fbpx

Conheça Don Bluth: Santo dos Últimos Dias e animador responsável por lindos filmes da Disney

Don Bluth amava ir ao cinema. Quando criança, ele montava em seu cavalo, Flash, para ir até a cidade e o deixa preso embaixo de uma árvore antes de entrar no cinema. Enquanto Flash “cortava a grama”, Don experimentava a magia dos filmes da Disney em toda a sua glória, e se maravilhava com a cor, a música e a narrativa de cada cena.

Ao sair, Don montava em Flash e voltava para casa, e passava o tempo conversando com o amigo. O cavalo fiel sempre respondia. Talvez a resposta viesse de sua própria imaginação infantil ou não, Don não sabe dizer.

“Ele era muito encorajador, ele sempre dizia, ‘ Você pode fazer o que quiser. Você tem apenas que acreditar em si mesmo… e se você quer ser um animador da Disney e gosta disse, então isso é ótimo. Siga em frente e faça.”, lembra Bluth.

Don levou aquele conselho a sério. O menino que antes sonhava em ser animador trabalhou para a Disney em alguns dos filmes mais clássicos da empresa, incluindo ‘A Bela Adormecida’ (1959), ‘101 Dálmatas’ (1961), ‘A Espada Era a Lei’ (1963), ‘Robin Hood’ (1973), ‘O Ursinho Pooh e Tigrão’ (1974), e ‘Meu amigo, o Dragão’ (1977, como diretor de animação).

Então, Bluth encontrou uma encruzilhada que ele nunca havia previsto, o que o obrigou a deixar o mundo da Disney para iniciar uma empresa de animação independente, algo que mudaria sua vida para sempre.

Desde então, Bluth se tornou um dos profissionais de maior prestígio na indústria, deixando sua marca não apenas como animador, mas como diretor de filmes como ‘A Ratinha Valente’ (1982), ‘Todos os Cães Merecem o Céu’ (1989), ‘A Polegarzinha’ (1994), Anastasia (1997) e Titan (2000).

O animador também trabalhou com alguns dos maiores nomes do cinema. Bluth trabalhou com Steven Spielberg na década de 1980 em ‘Um Conto Americano’ (1986) e ‘Em Busca do Vale Encantado’ (1988). Ele também trabalhou com notáveis dubladores como Meg Ryan, Angela Lansbury, John Cusack, Matt Damon, Bill Pullman e Drew Barrymore.

E não é apenas a carreira de Bluth que se destaca, mas também como sua fé moldou o trabalho de sua vida.

As encruzilhadas

Embora ele tenha passado grande parte de sua infância ordenhando vacas na fazenda da família, o coração de Bluth nunca esteve realmente na vida no campo.

Bluth se sentia mais atraído por lápis e papel e queria aprender a desenhar mais do que qualquer coisa.

Porém, sem acesso a professores ou internet para buscar informações, ele teve que aprender sozinho, ao copiar os personagens dos quadrinhos da Disney. Ele praticava repetidas vezes e quanto mais desenhava, melhor se tornava.

Somente por volta dos 16 anos que Bluth foi apresentado ao mundo da animação por “Judge” Wetzel Whitaker, um homem que havia saído da Disney depois de trabalhar em Peter Pan (1953), para assumir o departamento de cinema da Universidade Brigham Young.

Whitaker foi uma inspiração para Bluth. Foi através dele que Bluth viu pela primeira vez o equipamento usado no programa da BYU e aprendeu sobre a produção de filmes.

Foi nessa mesma época que Bluth recebeu um conselho do pioneiro da animação na BYU que ele nunca esqueceu.

“Eu perguntei a ele: ‘Por que você deixou a Disney?’ Eu não conseguia entender por que alguém faria isso, e ele respondeu: ‘Isso se chama uma encruzilhada’”, lembra Bluth.

“E ele disse, ‘Um dia, você chegará na sua própria encruzilhada. Você verá’”, continuou Bluth. “E eu cheguei. E me lembrei do que ele disse”.

Para Bluth, essa encruzilhada se manifestaria de várias maneiras. Na década de 1950, por volta dos 18 anos, ele levou seu portfólio para a Walt Disney Productions e conseguiu um emprego para trabalhar em ‘A Bela Adormecida’.

O filme, diz Bluth, foi uma “referência na história da animação”, e a Disney usou todos os recursos disponíveis ao criá-lo.

Kelly Loosli, professor de Animação e Produção de Ficção Artística da BYU, explica que o filme ‘A Bela Adormecida’ era “mais complexo… com um contraste interessante de formas suaves contra formas duras, ângulos contra curvas” em se comparado aos filmes anteriores.

Ele acrescenta que pode ver como o filme influenciou o trabalho de Bluth, considerando que Milt Kahl, um dos principais animadores da Disney e que trabalhou no Príncipe Phillip, foi um dos mentores de Bluth.

