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Uma análise do processo de tradução do Livro de Mórmon

Quando analisamos a história da tradução do Livro de Mórmon, muitas dúvidas surgem sobre o método que Joseph Smith usou para traduzir as placas de ouro. A ideia que a maioria dos Santos dos Últimos Dias tem sobre como isso aconteceu é mais influenciada por imagens e representações artísticas do que pelos relatos históricos reais.

Algumas dessas representações artísticas mostram Joseph e Oliver Cowdery, sentados à mesa, com as placas visíveis no centro e Joseph tocando os caracteres, como se estivesse lendo-os. Outras mostram Joseph ditando as palavras para Oliver, com uma cortina separando os dois, ou ainda Joseph usando o Urim e Tumim, instrumentos preparados por Deus para ajudar na tradução e revelações.

Com tantas imagens diferentes, qual delas mostra de forma mais precisa como Joseph traduziu o Livro de Mórmon? Como funcionava o Urim e Tumim?

O objetivo dessa análise é buscar informações históricas detalhadas para mostrar que, realmente, foi somente pelo dom e poder de Deus que essa obra pôde ser realizada.

Ao escrever sobre a tradução do Livro de Mórmon, Joseph Smith enfatizou que o processo foi realizado “pelo dom e poder de Deus”. Embora tenha declarado que o livro foi encontrado por meio da ministração de anjos e traduzido através de poder divino, ele se mostrou relutante em fornecer detalhes sobre o método utilizado, conforme registrado em Doutrina e Convênios 20:

O Senhor deu-lhe poder do alto, pelos meios que haviam antes sido preparados, para traduzir o Livro de Mórmon”.

Diferentes versões sobre o processo de tradução do Livro de Mórmon

Por não ser um relato detalhado de todo esse processo de tradução, muitos estudos foram feitos para analisar os testemunhos de outras pessoas envolvidas neste processo, como Oliver Cowdery, Martin Harris, David Whitmer e Emma Smith.

Esses relatos mencionam a utilização de um instrumento de tradução dentro de um chapéu. Emma Smith, em entrevista com seu filho Joseph Smith III, descreveu o profeta sentado com seu rosto dentro de um chapéu e uma pedra dentro dele, ditando a tradução.

David Whitmer deu outros detalhes, mencionando o uso de uma “Pedra Vidente” após os “Intérpretes Nefitas” terem sido retirados de Joseph devido a uma transgressão. Ele descreveu que Joseph colocava a pedra no chapéu, e ao olhar dentro, via os caracteres originais e suas traduções.

Esse método de tradução, utilizando a pedra dentro de um chapéu, foi confirmado por diversas testemunhas, o que confirma os relatos de Emma e David, que descrevem um processo sem barreiras ou cortinas entre eles.

O Presidente Russell M. Nelson apresentou mais detalhes sobre a versão de David Whitmer sobre o processo de tradução:

“Joseph Smith colocava a Pedra Vidente dentro de um chapéu, e colocava seu rosto dentro do chapéu, posicionando-o cuidadosamente ao redor de sua face para que a luz fosse excluída; e na escuridão a luz espiritual brilhava. Um pedaço de algo parecido com um pergaminho aparecia, e nele as inscrições. Um caractere de cada vez aparecia e abaixo a interpretação em Inglês. O irmão Joseph lia as partes em Inglês para Oliver Cowdery, que era seu principal escriba, e após ser escrito e repetido para o irmão Joseph confirmar se estava correto, então desaparecia e outro caractere com a interpretação aparecia. Portanto, o Livro de Mórmon foi traduzido pelo dom e poder de Deus, e não pelo poder do homem.”

A pedra de vidente e os Intérpretes Nefita

Os Intérpretes Nefita foram descritos como “duas pedras colocadas em aros de prata, às vezes usadas junto com um peitoral”. Inicialmente, eram chamados de Intérpretes, mas o termo Urim e Tumim foi associado posteriormente, com base no uso de instrumentos similares no Velho Testamento.

Além disso, a expressão passou a incluir também a “pedra de vidente“, que Joseph Smith utilizou em parte do processo de tradução. Segundo William Smith, irmão de Joseph, os Intérpretes eram grandes demais para o profeta, permitindo-lhe ver apenas através de uma lente por vez.

Antes da perda das 116 páginas, Joseph utilizava os Intérpretes acoplados ao peitoral, mas isso tornava o processo mais cansativo. Após a perda das páginas e a retirada dos Intérpretes como punição, ele passou a usar a Pedra Vidente, colocando-a dentro de um chapéu para bloquear a luz e continuar a tradução.

Uma pedra para testar o profeta

Martin Harris, uma das testemunhas do processo de tradução, decidiu testar Joseph Smith. Ele encontrou uma pedra parecida com a Pedra Vidente utilizada pelo profeta e a substituiu sem que Joseph soubesse. 

Durante a tradução, Joseph pausou e exclamou: “Martin, qual é o problema? Tudo está escuro como o Egito!” Martin então confessou sua intenção de testar Joseph para refutar as acusações de que o profeta estava apenas memorizando e repetindo sentenças.

