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Como lidar com a infertilidade?

Nota: Esse artigo foi escrito por Shelly Johnson-Choong, ela é assistente social e terapeuta especializada em ajudar mulheres que passam por infertilidade. Ela também passou por infertilidade em sua própria vida. Na seguinte carta, ela compartilha algumas de suas experiências pessoais sobre isso e dá uma visão sobre como lidar com a situação quando não se consegue ter filhos.

Querida irmã,

Esta é uma das cartas mais difíceis que já escrevi. Pois falo de uma das minhas mais profundas tristezas e uma das mais difíceis provações da vida. Se você, como esposa, anseia por filhos, suspeito que os seus sentimentos sejam semelhantes. Ao escrever esta carta, espero ajudar aquelas que podem estar se esforçando para lidar com a infertilidade, bem como aquelas que conhecem alguém que está lidando com esta dor.

Se você conseguir ter um filho no futuro, queria expressar os meus mais sinceros parabéns. Mas se você está nessa minoria de mulheres que, por alguma razão, não podem ter filhos, eu lhe ofereço o conforto de que você não está sozinha—mesmo que você possa muitas vezes se sentir isolada. Eu também apresento algumas dicas de apoio que aprendi como uma mulher santo dos últimos dias que não conseguiu ter filhos. Estas são coisas que eu gostaria que alguém tivesse me dito quando eu tinha 20-30 anos e me esforçava muito para ter um bebê.

1) Por favor, reconheça que você e seu marido já são uma família

O Presidente Russell M. Nelson afirmou: “Há um grande poder em um casal forte. Os verdadeiros parceiros podem alcançar mais do que a soma de cada ação isoladamente. Com parceiros verdadeiros, um mais um é muito mais do que dois.”

Muitas vezes na Igreja, filhos são sinônimo de família. Mas filhos sozinhos não fazem uma família. O amor faz isso. Se vocês estão se esforçando para criar amor dentro das paredes de sua casa, vocês são uma família. Isso pode ser uma coisa difícil de internalizar quando recebemos tantas mensagens que nos podem fazer sentir como se estivéssemos incompletos sem filhos. Mas a sua capacidade de reprodução não determina o seu valor ou o amor que o Senhor tem por você. O amor de Deus e o amor que você tem para oferecer fazem parte do seu legado pessoal e sagrado.

2) Em seu próprio ritmo, considere explorar e sofrer o que precisa sofrer

Devido à natureza cíclica da infertilidade, nossas emoções são muitas vezes uma montanha-russa de ansiedade, raiva, decepção, tristeza, incerteza e esperança frágil. Estes sentimentos ternos podem muitas vezes ser acompanhados de tristeza.

Às vezes, tentamos resistir à dor e ao luto porque é uma experiência complicada, muitas vezes associada à morte, e pode ser algo assustador. Como se lamentar possa ser a mesma coisa que desistir.

Estar disposto a lamentar a sua provação atual sobre a infertilidade não é sobre resignação ou um fim. Em vez disso, trata-se de aprender a sintonizar e reconhecer o que é doloroso agora, no momento presente, para que possa ser devidamente reconhecido e tratado com gentil autocompaixão e bondade.

Isso não significa que você sempre terá motivos para sofrer, mas estar disposto a criar espaço dentro de si mesma quando esses sentimentos vêm à tona. A dor e o luto são maneiras saudáveis de receber conforto (Mateus 5:4), o que é imperativo para curar e descobrir a alegria. Se você está tendo uma experiência de luto normal – onde seus sentimentos são dolorosos, mas você não está vivendo em desespero constante—você vai descobrir que ao criar espaço para sua tristeza você está realmente liberando um espaço para a cura emocional.

O oposto é verdadeiro se tentarmos resistir ou negar nossas emoções difíceis de lidar no esforço para evitar senti-las. Não encontramos a verdadeira alegria se gastarmos a nossa energia ao tentar bloquear as nossas emoções que são difíceis de lidar. Esta ação nos fecha e muda todas as nossas experiências emocionais, incluindo a alegria.

Quando tentamos escolher os nossos sentimentos, tornamos o nosso mundo menor, e diminuímos a nossa capacidade de sentir emoções, incluindo alegria. Até o amor pode ser diminuído. Como Leí descreveu, deve haver oposição em todas as coisas (2 Néfi 2:11). Isto inclui emoção. Permita-se sentir.

