Dicas de um Professor de Religião sobre Como Estudar as Escrituras
Joseph Fielding McConkie é professor jubilado de escrituras antigas da Universidade Brigham Young. Ele deu um discurso sobre como estudar as escrituras na Semana de Educação da BYU de agosto de 2006. Separamos trechos de seu discurso abaixo. O link para o discurso completo esta no final do artigo.
Se os céus se abrissem hoje e Deus falasse, os irmãos não gostariam de ouvir o que Ele ele tivesse que dizer? Da mesma forma, se um mensageiro viesse em lugar d’Ele, os irmãos teriam menos interesse? Se a mensagem fosse escrita, os irmãos não queriam lê-la?
Muitas pessoas fiéis sacrificaram sua própria vida para que a palavra do Senhor, transmitida antigamente a seu povo, fosse preservada para nós. O estudo minucioso destes registros só pode servir de fonte de grandes bênçãos para nós, ao passo que deixar de conhecê-los seria uma perda enorme.
Que Princípios Corretos, e não Técnicas, Dirijam Nosso Estudo
Ao longo dos anos muitos alunos e outros vieram a meu escritório, perguntando a respeito de como poderiam-se tornar melhores estudantes das escrituras. Também me perguntaram com freqüência como é que estudavam as escrituras os homens tais como meu pai, o Élder Bruce R. McConkie, e meu avô, o Presidente Joseph Fielding Smith, ambos conhecidos como eruditos quanto ao estudo do evangelho. Inerente nestas perguntas é a idéia de que há algum método ou segredo desconhecido pela maioria das pessoas que dàqueles que o conhecem uma grande vantagem em entender as escrituras. Eis que revelarei o grande segredo: o fato é que não existe nenhum segredo.
Quanto a meu pai e a meu avô, seu método consistia em não terem um método. Os métodos não são a solução. O estudo eficaz das escrituras não tem nada a ver com um sistema de sublinhar. Não tem nada a ver com a escolha de um lápis azul em vez de um lápis vermelho. Não tem nada a ver com o estudo cronológico nem por tópicos de um determinado assunto. Não tem nada a ver com a edição das escrituras. Não tem nada a ver com o tamanho das letras, a não ser para nós, os mais idosos.
Tem tudo a ver com a intensidade e constância que levamos ao estudo. Não há atalhos, tampouco segredos.
Porém há princípios básicos que são indispensáveis à compreensão correta das escrituras. Apresentarei sete princípios desta natureza. Cada um deles traz consigo mais luz. Juntos podem aumentar até sete vezes o seu entendimento das escrituras, ou talvez até mais.
Requer-se o Espírito de Revelação para Entender a Revelação
O primeiro princípio, e o mais fundamental, de entender as escrituras é este: Só se pode entender a revelação dada pelo Espírito por meio da ajuda do Espírito.
Aceitar as escrituras como sendo revelação divina requer que acreditemos no princípio de revelação. Requer que acreditemos que Deus pode-nos transmitir, e de fato nos transmite, seus pensamentos e sua vontade.
O espírito que os irmãos levarem à leitura de um livro predeterminará o aproveitamento que tirarão dele. O Evangelho de São Mateus pode ser escritura para um e para outro não. Podem até estar juntos na mesma sala lendo o mesmo livro e pode ser escritura sagrada para um e para o outro não. A diferença não se encontra no que foi escrito e sim no espírito com que se lê. Se lermos escritos sagrados com um espírito de contenda, não será escritura; não se trata da voz do Senhor nem representa seu Espírito. É simplesmente tinta preta num papel branco. Se o espírito com que se lê não estiver certo, tampouco estará certa a sua interpretação.
Assim, o primeiro princípio de compreensão das escrituras é que elas devem ser compreendidas pelo mesmo espírito pelo qual foram escritas. Sem o espírito de revelação não há escrituras. Alguns diriam que isto é racioncínio circular, e de fato é. Precisa-se de vida para dar vida. Não se pode ler no escuro. Não se pode ver nem ouvir as coisas do Espírito sem o Espírito. Assim como a luz atrai a luz, as trevas é que geram más ações.
