Masturbação é um daqueles temas que quase todo mundo conhece, muitos praticam, mas poucos têm coragem de conversar com sinceridade, principalmente na Igreja. Hoje, a cultura em geral normaliza esse comportamento com frases como “é saudável”, “todo mundo faz” ou “as pessoas precisam conhecer o próprio corpo”. A sexualidade, de fato, é um dom de Deus e conhecer o próprio corpo não é, em si, algo ruim.

O problema é que esse discurso muitas vezes é usado para justificar o uso egoísta e solitário do poder de procriação — um poder que, segundo o plano de Deus, foi dado para unir marido e mulher no casamento e trazer filhos ao mundo. Quando olhamos para as escrituras e para os ensinamentos dos profetas, percebemos que não estamos falando apenas de um “hábito privado e inofensivo”, mas de algo que toca diretamente a lei da castidade e a pureza do coração.

A proposta deste artigo é responder, com honestidade e esperança, à pergunta: “Masturbação é pecado?” Faremos isso à luz das escrituras, de discursos de líderes da Igreja e também da experiência real de alguém que lutou durante anos com esse comportamento.

Por que a masturbação virou algo “normal”?

Vivemos numa época em que qualquer limite moral é visto como repressão. Programas de TV, séries, redes sociais e até profissionais de saúde muitas vezes apresentam a masturbação como algo neutro ou até necessário: “é importante para se conhecer”, “é uma forma de aliviar o estresse”, “é melhor do que pecar com outra pessoa”.

Ao mesmo tempo, a pornografia está em toda parte. Pesquisas indicam que uma fatia enorme do tráfego da internet está relacionada a conteúdo pornográfico, acessível com poucos cliques em celulares, tablets e computadores. Esse cenário cria um ambiente em que o despertar sexual acontece cada vez mais cedo e, muitas vezes, totalmente separado de qualquer visão espiritual do corpo, do casamento e da lei de castidade.

O problema não é falar sobre sexualidade. O problema é falar sem Deus, sem aliança e sem responsabilidade. A lógica do mundo é: “se ninguém se machuca e é algo privado, não tem problema”. Já o evangelho ensina outra coisa:

“Iniquidade nunca foi felicidade” (Alma 41:10).

Ou seja: mesmo quando o mundo chama algo de “normal”, isso não muda a colheita espiritual e emocional que virá dessa escolha.

masturbação é pecado

O que a lei da castidade realmente ensina?

A lei da castidade é simples de dizer e exigente de viver: total castidade antes do casamento e total fidelidade depois. O Presidente Spencer W. Kimball ensinou que esse padrão não é antiquado; ele é eterno, porque vem de um Deus que “é o mesmo, ontem, hoje e para sempre” (ver Hebreus 13:8).

O Élder Tad R. Callister explicou que Deus nos deu o poder de procriação, o poder de criar vida e, por isso, só Ele pode dizer como esse poder deve ser usado. Segundo ele, o padrão do Senhor é: o poder de procriação deve ser exercido dentro do casamento por dois motivos principais:

  1. fortalecer o vínculo entre marido e mulher;
  2. trazer filhos ao mundo

Tudo o que deliberadamente desperta, alimenta ou usa esse poder fora do casamento foge do padrão de moralidade de Deus. As escrituras falam de fornicação, adultério, impureza, lascívia, “olhar para cobiçar” (ver I Coríntios 6:9–10; 3 Néfi 12:27–30). Os profetas modernos aplicam esse mesmo princípio a pensamentos, gestos, conteúdos e comportamentos que despertam o desejo sexual fora do relacionamento conjugal — e aí se inclui a masturbação.

Mas as escrituras falam de masturbação?

A palavra “masturbação” não aparece na Bíblia, nem no Livro de Mórmon. Isso faz algumas pessoas concluírem: “se não está escrito, não deve ser tão sério”. Mas as escrituras nem sempre tratam de cada comportamento específico; elas estabelecem princípios.

Alguns desses princípios são muito claros:

  • “Fugi da fornicação. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo;mas o que fornica peca contra o seu próprio corpo. (…) fostes comprados por um preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo (…)” (I Coríntios 6:18–20).
  • “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Êxodo 20:17); Jesus amplia isso dizendo que “qualquer que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” (Mateus 5:28; ver também 3 Néfi 12:27–28).
  • Alma corrige seu filho Coriânton dizendo que a imoralidade sexual é “mais abominável que todos os pecados, salvo o derramar sangue inocente” (Alma 39:5), e o convida a “não mais sucumbisses à concupiscência dos teus olhos;” (Alma 39:9).

Quando aplicamos esses princípios, fica claro que o Senhor condena qualquer uso do poder sexual que seja egoísta, voltado apenas ao prazer próprio, sem compromisso de aliança. Líderes da Igreja explicaram que isso abrange não só atos com outras pessoas, mas também carícias íntimas, pornografia, fantasias alimentadas de propósito e a masturbação.

Então, masturbação é pecado?

