Cremação e o evangelho de Jesus Cristo

Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias a cremação não é recomendada. A Igreja incentiva que os seus membros falecidos sejam sepultados. Mas nem sempre isso é possível ou adequado – por exemplo: exigências legais de alguns países só permitem a cremação.
O Manual de Instruções explica as normas de sepultamento e, depois, acrescenta:
A Igreja normalmente não incentiva a cremação. [1]
A Igreja até mesmo permite uma adaptação a ordenança de dedicação de sepulturas:
Se o corpo de um membro da Igreja for cremado, o líder presidente pode usar seu discernimento para decidir se vai dedicar o local em que as cinzas serão guardadas. Ele deve levar em consideração os desejos da família, os costumes e as leis locais. Se o local for dedicado, o portador do sacerdócio pode adaptar as instruções para a dedicação de sepulturas. [2]
Mas qual o motivo do não incentivo à cremação?
O motivo de preferirmos o sepultamento é simbólico: os Patriarcas antigos e o Próprio Senhor Jesus Cristo foram sepultados. O suputamento também permite a realização de uma Ordenança do Sacerdócio onde se dedica a sepultura.
Desde a Antiguidade o povo do Senhor tem dado preferência ao sepultamento de seus mortos. Nas Escrituras é o ideal invariável. Os povos que não serviam ao Deus de Israel, pelo contrário, tinham outros rituais, inclusive a cremação.
“O fogo de Moloque” era uma cerimonia apostata na qual criancinhas eram mortas vivas pelo fogo. O Senhor condenou duramente essa prática (Levíticos 18:21).
O ideal do sepultamento nem sempre foi alcançado pelos fiéis. Vários profetas e santos foram mortos por fogo (por exemplo: Alma 14 – onde várias mulheres e crianças foram assassinadas pelo fogo, mas o Senhor as recebeu em glória).
O Irmão Spencer J. Palmer, da Universidade de Brigham Young explicou sobre a preferência dos membros da Igreja por sepultamentos:
Eu, pessoalmente, prefiro que os corpos dos que são levados pela morte sejam sepultados na terra, em
túmulos, em lugar de serem cremados (prática comum entre os indus e budistas) ou colocados sobre sagradas “ torres de silêncio” para que a carne corruptível seja consumida pelos abutres (segundo o costume dos adeptos do zoroastrismo) ou tenham outro destino qualquer. (…)Essa tradição simboliza os ensinamentos evangélicos de morte, sepultamento e ressurreição — a expiação de Cristo — e do batismo por imersão, conforme Paulo sugere em Romanos 6.
Os corpos dos falecidos é parte essencial da alma eterna. São tabernáculos sagrados do espírito. Por respeito aos mortos, suas sepulturas devem ser escolhidas com cuidado e devidamente conservadas. Mas não vejo justificação alguma para as teorias confucianas de geomancia, de que determinadas configurações do terreno (topografia) sejam consideração essencial na escolha do lugar de sepultamento dos mortos.
Tampouco existe qualquer razão para pensar que os mortos gastem seu tempo procurando punir, governar ou recompensar a parentela viva de acordo com os cuidados recebidos na hora da morte e depois. As sepulturas não são santuários. O corpo é ali colocado simbolicamente à semelhança de sua ressurreição da tumba, mas a vida e personalidade do falecido não está dentro, nem pairando sobre a sepultura.
O espírito dos falecidos vão para um lugar chamado paraíso, um mundo de espíritos, aguardando ali o dia da ressurreição. [3]
Na Ressurreição
Joseph Smith, o Profeta disse, certa vez em um serviço fúnebre:
“O lugar onde um homem é sepultado é sagrado para mim. É um assunto mencionado no Livro de Mórmon e em outras Escrituras. Mesmo os aborígines desta terra consideram as tumbas de seus ancestrais mais sagrados do que outra coisa qualquer (…) Creio ser invejável a condição daqueles que sepultaram seus amigos aqui.
Vejam Jacó e José no Egito, como pediram aos amigos que os sepultassem na tumba de seus antepassados. Pensem na despesa exigida pelo embalsamento e longa viagem do numeroso grupo acompanhante.
A falta de um sepultamento digno sempre tem sido considerado grande calamidade; e uma das maiores maldições que os profetas antigos podiam impor a um homem, era que não teria um sepultamento condigno.
