Em Doutrina e Convênios 88:139, o Senhor estabeleceu uma ordenança especial como parte da Escola dos Profetas, conhecida como a ordenança do lava-pés:

“E a ninguém recebereis entre vós nessa escola, a não ser que esteja limpo do sangue desta geração; E ele será recebido pela ordenança do lava-pés, pois para esse fim foi instituída a ordenança do lava-pés”.

O que é o lava-pés

O que é esta ordenança? Ainda é realizada hoje em dia? Vamos examinar mais de perto as escrituras e a revelação moderna.

A maioria dos cristãos está bem familiarizada com a ordenança do lava-pés descrita em João 13. Esta prática era comum entre o povo daquela época. Quando o anfitrião recebia um hóspede, ele chamava um servo para lavar os pés do visitante numa vasilha com água.

Durante a Última Ceia, onde Cristo instituiu a ordenança do sacramento, Ele também lavou os pés de Seus discípulos. João 13:5 descreve:

“Depois pôs água numa bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”. Também é importante notar que a tradução de Joseph Smith acrescenta a seguinte declaração ao versículo 10: “Ora, esse era o costume dos judeus segundo a lei deles; portanto, Jesus fez isso para que a lei fosse cumprida”.

A grandeza de Jesus Cristo se revelou em sua humildade. Este padrão definido por Cristo nos ajuda a entender que lavar os pés é um ato de obediência, humildade e união.

Ele chamou os seus discípulos para servir os outros como Ele os tinha servido. Como um ato diante dos ensinamentos divinos sobre o sacramento, também nos mostra a necessidade de limpeza e preparação antes de receber a verdade de Deus.

Além da tradição dos santos dos últimos dias, outras denominações continuam a realizar este ato de caridade, como quando o Papa Francisco lavou os pés de 12 prisioneiros.

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Jesus Cristo lavando os pés dos apóstolos
Imagem: ChurchofJesusChrist.org

Ato de Serviço e Humildade

As Escrituras apresentam, em diversos momentos — tanto no Velho Testamento quanto no Novo Testamento — exemplos de humildade e serviço como expressão de adoração e entrega a Deus. Vamos nos deter, aqui, a dois episódios marcantes nos evangelhos, que ilustram essa atitude diante de Jesus.

Em Lucas 7:44, Jesus comenta a falta de hospitalidade de um fariseu chamado Simão, que não lhe ofereceu sequer água para lavar os pés ao recebê-lo em sua casa. Em contraste, uma mulher identificada como “pecadora” demonstrou profundo arrependimento e amor ao lavar os pés de Jesus com lágrimas e enxugá-los com os próprios cabelos:

“E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: ‘Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; ela, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos.’”

Mais adiante, em outro contexto, encontramos Maria de Betânia, irmã de Lázaro e Marta, realizando um gesto semelhante — mas com significado diferente. Poucos dias antes da crucificação, Maria unge os pés de Jesus com um perfume caríssimo e os enxuga com seus cabelos, num ato de devoção e reconhecimento da sua missão redentora (João 12:1–8):

“Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos; e encheu-se a casa com o perfume do bálsamo.” (João 12:3)

Embora parecidas externamente, essas ações revelam diferentes dimensões da fé: uma brota do arrependimento e da busca por perdão; a outra, do amor reverente e da entrega total. Em ambas histórias, notamos o mesmo padrão: o coração humilde se coloca aos pés de Cristo — o lugar mais alto que alguém pode ocupar.

sala com bancos e cadeiras
Sala da loja de Newel K. Whitney, em Kirtland, na qual se reunia a Escola dos Profetas. Créditos: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

O lava-pés e a restauração

O chamado para a ordenança do lava-pés surgiu quando a Escola de Profetas foi organizada.

Eles projetaram a escola para ser um lugar de aprendizagem espiritual e secular. Muitos líderes da Igreja frequentaram a pequena sala que ficava acima da loja Newel K. Whitney em Kirtland, Ohio.

A Escola de Profetas era também um lugar de preparação, pois o evangelho de Jesus Cristo continuava a ser revelado.

Em janeiro de 1831, o Senhor prometeu, quando eles fossem para Ohio, que os santos receberiam a sua lei: “lá vocês serão investidos de poder do alto”.

