Pergunta
Recentemente, uma pessoa fazendo algo errado e que não está alinhado com os mandamentos e ensinamentos de Cristo. E agora? Devo contar ao meu líder religioso? Devo falar sobre o pecado dessa outra pessoa?
Resposta
Sua encruzilhada moral é mais comum do que imaginamos. De um lado, sentimos o peso do mandamento de amar e amparar uns aos outros. Do outro, o temor de julgar, de se tornar um fofoqueiro ou de causar mais dor do que alívio.
Nesses momentos nosso papel principal é ser um irmão, não um juiz.
A primeira coisa que precisamos alinhar é o nosso coração. Qual é a nossa verdadeira motivação? Em Mateus 7, o Salvador nos ensinou de forma muito clara a não julgar com hipocrisia, a tirar a trave do nosso próprio olho antes de nos preocuparmos com o cisco no olho do nosso irmão.
Nosso chamado fundamental no evangelho não é o de policiar a retidão alheia, mas o de inspirá-la através do nosso próprio exemplo e, acima de tudo, do nosso amor.
Somos chamados para sermos pacificadores, para curar feridas e para fortalecer joelhos enfraquecidos. A pergunta que guia nossas ações deve ser: “O que o Salvador faria para ajudar essa pessoa a se aproximar Dele?”.
Na maioria das vezes, a resposta é servir. É oferecer uma amizade sincera, um ouvido atento, uma mão que ajuda sem pedir nada em troca. É criar um ambiente de segurança onde a pessoa se sinta amada o suficiente para, por si mesma, buscar a ajuda do Senhor e de Seus servos designados.

Quando o arrependimento exige mais do que silêncio
Apesar de nosso papel principal ser o de amar e apoiar, existem situações em que o silêncio pode ser prejudicial. O arrependimento é um princípio de cura, e para certas enfermidades espirituais, a ajuda de um líder do sacerdócio — como o bispo — é essencial. Ele possui as chaves e a autoridade para ajudar no processo de cura de uma forma que nós não podemos.
Então, quando a intervenção se torna um ato de amor? A Igreja orienta que pecados graves exigem confissão a um líder autorizado. Veja:
“É o dever de todas as pessoas confessar todos os seus pecados ao Senhor e obter o Seu perdão. Quando necessário, os pecados devem ser confessados à pessoa ou às pessoas contra quem pecamos. Os pecados graves devem ser confessados a um oficial da Igreja”
Estamos falando de transgressões sérias que afetam a dignidade, como violações da lei da castidade, envolvimento com abuso de qualquer tipo, ou desonestidade grave.
Nesses casos, informar um bispo não é “delatar”. É conectar alguém que está espiritualmente ferido ao médico espiritual que pode ajudá-lo. A intenção não é punir, mas sim abrir a porta para o poder curador da Expiação de Cristo, que flui através das chaves do sacerdócio.
Se você tem conhecimento de uma situação que coloca outros em risco — especialmente crianças ou jovens — ou que envolve uma quebra séria de mandamentos, buscar o conselho do bispo é o ato mais responsável e cristão a se fazer.

Um guia prático: o que fazer passo a passo?
Se você se encontra nessa situação delicada, aqui estão alguns passos práticos, fundamentados no amor de Cristo, para guiá-lo:
- Examine seu coração em oração: Antes de qualquer coisa, pare. Ajoelhe-se. Pergunte ao Pai Celestial sobre seus motivos. É frustração? É raiva? Ou é um amor genuíno e uma preocupação pela alma daquela pessoa? Peça para ver a situação e a pessoa como Ele as vê. A resposta que você receber nesta conversa sincera será seu guia mais seguro.
- Considere falar com a pessoa (com muito cuidado): O padrão do Senhor, ensinado em Mateus 18, é ir até a pessoa individualmente. Se o Espírito confirmar e você se sentir seguro para isso, uma conversa particular, humilde e amorosa pode ser o suficiente. Você poderia dizer algo como: “Tenho me preocupado com você. Saiba que estou aqui para ajudar e que o bispo também é uma fonte de amor e ajuda, sem julgamento.” O objetivo não é confrontar, mas convidar.
- Procure um líder para se aconselhar: Caso a abordagem direta seja inadequada ou o pecado for grave, procure um líder de confiança para se aconselhar. Explique a situação e peça orientação, lembrando que o objetivo dele como pastor é sempre a cura e o bem-estar.
- Entregue e confie: Depois de ter agido de acordo com a inspiração que recebeu, deixe o fardo nas mãos do Senhor e de Seus servos. Sua parte era agir com amor. Agora, confie que o bispo agirá com inspiração e que o Senhor proverá um caminho para a cura daquela pessoa. Não comente o assunto com mais ninguém. O sigilo e o respeito são fundamentais.

E a fofoca? A armadilha a ser evitada
É crucial diferenciar a preocupação legítima da fofoca destrutiva. Falar sobre as fraquezas de alguém com terceiros, sob o pretexto de “preocupação” ou “pedir conselho”, raramente edifica. A fofoca envenena amizades, destrói a confiança e causa uma dor imensa. Ela não tem lugar no coração de um discípulo de Cristo.
Se o assunto não é um pecado grave que exige a intervenção do sacerdócio, a melhor atitude é, muitas vezes, a caridade silenciosa. É a decisão consciente de não espalhar a informação, de não julgar e de dar à pessoa o espaço necessário para que ela mesma possa trabalhar em suas dificuldades com o Senhor.
Seja um Instrumento de Cura
A pergunta “devo contar sobre os pecados alheios?” nos leva de volta à essência do que significa ser um seguidor de Jesus Cristo. Significa que nosso primeiro instinto deve ser sempre o de amar, apoiar e elevar.
Na maioria das vezes, isso se traduz em amizade, paciência e orações silenciosas. Em casos raros e graves, o amor pode exigir a coragem de envolver um líder do sacerdócio para que a verdadeira cura possa começar.
Em situações que envolvam o pecado de outra pessoa, nosso objetivo deve sempre ser a busca pela orientação do Espírito, agindo não como acusadores, mas como instrumentos nas mãos do Salvador para levar paz e cura ao coração de nossos irmãos.
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