Emma Hale Smith ocupa um lugar singular e, por vezes, controverso na história da Igreja. Embora tenha sido uma participante crucial em eventos-chave, desde a tradução do Livro de Mórmon até a organização da Sociedade de Socorro, sua decisão de não migrar para Utah gerou uma narrativa popular que, por muito tempo, se sobrepôs ao seu testemunho e ao seu papel fundamental.

Quando Emma Smith não acompanhou os Santos no êxodo para o Oeste, isso gerou “decepção” entre muitos. Sua subsequente separação da Igreja e seu apoio à Igreja Reorganizada (RLDS) foram os catalisadores para a criação de um rótulo doloroso.

O rótulo da “apóstata”

Um professor pesquisador observou que a percepção popular sobre Emma tomou um rumo negativo após o martírio de Joseph em 1844 e seu subsequente desentendimento com os líderes da Igreja na época. Embora os membros a amassem anteriormente e a chamassem de “Senhora Eleita”, por volta da década de 1860, as histórias populares a pintaram como a “Arquiapóstata”.

É essencial notar que este título não foi uma declaração eclesiástica ou doutrinária, mas sim uma necessidade narrativa do povo. O professor pesquisador explicou que:

“Toda tradição precisa de um conjunto de vilões, e nós temos nossa constelação deles. Emma [tornou-se] o centro dessa constelação… através da contação de histórias”.

Por quase um século, as histórias (verdadeiras ou falsas) sobre sua luta com a poligamia, um mandamento que historiadores descreveram como o “sacrifício abraâmico pessoal de Emma” e sua decisão de apoiar a RLDS “mancharam a reputação de Emma”. 

Ela era frequentemente apresentada como uma “apóstata” ou estava completamente ausente da narrativa histórica. No entanto, esta é a história da folclorização de seu sofrimento, e não a verdade de seu relacionamento com Deus.

Um testemunho inabalável

A despeito dos conflitos não resolvidos com alguns líderes da Igreja e de sua escolha de permanecer em Nauvoo, o núcleo da fé de Emma permaneceu inalterado. Sua decisão de não ir para o Oeste não foi simples; ela foi forjada por um trauma extremo. 

Tendo perdido seis filhos para a morte e suportado inúmeras perseguições, cruzando “rios congelados e atravessando muita lama”, seu desejo de permanecer na “segurança que sentia em casa” era a reação compreensível de uma mãe protetora, em vez de um abandono da fé.

O que as fontes documentam inequivocamente é o seu compromisso vitalício com Joseph como profeta e com a autenticidade do Livro de Mórmon.

Pouco antes de sua morte, em fevereiro de 1879, Emma prestou um testemunho aos seus filhos:

“Minha crença é que o Livro de Mórmon é de autenticidade divina. Não tenho a menor dúvida disso”.

Emma até descreveu ter sentido as placas, “traçando seu contorno e forma,” e notou que pareciam ser “flexíveis como papel grosso”. Ela afirmou: 

“Eu sei que o Mormonismo é a verdade; e acredito que a igreja foi estabelecida por direção divina”.

Ela também disse a Parley P. Pratt: 

“Eu acredito que ele [Joseph] foi tudo o que professou ser”.

Mesmo em 1869, anos após a separação, ela escreveu ao seu filho sobre as “muitas, sim, muitas cenas difíceis” que ela havia passado, mas acrescentou este precioso testemunho: “Mas ainda sinto uma confiança divina em Deus, de que todas as coisas contribuirão para o bem”. 

Emma Smith apostatou?

A visão de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias sobre Emma Smith reconhece seu papel indispensável desde os primeiros dias da Restauração. Sua importância vai além de ser a esposa de Joseph e sua designação como a primeira presidente da Sociedade de Socorro.

Emma também foi uma participante fundamental como escriba na tradução do Livro de Mórmon e como a compiladora do primeiro hinário da Igreja.

A luz final sobre a vida de Emma veio em sua morte. Segundo o relato de seu filho Alexander, poucos dias antes de falecer, Emma teve uma visão de aceitação pelo Senhor:

“Segundo Alexander, Emma parecia estar definhando, mas então ela se ergueu e estendeu a mão, chamando: ‘Joseph! Joseph!’ Caindo de volta no braço de Alexander, ela cruzou as mãos sobre o peito, e seu espírito se foi. Tanto Alexander quanto Joseph [III] pensaram que ela estava chamando por seu filho Joseph, mas depois, Alexander soube mais sobre o incidente. A irmã Elizabeth Revel, enfermeira de Emma, explicou que poucos dias antes Emma lhe havia contado que Joseph [o Profeta] veio a ela em uma visão e disse: ‘Emma, venha comigo, é hora de você vir comigo’.”

Ainda sobre essa visão, Emma relatou que foi com Joseph a uma mansão onde encontrou seu bebê falecido, Don Carlos, e chorou de alegria. Ao lado de Joseph, ela viu “uma pessoa de luz, o próprio Senhor Jesus Cristo”. 

Essa visão final demonstra o cumprimento de bênçãos recebidas (como ver seu Redentor, prometido em sua bênção patriarcal de 1834). Mais importante, seu reencontro com Joseph e o bebê Don Carlos valida o convênio de selamento eterno que ela e Joseph receberam em 1843. 

A visão também sugere que, apesar de Emma ter se separado da “comunhão dos Santos” e de ter ficado sujeita a mal-entendidos, o Salvador, cuja “compaixão e poder para salvar estão além de toda compreensão”, a recebeu.

Portanto, aos olhos da Igreja moderna, o foco não está na apostasia, mas sim na sua redenção e no reconhecimento de seu papel indispensável. 

O rótulo de “apóstata” pertence à história popular e à dor da época, enquanto o testemunho final de Emma, sua fé na Restauração e sua visão da acolhida pelo Senhor representam o seu verdadeiro e duradouro legado.

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