3) Lembre-se que a infertilidade não é sua culpa

Muitas vezes, quando nos é negado um desejo justo, podemos nos perguntar que pecado ou erro cometemos para fechar os céus. Às vezes, até nossos familiares bem intencionados ou membros da ala nos fazem essa pergunta sem pensar. Mas a infertilidade não é um castigo por ter feito algo errado. O céu não funciona assim.

O Senhor ama você! O Seu único interesse é ter você de volta, em casa com Ele, depois desta escola terrena. O seu Pai Celestial sabe o melhor para você, e é algo que Ele manifesta oferecendo a dádiva de Seu Filho Unigênito. A Expiação de Cristo é a nossa melhor chance para a cura do sofrimento e dor que vem da infertilidade, e o Senhor deseja plenamente que a utilizemos (Alma 7:11-13). Ele é infinito no Seu amor e na Sua visão, e conhece a bondade de sua alma e a força de seu espírito. Podemos ajudá-Lo neste esforço, ao desfazer a vergonha e parar de criticar a infertilidade.

4) Encontrar um propósito que não seja filhos

Eu tinha 20 anos quando soube que tinha uma “infertilidade inexplicável”, que é basicamente um diagnóstico sem diagnóstico. Os médicos não faziam ideia porque não podia engravidar. Como a minha condição de infertilidade era inexplicável, mantive a esperança de poder engravidar… um dia. Nunca tinha pensado em nada, além de ser mãe, e desperdicei muito tempo tentando entender a minha vida enquanto esperava por aquela gravidez.

Adiei a ideia de me aplicar a outros objetivos e desejos dignos, como a faculdade, o desenvolvimento de talentos que valham a pena ou a procura de trabalho satisfatório. Não queria comprometer-me com algo significativo e ter de desistir se engravidasse. Isso me impediu de começar minha faculdade até quando eu completei 47 anos de idade e eu tinha perdido completamente qualquer esperança de ter um filho. Olhando para trás, vejo a miopia desta abordagem. A minha vida não começaria com a gravidez. A minha vida desenrolava-se todos os dias e tornar-me mãe não exigia que outros objetivos que valessem a pena fossem abandonados.

Independentemente da sua situação pessoal ou diagnóstico, não desista de outros objetivos de vida ou metas. Continue a estudar. Encontre o trabalho dos seus sonhos. Encontre um novo hobby. O Senhor tem um propósito para você agora mesmo! Aceite isso e poderás descobrir que, apesar desta provação, você será surpreendida com momentos de paz.

5) Se aconselhar com o Senhor em tudo (Alma 37:37) e confiar em Sua sabedoria (Alma 29:8)

Após o meu diagnóstico inicial, comecei os tratamentos para a infertilidade, que exigiram o uso de um medicamento de fertilidade bem conhecido. Tomei esta medicação durante três meses, ficando gravemente doente com todos os efeitos colaterais possíveis sem engravidar. Fiquei desanimada quando o meu médico me disse que precisávamos dobrar a dose desta medicação. Naquele momento, algo me sussurrou que eu não deveria continuar o tratamento, então eu disse ao médico para esperar antes de passar a receita.

Passei bastante tempo ponderando e orando e recebi a inspiração de que eu deveria interromper todos os tratamentos de infertilidade. Fiquei chocada e destroçada. Esta era minha melhor chance de engravidar, e eu não entendia por que o Senhor queria que eu parasse de fazer alguma coisa para ter filhos. Demorei meses a para me preparar para esse tratamento, e estava incluído no meu plano de saúde. Nada daquilo fazia sentido. Foi preciso muita fé para ouvir aquela voz, mas eu desisti do tratamento.

Várias semanas depois, um novo estudo médico foi divulgado afirmando que as mulheres que tinham tomado esta droga por mais de três meses sem engravidar tinham um maior risco de desenvolver câncer de ovário. Naquele momento, entendi que o Senhor sabia todas as coisas, e por causa disso, ele sabia o que era melhor para mim. Embora esta tenha sido uma das decisões mais difíceis que já tive de tomar, e ainda houvesse um alto grau de dor e incerteza, encontrei conforto ao saber que o Senhor estava sempre do meu lado, mesmo que uma bênção desejada fosse negada.

Há mais opções para casais inférteis hoje em dia. Discuta todas as opções com seu cônjuge e o Senhor em espírito de oração, incluindo a adoção, tratamentos de infertilidade, ou não fazer nada. Deixe o Senhor guiar e dirigir o seu caminho (Provérbios 3:5-6). Como nosso Conselheiro, Ele pode nos ajudar a considerar todas as opções, incluindo filhos, quando se trata de nossa família eterna.

