Você já se sentiu esgotado espiritualmente? Talvez aquele entusiasmo que marcou seus primeiros passos no evangelho tenha se transformado em uma rotina pesada, quase automática. É possível que hoje você faça muitas coisas certas — ler as escrituras, ir à Igreja, servir em seu chamado — mas sem sentir o mesmo ardor no peito. Se isso descreve sua realidade, respire fundo: você não está sozinho.
A vida de um discípulo de Cristo é bela, mas às vezes também se torna desafiadora. Quando deixamos que as responsabilidades, o cansaço emocional ou a falta de ânimo ditem nosso ritmo, acabamos vivendo o evangelho no piloto automático. Continuamos presentes, mas algo dentro de nós começa a enfraquecer. Perde-se a alegria. A fé parece se desgastar. E, aos poucos, o desânimo cresce.
O convite amoroso ao retorno
A fé que um dia nos impulsionou pode, com o tempo, se tornar apenas hábito. E hábito sem propósito é frágil. Quando nossa devoção deixa de ser uma escolha diária, ela se torna vulnerável ao cansaço, à dúvida e até à distância espiritual.
Mas o Senhor não nos deixa nesse estado. Ele sempre nos chama de volta.
Mesmo quando nos sentimos enfraquecidos ou longe, o Salvador nos estende um convite cheio de amor. Como ensinou o Élder S. Mark Palmer, repetindo as palavras do próprio Cristo:
“Não volvereis a mim agora, arrependendo-vos de vossos pecados e convertendo-vos, para que eu vos cure?”
Esse convite não é cobrança — é cura. Ele nos chama não porque estamos perfeitos, mas justamente porque estamos cansados.
Para ilustrar esse amor restaurador, o Élder Palmer contou a história de um salgueiro arrancado por uma tempestade. A árvore estava caída, com raízes expostas, sem aparência de vida. Apesar disso, alguém acreditou que ainda havia esperança e decidiu replantá-la.
Ele pensava a árvore não sobreviveria. Mas seu vizinho acreditava no potencial dela, então seguiu em frente. Com o tempo, ela criou raízes novas. Doze anos depois, o salgueiro está forte, vibrante e cheio de vida.
Assim somos nós: às vezes caídos, outras vezes quebrados — mas nunca sem esperança. Enquanto existir um pequeno desejo de voltar ao Salvador, ainda há raiz. E Ele pode restaurar tudo.
Quando o desânimo toca a alma
O desânimo é um dos maiores desafios na vida do discípulo. Ele aparece quando servimos muito, quando achamos que não estamos servindo o suficiente, quando nos sentimos invisíveis ou incompreendidos, ou quando a vida simplesmente fica pesada demais.
O Élder Carl B. Cook compartilhou o conselho que o Profeta Joseph Smith deu ao Élder George A. Smith:
“Eu nunca devia desanimar, fossem quais fossem as dificuldades que me cercassem… que eu deveria perseverar, exercitando fé e mantendo a coragem.”
Essa orientação vale para nós também. Perseverar não significa continuar perfeitos; significa continuar confiando.
Chamados, serviço e o coração exausto
Dentro da Igreja, o tema dos “chamados” pode influenciar muito nosso ânimo. Às vezes, o chamado que recebemos exige mais de nós do que imaginamos. Em outros momentos, ficamos sem chamado e começamos a pensar que não somos necessários. Ambos os cenários podem abalar o coração.
Mas o Senhor não mede nosso valor por títulos. Ele olha para o desejo sincero de servir.
Se você tem um chamado e está sobrecarregado, converse com seus líderes. Eles podem ajudá-lo a ajustar responsabilidades. Se está sem chamado, lembre-se: ninguém fica sem oportunidades reais de ministrar. Você pode servir as famílias designadas, fortalecer alguém que está lutando, enviar uma mensagem de apoio, oferecer oração, ouvir com empatia ou simplesmente estender amor.
O serviço sempre renova a fé — sempre!
