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Como podemos conhecer melhor a Deus?

E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. (João 17: 3)

Imagem de Deus

Penso que cada um de nós tem uma imagem mental de Deus. Essa imagem é composta de verdades, meias-verdades, lembranças e percepções errôneas da infância e sussurros de promessas que estão por vir. Entretanto, quando a vida fica realmente difícil, podemos receber um convite para conhecê-Lo como Ele realmente é. Descobri que, para passar pelas provações com sucesso, devo deixar de lado as ferramentas incorretas, mesmo aquelas que uso com frequência e dar a oportunidade para que a verdade seja agregada à imagem que tenho de Deus em meu coração e mente.

A última semana de setembro foi uma semana bem difícil.

Naquela semana, ponderei muito sobre alguns assuntos pessoais enquanto fazia uma trilha. Tinha me deparado com um fim repentino e inesperado de uma jornada. Minha irmã me mandou uma mensagem dizendo que estava pensando em nós e que esperava que encontrássemos a ajuda de que precisávamos. Eu disse a ela que estava confusa. Sua resposta: “A vida é assim, né?” Pensei em seu comentário. Não sabíamos se nós estávamos desapontados ou se Deus estava desapontado.

Nenhuma busca por significado, nenhuma dificuldade em entender e nenhuma busca pelo PORQUÊ. Apenas uma preocupação genuína pelo bem-estar de todos os envolvidos. Diante de sua serenidade, pude ver com mais clareza e reconheci o medo de desapontar a Deus, o Pai, que influenciou minha perspectiva e as minhas reações.

Quando eu era criança, orava todas as noites de joelhos, ao lado da minha cama. Eu também escovava meus dentes. Pagava meu dízimo de três centavos, depois de preencher cuidadosamente o envelope. Levava uma moeda de um centavo para a caixinha do Hospital Infantil Primário às quartas-feiras. Um dia, minha mãe comentou que ela era grata por poder contar comigo para fazer o que era necessário; que ela não precisava se preocupar. Lembro-me de pensar: “Mas o que mais eu faria, existe outro caminho?” Por mais ansiosa que estivesse para ser obediente, também ficava com um pouco de medo de fazer o contrário.

Quarenta anos depois, lá no final da trilha, olhando para as montanhas de Oquirrh, senti que ainda carregava vestígios daquela crença de infância de que Deus mantinha registros; que Ele era o homenzinho que observava através dos buracos na madeira para anotar quando eu não fizesse minhas orações. Tive uma sensação distorcida de que “a vida é uma armadilha criada por Deus para nós, para que Ele possa nos condenar por errar. A vida é um concurso de soletração, onde, independentemente de quantas palavras você acertar, se você cometer um erro, será desqualificado”.

Essa crença ainda influencia meu relacionamento com Ele, e a maneira como eu estava lidando com as mudanças. Parei e olhei para o Lago Utah, contemplando como seria libertador não ter pensado nisso. E se eu pudesse analisar a imagem que faço de Deus, que está com seus olhos estreitos e lábios apertados por causa da decepção? Como minha perspectiva mudaria se eu pudesse dizer a verdade de que Deus é o “Pai das luzes”, invariável, generoso e o perfeito doador de dons. Tiago 1:17.

Coatepec, México

A vila de Coatepec fica o mais longe possível da casa da missão Cidade do México Sudoeste.  Certa tarde de domingo, no início de setembro, algumas semanas antes de minha caminhada naquela trilha, caminhei com meu marido Kevin e nosso filho Seth por suas ruas empoeiradas, todas as cinco ruas que nos levavam a uma igreja católica imponente, um pouco em ruínas, mas ainda majestosa, onde uma Primeira Comunhão estava ocorrendo.

O corredor central e os transeptos, bancos e corredores estavam cheios de moradores que estavam ali para apoiarem seus filhos. A multidão estava na porta aberta e enchia a entrada. Ave Maria de Schubert era cantada pelo coral de jovens e flutuava pelas portas abertas.  Era um momento cheio de graça. Foi aqui que Seth passou os primeiros nove meses de sua missão.

