Durante uma caravana, após servir com diligência na Casa do Senhor, a última coisa que passa pela cabeça de alguém é a possibilidade de um acidente voltando do templo. Ainda imersos no espírito de gratidão e renovação espiritual, é difícil imaginar que algo tão inesperado e doloroso possa acontecer. Mas foi justamente nesse cenário que a vida de Cláudia mudou para sempre.

Parte da minha história

Este artigo foi escrito por Cláudia Negreiros.

Antes de termos um Templo aqui na cidade de Manaus, era bem difícil chegar ao templo mais próximo. No início, as caravanas iam para São Paulo, fazendo o percurso de barco até Porto Velho e de ônibus até São Paulo.

Sempre ouvia algumas experiências; uns vendiam tudo para conseguir levar a família, nos barcos alguns adoeciam, inclusive numa caravana que minha sogra foi, a maioria dos irmãos que estavam no barco teve um surto de conjuntivite.

Quase sempre havia assaltos nos ônibus. Poderia dizer que era um teste de fé viajar de caravana para o templo.

Quando eu e meu esposo nos casamos, em 2002, fomos em uma caravana para o Templo de Campinas. Nessa viagem ocorreu tudo bem, mas, no ano de 2008, em uma caravana para o Templo de Caracas, nossas vidas mudaram completamente.

No dia 12 de janeiro de 2008, eu, o Alexandre e mais alguns membros da Igreja estávamos voltando de uma caravana ao Templo de Caracas, quando o ônibus em que estávamos capotou na estrada da Venezuela. Neste acidente voltando do templo, fiquei tetraplégica.

acidente voltando do templo - Cláudia Negreiros

O acidente voltando do templo

Só lembro que era madrugada e eu não estava conseguindo nem cochilar, enquanto a grande maioria estava dormindo, inclusive o Alexandre, do meu lado. Tudo aconteceu muito rápido, num instante estava olhando a pista pelo vidro da frente, pois nos sentamos no primeiro banco do ônibus, e, no outro, acordei jogada no mato sem conseguir me mexer.

De repente, vi o Alexandre do meu lado e eu falei, quase querendo entrar em pânico: – Alexandre, eu não estou conseguindo me mexer. Ele ficou dizendo para eu me acalmar, que tudo iria ficar bem.

Então eu comecei a desfalecer e só acordei alguns segundos depois, quando uma amiga que estava no outro ônibus chegou até onde eu estava e começou a gritar meu nome bem alto.

Fui abrindo os olhos bem devagar, mas eles estavam tão pesados que eu quase não consegui abri-los. Só consegui quando me veio nitidamente a imagem da minha filha, Rebeca, na mente. Nesse momento, eu lutei para me manter acordada. Foi aí que as ambulâncias chegaram, e eu e outra irmã que havia quebrado o braço fomos levadas primeiro.

Eu estava tão assustada e com tanto medo, os médicos falavam muito rápido, eu não entendia nada. Só sei que nunca tinha sentido tanta dor como nos dois primeiros dias, que, para unir um osso com o outro, rasparam meu cabelo e colocaram dois parafusos, um de cada lado da minha cabeça, apertando, apertando até um ponto insuportável.

Para resumir, fiquei alguns dias num hospital na Venezuela, uns dias num hospital em Boa Vista, onde eu tive dois pneumotórax, até que vim transferida para Manaus e fiquei cinco meses internada no hospital Adriano Jorge; foram dias, semanas, meses de muitas lágrimas, dúvidas.

acidente voltando do templo - Cláudia Negreiros

Forças para perseverar no evangelho

Achava que o Pai Celestial não me amava por ter permitido que isso acontecesse comigo, porque, de todos os passageiros do ônibus, eu fora a única que se machucara com uma sequela muito grave e permanente. Passei por um breve período de revolta em que só ficava perguntando: por que eu? Por quê, por quê…

Não conseguia dormir, ficava dia e noite acordada, minha cabeça tão pesada. Eu sofria muito longe da minha filha Rebeca, sem poder estar com ela no seu primeiro dia de aula, entre tantas outras coisas, como olhar o meu corpo inerte na cama, que há poucos dias se movia, cheio de vida. E agora, tão dependente de tudo.

Depois de ficar entre a vida e a morte por várias vezes no hospital, de tratar duas escaras, o problema do pulmão, finalmente voltei pra casa e pude ver a Rebeca. Já não aguentava mais de tanta saudade. No início, ela ficou me estranhando um pouco, mas, graças ao Senhor, depois ficou tudo bem.

Foi quando eu me voltei para as escrituras novamente que encontrei as respostas que me trouxeram paz, e, quanto mais eu lia e orava, mais forte sentia o Espírito Santo me confortar, e finalmente meu espírito foi curado. Pus à prova o que o Presidente Gordon B. Hinckley ensinou: que o evangelho contém as respostas para todos os problemas da vida.

Quero servir ao Senhor de todo o meu coração, até o fim. Oro todos os dias para o Pai Celestial me dar forças para perseverar no evangelho até o fim dos meus dias.

Fonte: Eternamente Felizes Blogspot

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