Os erros e milagres por trás dessa pintura da Segunda Vinda
Dan Wilson é conhecido por suas obras de arte ilustrarem Jesus Cristo, agora a sua arte ilustra um dos templos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e é o projeto de uma vida: uma enorme pintura de Jesus descendo do céu e cercado por mais de 300 anjos vestidos de branco que anunciam a Segunda Vinda com vozes e trombetas.
As nuvens presentes no projeto deram mais problemas do que deveriam. Um canto a tinta secava em um marrom lamacento em vez de branco, apesar de toda a pintura e repintura.
“Você pensaria que as nuvens seriam a parte mais fácil!” Wilson lembra. Felizmente, depois de uma oração desesperada por ajuda, as nuvens finalmente saíram correta e, leitosas e semelhantes a penas.
A pintura havia sido encomendada para ser pendurada no Templo de Washington D.C., um dos maiores templos da Igreja, depois que as reformas fossem concluídas, então para Dan Wilson as apostas pareciam muito altas.
A peça estava quase finalizada enquanto ele dava os toques finais nas vestes de Jesus, usando vermelho cádmio e laranja vívidos para adicionar destaques onde o sol brilhava através do tecido carmesim.
Após uma sessão de trabalho ele deixou o pincel, saiu do estúdio para um almoço rápido e esqueceu de trancar a porta.
Quando voltou, Wilson ouviu pequenas vozes rindo em seu estúdio. Ao entrar, ele encontrou seu filho de 3 anos e sua filha de 2 anos passando a tinta cádmio vermelha e laranja na pintura. “Eles estavam falando, ‘isso está bom’”, lembra Wilson. “‘O papai faz isso. Por que não posso? Eu só estou ajudando!’”
As crianças eram muito baixas para alcançar a maior parte da tela, mas seus acréscimos indesejados estavam bem nas nuvens que Wilson finalmente havia aperfeiçoado com grande esforço.
Wilson sentiu o pânico explodir em seu peito, mas encarou a situação com calma. “Eu tendo a sorrir quando não há mais nada que se possa fazer”, contou Wilson. “Mas eu literalmente, meio que com um sorriso no rosto, gritei, ‘Ahhh!’ Acho que dei uma risada depois, tipo, ‘Seus arteiros. Eu não acredito nisso!’”
Wilson colocou os filhos para fora do estúdio e examinou os danos com apreensão. As crianças usaram algumas das tintas mais brilhantes da paleta. “Eu não sabia, pela intensidade da cor, se ia deixar uma mancha”, lembra Wilson.
Enquanto raspava as pinceladas vívidas e as massageava com um pano embebido em solvente, Wilson contemplou algo significativo.
“Eu apenas pensei… ‘Estou tentando criar esta obra-prima e estou falhando constantemente. Mas todos nós estamos tentando criar obras-primas em nossa vida’”, disse ele, observando que, assim como na pintura, nossas vidas inevitavelmente se tornam marcadas por pecados ou erros que podem ser consertados.
Felizmente, as pinceladas frescas das crianças saíram. “Foi muito legal usar o solvente e raspar aqueles grandes erros como se eles nunca tivessem acontecido. Simboliza muito a Expiação de Jesus Cristo.
Ninguém está vivendo uma vida perfeita como Ele viveu. Mas porque Ele teve uma vida perfeita, podemos nos libertar de todos os erros, dos… pecados. Podemos simplesmente apagá-los, como se nunca tivessem acontecido.”
Veja também: Igreja lança primeiro tour virtual do histórico Templo de Washington D.C.
Uma multidão de anjos
Depois que a pintura da Segunda Vinda, intitulada ‘His Return’ (Seu Retorno), foi fixada e os toques finais foram concluídos, ela foi emoldurada e instalada no Templo de Washington D.C..
Agora, quando os visitantes passam pelo balcão de recomendações e entram no templo, seus olhos não podem deixar de ser atraídos para a enorme pintura de Wilson.
Os espectadores notarão primeiro Jesus Cristo como a figura central da pintura, mas depois o olhar será atraído para a multidão de mais de 300 anjos que se estendem ao longe.
Era importante para Wilson que pessoas de diversas origens pudessem ver pelo menos uma figura na pintura com quem pudesse se identificar, então os anjos representam um conjunto diversificado de etnias, incluindo negros, asiáticos, polinésios e latinos.
“A complexidade de uma figura humana é a coisa mais difícil de pintar no universo”, disse Wilson.
