Da decepção para a alegria
A última conferência geral foi maravilhosa! Parecia que cada momento era preenchido com esperança. De fato, nada nos traz mais esperança do que discutir sobre Deus e Seu amor, sobre Cristo e Sua missão, sobre a restauração e a oportunidade eterna.
É bom estudar as palavras que escutamos, assim a esperança que elas trazem pode ser incorporada em nossas almas.
A esperança é o combatente natural para os males que enfrentamos em nosso dia-a-dia. Muitas vezes é tudo o que temos para nos defendermos contra os ataques da escuridão que surgem em nosso caminho.
A triste realidade é que falar sobre esperança é muito mais fácil quando está tudo bem e é muito mais difícil quando estamos com problemas.
Podemos facilmente dizer “a alegria vem pela manhã” (Salmos 30:5), quando já dia, mas não conseguir enxergar essa realidade por causa da escuridão que nos rodeia.
É nesses momentos de desesperança que sentimos uma emoção difícil de dominar – a decepção.
A decepção é difícil, porque pode distorcer nosso pensamento de maneiras que não são otimistas ou justas. Permita-me explicar através de uma experiência da minha adolescência.
A decepção
Durante o último ano do ensino médio, eu estava determinado a convidar uma certa garota para o baile de formatura.
Todos os nossos amigos sabiam das minhas intenções e estavam animados por mim.
À medida que época que os rapazes deveriam convidar as moças se aproximava, comecei a me preparar, imaginando como seria divertido ir ao baile com aquela garota.
E então, um dia antes de eu perguntar, o impensável aconteceu – outro rapaz a convidou. E ela aceitou ir com ele. Fiquei arrasado!
Em um instante, meus sonhos do ensino médio foram destruídos e toda a minha preparação foi desperdiçada.
Sim, dava para notar que fiquei bastante decepcionado.
Aquela decepção me levou a ter alguns pensamentos ruins, como “não tenho valor”, “sinto-me traído e quero vingança” e “como Deus pôde permitir que isso acontecesse?”
Aqueles pensamentos, que poderíamos chamar de “naturais” em uma situação aparentemente injusta, não fizeram nada pela minha progressão cristã e só me trouxeram raiva e amargura.
Não, não me tornei ruim – mas com certeza eu não senti paz. A amarga decepção agia como uma barreira ao conforto celestial.
Aqueles sentimentos não duraram para sempre. Através da oração, fui capaz de perdoar e esquecer. Convidei outra garota maravilhosa para o baile e nos divertimos muito.
Mas as lições que aprendi dessa experiência são reais. Não me senti grato por isso na época, mas olhando para trás, sou feliz por ter aprendido essas lições enquanto ainda era jovem.
A decepção ocorre quando descobrimos que nossos sonhos e desejos não são alcançados. Por natureza, nos desapontamos quando não conseguimos o que queremos ou sentimos que merecemos.
Não há nada de antinatural ou ruim em sentir decepção – isso nos mostra que nos importamos com algo, e não há nada de errado nisso!
É normal ficarmos desapontados quando perdemos o jogo do campeonato de basquete ou vamos mal em um teste para o qual pensávamos estar preparados.
E quando ocorre uma pandemia, que interrompe todo o nosso progresso, cancela todos os eventos que esperávamos e nos força a ficar em casa sem que possamos fazer nada?
É decepcionante! Acredito que é altamente improvável que alguém queira que isso aconteça, portanto, podemos sentir-nos decepcionados, porque quando não conseguir o que queremos, nos decepcionamos.
E se mudarmos um pouco a nossa perspectiva?
E se não focarmos no que perdemos ou no que não aconteceu, e preferirmos confiar Nele que, em Sua sabedoria, “tudo conhece” (2 Néfi 2:24)?
Acreditamos que Deus não sabia que essa pandemia aconteceria? Acreditamos que Deus não sabia que todos os nossos eventos seriam cancelados? Acreditamos que Deus não sabia que ficaríamos decepcionados?
Contudo, acredito que Deus permite que nos sintamos decepcionados para aprendermos e confiarmos Nele.
Sempre que estou decepcionado, me sinto humilde ao ver a vida dos santos justos que viveram antes de mim.
