4 Considerações sobre as mudanças no trabalho no Templo
A Primeira Presidência emitiu um comunicado ontem, dia 02 de Janeiro de 2019, sobre a adoração no Templo. Em síntese a pequena correspondência diz que Deus sempre ordenou a construção de Templos e que as “escrituras registram padrões de adoração no templo desde a época de Adão e Eva, Moisés, Salomão, Néfi e outros”. Apesar disso, “detalhes associados ao trabalho do templo foram ajustados periodicamente, incluindo a linguagem, métodos de construção, comunicação e manutenção de registros”. A Primeira Presidência declarou ainda que “os profetas ensinaram que não haverá um fim para tais ajustes, conforme dirigido pelo Senhor a Seus servos.”
A carta termina dizendo que um templo “é o local de adoração mais sagrado” da Terra e que suas “ordenanças são sagradas e não são discutidas fora de um templo sagrado”. Você pode ter acesso a mensagem inteira aqui.
Quem for digno de entrar no Templo e portar uma recomendação, poderá conferir pessoalmente um novo “ajuste” em certos aspectos das ordenanças. Não discutirei esse ajuste específico, mas sim as doutrinas que sustentam tal mudança.
Lembrando que mudanças assim tem acontecido. Só nos últimos anos várias mudanças se deram: como o tempo de duração da recomendação, a recomendação do Templo para jovens passou a durar mais tempo, a possibilidade de sacerdotes jovens realizarem ordenanças nos Templos, a possibilidade de pessoas divorciadas oficiarem sem esperarem determinado tempo após o divórcio, etc.
1 – Deus não muda, mas adapta sua obra de acordo com a fé
Deus é o mesmo ontem hoje e para sempre (Morôni 10:19, Hebreus 13:8). Sua imutabilidade é resultado de seus atributos divinos – justiça (3 Néfi 29:9), verdade (Jacó 4:13), vida e luz (Mosias 16:9), etc. Entretanto, por nos amar, Deus adapta seus mandamentos:
“Porque eis que eu sou Deus; e sou um Deus de milagres; e mostrarei ao mundo que sou o mesmo ontem, hoje e para sempre; e não trabalho com os filhos dos homens a não ser de acordo com sua fé.” (2 Néfi 27:23)
A história das escrituras nos ensinam isso. Quando, para citar um exemplo, Moisés nota que o povo não está preparado para lei maior, uma lei menor é revelada.
Morôni ensinou que o “Senhor (…) [age] para com os filhos dos homens de acordo com sua fé” (Éter 12:29). Ele “se manifesta a todos os que nele creem, pelo poder do Espírito Santo; sim, a toda nação, tribo, língua e povo, fazendo grandes milagres, sinais e maravilhas no meio dos filhos dos homens, de acordo com sua fé” (2 Néfi 26:13).
Quando Cristo estava entre os nefitas realçou esse ensinamento após orar de maneira tão maravilhosa que suas palavras não puderam ser registradas. Ele disse:
“Tão grande fé eu nunca vi entre todos os judeus; por isso não lhes pude mostrar tão grandes milagres, por causa de sua incredulidade.
Em verdade vos digo que nenhum deles viu coisas tão grandiosas como as que vistes nem ouviu coisas tão grandiosas como as que ouvistes.” (3 Néfi 19:35-36, ver também Mateus 13:58)
Assim, as escrituras mostram que, embora Deus tenha uma maneira particular de proceder – baseados nos princípios de verdade, que são imutáveis, Ele revela mais e mais de Sua Palavra tão logo seus filhos estejam espiritualmente aptos para recebê-las. A “palavra de Deus”, inclui suas doutrinas, mandamentos, leis, ordenanças e convênios. Quanto mais fé temos, mais de Sua Palavra é revelada.
2- Ordenanças podem mudar, ainda que não em essência
As ordenanças do evangelho são os rituais ou cerimônias sagradas que nos permitem receber bênçãos de Deus. Algumas ordenanças estão associadas a sagrados convênios. Certas ordenanças possuem “passos” e palavras específicas que revelam a ordem, o comprometimento, a seriedade e a a santidade das coisas de Deus.
As ordenanças sempre são realizadas por ministros autorizados – servos de Deus que portam o sacerdócio.
Essas ordenanças são divididas em dois grandes grupos. Ordenanças de salvação e outras ordenanças. As primeiras são essenciais para galgar até o mais alto grau de glória e para, assim, se receber a exaltação eterna.
