões sobre se Judas Iscariotes obteve luz suficiente para ao trair Jesus Cristo, decair à condição literal de filho de perdição, pessoalmente tendo a acompanhar a linha de raciocínio do Apóstolo James E. Talmage, que no Livro Jesus, O Cristo declarou:

“Sob a luz da palavra revelada, aparentemente deixou ser levado pela causa de Satanás enquanto ostensivamente servia a Cristo(…) Tal rendição aos poderes do mal poderia ser realizada unicamente através do pecado. A natureza e extensão das transgressões deste homens no decorrer dos anos não nos é revelada. Ele havia recebido o testemunho de que Jesus era o Filho de Deus; e na plenitude da luz daquela convicção se voltou contra o Senhor e o traiu com a morte… Não importa qual seja a opinião de críticos modernos com relação ao bom caráter de Judas, possuímos o testemunho de João, o qual por aproximadamente 3 anos permaneceu em companheirismo com ele, e afirmou que o homem era um ladrão e o próprio Jesus se referiu a ele como ‘diabo’ e ‘filho de perdição'”.[17]

7. O que são as “Trevas Exteriores”?

A expressão “trevas exteriores” é utilizada nas escrituras e citadas por profetas como uma definição de dois locais e condições distintas:

1. A morada temporária, no mundo espiritual, dos espíritos daqueles que foram desobedientes na mortalidade. Nesse sentido, o inferno terá fim. Ali os espíritos aprenderão o evangelho e em alguma época após o arrependimento ressuscitarão para o grau de glória que merecerem. Os que não se arrependerem, mas não forem filhos de Perdição, permanecerão no inferno durante todo o milênio. Após esses mil anos de tormento serão ressuscitados para a glória telestial.[18]

2. Segundo, é a morada permanente dos que não forem redimidos pela expiação de Jesus Cristo. Nesse sentido, o inferno é permanente. Será ele para os que ainda “permanecerão imundos” (D&C 88:35, 102). É onde habitarão eternamente Satanás e seus anjos e os filhos de Perdição, ou seja, os que negaram o Filho depois de o Pai lhes haver revelado (D&C 76:43–46).[18]

No contexto do destino final dos filhos de perdição entretanto, o Elder Bruce R. McConkie ensinou:

“Tão densas são as trevas nas mentes desses espíritos, tão completamente foi banida a luz do Evangelho de suas consciências, que elas pouco ou nada sabem do Plano de Salvação, e ínfima é a esperança que têm no íntimo no tocante a seu desenvolvimento e progressão por intermédio da graça redentora de Cristo. O inferno é, literalmente, um lugar de trevas exteriores, de escuridão que odeia a luz, sepulta a verdade e se deleita na iniquidade.”[19]

8. Pode uma mulher se tornar um filho de perdição?

Embora alguns membros tendam a interpretar a expressão “filhos de perdição” como uma referência unicamente a indivíduos do sexo masculino, em diversas ocasiões, alguns líderes da Igreja sugeriram que tal destino independe de gênero, e pode se aplicar tanto a homem quanto mulher. Um destes exemplos é a declaração do Elder Melvin J. Ballard, que afirmou:

“O Senhor possui outros filhos e filhas que nem mesma alcançarão o Reino Telestial. Eles são filhos de perdição assim com Satanás e seus anjos(…)”[20]

9. Se a Expiação de Cristo é Infinita, não seria ela capaz de cobrir os Filhos de Perdição?

De fato a Expiação de Jesus Cristo é infinita e o fato dela ser capaz de cobrir os pecados de todos os homens é claramente atestada em D&C 18:11, mediante arrependimento. Dessa forma, não é a Expiação que carece de características que tornem a salvação disponível a eles, mas sim o fato dos filhos de perdição possuírem uma natureza decaída imutável que os fazem rejeitar a luz e não possuírem desejo algum de se arrepender. Dessa forma, a Expiação é como um presente que é oferecido a todos, aceito por muitos e rejeitado pelos filhos de perdição. Entretanto, é evidente que a rejeição a um presente não desprova a sua existência.

Conclusão

Embora o Evangelho de Jesus Cristo possua princípios e doutrinas muito mais acalentadoras e edificantes do que os ensinamentos sobre os filhos de perdição, conhecer a história, natureza, tendência e destino desses indivíduos pode nos fornecer uma perspectiva importante sobre como guiar nossas vidas, corrigir nossa rota e não repetir os seus erros.

Fontes:

[1] Guia de Estudo das Escrituras; lds.org
[2] Mateus 12:21-32; Marcos 3:28-29; D&C 132:27
[3] Moisés 5:24; João 17:12
[4] Isaías 1:18
[5] D&C 132:27
[6] Manual do Instituto – Doutrina e Convênios; D&C 132:27; Doctrinal New Testament Commentary, vol 3, pag. 345
[7] Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, Joseph Fielding Smith (org.), s/d, pp. 349–350
[8] D&C 76:33,44
[9] TPJS, p. 358
[10] TPJS, p. 361
[11] Moisés 5:23; D&C 76:44
[12] Manual do Instituto – Doutrina e Convênios; D&C 76:44
[13] Journal of Discourses 7:57 p.58, Brigham Young, June 27, 1858
[14] 2 Néfi 1:22
[15] Helamã 14:18; 3 Nefi 27:11
[16] D&C 88:32
[17] Jesus the Christ endnote 8 of chapter 34; João 6:70; 12:6; 17:12
[18] Guia de Estudo das Escrituras; Inferno; Trevas Exteriores
[19] Mormon Doctrine, pag. 551-552
[20] Melvin J. Ballard, Sermons and Missionary Services of Melvin J. Ballard (Salt Lake City, Deseret Book Co., 1949), 255–257
[21] Filhos de Perdição – Natureza e Destino; www.interpretenefita.com

| Para refletir
Publicado por: Luiz Botelho
Luiz Botelho serviu na Missão Santa Maria e atualmente mora em Provo-Ut. Estuda Antropologia na Utah Valley University e descobriu na Ciência, História, Filosofia e Teologia sua verdadeira paixão. Atualmente trabalha voluntariamente como Diretor Internacional da FairMormon, é autor do Interpretenefita.com e um dos Diretores da More Good Foundation no Brasil.
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