Escrito por Gilbert Alves Brown

Jorge Alves Brown e sua esposa Iracema, junto de seus filhos, foram verdadeiros pioneiros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Brasil. Desde os primórdios, quando a única Missão Brasileira contava com poucos Ramos espalhados pelo Sul e Sudeste e ainda sem distritos organizados, a família Brown testemunhou o crescimento da Igreja em terras brasileiras.

Quando Jorge ingressou no Ramo de Bauru – SP em 1950, a Igreja no Brasil tinha menos de 600 membros. Sem capelas próprias, os encontros ocorreram em imóveis alugados, com exceção da primeira propriedade da Igreja em Joinville – SC e da casa da missão na Rua Itapeva, em São Paulo. Os presidentes de Ramo eram os próprios missionários americanos, pois ainda não havia líderes locais treinados. Para participar das conferências da missão, Jorge e Iracema percorriam 350 km até São Paulo, demonstrando uma dedicação incansável à fé que haviam abraçado.

Origens e juventude

Nascido em 10 de maio de 1916, em Ponta Porã – MS, Jorge Alves Brown era filho de Thomas Willian Brown e Maria Antônia Alves do Amaral. Sua família, de origem inglesa, desbravou o estado de Mato Grosso no início do século XX após participar da construção da primeira estrada de ferro da Argentina.

Órfão aos dois anos de idade e criado em condições humildes, Jorge conseguiu concluir o curso fundamental enquanto ajudava sua mãe viúva. Autodidata e determinado, aprendeu telegrafia aos 12 anos e trabalhou na Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) entre 1928 e 1932.

O serviço à Pátria

A trajetória profissional de Jorge começou cedo, mas seu senso de dever e patriotismo o levou a servir em diversas frentes. Em 1932, participou ativamente da Revolução Constitucionalista como radiotelegrafista nos trens da NOB, transportando tropas e armamentos para São Paulo. Posteriormente, serviu no Exército e ingressou nos Correios e Telégrafos como radiotelegrafista de primeira classe.

Em 1942, começou sua carreira na aviação ao ingressar na Panair do Brasil como Rádio Operador de Voo (ROV). Durante a Segunda Guerra Mundial, contribuiu diretamente para a segurança nacional nos esforços de guerra, patrulhando a costa brasileira em busca de possíveis submarinos alemães suspeitos, comunicando suas localizações à Força Aérea Brasileira. Por seus méritos e bravura, recebeu o título de Sargento da Aeronáutica.

Um momento decisivo: o milagre nos céus

O ano era 1946, e Jorge, tripulante experiente da Panair do Brasil, seguia em mais um voo comercial na rota Campo Grande – São Paulo – Rio de Janeiro. Como tantas outras vezes, ele estava no controle das comunicações, garantindo a segurança do voo e dos passageiros. O tempo estava instável, mas nada indicava o que viria a seguir.

De repente, uma massa densa de nevoeiro cobriu os céus, apagando toda referência visual. Era uma escuridão absoluta. A aeronave deveria fazer uma escala em Três Lagoas – MS, mas sem visibilidade, ultrapassou a cidade sem que o piloto percebesse.

Quando finalmente notaram o erro, já haviam voado muito além do ponto planejado. O combustível estava se esgotando. Não havia tempo para voltar. Não havia opções.

O comandante alertou a tripulação: “Preparem-se para um pouso de emergência!”

A aeronave começou sua descida. Não havia pistas, apenas um campo irregular que poderia ser fatal em um pouso forçado. Jorge, com o coração acelerado, olhava pela janela tentando decifrar o que aconteceria nos próximos segundos. O choque com o solo era iminente.

Com um impacto violento, a aeronave tocou a terra. O som do metal contra o chão, da fuselagem sendo rasgada pela vegetação, preencheu o ambiente. Gritos abafados, tensão no ar. E então, silêncio.

Quando a poeira finalmente baixou, um milagre se revelou diante de seus olhos: ninguém estava ferido. A aeronave, mesmo severamente danificada, não havia tirado nenhuma vida. Como poderia explicar isso? Como poderia racionalizar o fato de que, contra todas as probabilidades, todos estavam a salvo?

Naquele instante, Jorge sentiu algo diferente. Não era apenas alívio pela sobrevivência, mas uma profunda e inexplicável sensação de propósito. Por que havia sido poupado? Por que estava ali?

A mão de Deus: a jornada que o guiaria ao evangelho

Após o acidente, a companhia aérea enviou técnicos para recuperar a aeronave e abriu uma pista improvisada, permitindo que o avião voltasse a voar. Mas, para Jorge, aquela experiência havia plantado uma semente em seu coração – algo estava prestes a mudar.

