Já vi, como provavelmente você já viu, uma pessoa, antes firme na Igreja, fiel nas obrigações do discipulado, dedicada no serviço cristão e atenciosa com todos os assuntos do Evangelho – perder a fé, encher-se de duvidas e afastar-se do “primeiro amor” (Apocalipse 2:14). Por que isso acontece? Como uma pessoa perde a fé? Como podemos evitar perder a fé? Por qual motivo precisamos fazê-lo? Como voltar a ter fé? E finalmente: como ajudar as pessoas que são céticas e incrédulas?
Por que uma pessoa perde a fé?
A fé é intrínseca ao ser humano. Temos expectativas e esperanças sobre o futuro e vivemos com uma fé que nos leva a fazer planos e agir segundo cremos. Por exemplo: temos a fé natural de que amanhã acordaremos, de que o sol brilhará e teremos mais um dia pela frente. Esse tipo de fé simples, que é um princípio de ação em todo ser inteligente, não é a fé que tratamos aqui. Estamos falando do tipo de fé centralizada em Deus, e em Seu filho Jesus Cristo, que leva uma pessoa a agir como Eles desejam – e que gera poder espiritual.
Uma pessoa pode perder a fé em Cristo quando “não tem raiz em si mesmo” e “chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende” (Mateus 13:21). As escrituras revelam que o orgulho pode ter como desfecho a incredulidade. Depois de duzentos anos de paz, retidão e fé, o povo nefita “começaram a tornar-se orgulhosos, trajando roupas caras e usando toda sorte de pérolas finas e de coisas luxuosas do mundo”. Depois começaram a dividir-se em classes e criar Igrejas conforme seu entendimento, a fim de obter lucro (4 Néfi 1:24-27). É por isso que a incredulidade nas escrituras às vezes é chamada de “endurecimento do coração” ou “cegueira da mente” – e leva uma pessoa a racionalização, rebelião e desobediência.
Às vezes uma pessoa perde a fé quando enfrenta uma provação extrema – a morte de um ente querido, um divórcio, duvidas sobre o Evangelho e a História da Igreja, decepção com a liderança, medo do compromisso, etc. Ou às vezes uma pessoa perde a fé por negligencia (Alma 32:38-40) ou por amar o pecado e as coisas vãs do mundo (1 João 2:15). Entretanto, aquilo que leva uma pessoa a incredulidade pode ser a alavanca que produz um vigoroso testemunho e uma conversão duradoura. Isso ocorre porque ser fervoroso ou incrédulo é uma escolha. Portanto, uma pessoa se torna incrédula porque escolhe assim se tornar. O Elder Neil L. Andersen, dos Doze Apóstolos, explicou:
“A fé em Jesus Cristo é uma dádiva que recebemos do céu quando escolhemos acreditar, quando a buscamos e quando nos apegamos a ela. Sua fé ou está se fortalecendo ou se tornando mais fraca. (…) O futuro de sua fé não é obra do acaso, é uma escolha.” [1]
Como e por que evitar perder a Fé?
Alma parece ter dado a resposta ao dizer: “E agora, meu filho, todos os homens que estão num estado natural ou, em outras palavras, num estado carnal, encontram-se no fel da amargura e nos laços da iniquidade; vivem sem Deus no mundo e seguiram caminhos contrários à natureza de Deus; por conseguinte, estão num estado contrário à natureza da felicidade.” (Alma 41:11)
A incredulidade nos coloca no “estado natural”, ou seja, aflora em nós o “homem natural” que “não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porquanto se discernem espiritualmente.” (1 Coríntios 2:14).
Alma e Paulo sabiam que a falta de fé levava a infelicidade e amargura. Morôni acrescentou que a falta de fé faz cessar os dons espirituais – e disse que onde há fé, há também esperança e caridade. Finalmente ele ensinou que a falta de fé (e, consequentemente de esperança e caridade) leva ao desespero e iniquidade – que resulta na condenação da alma dos homens (Morôni 10:20-25). Assim, é vital que nutramos a fé, para que não morra, e encontremos “aquela felicidade que está preparada para os santos” (2 Néfi 9:43).
