Há anjos ao nosso redor, embora não possamos vê-los

O artigo a seguir é um trecho do livro “A fé não é cega” escrito pelo Élder Bruce C. Hafen e sua esposa, Marie K. Hafen. “A fé não é cega” oferece novos conceitos e ferramentas que ajudarão você a aprender com experiências difíceis, em vez de se sentir desiludido ou desencorajado por elas. Este livro reconhece as questões complicadas do evangelho, mas orienta-o com clareza e suavidade por meio dos passos necessários para trabalhar a complexidade, desenvolver um testemunho e preenchê-lo com a fé que vem do conhecimento de Deus.

No oitavo capítulo do livro, “Quando virão os anjos?”, o casal Hafen fala das visitas angelicais que ocorreram no Templo de Kirtland e dos trágicos acontecimentos que rodearam a posterior dedicação do Templo de Nauvoo. Eles comparam esses eventos com as experiências boas e difíceis que temos à medida que crescemos em nossas próprias vidas. Eles nos ensinam que os anjos ainda existem e nos protegem mesmo quando não podemos vê-los.

Entre o céu e a terra

Normalmente, o véu entre o céu e a terra esconde o Senhor e Seus anjos de nossa visão. No entanto, durante os estágios iniciais do nosso desenvolvimento espiritual, podemos experimentar momentos inconfundíveis em que o véu é especialmente fino. Assim, nosso sentimento de crença se torna um sentimento de certeza.

Nosso senso do mundo invisível aumenta por meio de nossas primeiras experiências de conversão, serviço missionário, vida universitária ou paixão. Podemos comparar esses períodos formativos de desenvolvimento espiritual com o período da dedicação do Templo de Kirtland na história da Igreja. Além disso, podemos comparar nossas experiências posteriores com o período da dedicação do Templo de Nauvoo.

Os períodos de dedicação dos templos de Kirtland (1830-1838) e Nauvoo (1839-1846) foram cheios de uma combinação de bênçãos surpreendentes e forte oposição.     

Os primeiros anos em Kirtland foram muito felizes para Joseph Smith e os santos. Em poucos anos, eles foram abençoados com acontecimentos maravilhosos: a visão no bosque, a publicação do Livro de Mórmon, a organização da Igreja, o início positivo da obra missionária, a escola de Profetas e grandes revelações que visavam um futuro magnífico. Eles não tinham ideia do que os esperava nas próximas páginas da história: a perseguição, a apostasia e a perda do amado profeta Joseph.

Contudo, primeiro vieram os anjos. A dedicação do Templo de Kirtland, em 1836, foi o maior derramamento espiritual na história da Igreja moderna. Frederick G. Williams e David Whitmer viram anjos no templo. Joseph disse que “o Salvador fez sua aparição a alguns, enquanto os anjos ministravam a outros”.

Complexidades

Agora contraste essas experiências com as terríveis condições em Nauvoo apenas nove anos depois. Joseph e Hyrum foram mortos. A dissensão e a apostasia atormentaram a Igreja, e o espírito sombrio do martírio desceu sobre Nauvoo como o anjo destruidor da morte. Os santos sabiam que não podiam ficar. Eles trabalharam freneticamente para terminar o templo, mesmo enquanto se preparavam para sua temível jornada para o oeste.  Mas não houve manifestações espirituais visíveis na dedicação do Templo de Nauvoo.  Pelo que sabemos, não havia anjos ali.

Muitas vezes, nossos anos de juventude, apesar das dificuldades, são uma espécie de Kirtland para nós: uma época simples e bonita, cheia de momentos pessoais e espirituais e de convicções idealistas e emergentes.

Esses anos podem nos elevar por um tempo acima do barulho e da confusão dos vales deste mundo até os cumes, onde desenvolvemos uma maior proximidade ao infinito.

No entanto, parece sempre chegar o dia da complexidade, o dia em que devemos descer de nossas montanhas, devemos deixar nossas Kirtlands.

Quando o fizermos, mais cedo ou mais tarde, teremos nossa própria experiência como em Nauvoo, tumultuada, talvez mais de uma vez. Teremos nossos próprios rios e desertos gelados para atravessar; um deserto moral, intelectual ou espiritual para controlar. Talvez nos sintamos confusos e desapontados, e talvez olhemos para trás com nostalgia, e nos perguntemos como recuperar nossos anos de alegria em Kirtland.

Quando nossa Nauvoo chegar, não nos surpreenderemos ou nos incomodaremos se mantivermos a imagem de Kirtland em nossas memórias. Ok, vamos dizer, nós entendemos. “Por agora não podeis, com vossos olhos naturais, ver o desígnio de vosso Deus com respeito às coisas que virão mais tarde nem a glória que se seguirá depois de muitas tribulações.” (D&C 58:3). 

Uma nova e mais profunda simplicidade, a que almejamos, irá chegar para nós somente após nossa temporada de complexidade. Então, pegaremos nossos carros e nossas famílias e nos dirigiremos para o oeste. Ao fazê-lo, sentiremos que Kirtland nos foi dado como um primeiro testemunho, para ser contado aos nossos filhos e aos filhos de nossos filhos, para que saibam que Deus é o Senhor. Ele não dorme. Nós saberemos porque estávamos ali durante aquela temporada feliz em nossa própria Kirtland.

Anjos ao nosso redor

O Senhor prometeu que, se formos sinceros e fiéis, ele mesmo estará “no meio de vós e não… podeis [vê-lo]” (D&C 38:7).  Mesmo que não o vejamos, ele estará “à[nossa] direita e à [nossa] esquerda e [Seu] Espírito estará em [nosso] coração e [Seus] anjos ao [nosso] redor para [nos] suster.” (D&C 84:88).

Além disso, talvez nossas experiências posteriores, mais turbulentas, enriqueçam nossas memórias de Kirtland. O próprio significado de nossos primeiros testemunhos será enriquecido pela perspectiva do tempo e da complexidade. Atrevemo-nos a ir a Nauvoo pelo que vimos em Kirtland.

O que uma vez vimos com clareza é o nosso testemunho, podemos voltar a vê-lo com clareza, agora com maior profundidade, no meio de – ou, talvez, por causa de – nossas aflições. Como os sobreviventes das companhias de carrinhos de mão de Wyoming, chegaremos a conhecer a Deus e seus anjos. A alma é como uma corda de violino: só faz música quando esticada. É por isso que devemos esticar nossos espíritos, para nos ajudar a crescer e aprender.

Mas, os anjos ainda estão lá, muitas vezes cuidando de nós. E algum dia, talvez não muito longe no tempo, estaremos preparados o suficiente e teremos motivos para ver os anjos de Kirtland mais uma vez.

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