A presença de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na Alemanha durante o regime nazista pode ser um capítulo pouco conhecido, porém profundamente significativo da história da Igreja.
Em meio a um dos períodos mais sombrios da humanidade, os santos alemães permaneceram firmes em sua fé, enfrentando perseguições, censura e desafios morais extremos.
Vamos, juntos, descobrir como a Igreja atuou e sobreviveu em meio ao domínio nazista, analisando o contexto histórico, as experiências de membros e a posição oficial da Igreja diante desse cenário.
O início da Igreja na Alemanha
Na década de 1840, os habitantes da Alemanha começaram a receber os ensinamentos do evangelho restaurado com a chegada dos primeiros missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora o Livro de Mórmon ainda não tivesse sido traduzido para o alemão, isso não foi uma barreira para a obra missionária.
Durante sua missão no país, o Élder Orson Hyde, então membro do Quórum dos Doze Apóstolos, declarou: “Há um grande trabalho a ser feito na Alemanha.”
Apesar dos esforços missionários empreendidos na época, foi apenas em setembro de 1851 que a Igreja registrou o batismo de duas pessoas, marcando o primeiro registro oficial de batismos em solo alemão. Alguns alemães, no entanto, também foram batizados enquanto viviam em outros países.
Mas a oposição também existiu entre os pioneiros da Alemanha. Diante das ameaças e perseguições da época, muitos santos dos últimos dias decidiram emigrar para os Estados Unidos em busca de segurança e liberdade religiosa.
Mesmo enfrentando intensa resistência, a Igreja continuou a crescer no país.
“No século 20, mesmo durante duas guerras mundiais e uma depressão global, a Igreja floresceu na Alemanha.
Durante a Segunda Guerra Mundial e a divisão da nação para Alemanha Oriental e Ocidental, os santos continuaram a se reunir. Foram estabelecidas estacas e foram construídos edifícios, tanto na Alemanha Ocidental quanto na Oriental.” (ver A Igreja na Alemanha)
A primeira tradução do Livro de Mórmon para o alemão foi publicada em 25 de maio de 1852
Após a Primeira Guerra Mundial, o número de conversos na Igreja da Alemanha aumentou consideravelmente, o que levou à divisão da missão atual em duas: a Missão Germano-Austríaca e a Missão Suíço-Alemã. Mais tarde, em 1937, foi criada a Missão Alemã Oriental.
Para mais informações sobre a História da Igreja na Alemanha, acesse: Alemanha: Cronologia

O que é o nazismo?
O nazismo foi um movimento político totalitário liderado por Adolf Hitler, cujos princípios baseavam-se na supremacia da nação e do povo alemão.
Esse cenário emergiu em meio a uma profunda crise econômica, a um alto índice de desemprego e à humilhação nacional imposta à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, após a Primeira Guerra Mundial.
Nesse contexto de desespero e instabilidade, Hitler conquistou apoio popular ao prometer “restaurar a grandeza alemã”.
Como chefe do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), conhecido popularmente como Partido Nazista, Hitler governou de 1933 a 1945 e utilizou o nazismo para impor um regime baseado na violência, no racismo, na autoridade opressora, na intolerância religiosa e no antissemitismo.
O nazismo rejeitou abertamente os valores do liberalismo, da democracia, do Estado de Direito e, acima de tudo, dos direitos humanos.
Como era a Igreja na Alemanha nessa época?
Após a eleição de Adolf Hitler como chanceler da Alemanha, os líderes do Partido Nazista confiscaram a literatura da Igreja, proibiram suas reuniões durante os comícios do partido e começaram a deter membros para interrogatórios (1933–1945 – Alemanha).
Diante desse cenário, muitos santos sentiram-se inseguros. Alguns deixaram de frequentar as reuniões para evitar problemas com a polícia, enquanto outros manifestaram o desejo de emigrar em busca de liberdade religiosa e de segurança.
Mesmo sob intensa pressão, os santos permaneceram firmes na fé. O então presidente da Missão Alemanha Oriental chegou a conquistar espaço no jornal oficial do Partido Nazista, o Völkischer Beobachter, onde publicou um panfleto intitulado “Im Lande der Mormonen” (Na Terra dos Mórmons), descrevendo a história e os ensinamentos da Igreja.
Embora o regime nazista tenha restringido diversas atividades religiosas, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias nunca foi oficialmente banida da Alemanha, diferentemente de outras denominações.
Com o avanço da guerra e o aumento das tensões na Europa, os missionários foram retirados de toda a Europa, e o jornal local Der Stern, administrado pela Igreja, foi suspenso em setembro de 1940 devido a restrições impostas pelo governo.
Ao fim da guerra, em 1945, quase todas as capelas da Igreja haviam sido destruídas. Muitos santos perderam a vida ou desapareceram durante o conflito.
Diante desse cenário de devastação, a Igreja em todo o mundo se mobilizou para enviar ajuda humanitária à Alemanha e às nações vizinhas, levando alívio e esperança a centenas de famílias.

