9 semelhanças entre o hinduísmo e a Igreja de Jesus Cristo

O hinduísmo é uma das mais antigas tradições espirituais ainda em prática hoje. As raízes de sua origem remontam a quase 4.000 anos, na civilização do Vale do Rio Indo.
Para dar contexto, o judaísmo tem aproximadamente 3.500 anos, o islamismo aproximadamente 2.500 anos e o cristianismo 2.000 anos. Então, quando Jesus estava vivendo e ensinando em Jerusalém, o hinduísmo já existia há dois milênios. Essa trajetória de 4.000 anos tornou a tradição do hinduísmo incrivelmente rica, variada e sábia.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tem em torno de 188 anos, o que representa apenas 5% da idade do hinduísmo. Como Santos dos Últimos Dias, temos orgulho de ter o evangelho restaurado, mas esquecemos que somos bebês no palco das religiões mundiais. Vamos avaliar a compreensão dos nossos primos espirituais.
Carma
Carma é uma palavra em sânscrito que significa ação, trabalho ou ato. Em sua forma mais simples, o carma é entendido como a lei do retorno. Mas, em vez de ser uma lei mística, o carma deve ser visto simplesmente como causa e efeito, ou ação e consequência. Eu ajo livremente neste universo, e minhas ações livres moldam o mundo. E esse mundo me devolve a soma das minhas ações.
O equivalente para os Santos dos Últimos Dias ao carma seria a lei da colheita, como ensinada por Jesus no Novo Testamento: colhemos o que semeamos. Nossa colheita é ditada pelas sementes dos pensamentos e das ações que plantamos em nossa vida.
O carma, ou a lei da colheita, anda de mãos dadas com a ênfase dos Santos dos Últimos Dias no arbítrio. Mas, tipicamente, enquanto nosso foco está apenas em nossa capacidade individual de agir, o carma coloca nosso arbítrio pessoal em seu contexto global apropriado.
Que tipo de responsabilidade vem junto com a lei do carma? Como devemos agir para criar o melhor mundo para nós e nossas comunidades?
Dharma
Não existe tradução direta do sânscrito para Dharma. Isso é um problema porque há muitas ideias diferentes contidas dentro dessa única palavra.
O notável estudioso hindu Eknath Easwaran traduz o conceito de Dharma como nosso dever para com a “lei universal que mantém toda a vida unida”. Em outros lugares, ele afirma que o Dharma é a ordem essencial do universo, sua integridade e harmonia.
A lei universal que traz ordem, integridade e harmonia ao universo é uma lei de relacionalidade. Todas as coisas, por meio do carma, estão relacionadas entre si de uma forma ou de outra. E o Dharma é nossa responsabilidade para com essa relação universal.
Que tipo de responsabilidade temos em um universo onde tudo tem a ver com o nosso próximo?
Jesus ensinou uma forma de Dharma quando lhe perguntaram qual era o grande mandamento: amar a Deus de todo o coração e amar o próximo como a si mesmo.
Esse ensinamento nos diz que a responsabilidade que temos em um universo cheio de próximos é a do amor. Devemos amar nosso Deus e o trabalho de Suas mãos de todo o coração. E devemos amar nosso próximo como a nós mesmos.
Unidade
Tanto o carma quanto o dharma se baseiam na ideia de que tudo está conectado. Os seres vivos compartilham grande parte do mesmo DNA.
Na verdade, a única diferença entre você e uma banana são algumas variações nas sequências de DNA. O ar que respiro contém moléculas de oxigênio que existem há milênios e viajam através de incontáveis conjuntos de pulmões.
A unidade não é apenas um simples exercício intelectual. Ela pode ser vivenciada por meio da oração, meditação e reflexão. Uma experiência com essa espiritualidade se sobressai a uma experiência de violência e aumenta a capacidade de conhecer e expressar o amor.
