Amamos nossos pais. É natural amar aqueles que nos nutriram, protegeram e nos guiaram nos primeiros passos da vida. O amor flui mais facilmente quando ele é recíproco, quando nos sentimos amados e cuidados.
Mas e quando a realidade familiar é marcada pela dor? E se os nossos pais não foram aqueles que esperávamos? Se, em vez de amor e apoio, recebemos negligência, abuso emocional, físico ou a amarga sensação de não sermos amados?
A Bíblia nos orienta em Efésios 6:2-3:
“Honra teu pai e tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa. Para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.”
Este versículo nos convida a honrar, um princípio que vai além do sentimento automático de afeição. Assim, amar os pais, especialmente quando eles falharam conosco, não significa necessariamente aprovar suas ações ou minimizar a dor que causaram.
Significa escolher uma postura de coração que busca a reconciliação e o perdão, dentro do possível e saudável para ambas as partes.

Força e direção
Jesus Cristo pode nos guiar e oferecer um caminho seguro para a cura e o perdão. Em Filipenses 4:6-7, somos encorajados com esta promessa:
“Por nada estejais ansiosos; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.”
Quando oramos em busca de consolo e direção, a oração se torna um refúgio e uma fonte de força para lidar com as emoções difíceis.
É nesse espaço de oração sincera que o milagre começa a acontecer. O Salvador, que sentiu o peso de todas as nossas dores e decepções, não apenas nos ouve; Ele nos compreende perfeitamente.
Ao entregarmos a Ele nossos sentimentos mais sinceros, permitimos que Seu poder de cura comece a aliviar nossa mágoa, nos dando uma perspectiva celestial que antes parecia inalcançável. Não estamos sozinhos em nossa dor; Ele a carrega conosco.

Escolher o perdão e estabelecer
O perdão é um elemento central do evangelho restaurado. Jesus nos ensinou a perdoar assim como fomos perdoados (Colossenses 3:13). No entanto, o perdão não é um sentimento mágico que apaga a dor instantaneamente, nem significa reconciliação imediata ou a restauração de um relacionamento prejudicial. O perdão é uma decisão, um ato de libertação do ressentimento e da amargura que nos aprisionam.
O Presidente James E. Faust, que serviu como conselheiro na Primeira Presidência, ensinou sobre como o perdão nos liberta da dor do passado:
“A maioria de nós precisa de tempo para lidar com a dor e a perda. Podemos encontrar todo tipo de motivo para adiar o perdão. Um desses motivos é esperar que o ofensor se arrependa para depois perdoá-lo. Mas essa demora faz com que deixemos de usufruir a paz e a felicidade que poderíamos ter. A insensatez de reviver mágoas antigas não nos traz felicidade.”
Escolher perdoar os pais que nos feriram é um processo que pode levar tempo e exigir muita oração e autocompaixão. Amar os pais que não foram bons pais também envolve o estabelecimento de limites saudáveis. Honrar não significa permitir que continuem a nos machucar.
É possível amar e limitar o contato ou estabelecer regras claras para a interação, protegendo assim a própria saúde emocional e espiritual. Em outubro de 2022, a irmã Kristin M. Yee ensinou:
“Perdoar uma pessoa não significa que nos colocamos em uma situação em que continuaremos a ser magoados. ‘Podemos nos esforçar para perdoar uma pessoa e, ainda assim, podemos nos sentir inspirados pelo Espírito a ficar longe dela.’”
Estabelecer limites é, em si, uma forma de honrar a luz de Cristo dentro de nós. Não é um ato de retaliação, mas de preservação e respeito próprio.
Ao definirmos um espaço seguro para nossa cura, criamos as condições para que o amor, mesmo que a distância, possa existir sem o peso da mágoa.

Um processo contínuo
Amar os pais que falharam pode ser um dos desafios mais difíceis da vida. Não é um processo linear, e haverá momentos de dor, raiva e frustração.
No entanto, ao buscarmos a Deus em oração, ao nos apoiarmos em nossa fé e ao tomarmos decisões sábias sobre perdão e limites, podemos encontrar um caminho para a cura e para a paz interior.
Lembre-se que o amor de Deus por nós é incondicional, mesmo quando falhamos. Essa mesma graça pode nos capacitar a estender um amor, ainda que complexo e desafiador, aos nossos pais.
Não se trata de negar a dor do passado, mas de escolher um futuro onde essa mágoa não tenha a palavra final. Ao buscarmos amar os nossos pais, mesmo em meio às dificuldades, podemos sentir a transformação que se torna possível por meio da expiação de Jesus Cristo.
O caminho para amar nossos pais mesmo quando fomos feridos é pavimentado com graça — a graça que pedimos para nós mesmos e a graça que, um dia, talvez possamos estender a eles.
Seja paciente com seu coração. A cura completa pode não acontecer nesta vida, mas a paz pode começar hoje. Lembre-se de que você é um filho ou filha amado(a) de Pais Celestiais perfeitos. O amor Deles pode preencher qualquer vazio e curar qualquer ferida.
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