Por que temos múltiplos relatos do nascimento de Jesus?

“Eis que uma virgem estará grávida e dará à luz um filho, e eles chamarão seu nome Emanuel, que sendo interpretado é: Deus conosco.” Mateus 1: 23

O conhecimento

Durante milenios, o mundo ansiava por um Messias prometido que redimisse a humanidade. O Antigo Testamento está cheio de mensagens proféticas e prenúncios da vida, ministério e sacrifício expiatório do Messias, testemunhando que, no devido tempo, ele viria para corrigir todas as coisas.

Como tal, o prometido advento do nascimento do Messias não passou despercebido em nenhum dos hemisférios. Vários profetas e historiadores narraram o advento de Jesus Cristo e as circunstâncias milagrosas de Seu nascimento.

Mateus e Lucas

No Novo Testamento, Mateus e Lucas registraram os eventos que levaram ao nascimento de Jesus Cristo e eventos significativos de Sua infância. Verifica-se uma grande coerência nos dois registos. Tanto Lucas como Mateus deixam claros os seguintes pontos relativos ao nascimento e à infância de Jesus:

• José era descendente direto de Davi e Abraão (Mateus 1:1, 16, 20; Lucas 1:27, 32, 2:4).
• Maria e José só estavam noivos no momento da concepção de Jesus, e eles não tinham relações sexuais antes de Jesus nascer (Mt 1:18, 25; Lc 1:27, 34; 2:5).
• A concepção de Jesus foi milagrosa e envolveu o Espírito Santo (Mt 1:18, 20; Lc 1:35).
• Um anjo anunciou o próximo nascimento do Messias (Mt 1:20-23; Lc 1:30-35).
• Um anjo declarou que o nome do bebê deveria ser Jesus (Mateus 1:18-25; Lucas 1:31).
• Um anjo afirmou que Jesus salvaria Seu povo e seria o Salvador (Mateus 1:21, Lucas 2:11).
• O bebê nasceu de uma virgem (Mateus 1:23, 25; Lucas 1:34).
• O nascimento ocorreu em Belém (Mateus 2:1; Lucas 2:4-6).
• O nascimento está cronologicamente relacionado com o reinado de Herodes, o Grande (Mateus 2:1; Lucas 1:5).
• O menino santo foi criado como mortal em Nazaré (Mateus 2:23; Lucas 2:39).

Apesar dessas semelhanças, os dois relatos do nascimento de Jesus foram escritos para públicos diferentes, e cada autor registrou detalhes exclusivos de seu Evangelho. Isso pode ter ajudado cada autor do Evangelho a enfatizar diferentes aspectos do ministério do Salvador para seu público específico.

O Evangelho segundo Mateus e o nascimento de Jesus

Por exemplo, Mateus escreve o seu Evangelho a um público essencialmente judeu. Desde o início de sua genealogia de Jesus, Mateus está tentando mostrar como Jesus é um filho de Davi por meio de uma organização cuidadosa dos ancestrais do Salvador em três grupos de quatorze indivíduos (Mateus 1:1-17).

Esta organização utilizou uma prática hebraica chamada gematria, que dava a cada número e palavra um valor numérico.

O nome de Davi em hebraico tinha o valor de quatorze, e leitores judeus cuidadosos seriam capazes de captar as pistas de Mateus sobre a verdadeira natureza de Jesus enquanto liam seu Evangelho.

Mateus desenvolve ainda mais o tema real do nascimento de Cristo, descrevendo a visita dos três Magos e a preocupação subsequente de Herodes pelo seu poder.

Os Magos, ou sábios, eram homens ricos e influentes do Oriente que haviam reconhecido o sinal do nascimento de Jesus e declarado que Ele era o Rei dos Judeus no início do Evangelho de Mateus (Mateus 2:1-2).

Seus dons, embora exibam a riqueza que os Magos ofereceram, também podem ser entendidos como adequados para este título: ouro representando a realeza de Jesus, incenso representando seu sacerdócio e mirra prenunciando sua morte e Ressurreição (Mateus 2:11).

Esses visitantes consolidaram ainda mais para os leitores de Mateus o fato de que Jesus era o Messias profetizado, o governador e rei de Israel, o restaurador da nação dos judeus e o Rei Eterno dos judeus.

