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Natal | 5 crenças comuns sobre o Natal colocadas à prova

Quando chega o Natal, é impossível não pensar no nascimento de Jesus. Uma das reflexões mais profundas que podemos fazer nessa época é: como alguém tão grandioso veio ao mundo de forma tão humilde, justamente para nos ajudar a nos tornarmos melhores.

Mas, e se olharmos para o nascimento de Cristo com a perspectiva do Evangelho Restaurado? Isso nos dá alguns insights interessantes, especialmente sobre o que é fato e o que pode ser mais mito na visão tradicional do Natal. 

Vamos dar uma olhada em cinco aspectos que falam sobre a origem, as crenças comuns e alguns detalhes que talvez você nunca tenha parado para pensar sobre o nascimento do menino Jesus e o Natal.

Eles são:

  • 1. Qual é a real data do nascimento de Jesus Cristo?
  • 2. Não, Jesus não nasceu no ano zero
  • 3. Como Jesus foi concebido?
  • 4. Qual era a aparência física de Jesus?
  • 5. O Natal é uma festa pagã?

1. Qual é a real data do nascimento de Jesus Cristo?

Essa é uma pergunta que sempre gera discussão. Ao longo dos séculos, muitas tentativas foram feitas para determinar a data exata do nascimento de Jesus e organizar os eventos que marcaram o início da Era Cristã. 

Curiosamente, a ideia de que Jesus nasceu no dia 25 de dezembro veio de um historiador grego chamado John Malalas, que viveu entre 490 e 570 d.C.

Por outro lado, temos uma visão diferente sobre isso. Geralmente nos baseamos em uma passagem de Doutrina e Convênios, que sugere que o nascimento de Cristo aconteceu no dia 6 de abril. Em D&C 20:1, lemos:

“O surgimento da Igreja de Cristo nestes últimos dias, sendo mil oitocentos e trinta anos depois da vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo na carne, tendo a Igreja sido devidamente organizada e estabelecida em conformidade com as leis de nosso país, pela vontade e mandamentos de Deus, no quarto mês e no sexto dia do mês que é chamado abril.”

Foi em 1915 que o Apóstolo James E. Talmage, no livro “Jesus, o Cristo”, conectou essa escritura diretamente ao nascimento de Jesus, sugerindo que Ele teria nascido no dia 6 de abril.

Apesar disso, nem todos os líderes da Igreja concordaram 100% com essa ideia ao longo do tempo. Diferentes opiniões sobre o assunto mostram que, embora seja uma crença bastante comum entre os Santos dos Últimos Dias, não há uma posição oficial e definitiva sobre a data exata.

Em 1954, o Presidente J. Reuben Clark Jr., então conselheiro na Primeira Presidência, declarou:

“Eu não estou propondo nenhuma data como sendo a data verdadeira. Mas com o objetivo de ser o mais útil possível a alunos, eu tenho tomado como a data de nascimento do Salvador a data agora aceita por muitos estudiosos, o dia 5 de Dezembro (…)”

Posteriormente, em 1979, Bruce R. McConkie também comentou sobre o tema:

“Nós não acreditamos que seja possível com o presente estado de nosso conhecimento, incluindo o que é conhecido dentro e fora da Igreja, declarar de maneira conclusiva quando ocorreu o dia do nascimento do Senhor Jesus Cristo.”

Essas declarações podem levantar uma pergunta comum entre os membros: “Como é possível que Autoridades Gerais discordem sobre um mesmo ponto doutrinário?” A resposta está no fato de que a data do nascimento de Cristo não é considerada uma doutrina. 

Se essa informação fosse essencial para nossa adoração, provavelmente celebraríamos o Natal no dia 6 de abril, como sugerido por Talmage, ou no dia 5 de dezembro, como apontado pelo Presidente J. Reuben Clark.

Um comunicado publicado no site oficiai esclarece:

“Nem toda declaração feita por um líder da Igreja, passado ou presente, necessariamente constitui doutrina. Uma declaração específica feita por um líder específico e uma ocasião em particular, frequentemente representa opinião pessoal, embora bem considerada, mas não tem como objetivo ser oficial para toda a Igreja. Com inspiração divina, a Primeira Presidência (…) e o Quórum dos Doze Apóstolos se aconselham juntos para estabelecer doutrina que é consistentemente proclamada em publicações oficiais da Igreja.”

Isso significa que diferentes líderes podem ter opiniões distintas sobre um tema quando não há uma revelação específica do Senhor sobre ele. A doutrina oficial é estabelecida pela voz unida da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze Apóstolos.

Mas e quanto a Doutrina e Convênios 20:1, que parece indicar claramente que o nascimento de Cristo ocorreu no dia 6 de abril? 