Mais cedo naquela manhã, fomos à Igreja em San Francisco, a vila a três quilômetros de distância. Fomos levados pelo Uber até um alto muro de tijolos com um portão de ferro. Seth nos disse que a Hermana Jasso, uma viúva que mora ali, tinha doado seu jardim para a construção de uma sala de oração onde o ramo local se encontrava. Ela é um anjo, ele disse.  Ela, sozinha, salvou a igreja em Coatepec e San Francisco.

Entramos em um jardim cheio de árvores frutíferas, uma pequena casa de tijolos e uma sala de oração maior em forma de L. Estamos 30 minutos adiantados. Entramos no prédio, que tinha duas alas. Mais tarde, as cadeiras dobráveis foram montadas em cerca de sete fileiras em cada ala. O púlpito móvel é colocado bem no meio para que cada parte possa ver o orador. Não há necessidade de microfone. A mesa do sacramento é exatamente uma mesa pequena. O piso é de concreto.

Após a reunião sacramental, os rapazes e moças levam as cadeiras para o lado de fora para a aula na grama sob os limoeiros. Mas, por enquanto, Hermana Jasso senta-se à grande janela, com a luz do sol batendo em sua Liahona. Seth entra, se aproxima dela. “Buenos dias Hermana Jasso.” Ela olha para ele e olha novamente: “Santiago”, diz ela.  “Santiago, Santiago.” Ela pega a mão dele. Ele se senta ao lado dela e eles conversam intensamente até as pessoas começarem a chegar.

Observamos as pessoas entrarem no prédio. Cada pessoa se aproxima de Hermana Jasso, pega a mão dela, a beija na bochecha e diz “Buenos dias”. Então eles apertam as mãos de todas as outras pessoas, até nós, estranhos. “Mucho Gusto”. Seth é recebido com alegria. Havia mais ou menos quarenta membros ao todo. Houve seis batismos na semana anterior. A maior parte da reunião é ocupada pelas confirmações. Não falamos uma palavra em espanhol. Seth está traduzindo baixinho para mim.

O Presidente Cervantes convida o Élder Gilbert, recém-chegado do Oregon, a fazer uma das confirmações.Élder Gilbert empalidece visivelmente. “Eu?”. ”Sim, você”. Você pode trazer seu manual. O Presidente Cervantes sorri e, falando com Seth enquanto o Élder Gilbert vai buscar seu manual, diz: “Você se lembra, Élder Santiago, foi assim que você começou, eu com a mão no seu ombro.” Seth assente e sorri. Sua primeira confirmação veio três semanas no campo, quando Seth sabia cem palavras em espanhol e tinha aprendido sobre o dom de línguas.

O testemunho de Seth, prestado no final da reunião a pedido do Presidente Cervantes, é suave e emocionante. Não entendo uma palavra, mas posso sentir, sem palavras, o amor fluindo entre meu filho e esses santos. Foi aí que ele aprendeu a falar espanhol, a amar o México e o evangelho do Salvador, e foi amado em abundância.

O povo de Seth.

De tempos em tempos, Seth puxa um peso mexicano de seu bolso e bate-o na porta de metal. Seu sorriso encontra o sorriso daquele que olha através das barras do metal. “Santi, Santi, Santi.” Maru pega nas mãos de Kevin e olha em seus olhos. Está falando espanhol rapidamente. É tão profundo, seus olhos nunca que deixam o rosto de Kevin. Seth traduz: “Ela está dizendo que Deus enviou Santiago à mim quando eu estava em uma depressão profunda e sofrendo de câncer. Minha mãe tinha acabado de falecer. Santiago e Faumisili me ensinaram sobre Jesus. Eles trouxeram alegria e esperança para minha vida. Ele foi enviado por Deus apenas para mim.” Kevin disse que ele podia sentir o espírito dela falando com o dele.