O evangelho segundo Lucas e o nascimento de Jesus

Lucas, por outro lado, não chamou a atenção para os grandes visitantes do Oriente nem explicitou a declaração de que Jesus era o rei de Israel no início do seu Evangelho.

Lucas começa sua narrativa na infância focando em Maria, compartilhando sua experiência com o anjo Gabriel (Lucas 1:26-38).

Além disso, Lucas registra que os primeiros a encontrar o caminho até Jesus foram pastores vigiando seus rebanhos fora da cidade, longe dos visitantes ricos dignos de um rei (Lucas 2:8-16).

Contrastar os pastores com os sábios ricos e intelectuais do relato de Mateus sugere que a mensagem de Lucas é que as “boas novas, isto é, o evangelho de Jesus Cristo, são tanto para os pobres como para os ricos.

Portanto, é muito apropriado que as primeiras testemunhas do Messias recém-nascido, o Bom Pastor, fossem elas próprias pastores literais de Belém.

O Evangelho de Lucas é mais detalhado com elementos mais humildes; as experiências de Maria, em vez de José, são registradas em uma época em que a maior atenção era atraída para maridos em vez de esposas.

A juventude de Maria e a vontade de se submeter à vontade do Pai Celestial são facilmente conhecidas (Lucas 1:38).

Longe dos elevados Palácios de Herodes, Jesus é colocado numa manjedoura porque não havia lugar para a família nos aposentos dos hóspedes (ver Lucas 2:7).

Desse modo, Lucas registou as humildes circunstâncias do nascimento de Cristo para mostrar a sua humildade e a sua própria vontade de se submeter à vontade do Pai.

O porquê

Ao longo dos Evangelhos de Mateus e Lucas, detalhes específicos do nascimento do Messias são destacados para oferecer uma melhor compreensão dos papéis de Jesus como Salvador e Rei dos Reis.

Jesus Cristo veio como o Filho Unigênito de Deus. Ele é o rei davídico há muito profetizado, e seu papel único como cumprimento dessas profecias fica claro através da citação inicial de Mateus de Isaías:

“Eis que a bvirgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de cEmanuel, que traduzido é: Deus conosco.” (Mateus 1:23, cf. Isaías 7:14

Assim como Jesus é o Rei dos Reis que venceu a morte e o inferno, é também o Bom Pastor. O próprio Jesus declarou:

“Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10:11).

Talvez não seja surpresa que as primeiras testemunhas do Bom Pastor tenham sido os próprios pastores, vigiando os seus rebanhos, tal como Jesus cuida do Seu rebanho.

Ele procura as ovelhas perdidas, encontra os filhos pródigos e acolhe todos no Seu abraço enquanto procuramos entrar numa relação de convênio com ele.

Como demonstram os Evangelhos, várias testemunhas foram levantadas para dar testemunho da obra de salvação e do Ministério de Jesus.

Utilizando as testemunhas reais dos Magos, que declararam ao rei Herodes que o Messias nasceu, e os humildes pastores do campo, todo o mundo saberia que seu Pastor e verdadeiro Rei havia chegado.

Diferentes relatos do nascimento de Jesus e uma só mensagem

Estas duas abordagens empregadas pelos autores do Evangelho não se excluem mutuamente, mas reforçam reciprocamente. Jesus veio como um nobre rei ou humilde pastor?

Como o rei Davi, que começou como pastor e em cuja cidade nasceu Jesus, o Salvador era ambos.

Assim, a interação dinâmica entre esses dois relatos convida pessoas de todas as estações da vida a desfrutar dessa história atemporal.

O Alfa e o Ómega abraçam e harmonizam ambas as extremidades deste espectro, do princípio ao fim.

Hoje, podemos ser fortalecidos por estas testemunhas, tal como os antigos leitores teriam sido.

Como o Presidente Russell M. Nelson compartilhou recentemente em uma mensagem de Natal:

“Todos os anos, a despeito de nossas circunstâncias atuais, podemos encontrar esperança e alegria renovadas ao lembrar a bênção que veio ao mundo naquela primeira noite de Natal …Sejamos gratos a Deus por nos amar o suficiente para enviar Seu Filho Unigênito. Jesus Cristo mudou o mundo para cada um de nós com o Seu sacrifício expiatório. Ele é a Luz do Mundo. Ele é a luz que precisamos nos apegar”.

Fonte: The Book Of Mormon Central