Casamento, tecnologia e infidelidade emocional
Como podemos proteger nosso casamento do crescente mal apoiado pela tecnologia da infidelidade emocional?
O perigo da infidelidade emocional
A instituição do casamento está sendo alvo de votações e mudanças por parte de muitas pessoas. O Élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, nos alertou há mais de uma década que “os ataques do adversário contra o casamento eterno continuarão a aumentar em intensidade, frequência e sofisticação.” [1] Uma área preocupante envolve a tecnologia moderna, que abriu novas portas para que pessoas se engajem no que é chamado de “infidelidade emocional”.
Os ensinamentos do Pai Celestial sobre a santidade do casamento, no entanto, permanecem claros. “A Família: Proclamação ao Mundo” diz claramente que “Os filhos têm o direito de nascer dentro dos laços do matrimônio e de ser criados por pai e mãe que honrem os votos matrimoniais com total fidelidade.”
As escrituras dizem: “Não adulterarás” (Êxodo 20:14; ver também Mosias 13:22 e D&C 59:6) e ” não cobiçarás a mulher [ou marido] do teu próximo” (Êxodo 20:17 e Mosias 13:24). História após história – de Davi e Bate-Seba (ver 2 Samuel 11) para Aquis e a filha de Jarede (ver Éter 8:8-17) – nos avisam dos resultados destrutivos da luxúria e da infidelidade.
Então, se os ensinamentos de Deus sobre a santidade do casamento são tão claros, por que algumas pessoas colocam o seu casamento em risco por causa da emoção fugaz da infidelidade emocional?
Redefinindo infidelidade
Mensagens de texto, emails, jogos, salas de bate-papo e outros meios de comunicação social oferecem uma série de novas maneiras para que os indivíduos se conectem a outras pessoas fora do casamento, e o resultado é um enorme aumento na infidelidade assistida pela tecnologia. Como terapeuta de casais, eu vi a infidelidade emocional se desenvolver através de todos esses canais.
Uma cliente me disse: “Eu sinto que estou em um pesadelo. Quero dizer, esta não sou eu.” Seu marido descobriu uma série de textos em seu telefone celular entre ela e outro homem em sua ala. Os textos variavam de flertes até compartilhamento de assuntos emocionais do coração, e seu marido ficou profundamente ferido.
A ausência de contato físico tornou mais fácil para minha cliente justificar sua interação emocional contínua, sem saber que a conexão gerada se tornaria tão poderosa. De certa forma, esses tipos de conexões emocionais são mais prejudiciais do que as conexões físicas. Os parceiros traídos muitas vezes relatam mais angústia sobre o envolvimento emocional de um cônjuge com alguém fora do casamento do que sobre a traição física que muitas vezes se segue. Nas palavras de um cliente, “eu acredito que minha esposa me ama, mas eu também acredito que um pedaço de seu coração pertence a ele, e eu não posso viver com isso.”
Há mais de três décadas, o terapeuta do casamento e da família Carlfred Broderick deu uma palestra sobre a infidelidade intitulada “Veio do nada, como a programação de um voo.” (It Came Out of the Blue, Like a Scheduled Airline) Ele escolheu o título porque os casais com quem trabalhava frequentemente expressavam surpresa pela sua situação difícil, dizendo que a infidelidade tinha “vindo do nada”; Entretanto, o Dr. Broderick indicou que a infidelidade é o resultado de decisões menores precedentes no casamento. Essas escolhas colocam um casal em um curso de traição tão previsível quando a programação de voo de um avião. As idéias do Dr. Broderick são mais relevantes hoje do que nunca.
