Não use a frase “se ofender é uma escolha!” como desculpa
Atenção por favor: se ofender é uma escolha – mas ao contrário do que algumas pessoas parecem acreditar, isso não significa que podemos fazer comentários maldosos, e então acusar a outra pessoas de ser muito sensível.
O Élder David A. Bednar deu um discurso fabuloso em outubro de 2006 chamado “E para eles não há tropeço.” No discurso, ele explica que temos o livre arbítrio e, portanto, ninguém pode nos forçar a sermos ofendidos. Se alguém age de forma ofensiva, nós certamente escolhemos o que fazer com as ofensas (Por exemplo, o Élder Bednar fala sobre algumas pessoas que não frequentaram a igreja por anos porque se sentiram ofendidas por algo que um outro membro falou. Então, eles estão deixando as ações de outra pessoa controlar a vida deles ao invés de escolher controlar suas próprias vidas.)
Mas o difícil é nunca se sentir magoado, e honestamente não pense que o Élder Bednar quis dizer que se você está chateado com as ações ou palavras de outra pessoa, você é muito sensível. Acredito que o que ele quis dizer é que permanecer ofendido quando somos magoados, e deixar a nossas ações serem afetadas de maneira negativa, é nossa escolha.
Claro que não se ofender logo de cara é algo que todos estamos trabalhando – ter a capacidade de educar os nossos corações e sentimentos para quando as pessoas forem rudes, especialmente quando for intencional, não nos sintamos mal.
A maioria de nós ainda não chegou nesse nível.
Então, por favor, não use a sua língua como espada e então se espante quando alguém sair machucado. Não saia falando por aí dos sentimentos e frustrações de outras pessoas, “Nossa, você se ofende muito fácil!” Ou “Você está sendo sensível demais!”
Não use “se ofender é uma escolha!” como desculpa.
Não “lavar as mãos” para ser isento de responsabilidade.
Recentemente, estava conversando sobre um assunto delicado com uma amiga – vamos chamar essa amiga de Rachel – que disse algo, provavelmente sem pensar, e machucou muito uma de nossas amigas em comum. Para contextualizar, Rachel estava chateada com o pai dela, ela sentia que ele não era emocionalmente presente em sua vida como precisava ser. Apesar de suas falhas, o pai dela é um homem maravilhoso que faz muito por ela e por sua família. No entanto, às vezes, em momentos de raiva, Rachel diz que ela se sente abandonada pelo pai.
Uma outra amiga que, nesse artigo chamaremos de Lily, foi realmente abandonada pela pai. Os pais dela de divorciaram quando ela era pequena, mas ela continuou a ter um bom relacionamento com o pai, mesmo depois de ele ter se casado com uma mulher que abusava emocionalmente e às vezes até fisicamente dos filhos dele. Um dia, quando Lily tinha apenas 10 anos, o pai iria buscá-la para um final de semana em sua casa.
Ele nunca apareceu. E ela nunca mais o viu novamente.
Ela sabia por meio de seus avós e parentes que o seu pai estava bem, mas ele e sua esposa decidiram que não teria mais contato com os filhos dele. Foi muito difícil para Lily e é algo que ela ainda tem algumas amargas lembranças sobre. Então, quando Rachel disse que o pai dela a abandonou, eu sabia que Lily ficaria pasma e um pouco ofendida.
Uma vez mencionei o ocorrido sem querer para Rachel, “Acho que quando você fala que seu pai te abandonou, você fere os sentimentos da Lily, porque o pai dela realmente a abandonou.”
Eu espera que Rachel talvez ficasse um pouco sem graça, mas na verdade ela ficou na defensiva.
“Não preciso me policiar na presença de ninguém, e é trabalho de satanás nos fazer sentir ofendidos,” ela disse com raiva. “Ela tem que crescer e perceber que nem tudo gira em torno dela.”
“Rachel,” eu disse chocada, “acredito que a maioria das pessoas concordaria que mesmo que você não tenha tido a intenção, aquilo foi algo muito rude de se dizer. Só estava te falando para que você fique atenta. Não acredito que não haja razão para alguém não se ofender por algo daquele tipo.”
“Se ofender é uma escolha, pesquise sobre o assunto,” ela respondeu.
É claro que Rachel só ficou na defensiva naquele momento, como muitos de nós já ficamos. Não é fácil assumir que você não lidou bem com uma situação ou que fez algo errado. Depois ela se desculpou e se sentiu mal por ter ficado tão chateada.
Mesmo assim, a atitude dela se parece muito com a nossa quando percebemos que machucamos alguém: dizemos “se ofender é uma escolha!” como uma maneira de lavarmos as nossas mãos de qualquer responsabilidade das coisas que dizemos e como isso afeta a outra pessoa.