Em um ano, Bluth deixou de ser um “ninguém” para se tornar um gerente assistente da Disney.

Então, seu bispo o chamou e pediu que servisse missão. Embora significasse deixar para trás tudo pelo que tinha trabalhado, Bluth orou sobre o assunto, pediu conselho a seus pais e decidiu servir como missionário de tempo integral.

“Então fui até o pessoal da Disney e disse: ‘Vou fazer uma missão para a Igreja. E eles ficaram muito desapontados. Eles disseram: ‘Você tem tudo em suas mãos agora. Você pode ser o que quiser aqui no estúdio.’ [Eles disseram], ‘Você quer jogar tudo fora?’ E eu disse: ‘Vou recuperar’”.

Ao partir para sua missão de dois anos e meio na Argentina, Bluth não passou por nenhum programa de treinamento quando era um jovem élder.

Ele comprou um livro de gramática para aprender espanhol sozinho, pegou um avião para Nova York e depois embarcou em um barco, fez uma viagem de 30 dias até chegar ao seu destino.

Pelo que Bluth sabe, ele foi o último missionário santo dos últimos dias a viajar dessa maneira.

Durante seu tempo como missionário, Bluth também montou duas peças, ‘O Mágico de Oz’ e ‘Peter Pan’, do zero, o que envolveu compor músicas originais e escrever o roteiro em espanhol.

Foi durante sua missão, ao compartilhar as verdades do evangelho que teve uma nova perspectiva do que seu futuro realmente reservava para ele.

“Em tudo o que faz com sua vida, ou você é uma testemunha de Jesus Cristo ou não é. E descobri isso na missão”, diz ele.

“Então, o que eu fiz ao dizer: ‘Espere, não se trata do Don e animação, mas sim do meu relacionamento com o Salvador e do que posso fazer para mostrar amor às outras pessoas’… quando voltei para casa, demorei um pouco para voltar ao mundo da animação. Mas quando finalmente consegui, isso me deu uma voz”.

Voltar ao mundo da animação

Voltar a trabalhar na Disney “demorou um pouco”, diz Bluth. Quando jovem, ele não conseguia se decidir por uma especialização e “abandonava” seus estudos na Brigham Young University entre os verões de trabalho na Disney.

Por fim, ao estudar inglês, Bluth, que nunca havia se interessado pela leitura, se apaixonou pela palavra escrita. Até hoje, ele dá crédito ao programa pela forma como ele retrata seus personagens.

“Os desenhos que eu fazia não eram mais apenas desenhos – eles representavam personagens que tinham pensamentos e filosofias. Tudo subiu de nível. A missão fez isso e também a educação no departamento de inglês”, ele diz.

Quando Bluth voltou à Disney em 1971, as coisas no estúdio não eram as mesmas. De acordo com um artigo de 1979 do New York Times, o filme ‘A Bela Adormecida’, que levou seis anos e 6 milhões de dólares para ser produzido, foi um fator significativo no prejuízo de 1,3 milhões de dólares da Disney entre 1959 e 1960.

Além disso, Bluth sentiu que os acionistas públicos influenciaram as decisões da empresa, reduzindo a qualidade da produção à medida que efeitos especiais demorados, como sombras, brilhos na água e fumaça começaram a desaparecer dos filmes da empresa.

Desencantado com aquela situação, Bluth se demitiu da Disney em 1979. Mas ele não foi o único, vários animadores da Disney seguiram Bluth em sua nova produtora independente, incluindo os co-fundadores John Pomeroy e Gary Goldman.

“Algumas pessoas costumavam perguntar: ‘Por que você deixou a Disney?’ Porque isso parece uma coisa boba de se fazer”, diz Bluth.

“Eu saí basicamente porque o Walt foi embora. E se o Walt não estava lá, sua visão também não estava. Tornou-se um processo mecânico… Então, por que não torná-lo melhor, quando realmente o que o impulsionava estava reduzindo o custo? Demorou um pouco para que Michelangelo pintasse a Capela Sistina. Se você dissesse a ele: ‘Você tem apenas um mês’, o que você receberia?”

A moral da história

Uma mudança na forma de contar histórias foi outro fator na decisão de Bluth de deixar a Disney. Acreditando que “uma história é tão forte quanto o seu vilão”, Bluth diz que filmes originais da Disney como ‘Branca de Neve’ (1937), ‘Pinóquio’ (1940) e ‘Bambi’ (1942) ensinam sobre moral elevada excepcionalmente bem, já que os vilões eram tão assustadores.

Mas por outro lado, filmes como ‘Robin Hood’ (1973), no qual o próprio Bluth trabalhou, fugiram dessa tradição, optando pela comédia. Bluth achava que isso tornava as histórias mais “moles” e de “vendas fáceis”, já que a empresa começou a ficar mais preocupada com o número de telespectadores.

