Qual a visão dos Mórmons sobre os Livros Apócrifos?

Os Livros Apócrifos são escritos antigos cuja origem é duvidosa, que não fazem parte do cânone de escrituras aceitos pela maioria das Igrejas Cristãs. O termo “apócrifo” vem do grego e significa “coisa oculta”. Inicialmente os apócrifos eram considerados livros avançados, restritos aos especialistas, mas, depois verificou-se que, por serem altamente questionáveis, quanto a origem e conteúdo, deveriam ser considerados secundários – e até hereges.
Quando o Profeta Joseph Smith estava traduzindo a Bíblia se deparou com alguns livro apócrifos, e perguntou ao Senhor a respeito deles. No dia 9 de março de 1833 o Profeta recebeu a revelação que esta em D&C 91, que comentaremos abaixo.
História dos Livros Apócrifos
O Élder Bruce R. McConkie nos deu a seguinte explicação acerca dos livros apócrifos:
“Os eruditos e estudiosos da Bíblia reuniram certos escritos aparentemente pertencentes à época do Velho Testamento, que consideram de autenticidade duvidosa, ou de natureza espúria, sob o título de Apócrifa. Não se chegou a um acordo total sobre os escritos específicos que devam ser classificados como apócrifos, mas os geralmente citados são: I e II Esdras, (às vezes também chamados de III e IV Esdras); Tobias, Judite, o restante dos capítulos de Ester; Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Jesus, o Filho de Siraque ou Eclesiástico; Baruque e a Epístola de Jeremias; partes adicionais de Daniel, inclusive o Canto das Três Crianças Santas, a História de Susana, e a História da Destruição de Bel e o Dragão; a Oração de Manassés; I e II Macabeus (pela Bíblia de Douay).
Estes escritos apócrifos jamais foram incluídos na Bíblia hebraica, mas faziam parte da Septuaginta grega (o Velho Testamento usado pelos apóstolos antigos) e da Vulgata Latina. Foi pedido a Jerônimo, que traduziu a Vulgata, que incluísse tais livros em sua tradução; todavia, atribui-se a ele ter dito que tais obras deviam ser lidas ‘como exemplo de vida e instrução de costumes’ e não ‘para estabelecer a doutrina’. A Bíblia alemã de Lutero agrupou os livros apócrifos (suprindo I e II Esdras) no final do Velho Testamento, sob o título: ‘Apócrifa: estes livros não são considerados iguais às escrituras sagradas, porém são úteis e de leitura proveitosa.’
Os Livros Apócrifos faziam parte da Versão do Rei Tiago de 1611. Por volta de 1629, algumas Bíblias inglesas começaram a aparecer sem eles e, desde a primeira parte do século dezenove, faram totalmente excluídos de quase todas as Bíblias protestantes. A Sociedade Bíblica Americana, fundada em 1816, nunca imprimiu os Livros Apócrifos em suas edições; a Sociedade Bíblica Inglesa e a Estrangeira os excluíram de quase todas as Bíblias, com exceção de algumas que são usadas em púlpitos, desde 1827. (Mormon Doctrine, pg. 41-42.)
O que o Senhor disse sobre o valor dos Apócrifos
Evidentemente havia muita controvérsia sobre o valor dos Apócrifos na época em que o Profeta começou seu ministério. Consequentemente, em 1833, o Profeta sentiu-se impelido a inquirir o Senhor a respeito da autenticidade dos livros Apócrifos. A resposta foi a seguinte:
Em verdade, assim vos diz o Senhor com referência aos Apócrifos: Há muitas coisas neles que são verdadeiras e estão, na maior parte, traduzidas corretamente.
Há muitas coisas neles que não são verdadeiras, que são acréscimos feitos pelas mãos de homens.
Em verdade vos digo que não é necessário que se traduzam os Apócrifos.
Portanto, aquele que os ler que compreenda, pois o Espírito manifesta a verdade;
E aquele que for iluminado pelo Espírito se beneficiará com eles;
E aquele que não receber pelo Espírito não poderá ser beneficiado. Portanto, não é necessário que sejam traduzidos. Amém. (D&C 91)
Assim, o Senhor mostrou-nos claramente que não precisamos estudar os livros apócrifos, exceto se o desejarmos – e se o fizermos, precisamos recorrer ao Espírito Santo – para discernir o que é verdade, do que não é.
