No Brasil, existem cerca de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, segundo dados do IBGE. Quando compreendemos que todos nós somos filhos amados de um Pai Celestial e que o Senhor nos convida a servir ao próximo, fica evidente que todo esforço de inclusão para a comunidade surda é precioso aos olhos de Deus.
Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, acreditamos que cada pessoa merece ter acesso às verdades do evangelho de forma clara e acessível. Por isso, iniciativas de inclusão não são apenas sociais, mas espirituais: elas refletem o amor do Salvador, que alcança a todos, sem exceções.
Ao redor do Brasil, membros da Igreja têm compartilhado seus dons e talentos de forma voluntária e amorosa para que o evangelho se torne acessível em Libras.
Nos próximos tópicos, conheceremos 5 exemplos de membros da Igreja de Jesus Cristo que tiveram experiências marcantes ao compartilhar o evangelho em Libras.

Transformando vidas com Libras e amor ao próximo
“Sou tradutora e intérprete de Libras. Conheci a Libras em 2014, quando tive meu primeiro contato com uma pessoa surda, e desde então nunca mais parei. Sou formada em Pedagogia, tenho pós-graduação em Ensino para Surdos, e em Deficiência Auditiva.
Como membro da Igreja de Jesus Cristo, sinto que o Senhor me capacita para esta missão tão linda. Tenho ajudado os missionários a ensinar e também levo o evangelho aos surdos com quem trabalho. Acredito que não adianta aprender Libras e guardar só para mim: é preciso usar esse dom para servir.
Na área da saúde, já conheci cerca de 40 surdos em meu município, entre crianças, adultos e idosos. É triste ver tantas barreiras de comunicação, mas também é gratificante poder ser ponte e ajudar essas pessoas. Amo o que faço. Tenho certeza de que o Senhor nos dá talentos e oportunidades para abençoar vidas, e sei que meu trabalho com Libras é parte da obra Dele.” – Joselaine Alves de Lima Vivian, Ramo Caçapava- SR

Aprender Libras se torna um chamado divino
“Durante a missão, conheci um rapaz surdo, mas não consegui ensiná-lo por não saber Libras, o que me deixou muito triste. Pouco depois, tive contato com outros surdos e senti que Deus queria que eu aprendesse a língua de sinais, então busquei uma formação em Libras. Depois dessa experiência, comecei a ajudar os missionários com surdos e a apoiar os membros surdos da minha estaca.
Soube que um surdo chamado Robenildo havia sido batizado em Belo Horizonte e viajei até lá para conhecê-lo. Ele já tinha criado sinais para todos os membros da ala e interagia muito bem. Perguntei sobre intérprete e ele respondeu que não havia nenhum. Perguntei se poderia tentar ajudá-lo, e ele aceitou.
Durante a reunião sacramental, interpretei de costas para o púlpito e, em certo momento, ele segurou meu braço e eu pensei: “estou diferente, tem algo estranho acontecendo comigo”. Vi lágrimas em seus olhos e percebi que ele estava sentindo o Espírito.
Minha Libras ainda não era fluente, mas pude ser uma ferramenta nas mãos do Senhor para ajudar naquela conversão. Sei que o Senhor usa meios que não compreendemos para trazer pessoas ao evangelho. A Libras abre portas para que os surdos — muitas vezes marginalizados em nosso país — possam sentir a luz do evangelho de Jesus Cristo. E sei que somente esse evangelho pode transformar realidades.” – Sílvio de Assis Costa, Ala Ipatinga – MG

