Se Harvard Business School Fosse Uma Religião, Seria o Mormonismo
Paralelismos entre Harvard Business School e o Mormonismo
Neste artigo, o líder SUD no mundo dos negócios Clayton M. Christensen traça paralelos entre métodos de aprendizagem em sua universidade/local de trabalho, Harvard Business School, e sua igreja, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
De um tempo para cá, conforme Mitt Romney recebeu atenção em sua campanha presidencial, uma série de artigos de notícias explorou o porque mórmons são bons líderes empresariais. Uma ética de trabalho duro, disseram alguns. Uma mentalidade de equipe.
Estes fatores podem ser verdadeiros, mas existem outros valores que sustentam a liderança Mórmon mais profundamente – e eles são os mesmos valores defendidos pela Harvard Business School.
Tenho a sorte de ter sido um entre vários mórmons que estudaram na Harvard Business School (HBS) na década de 1970. O grupo inclui Mitt Romney, claro. Mas também inclui Kim Clark, ex-reitor da HBS. Como ex-presidente da Universidade Brigham Young – Idaho, ele é, possivelmente, o executivo mais inovador no ensino superior. Joel Peterson, presidente da JetBlue, é outro – assim como Neil Anderson, um dos Doze Apóstolos, que conduzem a nossa igreja hoje.
Este é um grupo que tem conseguido coisas notáveis profissionalmente, da mesma forma que sua fé em Jesus Cristo se tornou mais forte. Apesar de algumas pesquisas mostrarem que quando a educação de alguém aumenta a participação religiosa diminui – e apesar da falta de discussões sobre as crenças dentro da comunidade empresarial em geral – há provas de que não precisamos ser pegos num trade-off (troca) entre a vida profissional e a busca religiosa.
Há algo na Igreja SUD que está ajudando essas pessoas a se tornarem executivos ainda mais influentes no mundo dos negócios e líderes na sociedade. E, por sua vez, a abordagem à gestão e liderança na HBS está fortalecendo sua fé, em vez de corroê-la. Como alguém que sente a influência de ambas as instituições, vejo fortes pontos de intersecção.
A primeira é a importância das perguntas. O método de cases da HBS não se concentra em fatos mais significativos e respostas em forma de cases (casos de estudo). Pelo contrário, ela ensina os alunos a questionar: “Que grande questão produziu essa resposta?” Há acadêmicos que menosprezam o nosso método como falta de rigor, mas eles estão perdendo uma verdade fundamental: Raramente fazer a pergunta errada gera a resposta certa.
Agora, se este método de cases da HBS tomasse uma forma religiosa, ela ficaria muito parecida com o mormonismo.
Nosso profeta fundador organizou a igreja mórmon em torno das respostas às perguntas que ele fazia a Deus. (Deus raramente dá respostas na ausência de perguntas.) O registro das discussões de Jesus com seus seguidores e seus detratores mostra a importância desse formato: Cristo repetidamente exigiu, em essência, “Questão errada. Esta é a questão.”
A razão pela qual muito do cristianismo saiu dos trilhos na Idade Média é que seus líderes concluíram que Deus já tinha nos dado todas as respostas. Isso, para eles, removia a necessidade contínua de fazer perguntas, de profetas ou de revelações. Para os Mórmons, revelação contínua de Deus é a nossa força vital.
A segunda semelhança na liderança é a crença de que podemos aprender alguma coisa importante de todos. Esta é a essência do método de cases da HBS. Ao fazer perguntas e debater as respostas, os alunos ensinam uns aos outros – sendo a premissa básica o fato de aprendermos algo mais profundamente ao ensiná-lo. Eu sinto muito pelos alunos cujos professores acreditam que os professores devem dar palestras, enquanto os alunos ouvem. Se o nosso modelo mental de aprendizagem é que só podemos aprender com as pessoas que têm mais educação do que nós, então a quantidade que podemos aprender é limitada.
Isso também se situa no cerne da Igreja SUD. Nós não pagamos profissionais, na forma de clero, para nos ensinarem. Nós ensinamos uns aos outros, e fazemos isso pelo método de cases – embora as escrituras as classifiquem como “parábolas” em vez de cases. Discutimos “cases” de Cristo na igreja, ensinando uns aos outros como seguir a Cristo mais completamente. Lembro-me, por exemplo, quando um homem que trabalhava no turno da noite na UPS magistralmente orquestrou um estudo de caso em nossa igreja sobre o perdão – em torno da história na Bíblia sobre o Filho Pródigo.
A razão pela qual tantas discussões entre eruditos depreciam a religião, enquanto outras pessoas religiosas têm cautela com as respostas vindas da ciência, é que as categorias estão erradas. Muitos supõem que a ciência e acadêmicos pertencem a uma categoria de conhecimento, enquanto a religião compreende uma outra categoria, primariamente a da crença. Além disso, as religiões são muitas vezes sub-divididas em católicos versus protestantes e tradicional contra cristãos evangélicos. Alguns no último grupo até categorizam mórmons profundamente cristãos como “não-cristãos”. Essas categorizações geram muito mais atrito do que luz.
Um enquadramento muito mais produtivo é que existe a busca da verdade, por um lado, e a propagação do erro no outro lado. Se existem afirmações contraditórias na ciência e na religião, então um ou outro está errado – ou ambos estão errados, ou ambos estão incompletos.
Mas a verdade não pode ser inconsistente com a verdade. Enquanto estamos buscando a verdade, estamos em terra firme. A busca da verdade não tem preconceito intelectual ou espiritual.
Esta é a razão mais importante pela qual nós achamos que o como aprendemos na HBS, e o como aprendemos em nossa igreja sobre os tipos de líderes que Deus quer que nos tornemos, se reforçam mutuamente. E, por sinal, não é necessário ser admitido em qualquer uma dessas organizações para aprender esta lição.
Christensen é o professor Kim B. Clark de administração de empresas na Harvard Business School e autor do recente livro How Will You Measure Your Life?
Este artigo foi escrito por Clayton M. Christensen no site The Washington Post. Traduzido por Esdras Kutomi.