Temperando o temperamento
Os que não me conhecem pessoalmente permitam-me: sou fofinha, sou um doce, sou meiguinha, mas também posso ser assustadora só pela mudança no meu tom de voz. Vejam bem: sou pavio curto, como define minha tia Jucileide. Sei que é feio, incômodo e antigo esse meu problema. Há épocas em que estou mais moderada, sorridente e sociável. Mas há outras, como as mais recentes e atuais, em que sou a personificação da impaciência e da fácil irritabilidade. É quando fico mais calada, intolerante e de poucos amigos mesmo.
Acontece que, como tenho consciência disso e odeio ser assim, nos últimos dias tinha estado pensando – sem muita seriedade, assumo – que circunstâncias e pessoas em especial parecem me tirar “do sério” ou, melhor dizendo, “do estado de risos”. Fiz uma lista e pedi ao Paulo, meu namorado, que me “monitorasse”. Contudo, como não havia método, quase nada se alterou. Eu continuo (continuava?) uma pilha. Até que… eureka!
Acordei especialmente sedenta pelas Sagradas Escrituras hoje, com Alma 37:37, do Livro de Mórmon, na cabeça. Lembrei-me, ainda antes de ousar me levantar, de algo que um aluno do curso Ensinar o Evangelho, meu velho amigo Marcos Paulo, falou há dois ou três domingos: “Quando eu e minha esposa lemos as Escrituras diariamente, por pelo menos uns 15 minutos, parece-nos natural fazer o bem ao longo do dia”. Saltei da cama e resolvi procurar, no Guia para Estudo das Escrituras, o verbete “lar”. Fui direcionada para os verbetes “casa” e “família”. Uma das referências indicadas era Tito 2:4-5. Naquela página da minha Bíblia, em autógrafo, li uma famosa citação do Presidente Boyd K. Packer:
O estudo das doutrinas do evangelho mudará o comportamento mais rápido que o estudo do próprio comportamento irá fazê-lo”.
Eu, que posso ser uma mula de tão teimosa, burra e lenta, já sabia disso há quanto tempo? Muito, meu povo, muito mesmo! E, apesar disso, estava achando que, para mudar, precisaria de grande esforço pessoal e de um bom método de auto-ajuda, quando, de fato, o “Manual” vem sendo escrito há milhares de anos pelos profetas de Deus, nosso onisciente e amoroso Pai Celestial.
I’m grateful that you left your words to follow like a map*, Senhor. Sinto muito (por mim e por aqueles a quem ofendo) por ter meus períodos de negligência. Fico grata porque toda e qualquer coisa que nos interessa interessa igualmente ao Altíssimo. Ou seja: nosso dia-a-dia sempre tem tudo a ver com o Evangelho. Estou certa de que meu esforço pessoal, pequeno ou grande, sempre será insuficiente. Mas, desde que seja meu máximo, será completado pela Graça do Salvador. É aí, caros e caras, que reside o verdadeiro milagre.
Portanto
… acrescentai à vossa fé a virtude; e à virtude a ciência; e à ciência a temperança; e à temperança a paciência; e à paciência a piedade; e à piedade o amor fraternal; e ao amor fraternal a caridade” (II Pedro 1:5-7. Grifo meu.)
*“Sou grata por você ter deixado suas palavras para serem seguidas como um mapa”. Trecho de The ground that you shook, da banda cristã norte-americana Sixpence None The Richer.