“Você joga outra figura lá, e a complexidade aumenta… porque todas elas precisam combinar perfeitamente. Quando você está lidando com 300 anjos que precisam voltar perfeitamente para a atmosfera para que não atrapalhem a imagem principal de Cristo, é muito difícil.”
Incluir tantas figuras etnicamente diversas apresentou um desafio técnico específico, porque Wilson precisava mostrar claramente tons de pele e características faciais. Mas havia uma desvantagem nessa abordagem. “Eu tive que incluir muitos detalhes”, disse Wilson.
Para manter o foco em Cristo e dar a ilusão de que os anjos estavam à distância, os detalhes dos anjos precisavam ser menos nítidos.
Dan Wilson sabia que a solução era “envernizar” os anjos – um processo em que a tinta branca translúcida é aplicada em partes da pintura para silenciar a cor e os detalhes. Mas isso o assustava, por receio de estragar o trabalho que havia feito e dedicado tanto tempo e esforço.
Então ele se voltou para o céu em busca de ajuda. “Eu estava mantendo isso no meu jejum e estava orando sobre isso. E foi muito legal porque uma manhã, bem cedo, tipo, 4:30 da manhã, eu levantei da cama, e em minha mente eu podia me ver vidrando os anjos com um branco chumbo muito específico que é muito transparente. E eu vi o pincel que deveria usar, e sabia a tinta exata que deveria usar. E funcionou perfeitamente”, lembra Wilson.
“Imagens de Cristo com as quais [as pessoas] se relacionam”
Com os anjos desaparecendo adequadamente em segundo plano, a figura de Jesus Cristo agora mantém seu destaque na pintura. Para Wilson, todas as suas representações do Salvador devem causar impacto no espectador, e é por isso que ele é tão decido quanto a escolher modelos para seus retratos de Jesus.
Atualmente, ele usa um entre nove homens diferentes para cada representação, mas muitas pessoas estão ansiosas para ajudá-lo a expandir seu conjunto de modelos.
“É engraçado, as pessoas estão sempre me mandando imagens de [seu] tio, [seu] marido, [ou seu] filho: ‘Ele tem cabelo comprido partido ao meio, ele tem barba, ele seria… perfeito!’ E 99% não seriam bons modelos para Jesus.”
Então, o que faz um grande modelo para suas pinturas? “É 100% sobre olhos gentis”, diz ele. “Você pode pintar uma barba, você pode colocar o cabelo, mas você não pode fingir os olhos”.
Ele também faz o possível para retratar o Salvador autenticamente em termos de etnia, o que pode ser difícil de equilibrar. Um de seus modelos têm descendências do Oriente Médio, e ainda assim alguns espectadores às vezes ainda sentem que as pinturas de Wilson falham ao retratam Cristo.
“Não importa o quão ‘autêntico’ é o seu modelo. Você sempre terá pessoas dizendo: ‘Faça a pele mais escura’”. Outras pessoas preferem a pele mais clara, e Wilson suspeita que a maioria das pessoas tende a imaginar um Jesus que se parece com elas.
“Há muitos pontos de interrogação. Quais eram os tons de pele dele exatamente? Quão escuro era o Seu cabelo? Qual era o comprimento de Seu cabelo? De que cor eram Seus olhos?” contou Wilson.
Mas para ele, essas perguntas não são primárias e nunca podem ser respondidas com certeza. “Acho mais importante que as pessoas vejam imagens de Cristo com as quais se relacionam, e se for um Jesus negro, incrível. Se for um Jesus de pele mais clara, ótimo. O que realmente importa é que nos lembremos Dele e tentemos ser mais como Ele é.”
Mari Oto, membro da ala de Wilson que posou de anjo para a pintura da Segunda Vinda, diz que a representação é importante para os santos dos últimos dias de outras etnias.
Oto, cuja herança é chinesa, japonesa, havaiana e portuguesa, diz gostar de ver arte diversificada na Igreja, pois pode ser mais fácil se relacionar com a Divindade, por exemplo, quando se assemelha a si mesmo.
“Eu pensei: ‘Quer saber? Meu Deus é realmente asiático’”, disse Oto. “Tenho uma imagem muito clara na minha cabeça de como é o meu Deus. E Ele é como um avô asiático. …Então eu amo estar na pintura do Dan pelo puro fato de que a representação importa. Sim. É importante que meus filhos vejam alguém que se pareça com eles… dentro da arte da Igreja.”
Pode ser interessante: O Templo do Rio de Janeiro e uma promessa apostólica
Por que Jesus Cristo?
Wilson pintou Abraham Lincoln, Martin Luther King Jr., King David e inúmeros outros. Mas seu tema mais retratado de longe é Jesus Cristo.