6) Proteja a si mesmo e as suas necessidades

Se você tem amigos ou família que também estão tentando engravidar, mas não têm lutado com a infertilidade, considere ter uma conversa com eles para que eles saibam que sua jornada será diferente da deles. Fale com eles sobre como gostaria de ouvir as notícias se eles ficarem grávidos. Você quer uma mensagem no privado? Você quer conversar cara-a-cara online ou ter um telefonema? Você quer um convite para o chá de bebê ou outras comemorações?

Ouvir sobre a gravidez de um amigo em um ambiente de grupo ou nas redes sociais pode ser horrível. Você quer demonstrar que está feliz por seus amigos, mas pode haver uma onda de emoções difíceis de lidar que talvez você prefira processar em um ambiente diferente. Ao adaptar a notícia às suas circunstâncias, você pode diminuir o impacto que pode vir do anúncio e comemoração de um amigo. Este é apenas um exemplo, mas considere ter uma discussão honesta e sincera com seus amigos e família sobre o que você precisa.

7) Encontre uma maneira de falar sobre sua experiência—mas escolha sabiamente

Nem todos podem ajudar nestas circunstâncias. E o mesmo acontece com outras provações. Algumas pessoas têm dificuldade de entender a depressão, ansiedade, doença, perda, ou uma série de outras dificuldades. Então, considere cuidadosamente quem será um bom ouvinte para o que você quer compartilhar. Se você não se sente confortável em falar sobre isso, você pode querer começar a processar sua experiência escrevendo sobre seus sentimentos em um diário.

Outra opção quando se trata de falar com os outros pode incluir juntar-se a uma comunidade para as mulheres que estão lidando com a infertilidade. Na Igreja, muitas vezes podemos sentir-nos sozinhas com este fardo. Em todos os lugares que nos viramos, somos confrontadas com conversas, lições, discursos e atividades que giram em torno de filhos e pais.

Como mulheres Santos dos Últimos Dias, somos ensinadas de que a maternidade é o auge da feminilidade. Para aquelas de nós que não podem ter filhos, muitas vezes somos deixadas sozinhas, incompletas e com um sentimento de inadequação, como se não fôssemos uma mulher no sentido mais completo da palavra. Estas experiências podem dificultar a participação na Igreja, assim como os casamentos forçados e outras relações familiares.

Encontrar outras mulheres que lidam com a infertilidade pode nos dar um lugar para nos reunirmos e nos ajudar a lembrar que não estamos sozinhas. Isso pode nos ajudar a criar conexões que oferecem um fator de proteção contra a depressão. Comece pelas redes sociais ou converse com outras pessoas que vivam perto de você. Se você não pode encontrar algo que se encaixa em suas necessidades, considere começar seu próprio grupo.

Se os seus sentimentos estão se transformando de tristeza em desespero ou depressão, ou se você está com dificuldades de gerenciar as tarefas do dia-a-dia, então pode ser o momento de falar com um terapeuta. Por favor, procure ajuda se você está sobrecarregado, se o seu casamento ou a vida em família está sob pressão, se você está passando por um momento difícil ao lidar com o estresse por conta da infertilidade, se você está tendo pensamentos suicidas, ou se você só precisa de um lugar seguro para desabafar.

Estas são algumas das coisas que eu gostaria que alguém me tivesse oferecido em meus 20-30 anos enquanto eu lutava com sentimentos de raiva, isolamento, confusão, e perda que vêm quando não conseguimos ter filhos.

Quando reconhecemos que o amor completa uma família, ele pode nos ajudar a lembrar que somos suficientes aos olhos do Senhor. À medida que nos esforçamos para encontrar um propósito e vivemos no momento presente, nos livramos da crítica, e aprendemos a confiar no Senhor, estamos nos aproximando de criar a vida que estamos destinados a viver agora.

Encontrar a coragem de pedir o que precisamos e ajudar outras que também podem estar sofrendo expande nossa capacidade de lidar e sentir empatia pelas experiências dos outros. Quando nos unimos com o Senhor em todos os nossos esforços, Ele nos conduz à confiança nas escolhas que fazemos sobre nossas famílias eternas. Esse esforço pode nos ajudar a ter um pouco de paz à medida que descobrimos o nosso caminho único para o nosso legado pessoal de alegria.

Fonte: LDS Living

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