Conhecido por muitas vezes trabalhar com temas sombrios em seu próprio trabalho, Bluth gravita em na “jornada do herói”, onde os personagens principais superam obstáculos difíceis, acreditando que essas histórias refletem melhor a oposição entre o bem e o mal.

“Temos um vilão na vida real? Sim, é Satanás. E nós temos um herói? Sim, Cristo. E os dois estão em guerra, e nós somos a recompensa. Portanto, me parece que vamos falar sobre situações reais, mesmo na caricatura, nos desenhos animados, temos que incluir esse cenário”, diz ele.

Incluir esse cenário em seus próprios filmes significa que Bluth também é capaz de incorporar naturalmente outras verdades religiosas em suas histórias.

Em A Ratinha Valente, o favorito de Bluth entre seus filmes, a personagem principal, sra. Brisby, tem que salvar seu filho e “parar de pedir a alguém para fazer o que você mesmo precisa fazer”, o que ele acredita estar de acordo com os princípios do evangelho.

Na animação ‘Em Busca do Vale Encantado’, vemos um tema abrangente sobre famílias e vida eterna. No final do filme, o protagonista, Littlefoot, acredita que viu a sombra de sua mãe, que morreu no início do filme, mas na realidade, era apenas sua sombra na parede.

“Mas quando ela está morrendo, ela diz a ele: ‘Eu estarei com você para sempre’. Essa é uma filosofia muito, muito [Santo dos Últimos Dias], de que a família ficará junta para sempre… mas tenho certeza de que [há] muitas pessoas que não são [membros da Igreja] que concordariam que isso é verdade, porque é uma verdade. Vocês vão ficar juntos. E a vida não termina quando você morre, ou quando o corpo morre. Ela continua. E o pensamento feliz é que não apenas continuará, mas você será ressuscitado”.

Um canal para inspiração

Bluth descobriu que não está sozinho no processo criativo.

“Aprendi ao longo dos anos que as ideias e a criatividade não são realmente [minhas], que sou um canal através do qual acredito que a Divindade pode falar. Mas não sou eu quem está fazendo isso. Há momentos em que você se sente absolutamente sozinho e que não vai conseguir. E há outros momentos em que realmente flui, como a água flui em um rio”.

Ao longo dos anos, Bluth trabalhou em diversas partes do processo de filmagem, além de projetar personagens, orquestrar cores, iluminação e história.

Porém, embora muitas vezes tenha que fornecer soluções para dilemas em seu papel como diretor, ele descobriu que, ao estar conectado com Deus, as coisas inevitavelmente dão certo.

“Não há pressão porque acho que é tudo uma questão de inspiração”, ele diz. “Ou você é o canal ou não é. Se você tentar operar por conta própria, você falhará”.

Bluth não busca apenas inspiração em seu trabalho – ele também busca revelação nas escrituras.

Um grande amigo, Roger McKay, que também fez parceria com Bluth na criação de um teatro comunitário em Scottsdale, Arizona, diz que costuma ver isso em ação.

“Observei Don ao longo dos anos, e às vezes ele parece uma criança quando descobre algo nas escrituras, e nós nos sentamos juntos e [ele diz]: ‘Você sabia disso? Você leu sobre isso? Você sabe o que isso significa?’ E ele vai começar a falar sobre esses pequenos princípios nas escrituras e apenas se aprofundar neles… ele me ensinou muito e está sempre curioso como uma criança. É incrível.”

Bluth diz que as escrituras, além da inspiração do Espírito Santo, são a chave para o testemunho pessoal e o conhecimento das verdades do evangelho.

“Há um filme do Charlie Chaplin, no qual ele joga o mundo como um grande balão. Ele sobe e desce, sobe e desce, certo? O testemunho é muito parecido com isso. Às vezes é muito forte, às vezes é fraco e vai descendo”, diz ele.

“Portanto, as escrituras estão aí… se você não estender a mão e bater, você não as entenderá. E o Espírito Santo é o revelador. Ele virá e lhe dará garantias do que é verdade… O Espírito Santo pode provar qualquer coisa”.

Desde quando serviu como presidente de ramo na Irlanda, quando mudou seu estúdio de animação na década de 1980, até seu atual chamado como professor da Escola Dominical, Bluth faz “tudo ao seu alcance” para garantir que ele entregue o que é necessário, diz McKay.

“Ele não quer falhar e quer ter certeza de que está servindo com diligência e fidelidade”, diz McKay. “Mesmo durante a pandemia, ele está descobrindo maneiras criativas de ensinar e se certificando de não perder nenhum domingo ou o que deve ensinar. Ele é muito, muito diligente. Muito disciplinado e dedicado”.