Por experiência própria, perdi o gosto por matar desnecessariamente aranhas e insetos. Quanto mais busco aprender e amar até mesmo esses rastejantes assustadores, mais entendo que, no lugar que ocupam neste mundo, pode existir paz entre nossos mundos.
Esse princípio da unidade é mais evidente entre os Santos dos Últimos Dias do que a maioria percebe. No Livro de Abraão, aprendemos que Deus se encontrou no meio das inteligências eternas e as organizou em todas as coisas.
Aprendemos ainda mais por meio de Joseph Smith, em Doutrina e Convênios 93, que a inteligência é a luz fundamental e a verdade a partir das quais nossa identidade foi feita. E não apenas nossa identidade humana, mas de todas as coisas.
Há inteligência nas árvores, nos animais, nas rochas e dentro de nós. Não está claro se o conceito de inteligência no evangelho de Jesus Cristo e o conceito hindu de Brahman universal são os mesmos. Mas é evidente que a teologia dos Santos dos Últimos Dias aceita a natureza espiritual de todas as coisas e a unidade dessa natureza espiritual.
Todos os caminhos levam a mim
O capítulo quatro, versículo 11 do Bhagavad Gita, apresenta uma ideia interessante. Krishna, a divindade principal do livro, diz:
“À medida que eles se aproximam de mim, eu os recebo. Todos os caminhos… levam a mim.”
O hinduísmo e a maioria das práticas espirituais do Oriente abordam o conceito de religião de modo muito diferente do Ocidente.
No cristianismo, e principalmente na Igreja de Jesus Cristo, somos distintos por sermos membros de uma organização religiosa específica. Essas instituições eclesiásticas são uma forma de governo religioso.
No hinduísmo, no entanto, não existe uma igreja centralizada. Não há crenças específicas ou ordenanças obrigatórias para ser um hindu. Tudo se resume à prática pessoal, individual e espiritual. Se você quer ser um hindu, pratique o hinduísmo. Nenhum processo formal é exigido.
Essa é uma das primeiras ideias que, obviamente, entram em choque com a Igreja de Jesus Cristo e com o cristianismo em geral, que enfatizam a necessidade de uma igreja organizada.
Sim, a prática espiritual pessoal é importante, mas também são importantes as formas específicas que ela assume, como o batismo por imersão ou o uso de uma camisa branca no domingo. Além disso, uma igreja organizada oferece vantagens distintas, como a rápida prestação de ajuda humanitária e uma maior capacidade de servir o mundo em geral.
Assim, embora a ideia de que a prática espiritual seja mais importante do que a adesão a uma organização possa parecer uma ameaça ao conceito de igreja organizada, ainda acho que vale a pena compreendê-la.
Em nossos esforços missionários, as pessoas poderão ouvir melhor nossa mensagem se perceberem que valorizamos a espiritualidade que já possuem. Nossos esforços devem ser mais holísticos, como disse o Presidente Hinckley:
“Traga consigo tudo o que você tem de bom e verdade que você recebeu de qualquer fonte, e venha e deixe-nos ver se nós podemos adicionar algo.”
Yoga
A Yoga é talvez o conceito hindu mais conhecido, mas também um dos menos compreendidos. Quando pensamos em yoga, lembramos de posturas, alongamentos e movimentos.
No entanto, essa prática, conhecida como Hatha Yoga, é apenas um ramo de uma árvore de seis ramos.
Existem outros cinco ramos que envolvem diferentes formas de controle da respiração, meditação, contemplação, serviço, estudo e mantras específicos. Yoga é a união de pensamento, espírito e exercício físico que compõem a sua sadhana.
“Yoga” é a palavra em sânscrito para “jugo”. Esse termo deve soar familiar para qualquer cristão, pois Cristo nos convidou a tomar sobre nós o Seu jugo. Um jugo é uma ferramenta usada para unificar esforços.