Santiago, o padeiro, não está em sua padaria. Seth recebe instruções do comerciante vizinho até sua casa, a várias ruas de distância. Ele nos diz para caminhar rapidamente, guardar nossos telefones, tirar nossos relógios. Quando chegamos na casa, ele bate no portão. Três jovens, em pé no pátio, olham curiosamente para ele. Santi? diz um deles. Então, com alegria, ele grita: “Santi, Santi, Santi !!!” Faz 18 meses desde que Seth esteve lá. De dentro da casa vem Santiago, o padeiro. Ele está rindo de alegria.

Toda a família vem cumprimentar nosso Santi. Conversamos e fazemos miímicas. Nós dançamos à música de Santiago (que quer ser um DJ). Ele manda seu filho ao mercadinho para buscar algumas coisas, e então guia uma procissão digna do Flautista de Hamelin. Vizinhos, Santi e seus pais vão para padaria onde ele e seu genro trabalham e começam a fazer a massa que se transformará em pizza, enroladinho de canela, palitinhos de peperoni, pãozinhos de nutella e muitas outras coisas gostosas. Sua filha, neto, dois outros filhos e seu empregado se juntam a nós. Passamos uma tarde em uma padaria cheia de farinha, comida e muito espanhol.

O amor entre Seth e Santiago e sua família é tão óbvio que nem precisamos falar espanhol. Saímos de lá com sacolas cheias de comida. A família inteira nos acompanhou da porta da padaria, acenando até virarmos a esquina.

Tocamos a campainha e um cachorro late violentamente. “Ela é boazinha”, diz Seth. Ele fica decepcionado quando ninguém aparece e então vamos embora. Do outro lado da rua, um homem pequeno, impecavelmente vestido, com profundos olhos castanhos, caminha curiosamente em nossa direção. Ele reconhece Seth e corre para abraçá-lo. Ambos se abraçam com firmeza. Somos levados de volta àquela casa, onde nos sentamos com Daniel e Patty, e os pais de Patty para conversar, em espanhol, por uma hora.

Eles nos alimentam, riem com Seth e choram um pouco. Seth ensinou o filho de Patty, enquanto ele foi falsamente acusado de um crime e preso. Seth o visitou na prisão e ensinou Daniel e Patty. Daniel oferece uma carona até o ponto de táxi, onde ele fala com severidade com o motorista para nos levar, sem brincadeiras, a uma cidade maior onde Ubers normalmente aceitam corridas. Quando Seth entra no carro, Daniel se vira para nós e diz, apontando para Seth: “Este é meu amigo, este é meu irmão, este é meu filho”.

O Deus do Antigo Testamento decretou que nenhum homem verá a face de Deus e viverá. Há partes desse Deus que eu ainda carrego comigo. Mas, há um convite mais recente “verá a minha face e saberá que eu sou.”  D&C 93:1.  Eu percebi naquela manhã de setembro, enquanto andava com minhas perguntas e preocupações, um convite divino para conhecer mais inteiramente o Pai de uma maneira diferente, para deixar de lado as ideias que limitavam minha compreensão de Suas verdadeiras características, e que evitavam o desenvolvimento daqueles atributos em mim mesma. Especificamente, senti que se a vida não passa da maneira que o Senhor deseja, Deus não fica decepcionado conosco.

Eu não conseguia imaginar momentos mais agradáveis a Deus do que aqueles dias que passamos em Coatepec. Os meses de Seth em Coatepec foram como o amor de Deus se manifestava. Eu cheguei a falar que ainda ninguém do povo de Seth foi batizado? No entanto, eles amam meu filho e ele os ama. Todos sabem que a fonte desse amor é Deus, nosso Pai, e seu filho Jesus Cristo. Vi a verdade de que Deus ama todos os seus filhos, que envia pessoas para sentir Seus laços de amor, que nossa jornada da vida se estende dos dois lados desta experiência terrena e que Deus, o Pai, joga o jogo longo.

Fonte: Meridian Magazine

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