Algo que esquecemos quando pensamos no sofrimento dessa vida
É uma questão antiga que cada religião tenta responder ao longo dos séculos: Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas? Se Deus abençoa e ama aqueles que O seguem, por que Ele ainda permite que imenso sofrimento entre em suas vidas?
A maior parte do tempo em que ouvi as respostas a essa pergunta dadas na Igreja, professores ou oradores, elas se baseiam em alguns pontos:
- Deus não inibirá a ação de nós mesmos ou dos outros,
- viver em corpos mortais traz dor e decadência,
- viver num mundo caído traz sofrimento e desastres inesperados.
Sim, nossos pecados e as más escolhas dos outros podem nos impactar, trazendo miséria, estresse – até mesmo genocídio e guerra. E sim, corpos projetados para decair e morrer inevitavelmente trazem dor, limitações e fraquezas, mesmo quando eventos mundanos inesperados como fogo e furacões causam destruição e perda.
Mas mesmo assim, essas respostas não parecem completas. Nosso Salvador, o Filho do Deus vivo, que tinha controle sobre os elementos e vivia uma vida perfeita, suportou mais dor e miséria do que qualquer ser que já tenha vivido. Por que sofreu tanto se não tinha pecado, podia acalmar as tempestades e era literalmente um filho do Divino? E todas essas questões não respondem à questão essencial do porquê. Por que Deus intercede em alguns momentos, mas não em outros? Por que Deus permite tais dores e eventos horríveis quando há muitas maneiras pelas quais Ele pode testar nossa bravura ou aumentar nossas forças?
É porque a dor e o sofrimento têm um propósito maior. A dor é purificadora. O sofrimento é uma bênção. Como o Presidente James E. Faust declarou: “Há um propósito divino nas adversidades que encontramos todos os dias. Elas nós preparam e nos purificam e, portanto, abençoam.”
Além disso, a dor aumenta nossa capacidade de sentir alegria, empatia, amor e caridade.
Eu acho que a razão abrangente que o Pai Celestial nos permite sofrer é que Ele está nos ajudando amorosamente a desenvolver uma capacidade maior para suportar todo tipo de dor. Sem dúvida, há milhões de momentos em que o Pai Celestial nos protegeu da mágoa ou do tormento, mas, como qualquer pai amoroso, Ele entende que, se quisermos alcançar nosso potencial eterno, precisamos aprender a enfrentar e superar o medo, a tristeza e a dor.
Na Bíblia, aprendemos que até Deus chora: “o Deus do céu olhou para o restante do povo e chorou e Enoque registrou-o, dizendo: “Como é que os céus choram e derramam suas lágrimas como a chuva sobre as montanhas?” (Moisés 7:28)
E isso faz sentido. Qualquer ser que se abra para amar outra pessoa – plena e vulneravelmente – se abre para uma capacidade expandida de alegria e dor. A escritura diz:
“Porque é necessário que haja uma oposição em todas as coisas. Se assim não fosse, meu primogênito no deserto, não haveria retidão nem iniquidade, nem santidade nem miséria, nem bem nem mal. Portanto, é preciso que todas as coisas sejam compostas em uma; pois se fossem um só corpo, deveriam permanecer como mortas, não tendo vida nem morte, nem corrupção nem incorrupção, nem felicidade nem miséria, nem sensibilidade nem insensibilidade.” (2 Néfi 2:11)
“Se a vulnerabilidade e a dor são o preço do amor, então a alegria é sua recompensa. Essa foi a lição que Adão e Eva aprenderam no Jardim, mas o princípio estava enraizado nos céus. Tão certo quanto a escuridão dá sentido ao amanhecer, a dor dá sentido ao prazer, e a tristeza à alegria. Tudo o que amamos, tudo pelo que nos esforçamos, tudo o que apreciamos, sabemos apenas pela oposição.” (Terryl and Fiona Givens, The God Who Weeps- em Português, O Deus que Chora)
Sabemos que o amor de nossos pais celestiais por nós é tão completo e perfeito quanto qualquer amor existente e que Ele não retém nada, “porque Ele colocou seu coração sobre nós” (Terryl and Fiona Givens, The God Who Weeps- em Português, O Deus que Chora)
Como o Élder Bednar testificou: “Jesus, que mais sofreu, tem mais compaixão por todos nós que sofremos muito menos. De fato, a profundidade do sofrimento e da compaixão está intimamente ligada à profundidade do amor.”
Como o Pai Celestial não podia chorar ao olhar para Seus filhos enquanto eles matam, estupram, odeiam, ferem e culpam uns aos outros? Como poderia Deus não sofrer com a nossa ausência quando Ele nos vê pecar e virar as costas para Ele?
Embora a dor ainda exista na próxima vida, essa verdade não deve ser recebida com medo. Muitos profetas prometeram a beleza que preencherá o próximo mundo, o mundo aperfeiçoado e nossos corpos, jardins vívidos e associações familiares felizes.
Com corpos perfeitos, as dores da doença, do envelhecimento, das doenças mentais e das doenças não nos atormentarão. Nas próximas vidas, encontraremos as verdades que ajudam a combater o ódio, o preconceito, o mal-entendido e o isolamento.
Como Brigham Young afirmou:
“Eu passarei de um estado de tristeza, luto, miséria, dor, angústia e desapontamento para um estado de existência, onde posso desfrutar a vida em toda a extensão até onde pode ser feito sem um corpo. Meu espírito é libertado, não tenho mais sede, não quero mais dormir, não tenho mais fome, não canso mais, corro, ando, trabalho, vou, venho, eu faço isso, faço aquilo, o que é exigido de mim, não há nada como dor ou cansaço, estou cheio de vida, cheio de vigor, e desfruto da presença do meu Pai Celestial, pelo poder de seu Espírito.”
E uma parte importante do que tornará a próxima vida tão gloriosa é a nossa capacidade de compreender o propósito e o significado da dor e do amor. Como Terryl e Fiona Givens escrevem:
“A revelação surpreendente aqui é que Deus coloca Seu coração em nós. E, ao fazer isso, Deus escolhe nos amar. E se amar significa responsabilidade, sacrifício, vulnerabilidade, então a decisão de Deus de nos amar é o momento mais estupendamente sublime no tempo da história do mundo. Ele escolhe amar até mesmo, necessariamente, no preço da vulnerabilidade … Essa vulnerabilidade, essa abertura à dor e à exposição ao risco, é a condição eterna do Divino.”
Traduzido do Inglês por Inaê Leandro.
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