A resposta para isso pode ser encontrada em documentos publicados pela Igreja. Steve C. Harper, professor de História da Igreja e editor do projeto Joseph Smith Papers, explicou:

“A recente descoberta dos manuscritos originais do Livro de Mandamentos e Revelações de D&C 20, demonstraram que o verso era na verdade uma nota de cabeçalho escrita pelo antigo historiador e escriba John Whitmer, algo que ele fez para muitas revelações. Então, tal verso está separado do texto que Joseph Smith produziu por meio de revelação.”

Esses manuscritos indicam que D&C 20:1 não foi uma revelação divina conectando a data da restauração ao nascimento de Cristo, mas sim uma nota de cabeçalho incluída por John Whitmer. Além disso, registros mostram que Whitmer utilizou a mesma linguagem em outras ocasiões. Por exemplo, ele escreveu:

“Estamos agora no dia 12 de junho, mil oitocentos e trinta e um anos desde a vinda de nosso Senhor e Salvador na carne.”

Essas informações deixam claro que essa forma de escrita era apenas uma maneira elegante do século 19 de registrar datas.

Embora declarações de profetas e análises cronológicas apresentem perspectivas diferentes sobre a data do nascimento de Cristo, nós entendemos que o significado do Natal é mais importante do que o dia em si. 

Celebrar o Natal em dezembro nos dá oportunidades únicas de conversão, pois, mais do que em qualquer outra época, o mundo cristão se une para lembrar o Salvador, seu amor e seus ensinamentos. Isso torna as pessoas mais receptivas para conhecer e aceitar o Evangelho.

2. Não, Jesus não nasceu no ano zero

O provável ano do nascimento de Jesus Cristo também é um dos grandes debate entre historiadores. Embora a contagem atual de anos (A.C. e D.C.) sugira que Cristo nasceu há cerca de 2 mil, ou no que seria o ano “zero” ou “1 a.C.”, algumas evidências históricas não confirmam essa ideia.

A chave para compreender o ano do nascimento de Cristo está tanto nas escrituras quanto em registros históricos. Em Mateus 2:1, lemos que Jesus nasceu em Belém, durante o reinado de Herodes:

“E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém.”

Esse versículo menciona os magos que vieram do Oriente para visitar Jesus. Embora a tradição cristã costume representá-los adorando Jesus ainda bebê na manjedoura, o texto original em grego utiliza o termo “criança pequena” em Mateus 2:9, ao invés de “bebê” ou “infante”. Isso sugere que os magos encontraram Jesus algum tempo depois de seu nascimento.

Outro ponto importante é que a Bíblia indica que Jesus nasceu antes da morte de Herodes. Registros históricos mostram que Herodes morreu entre março e abril do ano 4 a.C. Assim, é impossível que o nascimento de Cristo tenha ocorrido no ano 1 a.C., como é tradicionalmente aceito e como sugere o nosso calendário atual.

Essas informações demonstram que, apesar das tradições e das referências do calendário, o ano exato do nascimento de Jesus não coincide com a contagem convencional. Contudo, para nós, o foco principal continua sendo o significado espiritual de seu nascimento, e não os detalhes cronológicos.

3. Como Jesus foi concebido?

Ao receber a ministração de um anjo, as escrituras indicam que Maria não compreendia como poderia ter um filho, pois “não conhecia homem algum” (Lucas 1:34). No grego, o uso da palavra “conhecer” refere-se a relações sexuais. Em outras palavras, Maria não entendia como poderia engravidar, já que era solteira e virgem.

As escrituras canonizadas não fornecem detalhes sobre como ocorreu a concepção de Cristo, mas limitam-se a relatar que Maria foi arrebatada e envolvida pelo Espírito Santo, processo que resultou em sua gravidez.

Embora alguns líderes do passado tenham expressado a opinião de que a concepção de Cristo teria ocorrido por meios naturais, essa visão não é aceita por nós como doutrina oficial. Em entrevista ao canal Fox News, a Igreja declarou conclusivamente:

“Nós não declaramos saber de que forma Jesus foi concebido, mas acreditamos nas referências da Bíblia e do Livro de Mórmon que afirmam que Jesus nasceu da virgem Maria.”

4. Qual era a aparência física de Jesus?

Outro ponto curioso é o esforço de historiadores e antropólogos para reconstruir com precisão a “provável” fisionomia de Cristo. Um estudo intitulado The Real Face of Jesus buscou determinar, com base em análises científicas e históricas, que a imagem tradicional de Cristo não é sustentada por evidências.

