Hoje, faço uma pergunta a vocês. Todos sabemos que devemos amar ao nosso próximo. Esse é o princípio mais básico em ser cristão, em ser um ser humano. É evidente a todos nós que aqueles que amam ao próximo são mais felizes, os mais bem-sucedidos, e são os melhores amigos. Às vezes é difícil amar o próximo, mas sabemos que devemos fazê-lo.

Mas o mandamento que Cristo deu é mais específico:

“E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Porque Jesus falou assim? Talvez seja porque a maioria das pessoas ama a si mesmo muito mais do que ama o próximo. A triste realidade é que a maioria de nós pensa muito sobre a sua própria felicidade e seus próprios desejos e pensa muito pouco sobre a felicidade e desejos de nosso próximo.

Então, talvez Jesus estivesse dizendo:

“E o segundo, semelhante a este é: Pensarás mais sobre o teu próximo e pense menos sobre a sua própria felicidade.”

Esta é uma maneira que podemos interpretar a escritura, mas pessoalmente eu não penso que foi assim que Jesus queria que entendêssemos. Ele não disse “mais”, nem “menos” de nosso próximo, mas ele disse “como”. Amar o próximo como a ti mesmo.

pessoa sentindo o espirito

Como amamos a nós mesmos?

Muitos têm a noção errada que precisamos sacrificar o amor a nós mesmo para desenvolver o amor ao próximo. Eu penso o oposto. Eu creio que quando Cristo disse “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, ele também estava dizendo:

“E o segundo, semelhante a este, é: Amarás a ti mesmo como a teu próximo”

Creio que ele queria que entendêssemos o princípio:

“É impossível amar a teu próximo se não primeiro amas a ti mesmo. Amarás a ti mesmo. Amarás a teu próximo nem mais, nem menos, mas como a ti mesmo, pois todos são os Meus filhos.”

Narcisismo, Autoestima, e Autoeficácia

Quando pensamos em alguém que se ama, nem sempre temos uma imagem muita positiva. Todos podemos lembrar de um amigo ou parente que amava a si um pouco demais. Para aqueles que são mais extremos, até existe um diagnóstico de um transtorno da personalidade: o narcisismo.

Um narcisista com certeza ama a si. Narcisistas geralmente pensam que o mundo inteiro existe com o propósito de servir a eles. Eles se acham superiores a todos, e pensam que merecem o sucesso e a satisfação só por existir. Narcisistas raramente têm muitos amigos próximos. É claro que não era esse “amarás a ti mesmo” que Cristo queria dizer.

Um termo mais positivo é um que usamos frequentemente: a autoestima. A autoestima se refere a nossa opinião sobre nós mesmos. Se pensamos que somos inferiores a outros, é dito que temos uma baixa autoestima. Se pensamos que somos superiores, é autoestima demasia. Assim como com o narcisismo, não é adequado termos uma autoestima muito elevada. De outro lado, podemos ver como a depressão e a anorexia de quem sofre de falta de autoestima também não é problemática.

Existe um termo que talvez explique melhor do que os anteriores: autoeficácia. Enquanto a autoestima se refere à opinião que temos sobre nós mesmos — nossa aparência, inteligência ou valor pessoal — a autoeficácia é diferente: ela diz respeito à confiança em nossa capacidade de realizar algo. A autoestima afirma: “sou inteligente”; já a autoeficácia declara: “se eu estudar, tenho certeza de que posso aprender”.

A autoestima diz: “sou uma pessoa importante”; a autoeficácia acrescenta: “posso me tornar semelhante a Deus”. Em outras palavras, a autoeficácia mede nossa percepção sobre nosso potencial. Esse é o tipo de amor que Cristo deseja que tenhamos por nós mesmos: a certeza de que somos filhos de Deus, dotados de um potencial eterno.

A Teoria dos Dois Fatores

Estudos recentes na psicologia levaram ao desenvolvimento de uma teoria sobre os relacionamentos entre as pessoas. Especificamente, a teoria de dois fatores tem relevância ao conflito, e como as pessoas lidam com ele. Psicólogos querem antecipar a atitude das pessoas em relação ao conflito para que assim possam ajudar a resolvê-los.

Como o nome indica, a teoria tem dois fatores importantes para se considerar:

  1. Quanto você se importa com você mesmo
  2. Quanto você se importa com a outra pessoa no conflito

A teoria faz as seguintes predições:

  1. Se você se importa muito consigo mesmo e pouco com a outra pessoa, provavelmente vai acabar agredindo ou prejudicando-a. Esse é o caso do narcisista, que pensa tanto em si que não dá importância aos outros. Conflitos com pessoas assim são difíceis de resolver, porque a única solução que aceitam é aquela em que saem ganhando.
  2. Se você se importa pouco consigo mesmo e muito com a outra pessoa, você tende a ceder sempre. Essa é a situação da pessoa deprimida ou dominada, que renuncia a si mesma para agradar aos outros. Isso raramente leva à felicidade. Muitos cristãos pensam, de forma equivocada, que ceder sempre é algo bom. Mas, na verdade, uma pessoa que nunca se posiciona dificilmente terá impacto positivo no mundo.
  3. Se você se importa pouco consigo mesmo e pouco com a outra pessoa, você vai simplesmente ignorar o problema. Afinal, por que agredir ou ceder, se não há interesse em ninguém? Esse tipo de pessoa não tem motivação para resolver conflitos, pois não valoriza nem a si mesma, nem aos outros.
  4. Mas se você se importa muito consigo mesmo e muito com a outra pessoa, então existe espaço para resolver o problema de forma saudável. Porque você se ama, não vai simplesmente ceder; e porque ama ao próximo, não vai dominar ou tirar proveito da situação. Juntos, vocês podem conversar, ouvir um ao outro e encontrar uma solução justa.

Assim vemos o que Cristo realmente queria que entendêssemos. E em verdade, não tem outra maneira em que ele podia ter dito melhor:

“Amarás o próximo como a ti mesmo”

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