Escolher nutrir a fé é vital. O Elder Andersen disse:
A fé no Senhor Jesus Cristo não é algo etéreo, que flutua solto no ar. A fé não recai sobre nós ao acaso nem permanece conosco de modo hereditário. Ela é, como dizem as escrituras, o “fundamento (…), a prova das coisas que não se veem” A fé emite uma luz espiritual, e essa luz é discernível. A fé em Jesus Cristo é uma dádiva que recebemos do céu quando escolhemos acreditar, quando a buscamos e quando nos apegamos a ela. Sua fé ou está se fortalecendo ou se tornando mais fraca. [2]
O Bispo Richard C. Edgley, acrescentou:
A clássica preleção de Alma sobre a fé, registrada no capítulo 32 de Alma, no Livro de Mórmon, é uma série de escolhas para garantir o desenvolvimento e a preservação de nossa fé. Alma admoestou-nos a escolher. Suas palavras descrevem ações iniciadas por escolhas. Ele usou as palavras despertar, exercitar, pôr à prova, exercer, desejar, operar e plantar. Depois, Alma explicou-nos que, se fizermos essas escolhas e não descartarmos a semente por descrença, então “ela começará a inchar em [nosso] peito” (Alma 32:28). Sim, a fé é uma escolha, e ela precisa ser buscada e desenvolvida. Portanto, somos responsáveis por nossa própria fé. Também somos responsáveis por nossa falta de fé. A escolha é sua. [3]
Como (re)descobrir a fé?
Caso você sinta que sua fé é fraca ou que esta morrendo, pode fazer como um aflito pai das escrituras, que rogou ao Senhor: “ajuda minha incredulidade” (Marcos 9:24). Esse pedido sincero e humilde abre as portas para o dom da fé.
Mais uma vez o Bispo Edgley ensinou:
Estejam cientes de que a fé não é um dom gratuito concedido sem que pensemos, desejemos ou nos esforcemos. Ela não nos chega como o orvalho que cai do céu. O Senhor disse: “Vinde a mim” (Mateus 11:28) e “Batei, e [dar]-se-vos-á” (Mateus 7:7). Esses verbos são de ação: “vir” e “bater”. Tratam-se de escolhas. Portanto, eu digo: escolham a fé. Escolham a fé em vez da dúvida, escolham a fé em vez do medo, escolham a fé em vez do desconhecido e do invisível e escolham a fé em vez do pessimismo. [4]
O Bispo Edgley passou então a listar ações que podem ser tomadas para evitar o perecimento da fé – ajudando-a a florescer forte:
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Se a confusão e a desesperança pesarem em sua mente, escolham despertar e exercitar suas faculdades (ver Alma 32:27). Ao achegar-nos humildemente ao Senhor com um coração quebrantado e um espírito contrito, seguimos pelo caminho da verdade e pela senda do Senhor, de luz, conhecimento e paz.
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Se seu testemunho for imaturo, não testado e inseguro, escolham “exercer ainda que seja uma partícula de fé”; escolham “[pôr] à prova [Suas] palavras” (Alma 32:27). O Salvador explicou: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo” (João 7:17).
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Quando a lógica, a razão ou o intelecto pessoal entrarem em conflito com a doutrina e os ensinamentos sagrados, ou quando mensagens conflitantes atacarem suas crenças, como os dardos inflamados descritos pelo Apóstolo Paulo (ver Efésios 6:16), escolham não lançar a semente fora de seu coração por descrença. Lembrem-se de que não recebemos um testemunho até que nossa fé tenha sido provada (ver Éter 12:6).
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Se sua fé for testada e amadurecida, escolham nutri-la “com muito cuidado” (Alma 32:37). Por mais forte que seja nossa fé, com todas as mensagens confusas que a atacam, ela também se pode tornar muito frágil. Precisa de nutrição contínua por meio de constante estudo das escrituras, oração e aplicação de Sua palavra.
Os frutos da fé são coragem, destemor, confiança em Deus, alegria, dons espirituais e conhecimento puro. Vale a pena guardar os mandamentos, mesmo quando “vemos em parte” (1 Coríntios 13:9, 12) – ou seja, não temos que ter todas as respostas, pois a fé, no princípio, “não é um perfeito conhecimento” (Alma 32:26).