Perdendo a Integridade Espiritual
Atividades online e mensagens de texto são fáceis de se esconder. Na ausência da comunicação cara-a-cara, as pessoas tendem a ser mais abertas sobre o compartilhamento de sentimentos íntimos. Isso cria intensas conexões emocionais. Alguns sentem que podem ter a novidade da infidelidade online com uma pessoa enquanto desfrutam a estabilidade do casamento na vida real com outro. Este plano não funciona. A infidelidade em qualquer das suas formas compromete os casamentos espiritualmente, estruturalmente e às vezes irreparavelmente. Colocar em risco um casamento por estar envolvido em infidelidade emocional é semelhante à venda do direito de primogenitura por um guisado de lentilhas (ver Gênesis 25).
Ver exemplos de infidelidade emocional assistida por tecnologia ajudou-me a entender melhor a importância da admoestação do Salvador de que “todo aquele que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério. Eis que vos dou mandamento de que não deixeis que qualquer dessas coisas entre em vosso coração.” (3 Néfi 12:28-29).
Um casamento saudável oferece um vínculo seguro em profundidade e capacidade que a infidelidade emocional – quando olhada com honestidade – não é capaz de rivalizar. No entanto, o segredo que envolve a infidelidade emocional por meio do uso de telefones celulares ou computadores pode parecer emocionante. Em contraste com essa fantasia, as tarefas práticas do casamento – como pagar contas, cuidar de crianças e realizar as tarefas domésticas – podem fazer o casamento parecer maçante, obscurecendo o discernimento. Em um relacionamento baseado na tecnologia, as pessoas podem facilmente controlar a forma como são apresentadas para a outra pessoa. Tais relações são repletas de decepção. O Élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, disse que Satanás “fará tudo o que puder para dissimular o amor real, profanar e desvirtuar o amor verdadeiro quando e onde quer que ele o encontre.”
Compromisso com a lealdade
O Presidente Gordon B. Hinckley (1910-2008) disse: “podemos esperar que todo casamento realizado na casa do Senhor carregue consigo um convênio de lealdade mútua.” [2] O renomado pesquisador sobre o casamento John Gottman assinalou que “o relacionamento sério é um contrato de mútua confiança, respeito, nutrição e proteção. Qualquer coisa que violar esse contrato se torna traição.” Ele identificou dois aspectos comuns que diminuem a confiança no casamento: “Mentiras (não revelar suas verdadeiras necessidades para evitar conflitos desagradáveis) e um anseio por uma conexão emocional que parece indisponível no parceiro.” O verdadeiro perigo vem quando evitar conflitos vira um profundo ressentimento.
Uma vez perguntei a um homem que estava envolvido em infidelidade online por meio de mensagens de texto se ele sabia o que ele recebia nesse relacionamento que não conseguia em seu casamento. Ele explicou que recebia aceitação e admiração que não sentia em casa. Perguntei-lhe se ele já havia falado com a esposa sobre isso. Ele respondeu: “Eu não acho que quero arriscar esse tipo de rejeição. Ela não gosta de mim já faz um tempo.” Ele decidiu ” não precisar de nada” de seu casamento, deixando-o aberto a ataques. Em um casamento saudável, ambos os parceiros são leais um ao outro, se revezam compartilhando suas necessidades e cuidam do outro de maneira significativa. Cuidar rápido das dificuldades dentro do casamento ajuda a evitar a infidelidade.
Protegendo o seu casamento
Saber quais os sinais a serem observados e como aplicar os princípios do evangelho pode ajudar a prevenir a infidelidade emocional e construir casamentos mais fortes.
1. Perceba que você não é imune à possibilidade de infidelidade. Em suas aulas de casamento na Universidade Brigham Young, Brent Barlow contou uma história sobre uma vala na frente da casa de sua família. Estando ciente dos riscos que a vala representava, ele e sua esposa frequentemente lembravam seus filhos de serem cautelosos. Ele ressaltou que seus filhos provavelmente estavam mais seguros do perigo em potencial do que as pessoas que não moravam lá, porque a consciência de seus filhos sobre o perigo os mantinham vigilantes.
