Já parou para pensar como seria caminhar pelas mesmas estradas de terra que Jesus andou? Sentir a poeira nos pés, ouvir o aramaico sendo falado nas ruas de Cafarnaum, ver o brilho do sol no Mar da Galileia.

Conhecer a vida na época de Jesus é mais do que um exercício de curiosidade; é uma oportunidade de fortalecer ainda mais o nosso testemunho. Quando entendemos o mundo em que Ele viveu, Suas parábolas se tornam mais vivas, Seus milagres mais tocantes e Seu sacrifício ainda mais pessoal.

As escrituras nos transportam para um tempo e lugar muito diferentes do nosso. Era uma terra de contrastes: de fé e de opressão política, de tradições antigas e da expectativa pela vinda de um Messias. 

Pensando nisso, vamos ajudar você a mergulhar nesse cenário para entender melhor o dia a dia, os desafios e a atmosfera que envolviam a vida do Salvador e a das pessoas ao Seu redor.

época de Jesus

Um povo sob domínio estrangeiro: política e tensão

Para entender o mundo de Jesus, precisamos primeiro lembrar que Israel vivia sob o domínio romano. Embora tivessem um grau considerável de liberdade para manter seus costumes religiosos, não eram um povo livre. 

O período, no entanto, era de uma paz relativa — a Pax Romana — que criou condições favoráveis para a missão de Cristo e o estabelecimento de Sua Igreja. Em meio a um império pagão, apenas os filhos de Israel proclamavam o Deus vivo e verdadeiro.

Dentro dessa estrutura, a sociedade judaica era um mosaico de facções. Um artigo científico intitulado Political and Religious Groups in the Days of Jesus Christ, escrito por Harold Willmington e publicado pela Liberty University, nos ajuda a detalhar esses grupos:

  • Os Saduceus eram a elite aristocrática, muitos deles sacerdotes do Templo, que colaboravam com Roma para manter o poder. Eles aceitavam apenas a Lei escrita e, crucialmente, rejeitavam a crença na ressurreição, um ponto que os colocou em conflito direto com Jesus.
  • Os Fariseus, por outro lado, eram mais populares entre o povo, somando cerca de 6.000 membros. Eles se apegavam rigorosamente não só à lei de Moisés, mas também a uma vasta “lei oral” de tradições. Por fim, tornaram-se os mais amargos opositores de Jesus, condenando-o por associar-se com pecadores e por curar no sábado.
  • Havia também os Zelotes, patriotas fervorosos que defendiam a revolta armada contra Roma, e os Herodianos, um partido político que via na dinastia de Herodes, sob supervisão romana, a melhor chance de sobrevivência para a nação.

O que as escrituras revelam

É nesse cenário de diferentes interesses que Jesus ministrou. Ele não se alinhou a nenhum grupo. Quando ensinou sobre um reino que “não é deste mundo”, Ele estava oferecendo uma solução espiritual, e não política, para a opressão que Seu povo sentia.

Sim, a vida na Judeia do primeiro século era frequentemente violenta. A paz do Império Romano, a Pax Romana, era mantida com rigidez, e historiadores como Flávio Josefo descrevem as tensões e revoltas do período. 

A presença constante de soldados e a brutalidade da crucificação como ferramenta de terror são o pano de fundo de todo o Novo Testamento. As escrituras nos ajudam a ver um pouco dessa realidade: a menção de Pilatos misturando o sangue dos galileus com seus sacrifícios aponta para a repressão impiedosa. 

Além da violência política, a criminalidade era um risco real, como vemos na parábola do Bom Samaritano, onde um viajante é espancado e deixado para morrer por ladrões numa estrada.

tempo de Jesus

Dia a dia na Galileia: trabalho, família e sociedade

A grande maioria das pessoas era pobre e vivia uma vida de trabalho árduo. A maior parte das famílias era de agricultores, e vemos sua importância em parábolas, como a do Semeador. Outros eram pastores, uma profissão humilde, mas importante na identidade de Israel e usada por Cristo para descrever a si mesmo

Na região da Galileia, a pesca era uma indústria vital, sendo a profissão de vários apóstolos como Pedro e André. Havia também os artesãos, como os carpinteiros — a profissão de Jesus e José, conforme Marcos 6:3, cujo termo grego tekton também pode significar construtor ou artesão de pedra.