De forma direta: sim, a masturbação é pecado quando se trata de um ato consciente e repetido de despertar o próprio desejo sexual para obter prazer, fora dos laços do casamento.

O Presidente Spencer W. Kimball, ao falar sobre pecados sexuais, incluiu “perversões sexuais, masturbação e preocupação com o sexo em pensamento e palavras” como violações da lei de castidade. Élder Tad R. Callister citou o Presidente Boyd K. Packer ensinando aos jovens:

“Não sejam culpados de interferir ou brincar com esse poder sagrado de criação. (…) Não é agradável ao Senhor nem agradável a vocês. Não fará com que se sintam dignos ou puros.”

Manuais atuais da Igreja, ao explicar a lei da castidade para portadores de recomendação do templo, mencionam claramente que masturbação e uso de pornografia fazem parte dos comportamentos que afastam o Espírito e precisam ser abandonados.

Ao mesmo tempo, é importante fazer três distinções:

  1. Sentir desejo não é pecado. Ter sentimentos sexuais, especialmente na adolescência, é parte normal do desenvolvimento. O pecado começa quando escolhemos alimentar esse desejo de forma egoísta.
  2. Descobertas infantis não são tratadas da mesma forma que padrões consolidados. Crianças pequenas muitas vezes tocam o próprio corpo sem entender o que estão fazendo. A orientação dos especialistas e de líderes da Igreja é que os pais corrijam com amor, sem dramatizar ou humilhar a criança, ensinando aos poucos recato, privacidade e respeito pelo corpo.
  3. Há diferença entre tentação, deslizes e um padrão de dependência. Um jovem que está lutando, tentando parar e se arrependendo não deve rotular-se como “caso perdido”. A gravidade espiritual é real, mas a esperança também é.

Chamar a masturbação de pecado não é para alimentar vergonha, mas para alinhar o comportamento com a verdade do evangelho e abrir a porta para o arrependimento e a cura.

Quais são as consequências espirituais e emocionais?

Muita gente diz: “é melhor pecar sozinho do que envolver outra pessoa”. Isso parece lógico, mas ignora o efeito acumulado no coração e na mente.

Do ponto de vista espiritual, Alma ensina que “iniquidade nunca foi felicidade” (Alma 41:10). Toda vez que usamos o dom da sexualidade fora do plano de Deus, algo dentro de nós sente o conflito. A consciência, esse “alarme” que o Senhor colocou na alma, começa a acusar. Vêm culpa, remorso, vazio.

Do ponto de vista emocional, muitos relatos de quem luta com essa prática mostram um ciclo:

curiosidade → masturbação ocasional (muitas vezes ligada à pornografia) → sentimento de vergonha → isolamento e segredo → uso da masturbação como fuga para lidar com emoções difíceis (ansiedade, solidão, frustração, raiva).

Com o tempo, a pessoa pode começar a usar pornografia e masturbação como uma forma de “anestesia emocional”. A sensação prazerosa tapa buracos internos por alguns minutos, mas depois o vazio volta maior. Alguns descrevem isso como estar “preso num ciclo que não consigo mais controlar”.

É aqui que a linguagem dos líderes sobre dependência faz sentido. Não porque cada pessoa que se masturba seja “viciada”, mas porque esse comportamento pode, sim, crescer até ocupar boa parte do tempo, dos pensamentos e da energia espiritual da pessoa, como aconteceu com Samuel.

jovem problemático

A história de Samuel: mover-se na direção certa

Samuel começou a ver pornografia e a se masturbar aos 12 anos. Sabia que era errado, tentou parar, mas rapidamente se viu dependente. Aos 17, procurou o bispo, se arrependeu e conseguiu ficar limpo o suficiente para servir uma missão de tempo integral. Voltou, casou-se no templo e achou que o problema tinha ficado no passado.

Três meses depois do casamento, após a primeira grande briga com a esposa, ele recaiu. A vergonha o levou a esconder a luta, mesmo ela conhecendo sua história. Com o tempo, a dependência se agravou: começou a faltar na faculdade, a faltar no trabalho e a usar qualquer oportunidade para ver pornografia. Chegou a passar de oito a dez horas por dia preso a esse ciclo.

Depois de uma briga dolorosa com a esposa, em que ela gritou que ele não era o homem com quem achou que tinha se casado, Samuel finalmente decidiu buscar ajuda mais séria. Atendeu ao conselho do bispo e começou a frequentar grupos de recuperação e reuniões de 12 passos. Em vez de procurar uma “cura rápida”, começou a trabalhar os princípios com mais profundidade, a instalar filtros, a buscar o Espírito diariamente e a reconstruir a fé em Cristo.

Mesmo assim, a jornada não foi linear. Ele teve recaídas, períodos de sobriedade, novo progresso. Nesse meio tempo, sofreu um grave acidente e ficou paralisado do pescoço para baixo. No início, achou que estava “curado”, já que não sentia o corpo. Mas, com o tempo, percebeu que as emoções dolorosas ligadas ao acidente o empurravam de volta aos antigos padrões.