Não Há Senão um Evangelho
O segundo princípio focaliza na natureza eterna do evangelho. Todos os princípios do evangelho são absolutos; de eternidade para eternidade são sempre os mesmos. Os mesmos princípios que estão conosco neste nosso segundo estado estavam conosco na vida pré-mortal e não mudarão ao passarmos desta vida ao mundo espiritual. Sua importância não diminuirá na ressurreição.
“Procurai Conhecimento, Sim, pelo Estudo e Também pela Fé”
Tiro o terceiro princípio da ordem dada pelo Senhor à Escola dos Profetas: “Procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé” (D&C 88:118). Esta declaração afirma primeiro a importância do estudo e daí sugere a necessidade de passar além do estudo e abraçar o princípio da fé.
Permitam-me ilustrar do que se trata. O Profeta Joseph Smith estava estudando o livro de Tiago quando chegou a uma passagem que o inspirou a perguntar a Deus e fazê-lo com fé sem vacilar (vide Tiago 1:5-6). Quando ele colocou o livro na mesa e foi à procura de um lugar sossegado para orar, sua fé tomou o lugar do estudo e por meio desta fé ele pôde fazer o que seus mentores bíblicos haviam feito: abrir os céus.
Somente através de aplicar a fé ao nosso estudo das escrituras é que conseguiremos captar a essência do que lermos. A religião verdadeira é uma coisa viva. Ela requer que os sinais sigam os que crêem. Fala de milagres para que saibamos que nós podemos realizar milagres. Descreve a voz de Deus para sabermos reconhecê-la quando a ouvimos. Relata o ministério de anjos a fim de que saibamos que também podemos receber tal ajuda. Se plantarmos as mesmas sementes que aqueles de que lemos nos escritos sagrados, colheremos a mesma colheita que eles colheram.
Manter as Coisas no Contexto Correto
O quarto princípio que chamarei à atenção dos irmãos é a necessidade de manter as coisas no contexto correto. O contexto dá cor, ou pode mudar a cor, de tudo que dizemos. Quando minha esposa me diz que devo dizer: “Eu te amo” com mais freqüência, ela não quer dizer que devo dizê-lo a outras mulheres. Todo texto das escrituras tem dois contextos: as circunstâncias imediatas que provocaram a declaração e o contexto maior composto de outros princípios e declarações corretas. Uma citação obscura ou isolada não poderá sustentar o peso de definir o evangelho nem estabelecer um princípio essencial para a salvação.
Quando Cristo disse: “Na ressurreição não se casam, nem se dão em casamento” (Mateus 22:23-30), precisamos saber se ele falou acerca de todos os seres que já viveram ou só dos saduceus (que O rejeitaram como Messias) os quais fizeram a pergunta que incitou a resposta de Jesus.
Quando Ele disse: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia da amanhã” (Mateus 6:34), Ele falou aos irmãos e a mim, ou aos Doze que haviam sido chamados ao ministério de tempo integral?
O contexto imediato dá as respostas a todas estas perguntas que acabo de fazer, mas se ainda estamos confusos, precisamos recorrer ao contexto mais amplo de tudo que já foi revelado a respeito daquilo que está em questão.
Equilibrar os Princípios Corretos
O quinto princípio diz respeito ao equilíbrio que se deve haver entre os princípios do evangelho. Os princípios corretos às vezes entram em choque um com o outro—uma dificuldade que tem sua origem no jardim do Éden. Deus colocou, de propósito, Adão e Eva numa situação em que tinham que escolher entre mandamentos contraditórios. Haviam sido ordenados a multiplicar e encher a terra, algo que não podiam fazer sem comer do fruto da árvore de conhecimento do bem e do mal, o que lhes havia sido proibido. Esta circunstância exigia que fizessem uma escolha e arcassem com as consequências. Com sabedoria e retidão escolheram guardar o mandamento maior, ou seja, gerar filhos, que, naturalmente, requereu que comessem do fruto da árvore de conhecimento do bem e do mal.
