A primeira aparição da Liahona ocorre em um momento de profunda incerteza e necessidade. Pouco depois de Leí e sua família deixarem Jerusalém por mandamento do Senhor, eles encontraram “uma esfera redonda de latão fino” à porta de sua tenda. Conhecida como Liahona, o objeto era diferente de qualquer instrumento conhecido na época, descrito como tendo duas setas, uma das quais “apontava o caminho que deviam seguir pelo deserto.” Néfi registrou que “funcionava para eles conforme sua fé em Deus.”

Mais do que uma simples bússola, a Liahona também, de tempos em tempos, mostrava mensagens escritas, instruções ou repreensões, adaptadas às necessidades e ao estado espiritual da família.

A esfera milagrosa não era apenas um objeto mecânico; seu propósito era essencialmente espiritual. Conforme o relato do Livro de Mórmon, a orientação fornecida pela Liahona dependia diretamente da retidão e da atenção espiritual dos que a possuíam: “Foi preparada pela mão do Senhor” e funcionava apenas enquanto eles fossem fiéis e diligentes. Quando a fé enfraquecia, a Liahona deixava de indicar o caminho, ensinando uma lição clara sobre arbítrio, dependência de Deus e revelação pessoal.

Esse instrumento sagrado não foi apenas uma bússola para Leí, mas se tornou um símbolo para todos os leitores do Livro de Mórmon. Alma, um dos profetas posteriores, explicou:

“E agora, meu filho, tenho algo a dizer a respeito daquilo que nossos pais chamam de esfera ou guia — ou que nossos pais chamaram de Liahona, que é, por interpretação, uma bússola; e o Senhor preparou-a. E eis que nenhum homem poderia fazer uma obra tão esmerada. E eis que foi preparada para mostrar a nossos pais o caminho que deveriam seguir no deserto.”

mensagens na Liahona

Orientação mediante obediência

Os primeiros usuários da Liahona a viram como um milagre singular, mas ela também ecoa tradições muito mais antigas. Na antiga Israel e em outras culturas do Oriente Médio, havia instrumentos sagrados usados como meios de revelação divina, como o Urim e Tumim utilizados pelos sumos sacerdotes. Assim como esses oráculos, a Liahona servia como um intermediário, um meio físico de comunicação entre Deus e o homem.

O texto reforça essa conexão: Leí e Néfi entenderam a Liahona como um instrumento semelhante ao Urim e Tumim, pois “palavras apareciam milagrosamente” sobre a esfera, oferecendo direção imediata — seja para encontrar alimento no deserto ou para repreender a família quando murmurava. O relato é tocante:

“E aconteceu que quando meu pai viu as coisas que estavam escritas na esfera, temeu e tremeu muito; e também meus irmãos e os filhos de Ismael e nossas mulheres.”

Esses objetos sagrados mostram a continuidade do modo como Deus se comunica com Seu povo: Ele usa meios simples e tangíveis, santificados pela fé, para transmitir Suas mensagens àqueles que O buscam.

Naturalmente, há especulações sobre a construção física da Liahona. Seu invólucro de latão, as setas e sua semelhança com uma bússola despertam curiosidade técnica. Mas o próprio Livro de Mórmon esclarece: seu funcionamento milagroso não dependia de tecnologia — não era um instrumento magnético ou engenhoso. Seu propósito era testemunhar que “grandes coisas são feitas por meio de coisas pequenas e simples”, quando há fé.

Após o aparecimento da Liahona, Lamã, o filho mais velho de Leí, acusou Néfi de agir por conta própria e de tentar enganar o grupo com suas habilidades, talvez influenciado pelo fato de Néfi ser habilidoso no trabalho com metais. No entanto, o texto deixa claro que a esfera foi “preparada pelo Senhor”, e não fruto de engenho humano. Essa tensão entre dúvida e fé ilustra o papel da Liahona como um lembrete constante de que a orientação divina depende da confiança e da obediência de cada pessoa.

Leí observa a Liahona em uma época de muitos profetas.
Leí e a Liahona, por Joseph Brickey. Imagem: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

Um instrumento de fé

O simbolismo da Liahona é o que mais ressoa até hoje. Os profetas posteriores no Livro de Mórmon a viram não apenas como um instrumento de navegação, mas como um tipo de sombra de Cristo e da orientação divina acessível a todos os discípulos. Alma comparou seu funcionamento às palavras de Cristo, dizendo:

“Oh, meu filho, não sejamos negligentes por ser fácil o caminho, pois isso sucedeu com nossos pais; porque assim lhes foi preparado, para que, se olhassem, pudessem viver; e a mesma coisa se dá conosco. O caminho está preparado e, se olharmos, poderemos viver para sempre.”

Essa linguagem remete à história da serpente de bronze levantada por Moisés no deserto — outro símbolo que exigia um ato simples de fé para a salvação, mas que muitos rejeitaram por acharem “fácil demais.”

A mensagem é a mesma: a orientação divina vem por meios simples, acessível a todos os que exercem fé e obediência. Tanto a Liahona quanto a serpente de bronze apontam para Cristo. A primeira guiava fisicamente, mas, acima de tudo, espiritualmente, e, quando a família de Leí se tornava “indolente e esquecia de exercer fé e diligência”, o instrumento deixava de funcionar, ilustrando como o afastamento de Deus bloqueia a revelação.

Assim, a Liahona permanece como um lembrete eterno: a direção de Deus está sempre disponível, mas só pode ser recebida com humildade, fé e constância.

A jornada de Leí não é apenas uma história antiga, mas um modelo de discipulado para os crentes de todos os tempos. O relato da Liahona, preservado e reinterpretado pelos profetas do Livro de Mórmon, continua a falar aos viajantes espirituais de hoje.

A pergunta final permanece

Quão receptivo sou à direção divina? Quando escuto, e quando ignoro, as inspirações suaves que vêm por meio da oração, das escrituras ou da consciência?

A “bússola” no deserto torna-se, então, um símbolo pessoal de discipulado, um lembrete de que as palavras de Cristo ainda podem nos guiar pelos desertos da vida, se formos fiéis e diligentes em ouvi-Lo.

Fonte: Ask Gramps

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