A figura de Jó, apresentada no Antigo Testamento como um homem íntegro e fiel que enfrentou sofrimentos inimagináveis, tem sido motivo de debate entre estudiosos e crentes ao longo dos séculos: Jó realmente existiu?

Enquanto muitos estudiosos consideram Jó uma personagem fictícia criada como recurso literário para explorar o tema do sofrimento humano, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias afirma, com base em escrituras e manuais oficiais, que Jó foi uma pessoa real que passou por provações reais.

A visão de estudiosos e teólogos

Diversos estudiosos da Bíblia veem o livro de Jó como um poema sapiencial, ou seja, um texto didático com estrutura literária, e não como um registro histórico literal. Esse entendimento parte de elementos como a linguagem poética, o uso de diálogos simbólicos e o caráter teatral da narrativa entre Deus e Satanás.

Além disso, o livro não menciona locais ou datas específicos que liguem Jó a um contexto histórico conhecido, o que reforça a hipótese de que ele seria uma figura alegórica, criada para ilustrar verdades espirituais e morais.

Para esses estudiosos, a história de Jó seria um exemplo de literatura sapiencial usada para explorar questões profundas como: “Por que os justos sofrem?”, “Qual é o papel da fé em meio à dor?” ou “Deus é justo mesmo quando o sofrimento parece injusto?”. Assim, Jó serviria como um arquétipo de fé inabalável diante da dor inexplicável.

A posição da Igreja: Jó foi real!

Embora reconheça a estrutura poética do texto, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ensina que Jó foi uma pessoa real. Em materiais oficiais, como o Manual do Professor do Seminário do Velho Testamento, lemos que “algumas pessoas acham que Jó é um personagem fictício, mas tanto as escrituras modernas quanto as antigas esclarecem que Jó realmente existiu e que passou por um sofrimento verdadeiro”.

A base para essa afirmação está em passagens das escrituras que fazem referência a Jó como figura histórica:

Ezequiel 14:14 e 14:20: Jó é citado ao lado de Noé e Daniel como exemplos de homens justos.

Tiago 5:11: O apóstolo Tiago lembra “a paciência de Jó” como exemplo de perseverança.

Doutrina e Convênios 121:10: Revelação moderna em que o Senhor faz referência direta a Jó, fortalecendo a ideia de que ele é uma pessoa real.

A doutrina da Igreja também destaca que mesmo que a história de Jó seja contada em forma poética, isso não a torna fictícia. Muitos livros bíblicos usam recursos literários para registrar eventos reais de forma inspiradora.

O sofrimento de Jó e seu propósito espiritual

A história de Jó mostra um homem justo que, mesmo sem ter feito nada para merecer sofrimento, perde tudo: seus bens, seus filhos, sua saúde. Em meio a tudo isso, ele resiste à tentação de amaldiçoar a Deus. Suas reações — desde o lamento até a renovação da confiança — servem como exemplo poderoso de fé em meio às adversidades.

Os manuais da Igreja ensinam que a principal lição da história de Jó é que “podemos escolher ter fé em Deus mesmo em meio às provações”. A narrativa mostra que o sofrimento não é necessariamente um castigo, e que provações podem ocorrer tanto com os justos quanto com os iníquos. Essa é uma lição essencial em uma época onde muitas vezes se espera que a fé nos isente da dor.

As conversas com Satanás e o caráter simbólico

Um dos trechos mais debatidos do livro é o diálogo entre Deus e Satanás, no qual Satanás desafia a fidelidade de Jó, e Deus permite que ele seja testado. A Igreja esclarece que esses diálogos devem ser vistos como recurso literário-poético. O manual explica que “o Senhor não fez realmente nenhum acordo com Satanás”, e que essas conversas servem para ilustrar o papel do adversário como testador da fé humana, sem dar a ele poder autônomo.

Essa abordagem preserva tanto a reverência pelas escrituras quanto a compreensão de que nem todo elemento do texto deve ser lido de forma literal.

Jó realmente existiu?

Fé mesmo sem respostas

Jó nunca entende plenamente o porquê de seu sofrimento. Ainda assim, ele declara: “Ainda que ele me matasse, nele esperarei” (Jó 13:15). Essa postura inspirou milhões de crentes ao longo dos séculos. Como ensinou o Élder Richard G. Scott: em vez de perguntarmos “por que isso aconteceu comigo?”, deveríamos perguntar: “o que devo aprender com isso?”.

Essa confiança no Senhor, mesmo sem entender os motivos do sofrimento, é o que transforma Jó — personagem ou não — em um exemplo de fé ativa e duradoura.

Seja considerado real ou simbólico, o impacto da história de Jó é incontestável. Para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a resposta para a pergunta “Jó realmente existiu?” é: SIM!. E sua experiência é registrada para nos ensinar que confiar em Deus nas provações é possível — e necessário. Sua vida nos convida a desenvolver fé, mesmo quando as respostas não vêm, e a reconhecer que, acima de tudo, somos obras do trabalho divino.

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