Arbítrio – A ausência de microgestão
Eu estava assistindo a conferência geral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no primeiro final de semana de abril. E como sempre, me senti cheia do amor do Senhor.
Essa conferência em particular foi diferente de qualquer outra que já havíamos visto em nossas vidas. Devido a pandemia mundial, toda a conferência foi virtual, sem a presença do público.
Fiquei pensando se ainda assim sentiria a paz que minha alma desejava. Não me decepcionei. Escreverei sobre as muitas coisas que aprendi nessa conferência, e vou começar com a comparação entre o arbítrio e a microgestão.
Nesse trecho do discurso do Élder Uchtdorf que tive uma forte impressão:
“Nosso amoroso Pai Celestial não nos deu todas as respostas. Ele espera que descubramos muitas coisas por nós mesmos. Ele espera que tenhamos fé — mesmo quando for difícil.
Ele espera que endireitemos os ombros e desenvolvamos um pouco de determinação — um pouco de força — e que demos outro passo à frente.
É dessa maneira que aprendemos e crescemos.
Vocês sinceramente gostariam que tudo lhes fosse explicado detalhadamente? Vocês sinceramente gostariam que todas as respostas fossem dadas? Que cada destino fosse traçado antecipadamente?
Acredito que a maioria de nós se cansaria muito rapidamente desse tipo de microgestão celestial. Aprendemos as lições importantes da vida por meio das experiências pelas quais passamos. Aprendemos com nossos erros. Aprendemos quando nos arrependemos e percebemos que a “iniquidade nunca foi felicidade”(Alma 41:10). (Elder Dieter F. Uchtdorf, “Venham e façam parte,” Conferência Geral, Abril 2020).
Nunca pensei no arbítrio como a antítese da microgestão. É uma comparação tão simples, e mesmo assim nunca tinha visto dessa maneira.
O arbítrio é chave para o sucesso do plano de salvação. Se devemos aprender qualquer coisa enquanto estamos na mortalidade, precisamos ser capazes de pensar e agir por nós mesmos.
O Pai Celestial deve querer ter controle sobre a nossa tomada de decisão todos os dias – mas ele não o faz. Ele nos ama demais para microgerenciar as nossas vidas.
Ele quer que aprendamos e cresçamos. Ele sabe que cometeremos erros, mas que iremos aprender e crescer com eles.
Muitas vezes durante a adolescência de meus filhos, tive o desejo de tomar decisões por eles.
Uma boa parte das decisões ruins que tomamos, acontecem durante a adolescência, e os pais lamentam quando veem seus filhos adolescentes tomando decisões que os colocarão em perigo ou que os desviarão do bom caminho.
Não seriamos bons pais se não desejássemos o melhor para os nossos filhos. Passamos anos protegendo-os. E em um certo ponto na adolescência, percebemos que eles precisam errar.
Eles precisam do arbítrio para crescer. Então engolimos seco, e nos afastamos.
Observamos eles cometerem um erro atrás do outro. E como pais, tudo o que podemos fazer é ajuda-los a recolher os pedaços e minimizar os efeitos colaterais.
Nosso Pai Celestial também lamenta quando fazemos escolhas ruins. Ele nos ama e quer o melhor para nós. Ele deve chorar lágrimas de frustração ao ver os erros que cometemos.
Mesmo assim, nosso arbítrio nunca será tirado de nós. O microgerenciamento celestial nunca resolverá os nossos problemas, e não nos ajudará a crescer.
Li um artigo sobre pais que microgerenciam seus filhos. Ao ler a seguinte citação, pense na devastação que a microgestão celestial causaria.
“Independentemente de como é apresentado, o microgerenciamento pode dar às crianças a impressão de que os pais não confiam nelas e isto acarreta problemas.
Carrie Krawiec disse, ‘Se eles sentem que não são capazes fazer as coisas da maneira correta, podem acatar somente a sua opinião, o que interfere na capacidade de desenvolver autoconfiança’.
Controversamente, eles podem questionar a sua atitude e não buscar seu feedback, mesmo quando é seguro ou saudável fazê-lo. Se eles percebem que você é crítico, podem buscar encorajamento em outros lugares (prejudiciais à saúde), como colegas delinquentes.”
Crianças que são microgerenciadas também podem crescer acostumadas a um nível não alcançado de sucesso, o que pode levar a uma ética de trabalho pobre, comportamento autoritário ou dificuldade em lidar com contratempos e fracassos.” (Claire Gillespie, “No really, stop micromanaging your kids,” The Week, Janeiro, 2020).
Nossos Pais Celestiais nos amam o suficiente para se afastarem e deixarem que cometamos nossos próprios erros. Eles não querem que os vejamos como críticos. Eles não querem que busquemos por ajuda em lugares ruins.
E o mais importante, nossos Pais Celestiais querem que sejamos capazes de lidar com os nossos próprios fracassos. Para crescer, às vezes iremos fracassar. Lembre-se, Há um plano para nos salvar de nossas falhas – a Expiação de Jesus Cristo.
Cristo sofreu e morreu por nossos fracassos. Ela passou pela agonia do Jardim do Getsemâni, assim como pela tortura e morte na cruz, especificamente para nos salvar de nossos erros e faltas.
Sou secretária legal aposentada. Por muitos anos trabalhei em empresas de advocacia, tive a oportunidade de trabalhar para maravilhosos advogados.
Quando surgiam prazos importantes a serem entregues, alguns deles me davam seus rascunhos e deixavam para que eu fizesse o meu trabalho.
Outros não conseguiam deixar com que eu fizesse sozinha e microgerenciavam cada parágrafo que eu escrevia – e eu odiava aquilo.
Meu melhor trabalho nunca foi feito sob pressão. Eu sempre tinha vontade de dizer que se eles tinham confiança em seus trabalhos, eles não ficariam em cima de mim a cada minuto reescrevendo o que eu tinha feito.
Eu sentia vontade de gritar “Sai daqui, ou isso não vai chegar no tribunal a tempo!” Houve uma ocasião que orei em voz alta, “Deus me dê forças.”
O advogado em questão era um homem muito adorável – que não tinha o costume de microgerenciar – mas estava tendo uma grande dificuldade naquele dia em particular.
Ele parou por um momento e disse, “Acho que esse é um bom motivo para se orar.” Ele se afastou por cerca de 30 minutos, antes que não pudesse mais se conter.
Quanto mais penso sobre arbítrio e microgerenciamento, mais entendo e sou grata pelo amor de nosso Pai Celestial, nossa Mãe Celestial e nosso Irmão Mais Velho Jesus Cristo.
Sou grata por ter o arbítrio para tomar minhas próprias decisões. Cometo erros todos os dias. Tenho 65 anos de idade, e às vezes me sinto como uma criança fazendo escolhas ruins.
Mas, cada vez que cometo um erro nesse jogo da vida, aprendo algo novo que me ajudará a ganhar a vida eterna com a minha família. O arbítrio nos dá o poder de aprender; o microgerenciamento traz destruição.
Fonte: LDS Blogs