Literalmente, yoga é a prática da unificação total e da integração com Deus. Pode-se dizer que as nossas ordenanças são o “Yoga” dos Santos dos Últimos Dias. No entanto, o que há de encantador no Yoga é que ela busca alcançar unidade com o corpo por meio da postura e da respiração, em um esforço para integrar de modo mais fluido nossas naturezas espirituais.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tem uma profunda teologia do corpo, mas não a deixamos permear nossa prática geral. A Palavra de Sabedoria é o mais próximo que chegamos disso, mas sua compreensão comum mal arranha a superfície.
Nossos corpos são vistos como presentes divinos, mas não temos uma prática consolidada de viver em unidade com eles.
Talvez isso se deva, em parte, às raízes da Restauração da Igreja na América protestante puritana. No entanto, abster-se de substâncias como álcool e tabaco está muito longe de significar verdadeira unidade com nossos corpos.
Meditação
A meditação é a ideia mais completa do Yoga. Trata-se da prática de refletir internamente. Como parte do Yoga, a meditação é, naturalmente, subdividida em diferentes escolas. Algumas focam apenas na respiração, outras utilizam mantras, e há aquelas que buscam a contemplação posterior.
No entanto, todas compartilham a mesma ideia: desenvolver a autoconsciência e aprender a diferença entre nós e nossos pensamentos.
Que os Santos dos Últimos Dias devem praticar a meditação é algo evidente. Nos próximos parágrafos, detalharei alguns dos benefícios espirituais do yoga meditativo. Basta dizer o seguinte: se os médicos pudessem reunir todos os benefícios da meditação em um comprimido, você pagaria qualquer quantia por ele.
A meditação é cientificamente comprovada como um meio de nos tornar mais felizes, saudáveis, sábios, compassivos e inteligentes, além de reduzir a ansiedade e oferecer efeitos antidepressivos.
Como maior benefício de todos, o Presidente David O. McKay afirmou:
“Prestamos pouquíssima atenção ao valor da meditação. Em nossa adoração, há dois elementos: o primeiro é a comunhão espiritual proveniente de nossa própria meditação. O segundo é a instrução vinda de outros. Dos dois, o mais proveitoso é a meditação.”
O Presidente McKay ensinou que a experiência de meditar é um dom pouco utilizado para o crescimento espiritual.
Samadhi
O objetivo final do Yoga meditativo é alcançar o Samadhi. Esta palavra em sânscrito significa, em sua essência, unificação da mente, corpo, espírito e Deus. É a plena realização do jugo do yoga meditativo. Por meio de períodos prolongados de intensa meditação contemplativa esta unificação é atingível.
Esse estado é tão intenso que qualquer distinção entre o ‘eu-individual’, o mundo e o Divino caem por terra. Samadhi é a experiência da unidade espiritual em todas as coisas e da divindade em seu próprio ser, bem como todos os seres sagrados do universo.
O que é importante saber é que o Samadhi não é uma experiência permanente. É como fazer trilha acima das nuvens em um dia nublado, apenas para ter que descer de novo. Samadhi é como sair do rio para descobrir o que há além dele em terra firme.
O Presidente McKay, bem como outros líderes cristãos ou hindus, veem a meditação contemplativa como a porta à presença de Deus. Eles sempre afirmam que todos podem passar por experiências transcendentais (algo que Joseph Smith passou). O presidente McKay disse:
“O maior consolo que podemos receber nesta vida é sentir a realização da comunhão com Deus”.
Essa comunhão é o cumprimento do Carma e do Dharma, uma vida em harmonia amorosa com o universo. É uma experiência sagrada de unidade.
Iluminação
Um efeito colateral do Samadhi é a iluminação pessoal ou o esclarecimento. Quando ultrapassamos as nuvens e enxergamos além da ilusão da separação, o mundo assume uma nova luz, uma nova vibração. A qualidade divina de todas as coisas pode ser sentida, e tudo ganha um significado espiritual.
O segundo capítulo do Bhagavad Gita diz:
“Assim como um reservatório é de pouca utilidade quando todo o campo está inundado, as escrituras são de pouca utilidade para o homem ou mulher iluminados que veem o Senhor em toda parte.”