Nos dias seguintes, refletiu sobre sua vida. Seu tempo longe da família, os riscos da profissão, sua busca por algo maior. Ele percebeu que Deus havia lhe dado uma nova chance, e agora cabia a ele descobrir o motivo.

Foi então que, como se estivesse seguindo um roteiro cuidadosamente desenhado pelo Senhor, tomou uma decisão fundamental: solicitou sua transferência para trabalhar em terra, perto de sua família.

Seu pedido foi atendido e, em 1950, Jorge foi transferido para Bauru – SP. Ele não sabia, mas Deus havia colocado a última peça do quebra-cabeça no lugar.

O encontro predestinado: a verdade se revela

Ao chegar em Bauru, Jorge precisou encontrar um lar para sua família. Enquanto caminhava pelas ruas do centro, envolvido nessa missão, foi abordado por dois jovens norte-americanos – os missionários: Clarence I. Moon e seu companheiro.

O que parecia um simples encontro casual se transformaria em um momento que mudaria sua eternidade.

Os missionários se apresentaram e começaram a ensinar sobre o evangelho restaurado de Jesus Cristo. Cada palavra parecia penetrar diretamente no coração de Jorge. Ele sentiu algo diferente, algo que nunca havia sentido antes.

Ali, naquele instante, ele soube. Ele entendeu por que sobreviveu àquela queda de avião e compreendeu por que foi transferido para Bauru. Tudo fazia parte do plano de Deus.

No dia 13 de maio de 1951, ele foi batizado no lago da Fazenda Plínio Ferraz, tornando-se o primeiro membro da Igreja em Bauru. Seu testemunho tocou sua família. No ano seguinte, ele batizou Kelvin, Edison, Alberto e Gilbert. Em 1953, sua esposa Iracema também decidiu seguir o mesmo caminho. Já em 1954, foi Jorge quem batizou seu filho mais novo, Maxwell. Por fim, em 1957, sua filha caçula, Maria Antônia, também tomou essa decisão.

A transição de Campo Grande para Bauru não foi uma coincidência – foi um chamado divino. Deus usou cada evento, cada decisão, cada mudança, para levar Jorge ao lugar onde ele encontraria Sua verdade.

A expansão da Igreja e a dedicação da família Brown

Quando a primeira Estaca no Brasil foi organizada, em 1º de maio de 1966, seu filho Gilbert recebeu uma bênção de saúde diretamente do apóstolo Spencer W. Kimball, que presidia a organização da unidade. Mais tarde, a família testemunhou a dedicação do primeiro Templo na América Latina, em São Paulo, em 30 de outubro de 1978, momento que consolidou o crescimento da Igreja na região.

A família Brown também se destacou no serviço ao Senhor:

  • Edison Matos Brown serviu na construção da primeira capela de Ponta Grossa – PR (1965-1968).
  • Alberto Maxwell Matos Brown trabalhou nas capelas de Santos – SP, Tijuca – RJ e Brasília – DF (1966-1969). Alberto também teve participação decisiva no estabelecimento da igreja em Indaiatuba, São Paulo, ao recomendar isto ao presidente da Missão Campinas Brasil, Sheldon R. Murphy em 1987, pois seus pais que residiam na cidade precisavam se deslocar para Campinas a fim de frequentarem a Igreja. Atualmente a cidade possui 3 alas pertencentes à Estaca Itu Brasil.
  • Maxwell Matos Brown que também participou do mesmo tipo de missão de seus irmãos, que combinava construção de capelas e pregação do evangelho (1966-1969).
  • Gilbert Matos Brown serviu por 20 anos como secretário de ramo, ala e estaca, além de ser membro do Sumo Conselho da Estaca São Paulo Oeste Brasil. Também participou como voluntário na construção do Templo de São Paulo e após sua dedicação serviu como oficiante de ordenanças por vários anos.

Além disso, Edison Matos Brown foi Bispo da Ala Moema, e seu irmão Kelvin Mattos Brown serviu como Primeiro Conselheiro do mesmo Bispado.

Um legado de fé e honra

Em 1994, Jorge Alves Brown foi selado para o tempo e a eternidade com sua esposa e filhos no Templo de São Paulo. Até seu falecimento em 30 de junho de 1999, manteve um testemunho firme e inabalável sobre a divindade da Igreja e do evangelho restaurado.

Como reconhecimento de sua vida de serviço e devoção, seu nome foi eternizado em várias homenagens públicas:

  • Praça Jorge Alves Brown, São Paulo.
  • Rua Jorge Alves Brown, Indaiatuba.
  • Creche Professor Jorge Alves Brown, Indaiatuba.

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