Dentro e fora do palco

Bluth também é muito querido dentro de sua comunidade. Desde 2004, ele trabalha com o vice-presidente e produtor McKay na criação peças no Don Bluth Front Row Theatre.

Esse amor pelo teatro também se reflete nos trabalhos de animação de Bluth. Quando se trata de desenho, ele diz:

“Se você não consegue fazer seus personagens parecerem que estão expressando algum tipo de emoção ou fazendo o processo de atuação, então a animação não é muito boa. Os animadores são, na verdade, apenas atores, mas desenham sua atuação em vez de estar no palco ”.

Tanto em seu trabalho quanto no cuidado com os outros, Bluth está sempre “cuidando dos oprimidos”, diz McKay.

Ele está focado em duas coisas muito importantes – amor e anseio pelo lar, provavelmente porque esses princípios “conduzem sua própria vida”.

“Acho que ele sempre olha para o seu trabalho, seja no teatro, peças ou filmes, através das lentes de ‘Como isso vai elevar meu público?’”, diz McKay.

“Ele sempre olha através das lentes da elevação espiritual, de ‘Como posso elevar alguém por meio do meu trabalho?’”

Histórias que valem a pena ser contadas

Muita coisa mudou no mundo da animação desde que Bluth, agora com 83 anos, começou a trabalhar na Disney ainda durante sua adolescência.

Hoje em dia, muitas vezes o marketing direciona o conteúdo dos filmes, com o custo mais alto, é preciso dar mais atenção para que um filme seja lucrativo.

Também há mais competição com estúdios produzindo filmes em todo o mundo, então pode ser difícil “quebrar o barulho”, diz Loosli. Portanto, o fato de Bluth ter feito tantos filmes é um grande feito.

“Muitas pessoas tentaram [construir um estúdio independente] e, se tiveram sorte, conseguiram fazer um único filme. Esse filme pode até ter rendido algum dinheiro… mas raramente essa pessoa conseguiria fazer outro filme. Don derrotou todas as probabilidades e, com perseverança e determinação, fez uma grande coleção de filmes ao longo de sua carreira. Não consigo pensar em ninguém que tenha feito o que Don fez. É extraordinário”.

Como o mundo da animação mudou de desenhos à mão para animação digital, Loosli diz que o trabalho de Bluth se manterá por conta própria, pois é parte da forma de arte original que torna seus filmes tão distintos.

“Muitos dos filmes de Don passarão pelo teste do tempo porque foram animados à mão por verdadeiros artesãos, por pessoas que eram apaixonadas pelas histórias que contavam e pelo meio em que as contavam. Ele sempre será visto como um entre um pequeno grupo de pessoas que deram uma nova vida à indústria da animação”, diz ele.

Atualmente, Bluth passa a maior parte de seu tempo ensinando cursos de desenho on-line na Don Bluth University, escrevendo sua autobiografia e trabalhando no projeto mais recente da Don Bluth Studios, ‘As Fábulas de Bluth’.

Com base em contos escritos por Bluth, o projeto destaca a assinatura de animação à mão do estúdio sobre contos em movimento.

Recentemente, o santo dos últimos dias também fechou um acordo com a Netflix e fará um filme de ação sobre o videogame de Bluth, ‘Dragon’s Lair’ (1983), em um futuro não muito distante.

Mas enquanto isso, se houver outras histórias para contar, Bluth certamente as reconhecerá.

“Acho que a única história que vale a pena contar, realmente, é aquela que o empurra em direção à verdade, ou seja, a verdade da vida, a vida eterna, tudo. O que empurra você para isso? A descobrir quem você é. Muitas pessoas não sabem quem realmente são”, diz ele. “Então, qualquer filme que eu puder fazer, se puder ajudar as pessoas a chegar lá, eu estaria interessado em fazer isso”.

A arte, conclui Bluth, pode ser “um meio maravilhoso se você usá-la corretamente”. E se há algo que que ele espera que seu trabalho transmita é um dos maiores mandamentos de Deus – amar uns aos outros.

“A coisa mais importante, a maior dádiva de todas, foi dada pelo Salvador. E eu mantenho isso em mente o tempo todo. Eu não consigo superar nada. Ele deu vida. Ele deu luz. Ele deu informações. Ele deu alegria. Ele deu tudo o que faz a vida valer a pena. Então… as pequenas coisas que posso fazer destacam isso”, diz ele.

“O que estou tentando [fazer] com a arte é ter certeza de que [eu] inspiro as pessoas a se amarem e serem capazes de amar outras pessoas. Isso é importante. E esse é basicamente o ensinamento do Salvador”.

Fonte: LDS Living

| Inspiração

Comente

Seu endereço de e-mail não será divulgado. Os campos obrigatórios estão marcados com *