A pesquisadora Shirley Glass apontou que aqueles que se envolvem na infidelidade frequentemente amam seus cônjuges e acreditam que a infidelidade é errada. No entanto, o amor e as convicções nem sempre nos tornam imunes à tentação de desenvolver apegos inadequados em determinadas circunstâncias. Devemos sempre permanecer vigilantes em nossos casamentos.
2. Monitore ativamente os limites da comunicação dentro e fora da sagrada relação conjugal. Nesta era da Internet, é vital que construamos fortes limites para proteger nossos casamentos. Em Alma 49, lemos como o Capitão Morôni e os nefitas fortificarem e construíram uma fortaleza ao redor da cidade de Amonia “de uma forma nunca antes vista entre os filhos de Leí” (versículo 8). Os lamanitas tinham conquistado aquela cidade antes e pensaram que ela seria uma “presa fácil” (versículo 3), mas estavam errados e ficaram “grandemente surpresos” (versículo 5). Eles falharam em sua tentativa de tomar a cidade.
A Dra. Glass usa a imagem de paredes e janelas para ilustrar os limites da comunicação no casamento. Num casamento sólido, a comunicação aberta entre parceiros é representada por uma janela, enquanto as paredes são erguidas em torno da relação, protegendo-a de forças intrusivas do exterior. Quando a infidelidade emocional ocorre, um parceiro coloca um muro, limitando a comunicação com o parceiro conjugal, e abre uma janela para um parceiro externo, compartilhando informações pessoais. Cônjuges nunca devem discutir problemas conjugais com outra pessoa onde exista qualquer potencial para a infidelidade.
Tome cuidado especial com o contato com antigos interesses amorosos, pois a familiaridade anterior pode inflamar níveis elevados de emoção, disse a doutora Glass. As pessoas estão geralmente despreparadas para as emoções provocadas por esses encontros, e podem confundir os sentimentos como um vínculo antigo mais legítimo que a relação conjugal. Essa comparação é enganosa e fraudulenta. Embora as substâncias químicas provocadas pelo cérebro sejam reais e semelhantes a drogas, elas também são passageiras e insustentáveis.
3. Mantenha-se transparente com o seu cônjuge. Infidelidade inclui decepção. Um limite é ultrapassado quando uma pessoa esconde as suas interações com o cônjuge. Uma mentira pode mudar completamente um relacionamento. Uma esposa bloqueou seu telefone e mudou a senha para que seu marido não pudesse ver suas mensagens de texto. Ele descobriu mais tarde que ela estava em um ponto em que ela e o homem estavam compartilhando seus sentimentos um com o outro. Além disso, quando bloqueou o telefone, ela começou a planejar encontros com o outro homem, o que eventualmente levou à infidelidade física.
4. Vigie cuidadosamente e corrija com frequência. As palavras do rei Benjamim aplicam-se aqui: “se não tomardes cuidado com vós mesmos e vossos pensamentos e vossas palavras e vossas obras; e se não observardes os mandamentos de Deus … perecereis.” (Mosias 4:30).
O Presidente Dieter F. Uchtdorf, Segundo Conselheiro na Primeira Presidência, disse:
“A diferença entre a felicidade e a infelicidade para pessoas, casamentos e famílias muitas vezes se resume a um erro — de cálculo — de poucos graus.”