Esse episódio fortaleceu a credibilidade do método de tradução, pois, se Joseph tivesse continuado sem notar a substituição, isso seria uma evidência de fraude. Contudo, o incidente comprovou a autenticidade do processo e aumentou a confiança de Martin Harris no trabalho de Joseph.

Características do Livro de Mórmon (Placas de Ouro)

Peso: As placas de ouro pesavam entre 18 kg e 28 kg, segundo relatos consistentes das testemunhas. Não eram feitas de ouro puro, mas provavelmente de uma liga metálica mais leve com uma camada fina de ouro, uma técnica conhecida na Mesoamérica.

Dimensões e aparência: Tinha cerca de 15 cm de largura, 20 cm de altura e aproximadamente 15 cm de espessura. As placas eram presas por três anéis em formato de “D”. “Presas como as páginas de um livro por massivos anéis passando através de furos nas laterais.” “As placas eram conectadas a anéis no formato de ‘D’, que facilitava a abertura e fechamento do Livro.” As placas eram cobertas por caracteres egípcios, pequenos e belamente inscritos.

Parte Selada: Uma porção das placas estava selada e não podia ser lida. David Whitmer declarou:

“Uma grande porção das folhas estavam tão seguramente presas que era impossível separá-las.Parte das folhas está selada e não devem ser abertas, e parte está solta.”

As placas eram necessárias durante a tradução?

A maior parte da tradução do Livro de Mórmon aconteceu por revelação, usando uma pedra vidente em um chapéu, o que não exigia que Joseph Smith olhasse diretamente para as placas de ouro. 

Algumas testemunhas até relataram que Joseph conseguia traduzir mesmo quando as placas estavam cobertas ou não estavam na mesma sala. Então, por que as placas eram tão importantes?

As placas eram essenciais para validar a autenticidade da história traduzida. Além disso, elas cumpriram outros propósitos importantes no desenvolvimento pessoal de Joseph Smith e na experiência das testemunhas, como:

  1. Evidência para as testemunhas: A presença das placas era uma prova concreta de que o Livro de Mórmon vinha de um registro antigo.
  2. Preparação espiritual: Os quatro anos que Joseph passou se preparando para receber as placas ajudaram-no a amadurecer para sua missão futura.
  3. Fortalecimento do caráter: Proteger e preservar as placas exigiu coragem, humildade e fé de Joseph, além de resistir à tentação de usá-las para ganho pessoal.
  4. Cópia de caracteres: Joseph copiou caracteres das placas para que Martin Harris os apresentasse ao professor Charles Anthon, como parte da verificação do texto.
  5. Autenticidade do registro: A existência física das placas reforçava que o Livro de Mórmon não era apenas uma obra “espiritualmente verdadeira”, mas também um registro histórico real.

Assim, as placas desempenharam um papel vital além do processo de tradução. Elas são um testemunho físico e espiritual da veracidade do Livro de Mórmon.

Como as Placas de Ouro chegaram ao Monte Cumora em Nova York?

Muitos estudiosos acreditam que os eventos do Livro de Mórmon ocorreram em uma região relativamente pequena da América, conhecida como Mesoamérica. Essa área inclui o sul do México, Guatemala, El Salvador e partes da Nicarágua, Honduras e Costa Rica, onde civilizações antigas como os Olmecas, Maias e Astecas se desenvolveram. Alguns pesquisadores até sugerem que os Olmecas poderiam estar ligados aos Jareditas descritos no Livro de Mórmon.

O relato do Livro de Mórmon nos dá algumas pistas importantes sobre o destino das placas de ouro:

  1. A última batalha entre Nefitas e Lamanitas ocorreu na “terra de Cumora”. Mórmon escreveu que escondeu os registros sagrados no “monte Cumora”, com exceção das placas que entregou a seu filho Morôni (Mórmon 6:6).
  2. A destruição dos Nefitas aconteceu por volta de 385 d.C., deixando Morôni como o único sobrevivente para preservar os registros (Mórmon 6:5).
  3. Morôni vagou por muitos anos para preservar sua vida, registrando que se tornou “errante” (Morôni 1:3).

Isso levanta uma questão: o “monte Cumora” mencionado no Livro de Mórmon seria o mesmo monte em Nova York onde Joseph Smith encontrou as placas? Se a última batalha aconteceu na Mesoamérica, como as placas chegaram a milhares de quilômetros de distância?

Quanto tempo Morôni vagou?

Morôni registrou que se passaram mais de 420 anos após a vinda de Cristo antes de ele concluir seus escritos (Morôni 10:1). Isso significa que ele passou cerca de 36 anos (entre 385 d.C. e 421 d.C.) vivendo como errante. Considerando as distâncias que uma pessoa pode percorrer, é possível entender como ele teria levado as placas até Nova York:

  • Uma pessoa caminhando a 5 km/h pode percorrer cerca de 40 km por dia em jornadas de 8 horas.
  • Em um mês, isso equivale a 1.200 km, ou 14.400 km por ano.
  • Ao longo de 36 anos, seria possível percorrer aproximadamente 518.000 km. Essa distância equivale a 13 voltas ao redor da Terra!