Este é um trecho interessante, sobre o qual reflito toda vez que o leio. Krishna continua:
“Eu sou o gosto da água pura e o esplendor sagrado do sol e da lua. Eu sou a palavra sagrada e o som do ar. A coragem dos seres humanos. Eu sou a fragrância doce na terra e o esplendor do fogo; eu sou a vida em cada criatura e o esforço da aspiração espiritual. Minha semente eterna (…) é encontrada em toda criatura. Eu sou o desejo em si, se esse desejo está em harmonia com o propósito da vida.”
Os ciclos de renascimento
De todas as ideias presentes no hinduísmo e na espiritualidade oriental em geral, a reencarnação é uma das mais estranhas — pelo menos para nossa mente cristã. Tudo o que foi discutido até agora — Dharma, Carma, Unidade, Sadhana e Yoga — se baseia nessa ideia de renascimento contínuo.
Quando uma pessoa morre, seu espírito vai para uma vida após a morte. Lá, passa por uma retrospectiva de sua existência para avaliar como cumpriu seu Dharma mais elevado e quais lições de Carma ainda precisa aprender. Então, renasce na mortalidade para retomar sua jornada espiritual de onde parou. Esse ciclo continua até que a pessoa não precise mais exercitar seu Carma e, então, é finalmente libertada do ciclo de renascimento. Ao alcançar essa libertação, ela experimenta a unificação duradoura e final com Deus.
Essa visão da morte e do progresso espiritual é essencialmente cíclica, focada na evolução contínua por meio de sucessivos nascimentos e mortes.
Surpreendentemente, a doutrina de Jesus Cristo apresenta uma visão mais compatível com essa ideia de progresso eterno do que muitos imaginam. Nós existimos primeiramente como inteligências, depois nos tornamos espíritos — filhos de Deus — e, então, nascemos na mortalidade para progredir. A morte nos separa de nossos corpos, mas, para continuarmos nosso crescimento, precisamos da ressurreição, que traz a união perfeita entre corpo e espírito. Depois disso, herdamos a natureza divina e a vida eterna, compartilhada por todos os seres divinos.
No hinduísmo, o propósito da vida é a realização de Deus, e, até que isso aconteça, o espírito continua renascendo. Deus, nesse contexto, não está interessado na condenação, mas em garantir que cada um alcance a unidade com Ele. Sua paciência é infinita.
A paciência de Deus é infinita porque Deus é amor. Joseph Smith ensinou:
“Não existe uma época em que o espírito seja velho demais para se aproximar de Deus. Todos estão ao alcance do perdão e da misericórdia.”
Verdades espirituais
Espero que a principal mensagem que o leitor, seja ele Santo dos Últimos Dias ou não, possa tirar deste artigo seja a de que o mundo é um mosaico espiritual rico, belo e complexo. Deus pode ser encontrado em meio a tudo isso.
O hinduísmo está impregnado de verdade espiritual e discernimento. O Bhagavad Gita é um dos melhores livros que já tive o privilégio de ler. Ele ocupa um lugar especial na minha estante, ao lado do meu exemplar do Livro de Mórmon.
Para minha surpresa, o hinduísmo e a espiritualidade oriental apresentam muitas semelhanças com os ensinamentos da Igreja de Jesus Cristo. A obra da Restauração, conduzida por Joseph Smith, teve o propósito de reunir o melhor do Oriente e do Ocidente em um evangelho de amor que é ao mesmo tempo universal e verdadeiro.
Embora possamos usar palavras diferentes, estamos todos engajados na mesma conversa espiritual. O evangelho é amplo, expansivo e repleto de “todas as coisas boas”. Faríamos bem em unir esforços no jugo do amor, dentro de um universo cheio de significado.
Todos os caminhos espirituais possuem valor, e, antes de compartilharmos o evangelho restaurado com o mundo, devemos primeiro reconhecer os fragmentos de verdade que já existem em outras culturas e religiões.
Fonte: Third Hour
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