“Os pequenos erros e desvios mínimos da doutrina do evangelho de Jesus Cristo podem trazer tristes consequências para nossa vida. Portanto, é de fundamental importância que nos disciplinemos o suficiente para fazer correções imediatas e decisivas a fim de voltar para o caminho certo e não esperar que os erros de alguma forma se corrijam sozinhos.” [3]
Cura por meio da Expiação de Jesus Cristo
Quando um cônjuge cometeu um erro, mas se arrependeu, o casal pode reconstruir seu relacionamento através da Expiação de Jesus Cristo. No entanto, muitas pessoas com um cônjuge
verdadeiramente arrependido não acreditam que a cura é possível após uma quebra de confiança. Reedificar a confiança é assustador e difícil, mas é possível, e as pessoas podem restaurar casamentos fortes dos destroços. Quando os casais permitem que ocorra um tempo para a cura e continuam a trabalhar na comunicação sobre os eventos trágicos, e ao realizarem uma restituição ao agirem de forma diferente, provando ao outro e pedindo desculpas, a cura começa a emergir. Perdoar pode ser um processo lento, mas é possível. Como disse o Élder Walter F. González dos Setenta: “O poder de nossos convênios é maior do que qualquer desafio que enfrentamos ou que venhamos a enfrentar.” [4]
As experiências mais gratificantes que encontro como um terapeuta de casais são aquelas em que a traição ameaçou a fundação de um casamento, mas os parceiros se curam da tragédia e criam mais força e proximidade do que tinham antes. Eles percebem a importância da renovação e da cura, e fazem o esforço para que isso aconteça. Eles escutam um ao outro com mais cuidado. Eles humildemente avaliam o que podem fazer diferente para evitar que tais incidentes aconteçam novamente. Eles exercem bondade e paciência. Eles se estimam mais do que antes. Mais importante ainda, eles exercem a fé e encontram maneiras de obter a cura através de Jesus Cristo e de Sua Expiação, individualmente e como casal. Eu não posso enfatizar mais do que isso que a cura é possível. Tenho visto muitos casamentos sendo curados após a traição.
Lembro-me de um caso em que um marido cuja esposa tinha se envolvido em infidelidade online veio, não só compreensivelmente ferido, mas também duro e condenador com relação a esposa. Ao processarmos a situação na terapia, ele percebeu que ele estava emocionalmente indisponível para ela. Ele começou a suavizar ao longo do tempo. Não só se tornou mais indulgente com ela, como também pediu perdão. Ela se tornou genuinamente apologética e ligada a ele e desistiu de sua infidelidade online completamente. Ela percebeu que realmente queria estar com seu marido, que se tornara mais receptivo e gentil com ela.
Quando a cura ocorre, geralmente é porque ambos os cônjuges aumentam a sua sensibilidade espiritual e percepção para com o outro, e ambos assumem sua responsabilidade por suas próprias contribuições para as dificuldades no casamento.
O Pai Celestial vê e compreende os nossos dias, com os seus desafios únicos. Ele sabia que a tecnologia se tornaria um risco, além de uma bênção, e Ele providenciou um plano para seguirmos e voltarmos a Ele. Fortalecer nossos testemunhos sobre a natureza abrangente da Expiação de Jesus Cristo nos ajuda a ter acesso à motivação para nos ligarmos aos nossos cônjuges e fortalecer os nossos casamentos. O Presidente James E. Faust (1920-2007), Segundo Conselheiro na Primeira Presidência, afirmou: “Os casamentos realizados em nosso templo, visando a um relacionamento eterno, tornam-se, então, os convênios mais sagrados que podemos fazer.” [5] Ao trabalharmos para fortalecer e reparar nossos casamentos por meio do arrependimento, honramos nossos sagrados convênios conjugais. Deus nos ajudará.
Notas:
[1] Élder David A. Bednar, O Casamento É Essencial ao Plano Eterno de Deus, A Liahona de junho de 2006.
[2] Presidente Gordon B. Hinckley, Lealdade, Conferência Geral de abril de 2003.
[3] Presidente Dieter F. Uchtdorf, Uma Questão de Poucos Graus, Conferência Geral de abril de 2008.
[4] Élder Walter F. González, Seguidores de Cristo, Conferência Geral de abril de 2011.
[5] James E. Faust, Volta para Casa, Pai, Conferência Geral de abril de 1993.
Este artigo foi escrito por Lori Cluff Schade na revista oficial da Igreja Ensign, presente no site LDS.org. Traduzido por Esdras Kutomi.
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