Antes de responder a pergunta é preciso considerar que o socialismo, como ideal filosófico e doutrina política-econômica não existia na época do Salvador. Ele surgiu no final do século XVIII. Na prática, o socialismo foi implantado no século XX, em 1917, quando o governo monarquista foi derrubado pela revolução russa, dando origem à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Entretanto, ao analisar os traços gerais do socialismo, podemos verificar se o Salvador seria ou não socialista.
O que é socialismo?
O socialismo está em oposição ao sistema político-econômico chamado capitalismo, ou de livre mercado. No socialismo os meios de produção são gerenciados pelo Estado (país). Em outras palavras toda estrutura produtiva, como empresas comerciais, indústrias, terras agrícolas, etc. são de propriedade da sociedade e comandadas pelo Estado, ou uma elite de governantes. Toda riqueza que é gerada nesses processos produtivos é dividida igualmente a todos. A economia é totalmente controlada pelo Estado – todos os preços, salários e produtos. O socialismo também prega a inexistência de classes, ou seja igualdade formal.
O que as escrituras ensinam sobre Jesus
As escrituras, especialmente Novo Testamento, demostram que Jesus Cristo não apregoou nenhuma das ideais socialistas acima mencionadas. Ele nunca, por exemplo, disse que o Governo devia punir o rico ou usar impostos para ajudar o pobre. Não vemos nenhuma evidência de Jesus defendendo um Estado mais forte e dominador ou um controle econômico central.
Em uma ocasião Jesus foi confrontado por um homem que disse: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança.” Mas o Senhor respondeu: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?” Em outras palavras Cristo não iria se intrometer nesse assunto. Na lógica socialista, aquele que tem mais deve necessariamente repartir, através do Estado, com seu irmão.
A parábola dos talentos é outro exemplo interessante. Dois homens investiram seu “talento” (uma espécie de dinheiro na época) e conseguiram lucro, outro, porém, não. E este último foi repreendido (Mateus 25:14–30). A distribuição desigual e a meritocracia contida na história soa muito mais como lógica capitalista que socialista.
Jesus ensinou que a riqueza é maléfica?
É verdade que Jesus falou da dificuldade de um rico entrar no reino dos céus. Mas o problema não é a riqueza em si, mas o amor à riqueza, que precede o amor a Deus. O Presidente Joseph F. Smith deu-nos o correto entendimento sobre esse ponto doutrinário:
“Tenho pena do homem rico que ama seu dinheiro mais do que a Deus. (…) Algum dia ele será pesado na balança, e será mostrado que ele ama o mundo mais do que a Deus. (…) O Senhor disse que é difícil um rico entrar no reino do céu. Não porque o homem seja rico, pois o Senhor determinou que seremos o mais rico de todos os povos. Conseqüentemente, não pode haver crime no fato de alguém ser rico. O crime não está na posse do dinheiro. Frequentemente ouvimos alguém citar que “o dinheiro é a raiz de todos os males”. Mas isso não é verdade. Não é isso que dizem as escrituras. Elas declaram que o amor ao dinheiro é que é a raiz de todos os males. [Ver I Timóteo 6:10.] (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, capítulo 19)
O Livro de Mórmon também ensina:
“Mas antes de buscardes riquezas, buscai o reino de Deus. E depois de haverdes obtido uma esperança em Cristo, conseguireis riquezas, se as procurardes; e procurá-las-eis com o fito de praticar o bem — de vestir os nus e alimentar os famintos e libertar os cativos e confortar os doentes e aflitos.” (Jacó 2:18-19)
Jesus tentou implementar alguma ideia socialista?
Quando Jesus expulsou os vendedores do Templo, não o fez porque eram comerciantes – mas porque comerciavam num lugar sagrado, que não devia ser usado para compra e venda.
Jesus nos aconselhou a ser bondosos e a repartir nossos bens, mas nunca nos forçou a fazer isso ou ensinou que o Estado deve forçar as pessoas a dividir seus bens. Ele enfocava na responsabilidade individual e não na do governo.
Na história do bom samaritano o aflito é ajudo por um samaritano, que usa seus próprios recursos para ajudar. O levita e sacerdote – figuras muito mais próximas do Estado-Judaico, desprezam o ferido.
Também deve-se mencionar a ideia de separação do Estado e da Religião: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” (Mateus 22:21). Aparentemente Jesus não queria que um tivesse influencia no outro, como ocorre de modo drástico nos sistemas socialistas.
A parábola dos trabalhadores da vinha
Não existe evidência que Jesus Cristo era socialista ou melhor, que se aproximava das ideias socialistas. Existe, porém, evidências de que ele acreditava no livre mercado e no respeito a propriedade privada. Na parábola dos trabalhadores da vinha, Jesus fala de homens que começaram a trabalhar muito cedo, e outros que foram chamados na última hora. O dono da vinha pagou a todos os homens igualmente. Você pode pensar que essa distribuição “igualitária” é algo mais parecido com socialismo do que com capitalismo, mas o fato é que ao ser questionado o senhor da vinha disse:
“Amigo, não te faço agravo; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti.
Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?” (Mateus 20:13-15)
Veja o respeito aos contratos individuais e iniciativa privada, não socialismo.
Conclusão
Jesus nunca forçou, nunca endossou redistribuição de riquezas. Muitos Judeus queriam um libertador, um guerreiro – alguém que os tirasse do domínio romano. Jesus não era esse messias temporal. Naquela ocasião Jesus veio liberta-los do pecado e da morte.
Jesus incentivou as pessoas a serem caridosas, mas nunca incentivou a criação de “bolsas” para os necessitados. Quando ele realizou o milagre e providenciou alimento para centenas – muitos começaram a seguir pensando que teriam suprimento gratuito permanentemente. Quando ouviram Jesus dizer que ele era o verdadeiro pão da vida – e perceberam que não teriam “auxilio comida”, muitos deixaram de segui-lo. (João 6:25–71)
Jesus não era socialista. Nas palavras de Lawrence Reed, presidente da Foundation for Economic Education:
“Jesus não podia ser socialista. Ele amava as pessoas, não o Estado”
Relacionado:
Jesus abominava a riqueza e incentiva as pessoas a se manterem pobres?
Discutir se Jesus Cristo era socialista ou capitalista faz tanto sentido qt discutir se Ele torceria para o Galo ou para o Cruzeiro. Apesar do texto iniciar com a afirmação de que não havia Socialismo na época de Cristo, toda a argumentação se dá com base em um conceito q não existia naquela época: um Estado nacional. Os Estados nacionais surgem apenas no final do século XVIII e, portanto, não faz sentido falar em estado forte ou estado mínimo na época de Cristo
No parágrafo seguinte, a definição do capitalismo está incorreta. O capitalismo se caracteriza por um sistema econômico que visa lucro e acumulação de riquezas, baseando-se na propriedade privada dos meios de produção. Um país capitalista pode ter uma política de livre mercado ou intervencionista, não é a intervenção do estado na economia, como ação isolada, que o caracteriza.
Considerando o lucro e a acumulação de riquezas, não resta dúvida que essa nunca foi a instrução do Salvador. Isso fica clara em diversas passagens, mas destacarei apenas uma, para ser breve: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Mateus 6:19-21)
Não desejo entrar no mérito do qual sistema está mais alinhado ao posicionamento de Cristo pq esse é justamente o que eu considero o erro fundamental do texto. Gostaria apenas de ressaltar q Cristo deixou bem claro o distanciamento entre religião e governo, como no trecho citado no texto: “Dai pois a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21). Essa é a base de sustentação de um Estado laico e não de uma dicotomia socialismo x capitalismo. São países fundamentalistas religiosos que costumam violar essa regra. Cristo, frente a Pilatos, ressaltou que Sua missão na Terra não era política: “O meu reino não é deste mundo; se meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; porém agora o meu reino não é daqui.” (João 18:36).
No mais, considero absolutamente inapropriada uma comparação entre Socialismo e Capitalismo nos dias de hj. A Guerra Fria já acabou há décadas. O Capitalismo venceu. Faz mt mais sentido abordar as vantagens e desvantagens de políticas de Estado Mínimo ou de Estado de Bem-Estar Social. Lembrando q, inclusive, um Estado de Bem-Estar Social pode ter livre mercado, como é o caso dos países nórdicos.
Teria mts outras considerações a fazer, como a forma que as comunidades cristãs primitivas se organizaram (Atos 2:44-45), como os povos do Livro de Mórmon viviam qd andavam em retidão (I Néfi 4:2-3) ou sobre os primórdios da restauração, com a Ordem Unida. Mas já me estendi demais. No mais, considero inadequado, em um momento político tão polarizado, levantar discussões q, além de se basear em conceitos errados, podem gerar contendas desnecessárias. Na minha opinião, seria mais produtivo realçar as falas de Cristo que nos ajudam a discernir entre “lobos e cordeiros”, nos prevenir de hipócritas que “oram em público para que sejam vistos pelos homens”, de vendilhões do templo q transformam a fé em mercadoria ou que incentivam a intolerância, o ódio, a violência e a restrição de liberdade do nosso próximo.
Admiro mt o site “Mais Fé” e considero que as postagens deste canal costumam ser mt interessantes e uma importante fonte de informação e consolo para membros da Igreja e simpatizantes. Mas considero este texto absolutamente inadequado. Todos nós precisamos estar sempre atentos para não mesclar filosofias dos homens com escrituras.
Obrigado Verônica Magalhães Rosário. Você me dá a oportunidade de explicar-me de modo mais apropriado.
Vamos lá!