Quando nos esforçamos para ser dignos, podemos agir com confiança, mesmo sem plena certeza. O Pai Celestial nos abençoou com o arbítrio e às vezes exige que façamos o que julgamos ser o certo, sem Sua orientação e intervenção. Ele deseja que usemos nosso arbítrio e colhamos os frutos de nossas escolhas (D&C 58:27). O Presidente Boyd K. Packer, ensinou:
“Em algum lugar de nossa jornada em busca de conhecimento espiritual, existe aquele ‘salto de fé’. (…) É o momento em que chegamos até o limiar da luz e damos um passo para dentro da escuridão, para naquele instante descobrirmos que o caminho está iluminado por apenas um ou dois passos à nossa frente” [5]
Se agirmos fielmente de acordo com o conhecimento que já possuímos, mesmo não tendo sempre certeza absoluta, o Pai Celestial não permitirá que nos desencaminhemos. Com o tempo veremos que fomos abençoados, conduzidos e guiados, “como os lamanitas que, por causa de sua fé [em Cristo] na época de sua conversão, foram batizados com fogo e com o Espírito Santo e não o souberam” (3 Néfi 9:20).
As dúvidas, temores e dificuldades serão gradualmente resolvidas se buscarmos orientação celeste, vivermos o evangelho e estudarmos as escrituras.
Como ajudar outros a encontrarem a fé?
Talvez você sinta segurança na fé que possui, mas conhece pessoas com desafios de fé. Elas tem perguntas, medos e dificuldades. Há duas coisas que sugiro para ajudar.
Primeiro, manter e aumentar sua própria fé em Deus e em Jesus Cristo, afinal Eles são os que mais desejam ajudar as pessoas a desenvolverem fé. É preciso estar sintonizado com as coisas de Deus para que você seja um instrumento eficaz para Ele socorrer outros.
Segundo, ajudar a pessoa incrédula a melhorar seu relacionamento com o Pai Celestial e Jesus Cristo por meio da oração e boas obras. A pregação da palavra, o convite para orar, ler as escrituras e ir para Igreja possibilitam que o coração “amoleça” e a semente da fé encontre um terreno propici.
Se as pessoas com fé fraca verem nosso exemplo e preocupação – e como a fé nos faz bem, poderão desejar desenvolverem seu próprio testemunho e buscarem, por si mesmas, o dom de uma forte fé em Cristo. Elas poderão nos perguntar como obtivemos a certeza das coisas que não se vem – e poderemos explicar-lhes que foi preciso pedir, buscar e bater (3 Néfi 27:29).
Conclusão
A melhor coisa para faze caso sua fé esteja definhando é escolher a fé. Escolha crer, escolha viver segundo a vontade de Deus. O Presidente Thomas S. Monson, deu este poderoso conselho:
Tomemos a decisão de edificar dentro de nós uma fé vigorosa que será nosso mais eficaz baluarte contra os desígnios do adversário — uma fé real, o tipo de fé que vai amparar-nos e reforçar nosso desejo de escolher o que é certo. Sem essa fé, não vamos a lugar algum. Com ela, podemos alcançar nossos objetivos.
Embora seja imperativo escolher com sabedoria, há momentos em que faremos escolhas insensatas. O dom do arrependimento, oferecido por nosso Salvador, permite-nos corrigir nosso curso, para que voltemos ao caminho que vai levar-nos à glória celestial que buscamos.
Tenhamos a coragem de contrariar o senso comum. Escolhamos sempre fazer o certo mais difícil em vez do errado mais fácil.
Ao ponderarmos as decisões que tomamos todos os dias em nossa vida — sejam elas quais forem —, se escolhermos a Cristo, vamos ter feito a escolha certa. [6]
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[1] “A Fé Não É Obra do Acaso, É uma Escolha“, Conferência Geral Outubro de 2015.
[2] Idem a nota anterior
[3] “Fé – a escolha é sua“, Conferência Geral Outubro de 2010.
[4] Idem a nota anterior
[5] “A Busca do Conhecimento Espiritual”, A Liahona, janeiro de 2007, p. 14)
[6] “Escolhas“, Conferência Geral Abril de 2016
4.5
Não tenho mais fé, tudo deu errado, pra piorar minha saude começa a me atrapalhar, cansei de acreditar naquilo que nunca resolveu nada…
Leonardo, eu aconselho a tentar se força a acreditar. Eu estou passando por uma fase parecida em que meu su consciente está com medo de não ser perdoando, eu já chorei fiz muitas vezes mas eu não quero abandonar o evangelho de Deus tipo: “Eu estou sem fé mas não vou abandonar Deus”, então tenha em mente Leonardo que vc vai conseguir recuperar ela se vc tentar. E que nem quando estamos assistindo um jogo no final de tempo e achamos que não temos mais chance, massas aí vem o atacante marcando o gol que empata e o jogo termina para terminar em outro dia da semana. Resumindo a esperança pode voltar se vc começar a tentar nutrir novamente.