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Opor-se às Divergências com Tolerância

Um texto recente publicado pelo nosso colega Esdras Kutomi chamou muito minha atenção. Em uma visita do Elder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze, à renomada Universidade Johns Hopkins em Washington, capital americana, um jovem estudante o abordou sobre o crescente número de suicídios de membros da Igreja que têm atração por pessoas do mesmo sexo. Em sua resposta, o Élder Oaks explicou que o julgamento por suicídio não está ao alcance de nenhuma autoridade da Terra e que questões como essas serão respondidas no dia do julgamento. Mas a resposta mais impactante e importante a meu ver foi quando ele disse: “(…) parte da minha responsabilidade se estende a ensinar as pessoas a serem amorosas, civis e sensíveis aos outros, de modo que as pessoas não se sintam inclinadas ao suicídio, independentemente das divergências políticas, de qualquer regra de uma igreja, de qualquer prática religiosa ou de qualquer outra organização. Se elas são tratadas com bondade, seja no mais alto nível ou no nível local e geral, elas não levarão as pessoas a tomarem essas medidas extremas” [1].
Duvidas Rapaz Jovem
Quando li esse pequeno trecho, um bombardeio de sentimentos tomou conta do meu coração, e de imediato pensei: “essa é a responsabilidade de todos nós, Elder Oaks, não só sua”. Afinal, quando entramos nas águas do batismo, fazemos convênio de tomar sobre nós o nome de Cristo, e tomar sobre nós o nome mais sagrado na Terra e nos céus inclui amar ao próximo como Ele nos ama e amar ao próximo como a nós mesmos. E dei-me conta de que nem sempre cumpro essa responsabilidade sagrada de verdadeiramente tomar sobre mim o nome de Cristo ao pensar mal de qualquer pessoa, somente porque ela pensa ou age diferente de mim.

Avaliando o amor próprio e o amor alheio

Agora pergunto: o que significa amar ao próximo como a nós mesmos? Já passei por momentos complicados na vida, em que não sentia nenhum amor próprio, então, acabei muitas vezes pensando que amava os outros bem mais do que a mim mesma. Mas estava errada. Na verdade, eu sentia raiva das pessoas, assim como de mim mesma. E em muitos momentos, ponderando sobre esses sentimentos, percebi que quando amamos a nós mesmos, desejamos ser felizes, respeitados, compreendidos e tolerados. E então entendi o significado de amar o próximo como a nós mesmos. Porque do mesmo modo que desejamos que as pessoas sejam amorosas conosco, apesar de muitas vezes nossas atitudes não serem as melhores, o amor singelo às outras pessoas inclui com a mesma intensidade que desejamos para nós mesmos, respeito, compreensão e tolerância, independentemente das diferenças, escolhas e até mesmo falhas.

Ao seguir o discipulado
Jesus e apóstolos
Quer desafio maior ainda do que ter que amar o seu próximo como a si mesmo? Em João 15:12 está escrito “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”, o que inclui “amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” [2].

Um dos maiores desafios que a humanidade tem enfrentado na atualidade é a intolerância, em todos os aspectos possíveis. As pessoas não medem as palavras e ações. Bandidos matam por bens materiais, sejam trocados ou carros de luxo. Torcidas de esportes populares fazem rixas violentas em lugar de diversão. Partidários políticos se ofendem e comumente desfazem amizades por divergência ideológica. E uma das situações mais tristes: homens que tomam o nome de Nosso Salvador apontam o dedo para as diferenças do “irmão” e para seus pecados, como se tivesse autoridade para tal. Como consequência: um número cada vez maior de pessoas se sente frustrada por não atingir o ideal que lhes é imposto, seja pela sociedade de um modo geral, seja por alguns membros da Igreja, que, ao contrário do que disse o Élder Oaks, não aprenderam a tratar os outros com amor e civilidade.

