Todo fim de ano, o mesmo ritual se repete. Pessoas animadas e com planos grandiosos, sonhos compartilhados e aquela famosa “fézinha” na Mega da Virada. Eu cresci em um lar onde isso era comum. As apostas surgiam como uma chance de mudança, quase como se aquele bilhete pudesse ser o passaporte para uma vida melhor.
Cada um da família já sabia exatamente o que faria com os milhões: quitar dívidas, comprar casa, viajar, ajudar a família e até fazer lindas doações. Tudo parecia real, quase como se já estivesse certo — apesar de estar sustentado apenas na sorte.
Com o tempo, percebi que havia algo desconfortável nessa torcida toda. Não pela conversa em si, mas pela expectativa depositada em algo que não exigia esforço nenhum, mas que parecia bom demais.
A probabilidade que mudou minha forma de ver o sucesso
No início da adolescência, fui selecionado para uma bolsa de iniciação científica pela Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Em uma das aulas, estudamos probabilidade e o exemplo usado foi justamente a Mega-Sena.
O cálculo é simples, mas é revelador. Para ganhar o prêmio máximo, é preciso acertar 6 números entre 60. A chance real disso acontecer é de 1 em 50.063.860. Em termos práticos, é como escolher um grão de areia em uma praia inteira… de olhos vendados.
Foi ali que caiu a ficha para mim. A Mega-Sena se baseia na sorte de um para o azar de milhões. Já o progresso pessoal funciona de forma oposta: quanto mais esforço, maior a chance de crescimento.
Percebi que minhas probabilidades de sucesso seriam infinitamente maiores investindo em estudo, trabalho e desenvolvimento — não nas apostas.
As promessas de Deus não são baseadas na sorte
Anos depois, conheci algo que mudou completamente minha perspectiva: o plano e as promessas de Deus.
No Livro de Mórmon, lemos:
“E ainda mais, quisera que considerásseis o estado abençoado e feliz daqueles que guardam os mandamentos de Deus. Pois eis que são abençoados em todas as coisas, tanto materiais como espirituais.” (Mosias 2:41)
Diferente da loteria, as bênçãos do Pai Celestial não são aleatórias. Elas estão ligadas diretamente à nossa fé, à fidelidade e à obediência às Suas leis.
“Há uma lei, irrevogavelmente decretada no céu antes da fundação deste mundo, na qual todas as bênçãos se baseiam. E quando recebemos uma bênção de Deus, é por obediência à lei na qual ela se baseia.” (D&C 130:20-21)
Assim, comecei aplicando princípios simples, mas que foram poderosos para mim: fé, estudo, oração, dízimo e jejum.
Decidi colocar em prática o ensinamento do Salvador em “[buscar] primeiro o Reino de Deus, e todas [as outras coisas me foram] acrescentadas.” (Mateus 6:33)
Portanto, primeiro, fortaleci meu relacionamento com Deus. Foi nesse período que conheci os missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Após algum tempo, recebi uma resposta do Senhor e fui batizado. E essa foi a grande decisão que impactou todas as áreas da minha vida.
Quando a fé encontra o esforço
Enquanto cursava a faculdade, orei pedindo um estágio. Candidatei-me a algumas vagas, fiz as entrevistas e, em jejum e oração, disse ao Senhor que confiaria na oportunidade em que sentisse paz, mas que, se possível, tinha uma vaga de que gostei mais.
Poucos dias depois, recebi a resposta: fui selecionado para a vaga que apresentei ao Senhor. Mas é claro, meu primeiro salário não era um grande sonho. Mesmo assim, decidi ser fiel e devolver o dízimo, 10%, conforme aprendi, quando decidi seguir o Senhor.
E algo extraordinário aconteceu. Partir desse momento eu consegui:
- dividir o aluguel com minha irmã;
- comprar comida;
- me locomover;
- sair com minha namorada;
- e ainda sobrava dinheiro.
Se isso não é o cumprimento da promessa registrada em Malaquias 3:10, eu sinceramente não sei o que é:
“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, até que não haja mais lugar para a recolherdes.”
Não ganhei na loteria, mas vivi o milagre da multiplicação. Portanto, nunca faltou o que precisei em casa.
Prosperidade que vai além da Mega da Virada
Esse foi apenas um exemplo. Então, o Senhor continuou me abençoando.
Logo saí em missão por dois anos. Ao retornar, consegui emprego em poucos dias. Assim pude guardar recursos durante 10 meses para meu casamento (e quem já organizou uma festa sabe o quanto isso custa), e fomos abençoados com um lugar para morar.
A educação também abriu portas para mim. Iniciei uma segunda graduação por meio da BYU-Pathway Worldwide, e hoje tenho um trabalho que sustenta minha esposa e nossos filhos.
Não participo de bolões da empresa. Não faço minha fézinha. Mas posso dizer, com convicção, que o Senhor me tornou milionário de uma forma que o dinheiro jamais explicaria.
Fé e Mega da Virada: qual é a sua aposta?
Aprendi que a palavra prosperidade vai além do dinheiro.
É sobre ter paz.
Ter um propósito.
Saber em que direção seguir.
É ter uma família unida.
É saber de onde e de quem vêm as bênçãos.
Como já ouvi certa vez: “Tem gente que é tão rica que o dinheiro não lhe faz falta.”
No fim das contas, a pergunta que fica não é se podemos apostar na Mega da Virada. A pergunta é: em quem vamos depositar nossa fé?
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