Usamos como desculpa.
Não deveríamos nos sentir ofendidos, mas também não devemos nos ofender
No discurso do Élder Jeffrey R. Holland na Conferência Geral de outubro de 2018 “O ministério da reconciliação” (o discurso que será lembrado para sempre por causa do estiloso e novo óculos dele), ele comentou:
Certamente cada um de nós poderia mencionar uma gigantesca lista de cicatrizes, tristezas e memórias dolorosas que neste exato momento ainda corroem a paz no coração, na família ou na vizinhança de alguém. Tenhamos nós sido a causa desse sofrimento ou o alvo dele, essas feridas precisam ser curadas para que a vida seja tão recompensadora quanto Deus deseja que ela seja.
Semelhante à comida que seus netos cuidadosamente verificam para vocês em sua geladeira, a data de validade desses ressentimentos antigos já passou há muito tempo. Não abram um precioso espaço em sua alma para esses ressentimentos. Conforme disse Próspero ao arrependido Alonso na obra A Tempestade, “não nos dobremos sob o peso do fardo das lembranças do que já se passou”.
“Perdoai, e sereis perdoados”, ensinou Cristo na época do Novo Testamento. E em nossos dias Ele disse: “Eu, o Senhor, perdoarei a quem desejo perdoar, mas de vós é exigido que perdoeis a todos os homens”. No entanto, é importante para alguns de vocês que estejam vivendo em verdadeira agonia entendam o que Ele não disse.
Ele não disse: “Não vos é permitido sofrer uma dor real ou uma tristeza verdadeira devido às experiências arrasadoras que sofrestes nas mãos de outros”. Ele também não disse: “A fim de perdoar completamente, deveis vos envolver novamente em um relacionamento nocivo ou voltar a viver uma situação abusiva e destrutiva”.
Mas, apesar das mais terríveis ofensas que podemos sofrer, podemos nos erguer acima de nossa dor quando trilhamos o caminho que leva à verdadeira cura. Esse é o caminho do perdão trilhado por Jesus de Nazaré, que convida a cada um de nós, dizendo: “Vem, segue-me”.
Podemos tentar ao máximo, mas seremos machucados por causa da ação de uma outra pessoa – e devemos tentar não nos magoar. No entanto, faz parte dessa existência mortal. Precisamos exercitar o perdão e seguir em frente, como o Élder Holland explicou, e não podemos de maneira injusta culpar outros pelas nossas escolhas.
Mas enquanto devemos tentar ao máximo não nos sentirmos ofendidos (e certamente não permanecer ofendidos), também devemos nos esforçarmos ao máximo para não ofender o nosso próximo.
Vários anos atrás, o Élder Marvin J. Ashton nos lembrou que:
Como membros da Igreja, precisamos lembrar-nos de que as palavras “Não deixeis palavras duras” são mais do que uma frase em um contexto musical; são um estilo de vida louvável.
Alguns pensam que a única maneira de se vingar, de chamar a atenção, de obter vantagem ou de vencer é ofender as pessoas. Este comportamento nunca é apropriado. Freqüentemente, o caráter, a reputação e quase sempre a auto-estima são destruídos sob o martelo desta prática maldosa.
Muitas vezes nos permitimos afastar desta simples regra: “Se não podeis dizer nada de bom sobre algo ou alguém, não digais nada”.
Não podemos professar sermos devotos seguidores de Cristo, e sair fazendo comentários maldosos depois. Não devemos negligenciar a responsabilidade das coisas ruins que dizemos – mesmo que não tenhamos a intenção de magoar, mas especialmente se tivermos – apontando o dedo para o outro, e o culpando por ser sensível demais.
Honestamente se resume a isso: Quando pisamos na bola, precisamos pedir desculpas. Quando ofendemos alguém, podemos dizer “me desculpa” e tentar ser melhor.
Lembre-se que só porque você ofendeu alguém, não significa que você é uma pessoa ruim, e só porque os sentimentos de alguém estão feridos, não significa que essa pessoa é sensível demais. Todos nós já tivemos os nossos sentimentos feridos antes, e não precisamos condenar os outros por passarem pela mesma experiência – mesmo se formos os responsáveis, intencionalmente ou não.
Dizer “me desculpa” é um antídoto simples que pode curar feridas profundas, e é preciso ser corajoso para admitir ser o responsável pelo estrago, e que se pode melhorar.
Então, não diga “se ofender é uma escolha!” como uma desculpa para um comportamento inadequado. A real medida para a nossa disciplina é como tratamos outras pessoas, então sejamos gentis.
Fonte: Third Hour
Precisamos tomar cuidado ao usar a frase “ofender-se é uma escolha”