Ele disse: “O livre exercício da religião cobre a maioria dos atos públicos, mas está sujeito a qualificações necessárias para acomodar as crenças e práticas dos outros. As leis podem proibir comportamentos que geralmente são reconhecidos como errados ou inaceitáveis, como a exploração sexual, a violência ou o comportamento terrorista, mesmo quando praticados por extremistas em nome da religião. Comportamentos menos graves, mesmo que inaceitáveis para alguns fiéis, talvez tenham simplesmente que ser tolerados se tiverem sido legalizados pelo que o profeta do Livro de Mórmon chamou de ‘a voz do povo’ (Mosias 29:26). Sobre a questão do discurso público, todos nós deveríamos seguir os ensinamentos do evangelho de amar ao próximo e evitar a discórdia. Os seguidores de Cristo devem ser exemplos de civilidade. Devemos amar todas as pessoas, ser bons ouvintes e mostrar respeito por suas crenças genuínas. Embora discordemos, não devemos ser desagradáveis. (…) Quando nossa posição não prevalece, devemos aceitar os resultados desfavoráveis de maneira respeitosa e ser civilizados para com os adversários. Em qualquer situação, devemos agir com boa vontade para com todos, rejeitando qualquer tipo de perseguição, incluindo aquelas relacionadas à raça, à etnia, à crença ou à descrença religiosa e às diferenças de orientação sexual” [3].

A luta pelos direitos e a responsabilidade do dever

Vivemos uma época única do mundo, em que, como nunca antes, a sociedade tem total liberdade para lutar por seus direitos. Devemos celebrar essa liberdade, porque apesar de ainda precisarmos de muita coragem, hoje podemos abrir nossas bocas para proclamar o Evangelho e defender nossas ideias sem nos esconder. Por outro lado, temos o dever de ter cuidado para que a nossa liberdade não invada e obstrua o direito alheio de viver a sua vida como lhe convém. Além disso, é nosso dever respeitar as diferenças de opinião sem proclamar uma guerra cheia de ódio e ofensas àqueles que não compartilham da mesma visão política, religiosa, social ou orientação sexual.

Um dos passos para alcançarmos a perfeição em Cristo é pararmos de enxergar imperfeições nos outros e estender mais compreensão por suas diferenças. Os grandes confrontos quase sempre começam com um pequeno ato de intolerância. O Elder Russel M. Nelson avaliou sabiamente: “Não poderiam as linhas de fronteira existir sem que se tornassem linhas de batalha? Não poderiam as pessoas unir-se para deflagrar guerra contra os males que atacam a humanidade, em vez de deflagrarem guerra uns contra os outros? Infelizmente, a resposta a tais perguntas é, frequentemente, não! Através dos tempos, a discriminação baseada em identidades étnicas ou religiosas tem levado a matanças insensatas, massacres ferozes e incontáveis demonstrações de crueldade. A história está repleta de incidentes causados pela intolerância” [4].

Mesmo nos momentos de divergência, é importante lembrarmos aquele conhecido e sábio provérbio que diz: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” [5]. E sem dúvida, o amor sempre surtirá mais efeito do que o preconceito, a discriminação, a coação e a intolerância às divergências de opinião ou de crenças. Por isso, antes de apontarmos o dedo para os erros ou condutas alheias, que possamos olhar para o que precisa ser aperfeiçoado em nós mesmos, e “ao seguirmos o exemplo do Salvador e vivermos como Ele viveu e como Ele ensinou, essa luz [de Cristo] vai arder dentro de nós e iluminar o caminho para outras pessoas” [6].

Leitura adicional: 7 Passos para Defender a Verdade e Não Julgar

Notas

1. Apóstolo Mórmon Fala Sobre o Suicídio de Mórmons LGBTs
2. Mateus 5:44
3. Amar os Outros e Conviver com as Diferenças
4. “Ensinai-nos tolerância e amor”
5. Provérbios 15:1
6. Ser um exemplo e uma luz

| Inspiração
Publicado por: Márcia Denardi
Márcia Denardi é jornalista, professora do instituto e uma mãe totalmente viciada nos filhos. É catarinense e um pouquinho gaúcha de raiz e coração, e escolheu, por tradição paterna, o Grêmio como time do coração e um bom chimarrão como companheiro de trabalho. Ama escrever, cantar e estudar. Escreve para o portal Familia.com.br desde 2012, para o site OsMormons e é locutora voluntária do projeto FairMormon. Também tem um Canal no Youtube para pesquisadores da Igreja.
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