Como você pode responder às necessidades que não pode ver?
Eu tinha uma maravilhosa amiga, Sheri, que faleceu a alguns anos trás. Ela tenha um grande talento, ela conseguia ver a necessidade dos outros. Era até meio estranho.
Ela frequentemente dizia coisas para mim do tipo, “Você notou como a Margo estava quieta na Sociedade de Socorro? Será que ela está bem?”
Eu estava na mesma reunião, é claro, e também conversei com a Margo, e não notei nada demais. Mais tarde descobrimos que no começo daquela semana, ela havia descoberto que seu esposo estava tendo um caso.
Como a Sheri sabia? O que ela podia ver que eu claramente não via?
Ocasiões como essa aconteceram inúmeras vezes com todos os tipos de pessoas. A Sheri sempre sugeria que falássemos com uma pessoa com quem ela estava preocupada. E sempre era uma ação inspirada.
Uma vez Sheri até me alertou para uma necessidade dentro de meu próprio lar com a minha segunda filha, que eu não havia notado. Sempre me perguntei se era possível aprender a ver como a Sheri via.
Jesus alertou sobre pessoas que “vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem nem compreendem” (Mateus 13:13).
Uma vez meu antigo bispo compartilhou uma história sobre quando pegou o metrô para levar seus dois filhos a seu escritório em um sábado. Eles estavam animados para ir até o trabalho do papai.
Em uma das paradas, um homem mal arrumado entrou no vagão e sentou do lado oposto do bispo e seus dois filhos.
Pela sua aparência e comportamento, meu bispo concluiu que o homem era um mendigo. O bispo resmungou em pensamento e pensou, “Esse homem vai me pedir esmola”.
Meu bispo havia ganhado um relógio caro de presente de aniversário. Então, ele pensou que isto seria um sinal para aquele homem que o bispo tinha dinheiro e lhe se ele pedisse.
Então, cuidadosamente o bispo puxou a manga de sua camisa até que o relógio estivesse coberto.
Ele também tomou muito cuidado para não fazer contato visual com o homem, já que não queria demostrar que estava aberto para que o homem o abordasse.
Seus filhos, no entanto, pareciam não nota-lo. Eles conversavam animados sobre a máquina de bebidas da empresa de seu pai, e quais bebidas iriam pegar.
Sentindo que o homem observava a conversa, meu bispo explicou que eles não poderiam pegar nada na máquina dessa vez, porque ele não tinha dinheiro em sua carteira. (Com certeza o mendigo entenderia a mensagem).
As crianças ficam muito tristes. Verdade seja dita, a máquina de bebidas era a razão principal pela qual eles estavam tão animados em ir ao centro da cidade com seu pai.
Eles não bebiam muito refrigerante em casa, sob o olhar atento de sua mãe preocupada com a saúde, mas no trabalho do papai eles sempre conseguir ter um pouco mais de liberdade.
Eles ficaram desanimados. Obviamente desapontados, eles resmungaram. Ao se aproximar da próxima estação, o “mendigo” se levantou para sair. Ele colocou a mão no bolso e retirou duas notas amassadas do bolso.
Ele sorriu para as crianças: “Aqui crianças, bebam refrigerante hoje”, e deu às crianças o dinheiro. Seus olhos se arregalaram em surpresa. Eles ficaram muito animados. “Obrigado, senhor!” eles agradeceram.
Ao caminhar para sair do vagão, o “mendigo” voltou seu sorriso para o bispo, então rapidamente saiu do metrô.
Ao recontar esta história na Reunião Sacramental, as palavras exatas do meu bispo foram “Me senti um idiota total!”
Ele continuou dizendo, “Então, quem foi o cristão naquele dia? Um bispo da Igreja do Senhor ou um mendigo que provavelmente não ia a Igreja a muito tempo?”
Essa história me atingiu bem no meio dos olhos. Por quantos mendigo já passei pelas ruas das cidades que visito ou aonde moro? Centenas, literalmente!
E como me comporto? Cuidadosamente evito contato visual, olho bem para frente e finjo que não os vejo.
Me pergunto se eu não sou uma das pessoas que o Salvador alertou que “vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem nem compreendem” (Mateus 13:13).
