Você já ouviu falar na teoria Adão-Deus? Esse é um tema que, às vezes, gera curiosidade ou até confusão entre os membros e pessoas interessadas na história da Igreja. Neste artigo, vamos explicar o que seria essa teoria, de onde ela surgiu e, principalmente, por que ela não é uma doutrina oficial de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
O que foi a teoria Adão-Deus?
A chamada teoria Adão-Deus surgiu no século XIX, ensinada publicamente pelo profeta Brigham Young em 1852. A ideia central era a seguinte: Adão e Deus, o Pai seriam a mesma pessoa. Em um de seus discursos, Brigham Young ensinou que Adão é “nosso Pai e nosso Deus, e o único Deus com quem temos relação.”
Durante algumas décadas, esse ensinamento foi repetido por outros líderes e até defendido em publicações da época. Alguns o chamaram de “doutrina”, mas o termo mais correto hoje é “teoria”, já que nunca foi canonizado como revelação oficial da Igreja.
Para entender esse contexto, é importante lembrar que, na época, nem tudo o que era dito por um líder da Igreja era automaticamente considerado doutrina. Havia debates, divergências e interpretações diferentes. Um bom exemplo é o apóstolo Orson Pratt, que se opôs publicamente à teoria já nos anos 1850, gerando discussões entre os líderes.

Nem tudo que um profeta diz é doutrina oficial
Aqui cabe uma observação essencial: nem tudo o que um profeta ou apóstolo diz se torna automaticamente doutrina da Igreja.
Em uma carta de 1897, o então presidente da Igreja Joseph F. Smith explicou sobre a teoria Adão-Deus:
“[Brigham Young] sem dúvida expressou sua opinião ou pontos de vista sobre o assunto, acrescentando que ‘o que ele disse não foi dado como uma revelação ou mandamento do Senhor’.”
Esse é um lembrete importante para todos nós: líderes podem ter opiniões pessoais, mas doutrina oficial da Igreja é aquela que é confirmada pelas escrituras, declarada em união pela Primeira Presidência e pelo Quórum dos Doze, e aceita pelo corpo da Igreja.
Veja também: Como podemos saber o que é doutrina e o que não é?

A teoria e suas origens confusas
Embora Brigham Young tenha dito em alguns momentos que essa ideia vinha de Joseph Smith, o fato é que não há registros claros de Joseph ensinando sobre a teoria Adão-Deus da mesma forma. Além disso, Brigham também reconheceu que:
“Era tanto direito dele diferir de outros homens, quanto era o deles diferir dele, em pontos de doutrina e princípio.”
Na prática, a teoria acabou sendo ensinada por algumas décadas, mas nunca foi unânime entre os líderes nem apresentada ao corpo geral da Igreja para ser canonizada.
Depois da morte de Brigham Young em 1877, a Igreja começou a se afastar cada vez mais desse ensinamento. Ao longo do século XX, líderes foram bem claros em rejeitar a teoria. Em 1976, por exemplo, o presidente Spencer W. Kimball declarou:
“Nós os advertimos contra a disseminação de doutrinas que não estão de acordo com as escrituras e que são alegadas como tendo sido ensinadas por algumas Autoridades Gerais de gerações passadas. Tal, por exemplo, é a teoria Adão-Deus. Nós denunciamos essa teoria e esperamos que todos sejam advertidos contra esse e outros tipos de falsas doutrinas.”
E em 2002, o presidente Gordon B. Hinckley quanto perguntado sobre o assunto, respondeu:
“Não especulamos muito sobre isso. Brigham Young disse que, se você fosse ao Céu e visse Deus, seria Adão e Eva. Eu não sei o que ele quis dizer com isso.”

O que aprendemos com esse episódio da história da Igreja?
Analisar a história da teoria Adão-Deus pode nos trazer algumas reflexões:
- Profetas são inspirados, mas também humanos. Brigham Young acreditava nessa ideia e a ensinou, mas isso não significa que tenha se tornado doutrina oficial.
- A Igreja aprende e cresce com o tempo. Com revelação contínua, entendimentos podem ser ajustados. Foi assim que a teoria Adão-Deus foi sendo descartada com clareza ao longo das décadas.
- A fé deve se basear em Cristo e em verdades confirmadas pelo Espírito. Não precisamos nos apoiar em especulações antigas para ter certeza do evangelho.
Como ensinou o Presidente Spencer W. Kimball:
“Nós os alertamos contra a disseminação de doutrinas que não estão de acordo com as Escrituras e que alegadamente foram ensinados por algumas das Autoridades Gerais de gerações passadas. Essa, por exemplo, é a teoria do Adão-Deus. Denunciamos essa teoria e espero que todo mundo seja cauteloso contra essa e outros tipos de falsas doutrinas.

Conclusão
Agora sabemos que a teoria Adão-Deus é um capítulo curioso da história da Igreja de Jesus Cristo, mas que não faz parte de sua doutrina oficial. Foi uma crença defendida por uma pessoa e alguns de seus contemporâneos, mas rejeitada por líderes posteriores e hoje claramente considerada incorreta.
Então, o que a história da teoria Adão-Deus realmente nos ensina? Mais do que um fato curioso do passado, ela é um ótimo exemplo de como a Restauração do evangelho continua em andamento. A Igreja aprende, cresce e tem seu entendimento aprofundado com o tempo, guiada por revelação.
Este episódio nos lembra que profetas são homens inspirados, mas também humanos, e que a doutrina oficial não se baseia na opinião de uma única pessoa, mesmo que seja o Profeta. Ela é estabelecida quando a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos estão unidos.
No fim das contas, nossa fé se torna mais forte quando focamos no que é essencial e confirmado: que Jesus é o Cristo, nosso Salvador, e que somos guiados por profetas vivos hoje. O que é crucial para nossa salvação sempre foi e sempre será ensinado com clareza.
Fonte: Mormonr
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