Há a letra da lei e o espírito da lei e há um tempo certo para cada um se destacar. É preciso manter um equilíbrio entre os princípios do evangelho. Por bela que seja, a doutrina da graça não pode ser mandão e intimidar todos os outros princípios do evangelho. Não podemos encantar-nos com um só princípio de tal forma que obscureça os outros. O mundo está repleto de exemplos de como este tipo de motim evangélico entra no navio da fé e um princípio se apodera, escravizando, ou jogando na água, os outros princípios.
Usar comentários e Bom Senso
O sexto princípio de estudo das escrituras é buscar ajuda de fontes que possam exceder nosso conhecimento referente a um assunto especial. Há muitos recursos para o nosso estudo já embutidos nas edições das escrituras da Igreja. Os cabeçalhos dos capítulos nos proporcionam um resumo conciso do conteúdo do capítulo e muitas vezes contêm explicações e comentário. As notas de rodapé também ajudam, mas precisamos levar em conta que não fazem parte, propriamente dito, das escrituras. Na edição da Igreja da Bíblia, a guia de assuntos, o dicionário bíblico e os extratos da tradução de Joseph Smith da Bíblia, bem como os mapas, são muito úteis. Comentários seculares podem ajudar a entender matéria histórica e geográfica. Quando se trata de doutrina a ajuda que estes comentários fornecem é limitada. Quanto aos comentários de Santos dos Últimos Dias, nenhum autor tem toda a razão em todos os assuntos, mas isso não quer dizer que não sejam de valor para o estudo de assuntos específicos.
Vale a pena salientar que há poucas coisas mais importantes do que o bom senso para entendermos as escrituras. Não há nenhuma passagem de escritura que não possa ser distorcida e há poucas escrituras que já não foram usadas para fins maliciosos. Muitas causas más e políticas perversas foram justificadas com citações das escrituras. Nos tempos de Cristo, os que O rejeitaram utilizaram argumentos baseados nas escrituras. Àqueles que procuravam tirar-lhe a vida.
“Aplicai-as a Vós Mesmos” (1 Néfi 19:24)
O sétimo e último princípio de que falarei para incrementarem seu estudo das escrituras é o de aplicar as escrituras a si mesmos (vide 1 Néfi 19:23-24).
O Senhor deu uma revelação a Joseph Smith Sênior. É uma revelação a respeito de serviço que se encontra na seção 4 de Doutrina e Convênios. Os missionários a citam muito ao reunirem-se, mas a revelação realmente pertence a todos nós. É nossa porquanto os princípios se aplicam a nós da mesmíssima maneira que se aplicavam a Joseph Smith Sênior.
Assim costuramos o tecido das escrituras, adaptando-o a nossas próprias medidas e circunstâncias, tomando para nós os princípios eternos que se aplicam a nós e deixando para a pessoa mencionada em certas revelações as promessas unicamente destinadas a ela.
Conclusão
Completamos o ciclo.
Joseph Smith e Oliver Cowdrey, [que aplicaram o que conversamos nos contaram]:
“Estando agora com nossa mente iluminada, as escrituras começaram a abrir-se ao nosso entendimento e o significado e intenção verdadeiros das passagens mais misteriosas se revelaram a nós de uma maneira que antes não havíamos atingido nem pensado” (História de Joseph Smith 1:74).
Sempre que alguém interpreta um trecho das escrituras, podemos medir o nível de bom senso e integridade espiritual que ele possui. O que fazemos com as escrituras, inclusive negligenciá-las, proporciona ao Senhor uma forma de avaliar nossa alma. Que todos nós possamos apresentar-Lhe uma boa avaliação é minha oração.
Você pode ler o texto completo aqui.