Quando Jesus chama homens tão diferentes como pescadores, zelote, coletor de impostos, entre outros, mostra que Seu evangelho era para todos.

A família era o alicerce da sociedade, mas fora dela, a vida era quase impossível. Ser marginalizado era uma sentença de isolamento. Nenhum grupo sentiu isso mais do que os samaritanos. 

Conforme detalha Harold Willmington, a inimizade entre judeus e samaritanos era antiga. Originou-se séculos antes da época de Cristo, quando Israel foi conquistada pela Assíria e os israelitas remanescentes se misturaram com povos pagãos. 

A ruptura se tornou total quando os samaritanos construíram seu próprio templo no Monte Gerizim. No tempo de Jesus, a hostilidade estava em seu auge, e o ministério do Salvador entre eles foi um ato revolucionário de inclusão.

A vida econômica provavelmente era precária. O pagamento de um dia de trabalho era o equivalente a um denário, uma moeda romana, e a dívida devia ser um problema crônico na sociedade. Isso dá um poder imenso a parábolas como a do credor incompassivo — e nos ajuda a entender a quem o Salvador buscava ensinar.

Costumes simples e tradições

A vida acontecia em pequenas aldeias, em casas simples de pedra e barro com tetos planos, usados para trabalho ou descanso. A alimentação era baseada no que a terra oferecia: pão, azeitonas, azeite, frutas e peixe. 

Comer junto era um ato de comunhão, e por isso foi tão chocante que Jesus se sentasse com “publicanos e pecadores“, acolhendo-os como amigos.

As vestimentas, eram práticas e funcionais, feitas de lã ou linho. Homens e mulheres usavam uma túnica interna e, por cima, um manto ou capa, e vemos sua importância na história da mulher com fluxo de sangue curada ao tocar a orla do manto de Jesus. 

Já o lazer, podemos dizer que provavelmente estava integrado à fé. Além do descanso semanal do Sábado, a alegria e a socialização aconteciam nas grandes festas religiosas, como a Páscoa, que exigiam peregrinações em família a Jerusalém.

O ambiente era multilíngue. Falava-se o aramaico no dia a dia, o hebraico era a língua sagrada das sinagogas, o grego era a língua comum do comércio no império, e o latim era a língua dos oficiais romanos.

Exercer fé na época de Jesus

Acima de tudo, a vida era guiada pela religião, centralizada no templo, que servia de único local para sacrifícios e nas sinagogas, uma espécie de centro comunitário para oração e ensino. 

Diferentes grupos administravam a estrutura religiosa: os Levitas cuidavam dos serviços do Templo, e os Escribas (ou “doutores da lei”) estudavam e interpretavam as escrituras, frequentemente aliando-se aos fariseus na oposição a Cristo.

O órgão máximo de poder era o Sinédrio, a suprema corte judaica com 71 membros. Este conselho julgou Jesus, mas, como Harold Willmington aponta, eles cometeram diversas injustiças que violaram suas próprias regras durante o julgamento.

Jesus foi vendado, não houve registro formal dos votos, os argumentos para a defesa foram ignorados e a condenação foi pronunciada no mesmo dia, quando a lei exigia que se esperasse até o dia seguinte.

É a esse povo, cansado e sobrecarregado por regras e divisões, que Jesus dirige um de Seus convites mais doces: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.

Entender esse mundo complexo e cheio de desafios nos permite apreciar ainda mais a clareza, a simplicidade e a luz que o Salvador trouxe. 

Ele não veio a um mundo perfeito, mas a um mundo real, ferido e necessitado, muito parecido com o nosso. E a mensagem de esperança que Ele ensinou nas colinas da Galileia atravessa o tempo sendo tão relevante e necessária hoje como foi naquela época.

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