O que significa perdoar setenta vezes sete?
Quando eu era uma criança, lembro-me de ter lido essa escritura, de Mateus que diz que devemos perdoar setenta vezes sete. Tinha lido com minha mãe e fiquei intrigada a respeito de quantas vezes deveríamos perdoar as pessoas. Em minha mente de criança, fiz a conta 70×7 que deu 490 e então, disse para minha mãe, que seria muito difícil. Seria difícil não porque eu teria que perdoar muitas vezes, mas sim, que eu ia ter que escrever em algum lugar quantas vezes perdoei cada pessoa! Impossível fazer isso, eu disse. Então minha mãe disse: “Jesus disse isso, para que você perdoe e esqueça. São muitas vezes por isso, porque você vai perdoar sem saber se já deu a conta que Jesus falou.”
A narrativa no evangelho de Mateus traz o acontecido do pecador incorrigível, caso extremo, que leva o afastamento de Deus. Mateus quer mostrar um fato contrário dos que normalmente são comuns: Existência do perdão e reconciliação. Na Bíblia, a palavra grega traduzida “perdão” quer dizer literalmente “abrir mão, deixar ir embora”. A situação da narrativa nesta passagem bíblica: “Se teu irmão tiver pecado…”, O que fazer? Até quantas vezes uma pessoa deve ser perdoada? Pedro, tomando a iniciativa dá uma resposta generosa: “Até sete vezes?” Entretanto Jesus corrige Pedro e surpreende a todos quando responde: “setenta vezes sete”.
Alguns líderes religiosos no tempo de Pedro ensinavam que uma pessoa não precisava perdoar a outra pessoa mais de três vezes. Ao perguntar ao Senhor se devia perdoar a outra pessoa sete vezes, Pedro deve ter pensado que estava sendo muito generoso (ver Bruce R. McConkie, The Mortal Messiah [O Messias Mortal], 4 vols., 1979–1981, vol. III, p. 91).
E hoje, ao compreender o significado real da expressão contida em Mateus 18:22 penso que minha mãe não estava de tudo errada. Em algo ela tinha razão. Cristo quer que perdoemos e esqueçamos o que fizeram a nós tal qual o Pai nos perdoa e não mais se lembra de nossos erros e pecados.
“Eis que aquele que se arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me lembro.” (D&C 58:42)
E não importa qual foi nosso erro, pois “ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã”. (Isaías 1:18)
Ao contrário de mim, quando criança, não devemos interpretar ao pé da letra este número 7. “Setenta vezes sete” é uma maneira de dizer que não devemos limitar as vezes que perdoamos aos outros. A resposta do Salvador a Pedro ensina o princípio de que o Senhor nos ordenou que perdoássemos todos àqueles que nos ofendem ou pecam contra nós, independente do que nos foi feito!
“Eu, o Senhor, perdoarei a quem desejo perdoar, mas de vós é exigido que perdoeis a todos os homens.” (D&C 64:10)
Podemos também entender a partir do simbolismo, que o número 7 traz em si e então teremos uma explicação. O número 7 na Bíblia, tem significado de totalidade, plenitude, complementação. Lembro ainda os setenários do Apocalipse: sete taças, sete Igrejas, sete selos, sete trombetas, etc. Número perfeito que une o divino com o terreno.
No Antigo Testamento encontramos no livro do Gênesis (Gn 4,24), o número sete multiplicado por ele mesmo, como no caso de Lameque, vingado por setenta vezes sete, aqui os números não significam excessos, mas totalidade das ações.
O Novo Testamento também confirma para o número sete a ideia de totalidade como plenitude. No evangelho de Mateus (Mt 15,34.37), são sete os pães e alguns peixes que são multiplicados por Jesus e sete os cestos de pedaços que sobraram. O que deve ser apreendido deste trecho é que ao cristão não cabe colocar limites ao perdão.
O evangelho nos adverte (quando fala em setenta vezes 7) de que o perdão de Deus, e inesgotável, mas está condicionado a nossa disposição interior de saber perdoar os outros.
“Portanto, digo-vos que vos deveis perdoar uns aos outros; pois aquele que não perdoa a seu irmão suas ofensas está em condenação diante do Senhor; pois nele permanece o pecado maior.” (D&C 64:9)
Mostra-nos também que até o perdão concedido por Deus pode ser revogado, se não soubermos, como Ele, perdoar a quem nos ofende. Jesus quer nos ensinar que a misericórdia divina, receberão somente aqueles que souberem ser misericordiosos com os outros.
Que possamos sempre nos lembrar das palavras do Élder Kevin R. Duncan na Conferência Geral de Abril de 2016:
“O perdão é um glorioso princípio de cura. Não precisamos ser vítimas duas vezes. Podemos perdoar.”
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