Os santos e a Segunda Guerra Mundial
Após o ataque a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, os Estados Unidos declararam guerra contra o Japão e, em seguida, contra a Alemanha. Nesse contexto, muitos santos dos últimos dias participaram diretamente do conflito.
“Eles guiaram-se pelos ensinamentos do Livro de Mórmon, que condenavam a guerra ofensiva mas permitiam que se lutasse ‘ainda que fosse necessário derramar sangue’ para defender o lar, o país, a liberdade ou a religião (Alma 48:14; 43:45-47).”
Em sua mensagem anual de Natal, publicada uma semana após o ataque, a Primeira Presidência declarou que
“Somente pelo cumprimento do evangelho de Jesus Cristo haveria paz duradoura no mundo.”
A Igreja também manifestou-se dizendo aos santos que, apesar de “o ódio não ter lugar na alma dos justos”, os santos “fazem parte do estado” e devem obedecer lealmente às autoridades que os governam.
Essa declaração reforçou o compromisso da Igreja com a décima segunda Regra de Fé:
“Cremos na submissão a reis, presidentes, governantes e magistrados; na obediência, honra e manutenção da lei.”
A Primeira Presidência também prometeu aos soldados que tivessem uma vida limpa, guardassem os mandamentos e orassem constantemente que o Senhor estaria com eles e nada lhes aconteceria que não fosse para a honra e glória de Deus e para sua salvação e exaltação.
Seguindo o conselho de seus líderes da Igreja, os santos dos últimos dias atenderam ao chamado ao serviço militar quando foram convocados (ver Os santos durante a Segunda Guerra Mundial).
Cenário alemão pós-guerra
A obra missionária foi restaurada no país em 1947, após o país ter sido dividido em dois: Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental.
Graças aos esforços missionários e ao crescimento da Igreja no país, os santos alemães recebem a dedicação do primeiro templo da Alemanha em 19 de junho de 1985, o Templo de Freiberg na Alemanha Oriental — o primeiro templo num país comunista.
Outro templo foi dedicado dois anos depois, em Frankfurt, Alemanha Ocidental. A Alemanha foi então reunificada em 1990.
Hoje a Igreja na Alemanha conta com mais de 39.975 membros santos dos Últimos Dias, dois templos em funcionamento e três missões de proselitismo.

Posição da Igreja sobre o nazismo
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ensina que todos os filhos e filhas de Deus são iguais perante Ele e pertencem à mesma família humana.
Qualquer ideologia que promova a superioridade de uma raça ou a eliminação de outra, como o nazismo, é totalmente contrária aos ensinamentos de Jesus Cristo e à doutrina do evangelho restaurado.
A Igreja nunca apoiou, nem apoia, qualquer crença, movimento ou ação que viole os direitos humanos. Seu posicionamento é firme em favor da paz, do amor ao próximo, do serviço e da resolução pacífica de conflitos.
“Pois nenhuma destas iniquidades vem do Senhor, porque ele faz o que é bom para os filhos dos homens; e não faz coisa alguma que não seja clara para os filhos dos homens; e convida todos a virem a ele e a participarem de sua bondade; e não repudia quem quer que o procure, negro e branco, escravo e livre, homem e mulher; e lembra-se dos pagãos; e todos são iguais perante Deus, tanto judeus como gentios.” (2 Néfi 26:33)
O Presidente Nelson reforçou essa mensagem em seu discurso “Pregar o evangelho da paz”:
“Profetas previram nossos dias; dias em que haveria guerras e rumores de guerras e toda a Terra estaria em comoção e o coração dos homens falharia. Como seguidores de Jesus Cristo, suplicamos aos líderes dessas nações que encontrem soluções pacíficas para suas diferenças (…) contendas violam tudo o que o Salvador defendeu e ensinou.”
A posição da Igreja permanece inalterada: seguir o exemplo do Salvador é escolher a paz, rejeitar o ódio e reconhecer a dignidade divina em cada ser humano.
Ver também
- Guerras ou rumores de guerra? Violência num mundo de paz
- Entre a guerra e a fé: A história inspiradora de Theodore Parsons III
- Um Santo dos Últimos Dias na 2ª Guerra Mundial: “o Senhor sempre esteve comigo”