Em minha autodefesa, nem todas as vezes foram assim. Uma vez estávamos de férias passeando em San Francisco, e um dia de manhã, apesar de estarmos de férias, John e eu decidimos correr pelo cais da cidade.
Enquanto passávamos por figuras silenciosas e deitadas dormindo no chão do cais, eu dizia um alegre, “Bom dia!” para cada um deles – é apenas um hábito que adquiri ao correr pela minha vizinhança pela manhã.
Apenas um ou dois deles respondiam ou murmuraram uma resposta muda. A maioria deles apenas abria um olho sonolento enquanto passávamos correndo.
Ao chegarmos no final do cais, demos meia volta e continuamos a corre. Uma transformação aconteceu! Era como se todas as pessoas estivessem me esperando.
Todas as pessoas tinham levantado a cabeça e nos observavam. Eles acenavam com a mão e respondiam ao meu “bom dia” com entusiasmo. Um homem até se levantou da calçada para dar bom dia.
Ao passarmos por ele, ele gritou, “Você é uma mulher linda!”. Sério – até aquele momento, já havíamos corrido por volta de 16 quilômetros.
Eu estava toda suada, meu cabelo estava encharcado e o suor escorria pelo meu rosto vermelho. Eu estava qualquer coisa, menos bonita.
Porém, para ele, eu era uma mulher que reconhecia sua existência, então aquilo me tornou bonita. Eu só havia dado alguns ‘bom dia’.
Quantos filhos de Deus desejam ser vistos, ouvidos, reconhecidos e compreendidos? Não apenas no cais de São Francisco, mas nas ruas de nossas cidades, em nossos bairros, em nossas alas, nas escolas, nos refeitórios?
Quero me tornar mais parecida com minha amiga Sheri, que era sensível ao espírito dos outros. Para mim, é preciso um esforço consciente.
Acho que sou naturalmente tão focada em mim mesma, que simplesmente não vejo o que os outros estão sofrendo.
No entanto, sempre vejo como às vezes basta uma simples palavra, um abraço ou um aperto de mão para transmitir apoio e carinho. É claro que às vezes, é necessário um pouco mais.
Certamente, deve estar disposta a ajudar o meu próximo, quanto tantos outros estão dispostos a me ajudar, durante meus próprios tempos de desânimo. Eu quero ser essa pessoa!
Em um dos primeiros artigos que escrevi para a Meridian Magazine em 2016, falei da dor de ver os mendigos com lepra em minha primeira viagem à Índia.
Aquele sofrimento era quase inimaginável – era diferente de tudo que eu já tinha sentido antes. Eu queria fazer algo para ajudar. Mas o que? Escrevi:
Finalmente, orei para saber o que poderia fazer para ajudar. Não tive nenhum treinamento médico. Eu não sabia nada sobre a política ou cultura indiana. O que eu poderia fazer?
Um pensamento interessante me veio a mente. “Eles são seres humanos. Você pode pelo menos olhar para eles e reconhecê-los.”
O pensamento me assustou. Era uma indicação da culpa que sentia no carro, por não ter conseguido nem olhar para os mendigos? Ou era uma mensagem de Deus?
Ao pensar nessa ideia, ela fez sentido para mim. Provavelmente não pude fazer muito para ajudá-los.
Possivelmente, tudo o que pude fazer foi olhar para eles e reconhecer seu sofrimento. Parecia uma coisa tão pequena em meio a um sofrimento tão incomensurável, mas foi tudo que consegui pensar.
Para quem conhece a história do Rising Star Outreach, sabe que a simples determinação de olhar para esses mendigos angustiados foi o início do que se tornou uma organização que hoje atende dezenas de milhares de pessoas, cujas vidas são muito diferentes porque alguém olhou para eles. Abriu o caminho para que o Espírito nos conduzisse adiante.
Reconhecer e ver o próximo é um ato simples, mas talvez seja assim que nos tornamos a pessoa de quem Jesus descreve ao dizer, “Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem” (Mateus 13:16).
Talvez este seja o primeiro passo para ouvir como Jesus está sussurrando para nos ajudarmos uns aos outros.
Fonte: Meridian Magazine