Quais são os livros Apócrifos
Há muitos livros apócrifos hoje em dia, especialmente com as descobertas de registros antigos – tais como os Manuscritos do Mar Morto. Importante salientar que alguns estudiosos preferem não classificar os pergaminhos do Mar Morto como livros Apócrifos, pois diferem quanto a origem. Porém, o fazemos aqui utilizando a classificação ampla e genérica (para não dizer didática) de que todos os livros não-canônicos (obras-padrão) são apócrifos, se não forem aprovados como revelação pela Igreja. Assim os livros apócrifos mais conhecidos são:
(I) O Primeiro Livro de Esdras; (2) O Segundo Livro de Esdras; (3) Tobias; (4) Judite; (5) Adições ao Livro de Estér (6) A Sabedoria de Salomão; (7) Eclesiástico ou a Sabedoria de Jesus filho de Siraque; (8) Baruque; (9) Uma Epístola de Jeremias; (10) O Cântico dos Três Hebreus; (11) Daniel e Susana; (12) Daniel, Bel e Dragão; (13) A Oração de Manassés; (14) O Primeiro Livro dos Macabeus; (15) O Segundo Livro dos Macabeus.
Outros livros, provenientes dos Pergaminhos do Mar Morto, são: O livros dos Segredos de Enoch, Livro da Ascesão de Isaías, Pronto-Evangelho de Tiago, Evangelho Pseudo-Tomé, Evangelho Árabe da Infância, Evangelho de pedro, Evangelho de Bartolomeu, etc.
Na verdade a lista acima é ilustrativa. Há centenas de livros e escritos antigos considerados apócrifos.
Alguns dos líderes da Igreja já citaram trechos de livros apócrifos em seus sermões. Por exemplo, o Élder Jeffrey R. Holland, ao falar sobre o poder da linguagem utilizou Eclesiástico 28:21 (ou 28:17, dependendo da edição):
(…) Desejo prevenir a todos, se é que isso é preciso, quanto ao modo como falamos uns com os outros e como falamos de nós mesmos.
Há um versículo de um livro apócrifo que expressa a seriedade dessa questão melhor do que eu. É o seguinte: “O golpe do chicote deixa marcas na carne; mas o golpe da língua quebra os ossos” (“A língua dos anjos“, Conferência Geral Abril de 2007).
Somos incentivados a estudar os livros apócrifos caso já tenhamos estudado as escrituras, e tenhamos em mente que não possuem a mesma credibilidade das obras-padrão.
Minha Experiência dos os livros Apócrifos
Tenho estudo os livros apócrifos e verificado que realmente, como o Senhor disse, “há muitas coisas neles que são verdadeiras”, mas também “há muitas coisas neles que não são verdadeiras, que são acréscimos feitos pelas mãos de homens”.
Antes de estudar estes livros procurei conhecer bem as obras-canônicas da Igreja. Verifiquei que há um princípio importante de interpretação: as doutrinas das escrituras não se contradizem. Assim, passei a analisar os apócrifos com esta regra em mente: valores, princípios e doutrinas das obras canônicas não poderiam contradizer a verdade revelada.
Além disso, evidentemente, orei e busquei a companhia do Espírito Santo.
Alguns escritos apócrifos me trouxeram muito aprendizado, como o Livro dos Segredos de Enoch, nos quais verifiquei conceitos ensinados nas escrituras canônicas e nos Templos Mórmons. Outros escritos apócrifos mostraram-se distorcidos e falsos. Um deles é o Livro de Infância de Jesus – um livro que mostra o Salvador como uma criança vaidosa, utilizando seus poderes para satisfazer seus impulsos joviais.
Minha conclusão é que vale a pena o esforço de estudar os livros apócrifos, mas apenas se você tiver tempo para isso – ou seja, não deixe de estudar as escrituras canônicas. Ademais, os livros apócrifos contém, geralmente, uma linguagem mais difícil e simbólica – o que exige um conhecimento preliminar das escrituras oficiais e m treino para analise teológica:
Obviamente, para obter real proveito do estudo dos Livros Apócrifos, o aluno deve ter, primeiramente, um amplo conhecimento do evangelho, um entendimento substancial das obras-padrão da Igreja, e também a orientação do Espírito. ” (Mormon Doctrine, pg. 41-42.)