Embora seja improvável que Morôni tenha caminhado sem interrupções ou na mesma direção, esses números mostram que ele teve tempo suficiente para viajar até o local onde escondeu as placas.

Mas será que existem dois “monte Cumora”? Alguns estudiosos sugerem que o “monte Cumora” onde Joseph Smith encontrou as placas não é o mesmo local onde as batalhas finais ocorreram. John E. Clark, historiador e arqueólogo, explicou:

“Nos últimos 50 anos, alguns estudiosos têm sugerido que o uso comum da palavra Cumora entre os Santos dos Últimos Dias confunde dois locais diferentes e que o pequeno monte onde Joseph Smith recuperou as placas não é o mesmo cenário das batalhas genocidas.”

Essa teoria sugere que, embora o Livro de Mórmon fale sobre a “terra de Cumora” na Mesoamérica, o local onde as placas foram enterradas em Nova York foi escolhido por Morôni durante seus anos de peregrinação.

Placas escritas em “egípcio reformado”

Uma questão frequentemente levantada por críticos do Livro de Mórmon é a menção da linguagem chamada “egípcio reformado“. No início de seu registro, Néfi explica que escreveu na língua de seu pai, que consistia “no conhecimento dos judeus e na língua dos egípcios” (1 Néfi 1:2). Isso levanta uma dúvida: por que o Livro de Mórmon não foi escrito em hebraico, a língua nativa dos judeus? A resposta é encontrada em Mórmon 9:33:

“E se nossas placas tivessem sido suficientemente grandes, teríamos escrito em hebraico; mas o hebraico também foi alterado por nós; e se tivéssemos escrito em hebraico, eis que nenhuma imperfeição encontraríeis em nosso registro.”

Ou seja, o “egípcio reformado” foi escolhido porque permitia economizar espaço nas placas, já que sua escrita é mais compacta. Morôni também explica que essa forma de escrita foi desenvolvida e adaptada pelos nefitas ao longo de mil anos, sendo uma modificação do egípcio original (Mórmon 9:32).

Por isso, é esperado que o termo “egípcio reformado” seja exclusivo do Livro de Mórmon, já que ele se refere a um sistema criado e usado pelos nefitas, adaptado às suas necessidades específicas.

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O tempo da tradução do Livro de Mórmon

Um dos aspectos mais impressionantes sobre o Livro de Mórmon é o tempo em que ele foi traduzido: cerca de 60 dias, segundo registros históricos. Considerando o tamanho e a complexidade da obra, isso é algo extraordinário e milagroso.

O manuscrito original do Livro de Mórmon tinha aproximadamente 600 páginas, totalizando cerca de 250 mil palavras. O texto aborda uma ampla gama de temas, como religião, sociedade, geografia, economia, política e guerras.

Para alcançar esse feito em tão pouco tempo, Joseph Smith teria traduzido cerca de 7 a 8 páginas, ou 4 mil palavras por dia — tudo isso sem acesso a recursos como livros, internet ou qualquer tipo de material de referência.

Além disso, é importante lembrar que Joseph tinha menos de três anos de educação formal. Sua esposa, Emma Smith, afirmou que, naquela época, Joseph “não podia escrever ou ditar uma única frase coerente e organizada, quanto mais ditar um livro como O Livro de Mórmon.”

Para contextualizar, considere que J.K. Rowling levou seis anos para escrever o primeiro livro da série “Harry Potter”. Escritores profissionais geralmente passam anos pesquisando, escrevendo, revisando e ajustando seus manuscritos antes de publicá-los.

Mesmo assim, alguns críticos continuam argumentando que Joseph inventou o Livro de Mórmon. Porém, ao analisarmos o processo, fica claro que a tradução foi um feito milagroso, algo que só poderia ser realizado “pelo dom e poder de Deus”.

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Um testemunho de Jesus Cristo

Por fim, acima de todos os fatos sobre sua autenticidade, métodos de tradução e outros aspectos presentes nesse artigo, o Livro de Mórmon é um testemunho de Jesus Cristo.

Ele ensina sobre Sua vida, missão e divindade. Desde o Seu nascimento até Sua ressurreição, o Livro de Mórmon confirma que Ele é o Filho de Deus, o Salvador do mundo. As mensagens de fé, arrependimento e redenção encontradas nessa escritura fala do amor e do sacrifício de Cristo por todos nós. 

Em sua essência, o Livro de Mórmon não só complementa a Bíblia, mas também fortalece o testemunho de que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, oferecendo esperança e salvação a todos os que creem Nele.

Veja também:

| Livro de Mórmon
Publicado por: Luiz Botelho
Luiz Botelho serviu na Missão Santa Maria e atualmente mora em Provo-Ut. Estuda Antropologia na Utah Valley University e descobriu na Ciência, História, Filosofia e Teologia sua verdadeira paixão. Atualmente trabalha voluntariamente como Diretor Internacional da FairMormon, é autor do Interpretenefita.com e um dos Diretores da More Good Foundation no Brasil.
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