Imagino a decepção no rosto de Moisés quando ele viu seu povo reduzido à idolatria. Imagino a decepção diária enfrentada por Leí ao tentar em vão, ensinar Lamã e Lemuel os caminhos da retidão.
Imagino a feroz decepção enfrentada por Joseph e seus companheiros, encarcerados em uma prisão por cinco meses, enquanto suas famílias eram espancadas e expulsas e estavam fora de seu controle.
Que amarga decepção! No entanto, como eles reagiram? Com fé contínua em Deus. A vontade deles foi tomada pela vontade do Senhor.
Eles escolheram não focar em como as coisas poderiam ter sido, mas concentraram sua energia naquele momento e suportaram bem.
E por causa disso, eles foram extremamente abençoados – bênçãos que, com certeza, nunca foram plenamente realizadas nesta vida, mas os esperam na glória celestial.
Eles viram as promessas de longe (Hebreus 11:13), sem receber, mas sabendo que um dia as receberiam.
E também devemos enfrentar decepções. Sim, a pandemia ainda está varrendo a terra e não sabemos quando acabará.
Mas, em vez de ficar desesperados, por que não tiramos esse tempo para focar novamente nossas vidas no que importa, construir relacionamentos mais fortes com Deus e com a família e nos preparar para o que virá depois?
Em vez de nos concentrarmos em como as coisas estão difíceis agora, por que não confiamos que Deus tem um propósito em tudo isso?
Aprender a confiar
A esposa do presidente da minha missão, irmã Runia, me ensinou uma lição valiosa da qual todos podemos nos beneficiar agora. Ela compartilhou esta escritura conosco:
“Portanto, ele vos faz essa promessa, com um convênio imutável de que serão cumpridas; e todas as coisas que vos tiverem afligido reverterão para o vosso bem e para a glória do meu nome, diz o Senhor” (Doutrina e Convênios 98:3).
Ela chamou esse princípio de “alquimia espiritual” – coisas aparentemente ruins em nossas vidas, de alguma forma funcionam para o nosso bem.
Sei que isso é verdade porque penso em minha missão, foram dois anos muito difíceis, mas não posso enumerar seu imenso efeito em minha vida.
Também sei que é verdade quando assisto o Presidente Oaks falar sobre oposição com um sorriso no rosto!
Todos os irmãos passaram por tantas dificuldades em suas vidas, e seus chamados atuais são muito difíceis de suportar às vezes, mas eles podem falar de suas provações sorrindo.
Como? Eles devem confiar na capacidade de Deus de transformar seus tempos difíceis em lições valiosas e crescimento, que não seria possível se fosse de qualquer outra maneira.
C.S. Lewis resumiu a alquimia espiritual de uma maneira muito melhor do que eu jamais consegui fazê-lo. Em seu livro O Grande Divórcio, ele disse:
“’Filho’, disse ele, ‘você não pode, no seu estado atual, entender a eternidade … É isso que os mortais não entendem.’ Eles dizem sobre um sofrimento temporal: ‘Nenhuma felicidade futura pode compensar isso’, sem saber que o Céu, uma vez alcançado, trabalhará ao contrário e transformará até essa agonia em glória.
E, com algum prazer pecaminoso, eles dizem: ‘Deixe-me ter isso e eu aceitarei as consequências’: pouco sonhando como a condenação se espalhará de volta ao passado e contaminará o prazer do pecado. Ambos os processos começam mesmo antes da morte.
O passado do homem bom começa a mudar, de modo que seus pecados perdoados e tristezas lembradas adquirem a qualidade do Céu: o passado do homem mau já está de acordo com sua maldade e é preenchido apenas com tristeza.
E é por isso que … os Abençoados dirão: ‘Nunca moramos em lugar algum, exceto no Céu’; e os Condenados, ‘Sempre estivemos no inferno’. E ambos falarão verdades.”
Se acreditarmos nisso, sabemos que se reagirmos à decepção com retidão, chegará um tempo em que esqueceremos toda a decepção e lembraremos apenas de crescimento e alegria. Esse tempo pode não ser aqui e agora, mas em breve, se perseverarmos, esse dia chegará.
Fonte: LDS Blogs