Ele pintou o Salvador mais de 500 vezes na última década. Ainda assim, demorou algum tempo, para ele perceber que este era o tipo de arte que ele queria criar.
Depois de receber seu diploma de arte da Utah Valley University, Wilson foi orientado pelo falecido William Whitaker, um pintor que foi chamado de “um dos artistas figurativos mais respeitados do país”.
Muitas das pinturas de Whitaker, incluindo retratos de líderes da Igreja, são familiares aos santos dos últimos dias.
Whitaker era um mestre da técnica, diz Wilson. “Todo o treinamento dele era muito técnico. Você tinha que ter cores, valores, bordas, formas perfeitas, era tudo técnico.”
Esse treinamento naturalmente fez com que Wilson se tornasse um artista de galeria que retratava assuntos seculares. “Então, acabei pintando minha primeira imagem séria de Cristo”, diz ele.
Quando os membros de sua ala viram a pintura, pediram para comprar gravuras. Uma de suas clientes parou Wilson no corredor da igreja em um domingo e disse “‘Dan, você não tem ideia do que essa imagem de Cristo está fazendo por nossa família. …Ela ilumina o nosso lar’”, lembrou ele.
“E então, na semana seguinte, exatamente no mesmo lugar naquele corredor da igreja, uma irmã veio e disse, quase literalmente, as mesmas palavras. ‘Dan’, ela disse, ‘dei sua pintura para minha irmã. A família deles está tentando não se divorciar’. E então, ela começou a chorar e disse: ‘Você não tem ideia do quanto isso está ajudando a família e elevando-os em seu lar’”.
“E quando isso aconteceu, uma lâmpada simplesmente se acendeu. Eu sabia que deveria pintar imagens de Cristo e elevar as pessoas em seus lares.”
Wilson pintou centenas de retratos de Cristo desde aquele dia, permitindo que inúmeros outros sentissem uma conexão mais profunda com o Salvador.
Hannah Miller, ex-curadora de arte do templo da Igreja, vê uma habilidade rara em sua arte. “Ele muitas vezes retrata o Salvador com ternura e calma”, disse ela. “Suas pinturas… falam de seu relacionamento sincero com Cristo que eu acho que outras pessoas podem sentir o mesmo e se identificar.”
Hoje, Wilson continua a pintar com a precisão que aprendeu com seu mentor, mas agora sua prioridade é algo que ele sente ser mais crucial.
“Ainda presto muita atenção ao aspecto técnico da pintura”, diz. “Mas agora estou sempre me perguntando: …‘O que estou comunicando? Como isso vai ajudar o indivíduo que tem isso em casa?” E isso mudou minha carreira.” Essa mudança, diz Wilson, “tornou tudo muito mais divertido, muito mais gratificante”.
Mari Oto viu como a arte de Dan Wilson reflete as convicções do artista: “Ele apenas vive seu testemunho. Isso brilha em sua arte e é evidenciado em seu personagem também.”
“His Return”
“Dan tem várias pinturas originais em templos ao redor do mundo, todas reproduzidas em muitos outros templos”, disse Miller. “Ele foi escolhido para esta atribuição em D.C. por causa de seu incrível tato em retratar o Salvador. Quando as pessoas entram no templo, nossa esperança é que elas se sintam acolhidas pelo Salvador, e estamos satisfeitos por Dan ter conseguido fazer isso tão bem.”
Para Oto, ser retratado como um anjo em “His Return” foi uma experiência divertida, mas também levou a uma reflexão mais profunda. Ver a si mesma ajudando a anunciar a Segunda Vinda a fez pensar se estaria pronta quando o Salvador voltasse.
“Sinto gratidão pela oportunidade e também a responsabilidade de viver mais plenamente meus convênios”, diz ela.
E esse é exatamente o tipo de reflexão que Wilson quer que essa pintura, e toda a sua arte, inspire.
“Espero que quando as pessoas virem isso, se conecte com ela de uma maneira real. …Quando alguém estiver em frente a esta pintura, [por ser] uma imagem em tamanho real, quero que ela a atinja em um novo nível”, disse ele.
“E apenas uma faísca que diz, ‘Meu Senhor, isso vai acontecer. Estou me preparando para essa cena acontecer? … Posso me ver como um desses anjos ajudando a anunciar a Segunda Vinda?’…
“Espero que os membros, quando virem isso, voltem para casa motivados, e sentindo como: ‘Eu quero fazer parte da preparação do mundo para essa cena’”.
Fonte: LDS Living