A necessidade de desacelerar
Entretanto, o Senhor também nos lembra de que nem todo cansaço se cura trabalhando mais. Às vezes, Ele nos pede o contrário: que paremos, que aquietemos o coração, que respiremos.
A irmã Patricia Terry Holland ensinou:
“Parem de correr até a exaustão. Aquietem-se, acalmem-se. Simplifiquem. Sejam mansos e humildes de coração, e orem. Testifico que milagres acontecem quando desaceleramos, quando nos acalmamos e quando nos ajoelhamos.”
Essa mensagem se conecta ao ensinamento do Presidente Nelson, que explica que o Senhor deseja nosso esforço, mas também deseja nosso descanso Nele. Esforço sem confiança gera ansiedade; esforço com confiança gera milagres.
Quando entregamos nossa angústia nas mãos Dele, os milagres chegam na hora certa.
Renovação da fé: onde os milagres acontecem
Ao longo da vida, a fé não se renova apenas em grandes momentos espirituais. Muitas vezes, ela renasce nos detalhes do dia a dia — nas pequenas gentilezas, em respostas sutis às nossas orações, na força inesperada para continuar, ou simplesmente no sentimento silencioso de que Deus está conosco. Quando desaceleramos e deixamos o coração mais sensível, começamos a reconhecer que o Senhor está nos dando pequenos milagres o tempo todo.
Essa renovação também acontece quando olhamos para nossos irmãos e irmãs com um coração mais semelhante ao de Cristo. Dentro da Igreja, convivemos com pessoas reais, com defeitos reais — assim como nós.
Às vezes, são justamente esses defeitos que nos ferem ou nos desanimam, fazendo parecer difícil servir, ministrar ou até mesmo permanecer firmes no convívio da ala ou ramo. No entanto, quando vemos cada pessoa como um filho ou filha literal do Pai Celestial, carregados de potencial divino, os defeitos diminuem. E o amor, esse sim, cresce.

O amor é o combustível perfeito para reacender a fé.
Posso dizer isso porque vivi essa experiência de maneira muito pessoal. Houve um tempo em que meu coração estava cansado. Ir à Igreja parecia pesado, e eu lutava para ver bondade em algumas irmãs que me cercavam. O desânimo começou a criar raízes — até que o Senhor, em Sua sabedoria, me convidou a servir como Presidente da Sociedade de Socorro da minha ala.
Comecei a me esforçar para visitar e conhecer todas as irmãs. Confesso que fiz isso no início com o coração hesitante, tentando ser obediente mesmo sem muito entusiasmo. No entanto, algo inesperado aconteceu: ao servir, meu coração começou a mudar. Ao ouvir suas histórias, perceber suas lutas e enxergar suas fraquezas com compaixão, meus olhos espirituais se abriram. Passei a ver nelas algo que antes eu não enxergava: uma bondade real, mesmo que discreta, e uma luz que havia sido escondida pelo meu próprio cansaço.
E então o milagre aconteceu. À medida que eu me esforçava para amar, elas também começaram a me amar.
Pequenos gestos de carinho apareceram. Palavras de apoio vieram. Sorrisos sinceros surgiram. De repente, aquelas irmãs que antes me pareciam distantes se tornaram parte preciosa do meu convívio espiritual.
Servir renovou meu amor. E o amor renovou minha fé. Foi no simples ato de ir até elas, de estender a mão e de tentar enxergá-las como o Salvador as vê, que meu coração foi curado. Assim como o salgueiro do Élder Palmer criou novas raízes, eu também criei as minhas: quietas, profundas, vivas.
Por isso, se hoje você sente o peso dos defeitos dos outros, ou se está magoado, cansado ou desanimado, lembre-se: o serviço tem o poder de transformar tanto quem recebe quanto quem oferece. O amor que você dá volta multiplicado. O Senhor usa pessoas imperfeitas, inclusive nós, para realizar milagres uns na vida dos outros.
O futuro se torna mais leve quando percebemos que não caminhamos sozinhos. Caminhamos com Cristo e caminhamos uns com os outros.
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