Por que Paorã, Paânqui e Pacumêni têm nomes tão semelhantes?
“Ora, estes são os nomes dos que disputaram a cadeira de juiz e que também causaram contendas entre o povo: Paorã, Paânqui e Pacumêni.” Helamã 1:3
O conhecimento
Uma regra geral para a escrita fictícia é que os autores devem escolher nomes que são acessíveis aos leitores. “Os leitores devem ser capazes de pronunciá-los, diferenciá-los, lembra-los e saber sua forma correta”.
Para ajudar na fluidez da leitura, escritores de ficção tipicamente são “cuidadosos e evitam ter dois personagens importantes cujos nomes começa com o mesmo som”.
É claro que na vida real não tem como evitar que pessoas com nomes semelhantes (ou até mesmo idênticos) se encontrem, e os padrões históricos dos nomes diferem dos da ficção.
Portanto, não surpreende que o Livro de Mórmon, um registro antigo histórico, frequentemente quebre essa regra das práticas de nomenclatura fictícias moderna.
Por exemplo, no início do livro de Helamã, os leitores encontram um agrupamento confuso de três nomes que soam semelhantes: dois homens (um pai e um filho) chamados Paorã, bem como os dois irmãos de Paorã, Paânqui e Pacumêni (Helamã 1:2-3).
Embora essa constelação de nomes seja uma escolha improvável para um bom escritor de ficção, Hugh Nibley percebeu que ela soa verdadeira para um registro escrito em “egípcio reformado” (Mórmon 9:32-34).
“Uma coincidência notável”, observou Nibley, “é a predominância entre os nomes de juízes egípcios e nefitas com o prefixo Pa-. No egípcio tardio, isso é extremamente comum.”
Cada um dos nomes, e não apenas o prefixo pa- (egípcio pꜢ- = “o”) inicial, têm uma notável semelhança com nomes egípcios.
Paorã
A correspondência administrativa egípcia/cananéia escrita durante o século 14 a.C. frequentemente menciona um oficial chamado Paḫura (também escrito Piḫura, Piḫuru e Puḫuru), a tradução da escrita cuneiforme do nome egípcio ‘pꜢ-ḫr-ꜣn’ (Pa-ḫer-an, de acordo com Nibley) ou ‘pꜢ-ḫꜣry’. O nome significa “o sírio” ou “o hurrita”. Portanto, sabemos que Paḫura era “um governador egípcio da Síria”.
Paânqui
Nibley e outros estudiosos conectaram Paânqui ao nome egípcio ‘pꜢ-ꜥnḫ’ (escrito Paiankh, Pianchi e Paankh, de acordo com Nibley, ou comumente Piankh ou Pianch hoje). Este era o nome de um sumo sacerdote do deus Amon, que também foi general na 21ª Dinastia (1069–945 a.C.), e talvez também o nome de um importante faraó egípcio da 25ª Dinastia (747–656 a.C.). O nome geralmente significa “o vivente”, e pode ser um título de deidade, como “o Deus vivo” (cf. Moisés 5:29). Visto que a palavra ankh (ꜥnḫ) significa principalmente “vida” ou “viver”, seu hieróglifo tornou-se um símbolo muito comum para a vida eterna. Além disso, ankh também pode significar “juramento” ou “jurar”. Assim, o linguista Matthew L. Bowen propôs alternativamente o significado de “Ele [o deus] é meu juramento (de vida)” para ‘pꜢ-ꜥnḫ-ỉ’.
Pacumêni
Nibley e outros compararam Pacumêni ao egípcio Pakamen (pꜢ-kmn), que significa “o cego”. Nibley também sugeriu Pamenech (pꜢ-mnkh), que às vezes é traduzido como Pachomios em grego. Kumen ou cumen também é um elemento comum em outros nomes do Livro de Mórmon, incluindo a cidade de Cumêni mencionada durante a grande guerra no livro de Alma (Alma 56:14; 57:7-34). Adicionar o egípcio ‘pꜢ- a’ este nome para formar Pacumêni poderia significar “o cumenita”, para talvez sugerir os laços com aquela cidade. Em hebraico, ‘kmn’ significa “esconder; para se esconder” e, portanto, outra possibilidade é “aquele que está escondido”.
O porquê
Este conhecimento fortalece a credibilidade do Livro de Mórmon. A natureza egípcia desses nomes é tão atraente que até mesmo o famoso estudioso do século, William F. Albright, ficou impressionado.
Em uma carta, Albright expressou surpresa “que há dois nomes egípcios, Paanch [i] e Pahor (an), que aparecem juntos no Livro de Mórmon, em conexão próxima com uma referência à língua original como sendo ‘Egípcio Reformado’”.
Além disso, esses três nomes egípcios encaixam-se perfeitamente no cenário narrativo de Helamã 1:1-10. A natureza oficial desses nomes proporciona um contexto adequado à história da morte dos filhos de Paorã, que era o juiz supremo nefita.
Como Nibley observou, “Essa rivalidade familiar pelo cargo de sumo sacerdote é característica do sistema egípcio, no qual o cargo parece ser hereditário não por lei, mas pelo costume.”
Nibley destacou um egípcio chamado Paânqui (em inglês Paanchi (Piankh), cujo pai (chamado Kherihor ou Ḥerihor [egípcio: ḥry-ḥr], cf. Korihor) estava envolvido “em uma conspiração sacerdotal [que] se colocou como rival do próprio Faraó, enquanto na verdade seu filho Paânqui reivindicava o trono”.
Deste modo, o nome Piankh aparece em textos egípcios em associação a uma tentativa de usurpar o trono, assim como Paânqui no Livro de Mórmon que rejeita a voz do povo e busca usurpar a cadeira de juiz (Helamã 1:5-8).
Recentemente, Matthew L. Bowen, um especialista em línguas semíticas e egípcias, chamou atenção para o fato de que a rebelião de Paânqui inicia uma série de eventos que culmina em seus seguidores fazendo pactos e juramentos secretos, “jurando por seu Criador eterno” (Helamã 1:11).
Desta maneira, esta narrativa que envolve Paânqui, parece invocar ou aludir aos significados sutis de ‘ankh’ (não apenas vida, viver; mas também juramento, jurar) e sua associação com juramentos e jurar sobre a vida de uma divindade.
Enquanto a história da rivalidade pela cadeira de juiz entre os três irmãos de uma família de elite com nomes semelhantes (Paorã, Paânqui e Pacumêni) possa não ser boa para uma história de ficção, Mórmon aparentemente aprecia o valor desse nomes de várias maneiras, e é por isso que propositalmente os inclui em seus registros.
Esses nomes e a narrativa em Helamã 1 são indiscutivelmente mais verdadeiros e consistentes com as origens egípcias do Livro de Mórmon, do que um escritor de ficção em 1829 poderia esperar.
Fonte: Book Of Mormon Central