Discutir se Jesus era ou não socialista não tem nada haver com torcida esportiva. Socialismo é algo muito, muito mais complexo. Envolve economia, filosofia, sociologia, história, Direito, e muito mais. Você sabe. Reduzi-lo a uma discussão de bar entre dois antagonistas esportivos é desprezar a inteligencia humana.
A teoria política como conhecemos talvez tenha seu inicio com Maquiavel. E a ideia de “estados Nacionais”, bem mais tarde. Mas se você estiver atenta a História, sem se prender a “conceituações” e “terminologias” vai ver traços semelhantes num passado bem mais remoto. Não seria apropriado dizer, com todas as ressalvas, que o Antigo Egito era um “estado-nação”? Ou a Babilônia não tinha características que encontramos nos Estados Modernos – como um Estado de Direito?
Mas longe de enveredar por essa questão, meu frágil e pequeno artigo diz que tão somente podemos “analisar os traços gerais do socialismo” e “verificar se o Salvador SERIA ou não socialista.” É um exercício hipotético.
Tanto o socialismo, como o capitalismo foram simplificados no meu texto. Minha audiência lá não é de intelectuais ou de interessados em política. Resumi, e resumi bem, alguns termos que, as ciências sociais, são sempre discutíveis. Mas se você notar, o capitalismo lá, no meu texto, se apresenta como “em oposição ao sistema político-econômico” do socialismo, um sistema que acaba gerando desigualdades mas que valoriza muito mais a “meritocracia” em comparação ao socialismo.
Imaginar como Cristo e seus ensinamentos se aplicam é fundamentalmente o dever de todo cristão. Como a política é tão relevante, é crucial refletir sobre Cristo neste aspecto.
Não é, portanto, “inadequado” levantar essas discussões.
Se na sua opinião o artigo é imprudente e desnecessário, convido-a a escrever mais sobre o que considera adequado. Podemos até publicar seus textos no maisfé.
Obrigado pela sua admiração pelo canal. Mas tenho liberdade de expressão e oportunidade de dizer meu ponto de vista, assim como você.
Para finalizar, mesmo que você não tenha entrado na questão da Lei da Consagração e do Comum Acordo – digo que tais nada tem haver com o Comunismo ou Socialismo. E também que embora a Guerra fria tenha terminado, ideias pungentes da época estão presentes em toda parte.
Muito boa sua resposta. Realmente esse site é maravilhoso. Muitos artigos excelentes. Esse também foi um bom artigo, mas sua resposta foi muito bem conceituada, na verdade achei que complementou o artigo com outra visão. Coisa que acho que o Lucas deverei ter feito. Ele foi muito parcial nesse texto, acho que ele deveria ter usado escrituras como você mostrou que levam semelhanças com o socialismo, mesmo que utópico. Claro que el é livre para defender uma posição, mas acho que ele deveria ter enriquecido mais o texto colocando os pontos de oposição. De qualquer forma agradeço os dois. Muito útil os dois textos.
Minha opinião: Acho que deveria mudar o Titulo do artigo. Achei muito sensacionalista, apena para chamar atenção. Muito anacronismo colocar a possibilidade de Jesus ser socialista. Não faz muito sentido. Sei que você Lucas colocou isso no seu texto. Jesus como bem colocado por vocês dois não tinha relação com o estado. Mas podemos observar coisas semelhantes dos dois sistemas , capitalista e socialista, sendo aplicados na doutrina da Igreja. Como eu disse, “coisas” , a ideia da meritocracia ou do empreendedorismo que se assemelha muito mais com o capitalismo é ensinado pela Igreja e o Lucas também mostrou escrituras com esse tema. Mas a ideia de tudo em comum , repartir riquezas, que se assemelha mais com o socialismo(comunismo) também é evidenciado na história da Igreja e em escrituras como bem mostrou a Verônica. Não achei apropriado quando Lucas disse “nao tem nada haver”. Sim, sabemos que a Ordem Unida ou Lei da consagração não se trata de comunismo,Benson falou sobre isso. Sim sim, mas tem “coisas” semelhantes? Que levam a pensar em ALGUNS aspectos do comunismo? Acredito que sim. Não é a toa que houve uma corrente ligado ao cristianismo no final século XIX e XX chamada de Socialismo Cristão.
Como bem disseram o socialismo e capitalismo são sistemas que tem todo sua complexidade. Mais uma vez afirmo que é anacronismo colocar tais sistemas na doutrina da Igreja ou nas falas de Jesus, e vocês mostraram isso muito bem.
Muito obrigado mais uma vez pela riqueza dos dois textos!
Ótimo artigo guerreiro , quando der aparece no JAS de Campinas. Abraço
Nao era socialista porque o socialismo nem existia!!! kkkk E muito menos capitalista, aliás quero ver um artigo comesse titulo também. Triste ver pessoas que se acham inteligentes enfiarem as coisas sagradas com algo tão corrompido quanto a política para tentar fazer a cabeça dos outros de sua religião.