Descobrindo oportunidades de servir através da inclusão
“Eu queria muito me formar em fevereiro de 2012 e já ir para a missão, mas precisei esperar os últimos seis meses da faculdade. Foi um período difícil, cheio de dúvidas e frustrações. Meu bispo me chamou para conversar, trouxe meu pai e me perguntou: “Sister, por que você quer ir para a missão?”
Eu expliquei o motivo, e ele olhou para mim e disse que o Senhor desejava que eu terminasse minha faculdade de fonoaudiologia antes de partir. Com muito choro e sem compreender o propósito, concluí o último semestre.
Quando preenchi meu chamado missionário, perguntaram se eu sabia outras línguas, e eu respondi que sim. Fiz uma oração ao Senhor, dizendo: “Para onde mandares, irei; o que mandares, farei. Porém, não quero passar nem frio, nem fome; quero servir onde possa usar meus conhecimentos.” Fui chamada para servir na missão Brasil Teresina.
Quando cheguei à missão, tive meu primeiro contato com a comunidade surda. Conheci um irmão surdo, que havia parado de frequentar a Igreja, e começamos a ajudá-lo por meio da Libras para que ele pudesse continuar participando das reuniões.
Mais tarde, o presidente da missão me pediu para ajudar um missionário surdo que chegaria de São Luís do Maranhão. Eu pude interpretá-lo, ensinar Libras aos outros missionários e ajudá-los a incluir surdos em seus ensinamentos e no serviço missionário.
Foi incrível perceber que, se eu tivesse ido para a missão quando queria, teria perdido todas essas experiências. Deus me mostrou que o tempo Dele é perfeito e que cada desafio e espera servem para preparar nosso coração e abrir oportunidades de servir de maneira significativa. Hoje, vejo que meu trabalho com Libras transformou vidas — não apenas de surdos, mas também de missionários que aprenderam a enxergar e incluir essas pessoas.” – Larissa Vieira Tavares Alves, ala Baependi-SC

Doze mãos unidas para levar o evangelho a todos
“Há quase quatro anos, eu e minha amiga Michelle começamos a interpretar na conferência da Estaca Contagem, pois meu amigo João Paulo (surdo) havia sido batizado no ramo.
Hoje temos uma equipe de seis pessoas e já tivemos a oportunidade de levar acessibilidade a outras estacas também e até na abertura de terra do Templo de Belo Horizonte. Sei que, através das nossas mãos, os surdos podem conhecer o verdadeiro evangelho de Cristo.” – Andréa Pereira G. de Oliveira, Ramo Várzea das Flores- MG

Servindo como missionária de coração com Libras
“Conheci a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Nordeste, mas foi em Curitiba que aprendi a Língua Brasileira de Sinais. Como professora, senti a necessidade de me preparar para receber irmãos surdos na Igreja. Não servi como missionária de tempo integral, mas hoje, ao interpretar reuniões, conferências, devocionais, FSY, aulas e ordenanças, sinto-me como uma missionária em tempo integral.
Lembro-me do meu primeiro contato presencial com um jovem surdo na Igreja. Ao apontar para um quadro que representava a segunda vinda de Jesus Cristo, perguntei a ele se sabia quem estava naquela pintura. Ele respondeu que não. Senti uma profunda tristeza por aquele jovem de apenas 12 anos, que frequentava a Igreja desde a infância, mas ainda não sabia reconhecer quem era o seu Criador — simplesmente por não ter intérprete e porque sua família não usava Libras.
Desde aquele momento, tenho servido na Igreja com o objetivo de levar essa luz tão necessária. Saber quem é nosso Salvador, conhecer Sua Igreja e viver Seus convênios muda a nossa vida. Atualmente, tenho o privilégio de prestar diversos serviços em Libras para a Igreja, e tudo isso tem me fortalecido e inspirado a continuar na obra de Cristo.
Estou me preparando para servir em uma missão de serviço nos Serviços Familiares, para que os surdos tenham acesso à doutrina e participação plena nas ordenanças. Meu maior desejo é que todos os filhos de Deus, independentemente de sua capacidade auditiva, possam receber as bênçãos do evangelho de forma completa e sem impedimentos.” – Michelline Ferreira Cabral, Ala Araucária, PR
Conclusão
Atos de serviço como esses não são apenas gestos de apoio, mas refletem diretamente o mandamento de Cristo de amar e incluir todos os filhos de Deus. Todo filho de nosso Pai Celestial merece receber o evangelho em seu próprio idioma e ter acesso às boas novas do Salvador. Essa promessa foi revelada em Doutrina e Convênios 90:11, que diz:
“Pois acontecerá nesse dia que todo homem ouvirá a plenitude do evangelho em sua própria língua e em seu próprio idioma, por meio daqueles que são ordenados com esse poder, pela administração do Consolador que se derrama sobre eles para revelar Jesus Cristo.”
É inspirador ver como, ao se dedicarem a aprender Libras e a servir com o todo o nosso amor a Deus, irmãos e irmãs ajudam a comunidade surda a sentir-se verdadeiramente parte da família da fé.
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