Algumas ordenanças são essenciais para a exaltação no reino celestial para todas as pessoas que devem passar por elas. Essas ordenanças incluem o batismo, a confirmação, a ordenação ao Sacerdócio de Melquisedeque (para os homens), a investidura no templo e o selamento no templo. Os membros vivos da Igreja recebem essas ordenanças de salvação pessoalmente. As pessoas falecidas podem recebê-las vicariamente. As ordenanças vicárias só passam a vigorar a partir do momento em que a pessoa falecida, por quem elas foram realizadas, as aceitar no mundo espiritual e passar a honrar os convênios a elas associados. (Manual 2, item 2.1.2)
Você pode ler mais sobre as ordenanças aqui.
Embora as ordenanças de salvação tenham sido as mesmas – na essência – desde Adão e Eva – a forma variou de tempos em tempos. Um exemplo é o batismo e dom do Espírito Santo. O batismo e Adão (Moisés 6:64-65) difere do batismo de Alma (Mosias 18:12-16), do Senhor (Mateus 3:16) e do batismo de Joseph Smith (Joseph Smith História 1:70-71). Embora cada um destes batismo seja peculiar devido as circunstâncias, contém elementos em comum – autoridade, imersão na água, poder espiritual, etc. – e outros diferentes.
O sacramento é outro exemplo. Usou-se vinho, hoje usa-se água.
O mesmo se dá com as outras ordenanças de salvação. A investidura de Adão e Eva foi diferente da nossa, ainda que mantivesse a mesma essência e convênios. A forma de apresentação da investidura nos tempos de Abraão diferiam – não em essência – da investidura dos israelitas após o êxodo (um dos motivos é que antes de Moisés o sacerdócio não era dividido em sacerdócio maior e sacerdócio menor). No começo desta dispensação a apresentação da investidura demorava muito mais do que hoje em dia.
Ao considerarmos a possibilidade de mudanças das ordenanças, não devemos supor que as tais possam ser alteradas de modo substancial. O batismo sempre será por imersão na água, por alguém que detenha autoridade e realizado par uma pessoa capaz, com oito anos ou mais. As palavras da ordenanças, o local a ser realizado, etc. podem variar. Toda alteração, contudo, deve ser inspiradas e autorizadas pelo Presidente da Igreja.
Tal como os profetas disseram: “Durante muitos séculos, detalhes associados ao trabalho do templo foram ajustados periodicamente, incluindo a linguagem, métodos de construção, comunicação e manutenção de registros. Os profetas ensinaram que não haverá um fim para tais ajustes, conforme dirigido pelo Senhor a Seus servos.”
3- O profeta detém todas as chaves do sacerdócio
As mudanças associadas as ordenanças só podem ser autorizadas por aquele que detém e exerce todas as chaves do Santo Sacerdócio. As chaves são o direito de governo do Reino de Deus, são o direito de presidência, ou o poder conferido por Deus ao homem para dirigir, controlar e governar o sacerdócio de Deus na Terra.
Os portadores do sacerdócio chamados para posições de presidência recebem chaves das mãos dos que têm autoridade sobre eles. Os portadores do sacerdócio só exercem o seu sacerdócio dentro dos limites definidos por aqueles que têm as chaves. O Presidente da Igreja é a única pessoa na Terra que tem todas as chaves do sacerdócio e que está autorizada a exercê-las plenamente (D&C 107:65–67, 91–92; 132:7).
“Agora, o grande e importante segredo deste assunto e o summum bonum de toda a questão que se nos apresenta consiste em obterem-se os poderes do Santo Sacerdócio. Aquele a quem forem dadas essas chaves não terá dificuldade em obter um conhecimento dos fatos relativos à salvação dos filhos dos homens, tanto os mortos como os vivos.” (D&C 128:11)
O Presidente da Igreja pode, portando, autorizar ordenanças ou desautorizá-las. Ele pode alterar aspectos não essenciais da ordenanças do evangelho – tais como palavras, maneiras de se proceder, lugar em que devem ser realizadas, etc.
4- A restauração continua – e não só isso
A restauração do Evangelho continua em vigor. Nossa nona Regra de Fé declara:
“Cremos em tudo o que Deus revelou, em tudo o que Ele revela agora, e cremos que Ele ainda revelará muitas coisas grandiosas e importantes relativas ao Reino de Deus.”
De fato, não cremos apenas que Deus restaurará “todas as coisas, das quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio do mundo” (Atos 3:21), efetivando “uma total, completa e perfeita união e fusão de dispensações e chaves e poderes e glórias ocorram e sejam reveladas desde os dias de Adão até o tempo atual”. Não cremos somente nisso. Cremos também que “coisas que nunca se revelaram desde a fundação do mundo, mas que se conservaram ocultas aos sábios e prudentes, serão reveladas a crianças e recém-nascidos nesta dispensação, que é a da plenitude dos tempos” (D&C 128:18).
Que bênção viver nesta maravilhosa época em que Deus continua a fazer mudanças gloriosas para edificação de Seu Reino e para preparar a Terra para o retorno de Seu Filho Amado.