De acordo com esse estudo, o fato de Judas ter usado um beijo para identificar Jesus (Mateus 26:48) sugere que sua aparência física era similar à dos discípulos. Com base nisso, os pesquisadores utilizaram técnicas de antropologia forense e chegaram às seguintes conclusões:

  1. Se Jesus era fisicamente parecido com os discípulos, amostras de esqueletos da mesma região poderiam indicar características similares.
  2. Desenhos em sítios arqueológicos sugerem que Ele possuía pele escura, cabelo curto e levemente encaracolado, características comuns na região.
  3. Com base na média física da época, Jesus teria aproximadamente 1,56 m de altura e pesaria cerca de 50 kg, sendo fisicamente atlético devido ao trabalho como carpinteiro.

Contudo, esse estudo falha em sua premissa central. Nós acreditamos que Cristo foi concebido pelo poder do Espírito Santo, e não pela união genética entre dois judeus. Sendo assim, não há razão para supor que Sua aparência seria limitada às características típicas de sua época.

Embora o mundo geralmente retrate Jesus como um homem alto, branco, com cabelos lisos e olhos claros, essas representações são baseadas em tradições e expressões artísticas. A realidade é que não há como determinar Sua aparência exata sem revelação divina. 

Contudo, é improvável que essa revelação ocorra, já que o objetivo do Senhor é revelar Seu plano de salvação, e não detalhes sobre Sua aparência física.

5. O Natal é uma festa pagã?

Entre os diversos ensinamentos religiosos relacionados ao Natal, algumas denominações cristãs afirmam que essa celebração tem origem pagã e que a Bíblia não apoia a ideia de comemorar o nascimento de Cristo. Mas será que essas afirmações resistem à análise das escrituras? Vamos colocar isso à prova.

De acordo com a Bíblia Sagrada:

  1. Uma multidão de anjos celebrou o nascimento de Jesus (Lucas 2:10, 11, 13, 14):
    “E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo. Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor (…) E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.”
  2. Reis do Oriente celebraram o nascimento de Jesus (Mateus 2:1):
    “E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém.”
    Embora Mateus se refira aos visitantes como “magos”, o Élder Bruce R. McConkie declarou que a ideia de que esses indivíduos eram sacerdotes pagãos é provavelmente falsa. Ele afirmou que seria mais plausível que fossem profetas verdadeiros a quem Deus revelou o nascimento do Messias.
    Em um artigo publicado no site oficial da Igreja, lemos:
    “A crença de que os Magos eram reis origina-se em passagens do Velho Testamento nas quais é predito que reis visitariam o Senhor. Isaías 49:7 diz: ‘Os reis o verão, e se levantarão’ e Isaías 60:10 declara: ‘Os seus reis te servirão’ (Ver também Salmos 72:10).”
  3. Um astro do universo celebrou o nascimento de Jesus (Mateus 2:2, 9):
    “Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo (…) E eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.”
  4. Os pastores celebraram o nascimento de Jesus (Lucas 2:20):
    “E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes havia sido dito.”

Em resumo, a Bíblia mostra que anjos, reis, homens e até mesmo uma estrela celebraram o nascimento de Cristo. A própria história do mundo se divide em “antes” e “depois” de Seu nascimento, mas ainda assim, alguns críticos argumentam que comemorar Seu nascimento não é uma prática cristã ou bíblica.

Jesus Cristo é o Natal

É verdade que, para muitas pessoas, o Natal é apenas uma época de presentes, compras e descanso. No entanto, para nós, Santos dos Últimos Dias, essa não é a realidade.

Em um mundo onde a lenda do Papai Noel se tornou importante e a história de Jesus Cristo se tornou uma lenda, nós escolhemos celebrar o nascimento Daquele que mudou o destino da humanidade. Como foi dito:

Ele foi carpinteiro, mestre, rejeitado e líder, mas fez o que nenhum carpinteiro, mestre, rejeitado ou líder jamais fez. Ele viveu e morreu, mas, diferente de todos os que o precederam, ressuscitou dentre os mortos. Ele viveu outra vez e vive. E porque Ele vive, eu, você e todos nós viveremos de novo. 

Graças a Ele, o aguilhão da morte é desfeito, a sepultura não tem vitória. Podemos começar de novo, de novo e de novo. Graças a Ele, a culpa transforma-se em paz, o arrependimento transforma-se em alívio, o desespero transforma-se em esperança. Graças a Ele, temos segundas chances, páginas em branco e novos inícios. Não há fim.

Feliz Natal!

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Publicado por: Luiz Botelho
Luiz Botelho serviu na Missão Santa Maria e atualmente mora em Provo-Ut. Estuda Antropologia na Utah Valley University e descobriu na Ciência, História, Filosofia e Teologia sua verdadeira paixão. Atualmente trabalha voluntariamente como Diretor Internacional da FairMormon, é autor do Interpretenefita.com e um dos Diretores da More Good Foundation no Brasil.
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