A virada aconteceu quando Samuel deixou de viver essa luta sozinho. Passou a tornar sua recuperação algo social, ajudando outros amigos com dificuldades semelhantes. Frequentou as reuniões com eles, construiu um sistema de apoio e, sobretudo, aprendeu a ver Cristo como parceiro ativo no processo. Ao buscar o Espírito todos os dias, passou a receber impressões específicas sobre como resistir à tentação — e se esforçou para agir imediatamente.

Ele descreve a mudança assim: com o tempo, sentiu que o arbítrio estava “voltando” e a dependência começava a deixar o coração. Hoje, está sóbrio há um ano. Mas, nas palavras dele, o mais importante não é o número de dias, e sim a qualidade da recuperação: paz, liberdade, gratidão, casamento mais forte e a certeza de que está caminhando na direção certa, com o Salvador ao lado.

A história de Samuel mostra duas verdades que precisamos segurar com força: a masturbação e a pornografia podem, sim, tornar-se uma dependência devastadora; E ninguém está além do alcance da graça de Cristo.

Como começar um caminho de arrependimento e cura?

Se você se vê preso(a) nesse padrão, o primeiro passo é lembrar que o Salvador não desistiu de você. Ele deixou claro: “não posso encarar o pecado com o mínimo grau de tolerância; entretanto, aquele que se arrepender (…) será perdoado” (D&C 1:31–32). O caminho começa com honestidade diante de Deus: orar sem máscaras, admitir a luta, pedir força específica, e não apenas um alívio rápido.

Em seguida, vem a coragem de buscar ajuda sacerdotal: conversar com o bispo não é ser descartado da Igreja, mas permitir que o Senhor oriente, proteja e cure por meio de Seus servos. Em muitos casos, será sábio usar recursos adicionais, como grupos de recuperação, o programa de 12 passos da Igreja ou, se necessário, apoio profissional. Ao mesmo tempo, é importante ajustar o ambiente (filtros, rotinas, horários, ficar menos sozinho em momentos de maior tentação) e aprender a lidar com emoções difíceis de forma mais saudável, em vez de recorrer automaticamente à masturbação e à pornografia como fuga.

O arrependimento verdadeiro não é só “aguentar um tempo sem pecar”; é uma mudança de coração. O Senhor prometeu que, se nos humilharmos e tivermos fé nEle, fará com que as coisas fracas se tornem fortes (ver Éter 12:27). Essa promessa vale também para a área sexual.

Como falar sobre masturbação e sexualidade com filhos e jovens?

Pais e líderes não podem mais se dar ao luxo de ficar em silêncio. Se o assunto não é tratado em casa, ele será aprendido na internet, com colegas ou em conteúdos distorcidos. O ideal é que as conversas comecem cedo, de forma natural e adequada à idade, falando do corpo como criação de Deus, ensinando privacidade, respeito e, mais adiante, explicando claramente o que é a lei da castidade e por que a masturbação e a pornografia não condizem com esse padrão.

Em vez de usar metáforas humilhantes ou exageros que produzam medo, é melhor ser direto e ao mesmo tempo compassivo, deixando claro que sentimentos sexuais são reais e normais, mas que foram dados para ser guiados, não para governar nossa vida. Mais do que repetir “isso é errado”, é essencial explicar o “por quê”: a sexualidade é uma dádiva divina reservada para o casamento, ligada ao poder de criar filhos e fortalecer o vínculo entre marido e mulher, e se torna vazia e auto-centrada quando é reduzida a passatempo solitário.

Em tudo isso, Cristo precisa aparecer tanto quanto os mandamentos: quando os jovens entendem que podem recorrer ao Salvador em suas fraquezas, é muito mais provável que venham até os pais, líderes e ao Senhor em vez de se esconderem em vergonha e desespero.

Então… como responder à pergunta?

Diante das escrituras e dos ensinamentos dos profetas, a resposta honesta é que sim, a masturbação é pecado quando é um uso deliberado e egoísta do poder sexual fora do casamento, normalmente acompanhado de pensamentos e imagens impuras que afastam o Espírito.

Ao mesmo tempo, não existe pecado nessa área que esteja fora do alcance da Expiação de Jesus Cristo. Ele conhece a história inteira de cada pessoa — o contexto, as fraquezas, as tentativas, as recaídas, os medos — e ainda assim convida: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (ver Mateus 11:28).

A pergunta mais importante talvez não seja apenas “é pecado?”, mas “em que direção estou caminhando agora?”. Como Samuel, qualquer pessoa pode decidir, hoje, mover-se na direção certa: reconhecendo o erro, buscando ajuda, confiando na graça do Salvador e aprendendo, pouco a pouco, a usar o dom da sexualidade de acordo com o plano de Deus. A resposta final, então, é dupla: a masturbação não é neutra aos olhos do Senhor, mas quem luta contra ela nunca luta sozinho se decidir caminhar com Cristo.

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