Tenho rogado: Pai, meu desejo é morrer aqui entre os santos. Mas se não for da tua vontade, e eu morrer em outra parte, por favor, encontra um amigo bondoso que traga meu corpo de volta, e junte meus amigos que caíram em terras estrangeiras, trazendo-os aqui, para que todos possamos descansar juntos.
Vou dizer-vos o que desejo. Se amanhã eu for chamado a deitar-me naquela tumba, na manhã da ressurreição tomarei as mãos de meu pai bradando: ‘Meu pai’, e ele dirá: ‘Meu filho, meu filho’, tão logo as rochas se fendam e mesmo antes de sairmos das sepulturas.
E será que podemos considerar as coisas dessa maneira? Sim, se aprendermos como viver e como morrer. Quando nos deitamos nós projetamos como nos levantaremos pela manhã (…) Acharíeis estranho se eu relatasse o que contemplei em visão, relacionado a esse assunto interessante?
A visão era tão clara que pude ver nitidamente os homens antes de sairem da sepultura, como se estivessem erguendo-se lentamente. Eles tomaram-se mutuamente pelas mãos e diziam um ao outro: ‘Meu pai, meu filho, minha mãe, minha filha, meu irmão, minha irmã’.
E quando se fizer ouvir a voz que manda os mortos se levantarem, suponhamos que eu esteja deitado ao lado de meu pai, qual seria a primeira alegria de meu coração? Encontrar-me com meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã. E quando estiverem ao meu lado, eu os abraço e eles a mim.” [4]
Embora o sepultamento cumpra o perfeito modelo de morte e ressurreição, nem sempre pode ser alcançado. E as vezes nem é desejável! Alguns morrem em acides aéreos e marítimos – outros estão em um local em que os lençóis freáticos são tão altos que impedem o sepultamento na terra. E já mencionamos as diversas legislações – algumas das quais obrigam a cremação.
O corpo voltará a terra, seja sendo sepultado ou cremado, mas será integralmente restituído na ressurreição dos mortos (Alma 11:44).
Quando a cremação ajudou na pregação no mundo espiritual!
Uma história interessante ilustra que a cremação às vezes é adequada foi contada pelo professor Palmer, que citamos acima. Veja:
Eu também acho que há circunstâncias incomuns em que a cremação é preferível e de acordo com o pensamento e vontade do Senhor. A experiência de meu ex-presidente de missão há uns vinte anos atrás, relacionada à morte de Mark Johson Vest, membro ameríndio da tribo cocoapas, é um exemplo vivido e memorável.
O irmão Vest era presidente de ramo de um grupo ativo de membros por ocasião de sua morte. A caminho do Arizona para o funeral do irmão Vest, o presidente da missão orou fervorosamente ao Senhor indagando por que o irmão Vest fora chamado.
Durante a oração ele visualizou Mark Johson Vest em pé diante de um grande grupo de índios, o qual estimou em perto de dez mil, pregando o Evangelho. Então um dos índios no meio do grupo levantou-se e falou: “ Não deem atenção a este homem. Ele não é um lamanita, é nefita!” Imediatamente Mark Johson Vest, aprumando-se em toda a sua estatutra, respondeu: “ Eu não sou nefita! Sou um lamanita e quando morri fui cremado de acordo com o costume de meu povo.”
Quando o presidente da missão chegou à localidade do funeral, o presidente da estaca comunicou-lhe que surgira um sério problema. A tribo de Mark, os cocoapas, queriam que fosse cremado segundo as antigas tradições. A gente da tribo de sua mulher queria que fosse “ apropriadamente enterrado.” Os cocoapas haviam ameaçado desenterrá-lo, a fim de procederem à cremação.
Durante o serviço fúnebre, o presidente relatou a visão tida durante a noite. Isto solucionou o problema
da cremação a contento de ambas as tribos, e não houve mais discussões entre eles sobre o assunto.Após os serviços fúnebres, o presidente da missão e esposa presenciaram a cremação de Mark Johson Vest.” [5]
Para Saber mais sobre como são os funerais e sepultamentos dos membros da igreja clique aqui.
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NOTAS
[1] Manual 2 – Item 18.6.6
[2] Manual 2 – Item 20.9
[3] “Perguntas e Respostas”, A Liahona, Janeiro de 1973
[4] Teachings of the Prophet Joseph Smith /Deseret Book Co., 1961/ pp. 294-96
[5] Idem a Nota 3