Na verdade, a Escola de Profetas preparou os santos para as próximas ordenanças do templo que o Senhor revelaria nos anos seguintes

A primeira vez que o lava-pés foi realizado depois da restauração

A ordenança do lava-pés aconteceu pela primeira vez durante a primeira sessão da escola em janeiro de 1833, para cumprir a instrução do Senhor: “não recebam nenhum entre vocês nesta escola, exceto aquele que está limpo do sangue desta geração.”

Os élderes lavavam primeiro as mãos e o rosto e depois Joseph lavava os seus pés. Joseph compartilhou a experiência de executar uma ordenança daquele tempo em a História da Igreja. Ele escreveu:

“Cada élder lavava seus próprios pés primeiro, depois eu me cingia com uma toalha e lavava os pés de todos eles, limpando-os com a toalha que estava cingido. Entre eles, o meu Pai se apresentou, mas antes de lavar os pés, pedi-lhe uma bênção paterna, que ele concedeu, colocando as mãos sobre a minha cabeça, em nome de Jesus Cristo, e declarando que eu deveria continuar no ofício do sacerdócio até a vinda de Cristo. No final, o irmão Frederick G. Williams, movido pelo Espírito Santo, lavou os meus pés em sinal de sua determinação fixa de estar comigo no sofrimento, em minha jornada, na vida ou na morte, e de estar continuamente à minha direita; onde o aceitei em nome do Senhor”.

Estar limpos em todos os aspectos

A ordenança do lava-pés continuaria como uma preparação para a assembleia solene realizada no templo Kirtland e como parte da própria assembleia.

O ato simbolizava que os élderes tornavam-se limpos e purificados enquanto se uniam por meio de um ato de serviço simbólico.

Em seu diário, Joseph registrou suas observações aos élderes da ordenança, afirmando:

“Visava a unir nossos corações, para que possamos ser um em sentimento e atitude, e para que nossa fé possa ser forte, de modo que Satanás não possa nos derrotar, nem ter qualquer poder sobre nós”.

Ele também afirmou a importância dos “membros oficiais… estarem limpos em todos os aspectos“.

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Templo de Nauvoo
Imagem: ChurchofJesusChrist.org

O lava pés hoje

Tal como acontece com todas as ordenanças do templo, o ritual original do lava-pés evoluiu ao longo do tempo.

De fato, existem agora pelo menos duas ordenanças distintas do ensino original do lava-pés.

Em primeiro lugar, as lavagens e as unções continuam no templo como parte das ordenanças iniciatórias em preparação para a investidura.

Todos os membros dignos da Igreja que se qualificam têm acesso a essas ordenanças para si mesmos e para seus parentes que já faleceram.

No segundo volume de seu livro Companion to Your Study of the Doctrine and Covenants, o Dr. Daniel H. Ludlow, editor-chefe da Encyclopedia of Mormonism e professor de religião na Universidade Brigham Young, afirmou:

“A ordenança do lava-pés agora foi incorporada nas ordenanças que são administradas na casa do Senhor”.

No entanto, a ordenança específica de lavar os pés ainda existe e serve como o que se pode chamar uma ordenança de coroação. Hoje, a Igreja não autoriza a ordenança para o corpo geral neste momento, e ela permanece extremamente sagrada em sua natureza.

O poder da ordenança ecoa os ensinamentos de Joseph Smith, que menciona que, com o lava-pés, Deus sela a pessoa para a vida eterna. O poder da ordenança ecoa os ensinamentos de Joseph Smith, que faz menção de que com o lava-pés a pessoa foi “selada para a vida eterna”.

O ritual de lavar os pés também está presente em outras ordenanças sagradas que não disponíveis neste momento, algumas do passado e algumas ainda reservadas para pessoas selecionadas sob a direção do Senhor.

Ao se referir a essas ordenanças altamente sagradas, o Élder Bruce R. McConkie ensinou:

“Não é possível entender o pleno significado disso em uma leitura superficial, e é bom que seja assim, pois o lava-pés é uma ordenança sagrada que só pode ser realizada em lugares santos em favor dos que disso se provaram dignos”.

Fonte: LDS Daily

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