Incrível carta de uma divorciada aos jovens do M.A.S.
Uma divorciada quer falar com você
Há duas semanas reencontrei um amigo de infância que parecia muito feliz com o início de um relacionamento. Fazia tempo que não nos víamos e já no início da nossa conversa ele me falou de todas as qualidades daquela adorável moça com quem ele estava saindo.
Saí de nossa conversa feliz porque este meu amigo tinha um histórico de perder boas oportunidades de namoro por buscar em seus relacionamentos algo idealístico e irrealista. O deixei com aquela sensação gostosa de que “agora vai”.
Para minha tristeza soube que eles haviam terminado. Sendo divorciada não pude deixar de meditar sobre a história deles a partir de um outro ponto de vista. A carta que vocês verão a seguir é o resultado destes pensamentos.
Aos meus amigos do M.A.S.
Tive o privilégio em minha vida de crescer na igreja. A melódia do hino “As famílias poderão ser eternas” é uma das minhas favoritas. A maternidade e o desejo de ser esposa sempre pungiram em meu coração.
Na Organização das Moças desenvolvi a certeza de que ao viver valores elevados eu estaria preparada para fazer e guardar convênios sagrados, receber as bênçãos do templo e da exaltação.
Para mim os ensinamentos que recebi na igreja sempre foram uma fórmula de sucesso e o fracasso do meu casamento era algo completamente distante e não considerável. O título de divorciada me obrigou a repensar todos os valores que havia conhecido até então.
Mas voltando a falar sobre o meu amigo e as causas do término do relacionamento dele, o que ele me contou foi que a moça era mesmo adorável. Ele ainda admira a força intelectual e espiritual que ela possui.
Não pude deixar de evitar as perguntas: “se ela é tão especial por que terminaram? Houve traição? Brigas? Incompatibilidade de personalidades?” É difícil para mim compreender porque alguém que quer casar terminaria um namoro sem um problema aparente.
Meu amigo seguiu me dizendo que eles gostavam de coisas diferentes. Me explicou que não sabia como seria um projeto de vida em comum, porque ele mora na zona sul e ela na norte. Durante o namoro seria difícil se verem. Casando-se um dos dois teria que se mudar e isto implicaria em transtornos.
Para ele, ela tinha uma vida confortável com os pais dela e ele não sabe se seria capaz de proporcioná-la o mesmo. Neste ponto eu o questionei uma outra vez: “você falou com ela sobre isso?” Ele então me disse: “não”. Ele preferiu terminar o namoro porque tinha medo de fracassar como namorado e esposo.
Meu amigo me falou das estatísticas de divórcio e do quanto o número de divorciados entre membros da igreja tem crescido nos últimos anos. Terminou sua argumentação com a frase “você melhor que ninguém sabe sobre isso”. Sim meu amigo eu sei, e é por isso que irei te dizer algumas palavras.
Imagine uma criança que está em idade de aprender a andar, mas que não o faz porque tem medo de cair. O instinto dessa criança lhe diz que ela precisa se movimentar, ela observa que as pessoas a sua volta são capazes de fazê-lo. Os pais e amigos a incentivam a perder o medo.
Ao começar seus primeiros passos a criança falha e cai. Cair não proporciona uma sensação agradável, traz dor e sofrimento. Com paciência e esforço a criança começa a caminhar e quando todos menos esperam ela está correndo.
O que aconteceria se essa criança não fosse capaz de passar os primeiros estágios da decepção e medo? Ela perderia inúmeras oportunidades ao longo da vida. Pensando sobre os exemplos das escrituras meu amigo, o que teria acontecido se Néfi tivesse dito ao Senhor que não queria voltar para Jerusalém e buscar as placas ou as filhas de Ismael? E se Néfi tivesse pensando “meu barco pode afundar, não irei construí-lo”.
Em parte você tem razão todos nós podemos fracassar. Eu sou a prova disso. Eu só falhei porque tentei. Acreditei no amor que sentia e no relacionamento que estava sendo construindo. Infelizmente ao me casar existiram coisas que saíram do meu controle e o divórcio apresentou-se como uma solução necessária.
Das piores experiências que já vivi na vida estão: desemprego, doença e divórcio. Enquanto passei por estas provações foi difícil compreender os propósitos do Senhor, ver meu potencial divino e sentir que Deus me amava.
Eu quero te contar uma coisa meu amigo. Com o tempo eu aprendi a aceitar que sou divorciada. Decidi continuar na igreja e responder tranquilamente a pergunta: mas vocês se divorciaram? Algumas vezes estas palavras foram ditas com amor, em outras circunstâncias estavam carregadas de preconceito.
Sim eu me divorciei, chorei e orei. Orei expressando ao Senhor minha decepção e tristeza por tudo que estava acontecendo. Como resposta as minhas orações senti o desejo de estudar as escrituras e ir à igreja. Continuei indo e buscando cura emocional.
Não sei te precisar o dia ou a hora, mas essa cura veio. Em algum momento toda aquela tristeza deu lugar a alegria. Tive a certeza de que o Senhor jamais havia me abandonado.
Sou divorciada meu amigo e por isso quero falar com você. Relacionamentos são resultado dos esforços entre duas pessoas. Não existe mágica, um casamento que deu certo é fruto de trabalho árduo. Muitas vezes trabalho emocional.
No começo é difícil perceber que você está ficando emocionalmente vulnerável, mudar sua rotina e aceitar diferenças.
Como uma divorciada gostaria de te dar um conselho: não tenha medo de fracassar, o fracasso só é real para aqueles que nunca tentaram. Ainda que o pior aconteça e que você chegue a se divorciar, quero te afirmar que existe vida após o divórcio. É possível reconstruir sua vida e ser feliz novamente.
Não tenha medo, aproveite as oportunidades que o Senhor providenciar para você.
A personagem deste texto é fictícia. A criação desta carta foi baseada em diálogos com diferentes pessoas divorciadas que veem seus amigos solteiros com medo de se casarem porque não querem se divorciar. Você é uma dessas pessoas? Nunca se casar é uma maneira eficaz de impedir o divórcio? Pense nisso.
Referências
Néfi é um personagem das escrituras. Sua história se encontra no Livro de 1 Néfi no Livro de Mórmon.