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CAPÍTULO 7
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7. Ir além do equilíbrio

Quando as crianças se equilibram pela primeira vez, elas conseguem se movimentar, subir, carregar coisas de uma maneira antes impossível. West Belnap ajudou-me a solidificar a compreensão de minha necessidade de equilibrar o coração e a mente. Como resultado, com o passar dos anos, fui aprendendo cada vez mais a me movimentar, a subir e a carregar coisas pesadas com base nesse equilibrado alicerce. Pude passar para a fase seguinte, que agora parece ter sido a fase da simplicidade que vai além da complexidade.

Por exemplo, entrevistei um candidato a professor da BYU que descrevia suas convicções religiosas como “uma fé inteligente”. No primeiro momento, sua atitude parecia coerente e construtiva. Mas, ao refletir melhor sobre sua afirmação, comecei a me perguntar sobre como mesclar a palavra fé com a palavra inteligente, porque para mim, às vezes, a fé verdadeira e devota precisa nos levar para além de onde a razão pode nos levar.

Lembrei-me da visita do presidente Marion G. Romney à minha missão, na Alemanha. Durante uma sessão de perguntas e respostas, um missionário perguntou: “Por que não batizamos pessoas mais inteligentes?” O presidente Romney citou D&C 93:36–37: “A glória de Deus é inteligência ou, em outras palavras, luz e verdade. A luz e a verdade rejeitam o ser maligno”. Então ele perguntou: “Alguém que se filia à Igreja abandona o mal e aceita a luz e a verdade?” O missionário respondeu afirmativamente. O presidente Romney perguntou: “Então, que tipo de pessoa ele é?” Depois de uma pausa, o missionário, surpreso, disse: “Inteligente?” O presidente Romney disse: “Exatamente. Vamos para a próxima pergunta”.

Eu sabia o que estava por trás da pergunta do missionário. Podia ver também que, com algumas exceções, não atraíamos muitos pesquisadores entre o que chamaríamos de “intelectualidade” alemã. Percebi que no início da história desta dispensação, assim como nos tempos bíblicos, as pessoas atraídas pela mensagem do evangelho eram frequentemente descritas nas escrituras como os fracos e os simples desta terra (ver D&C 1:23). Pois “ninguém é aceitável perante Deus, a não ser os humildes e brandos de coração” (Morôni 7:44), e com muita frequência, quando as pessoas “são [instruídas,] pensam que são [sábias] e não dão ouvidos ao conselho de Deus” — ainda assim, “é bom ser instruído, quando se dá ouvidos aos conselhos de Deus” (2 Néfi 9:28–29).

Mais ou menos nessa época, pude observar um amigo, que tinha aproximadamente a minha idade, e ver sua saúde se deteriorar em razão de uma esclerose múltipla. Ele gradualmente perdeu sua capacidade de andar, de ficar de pé e de se sentar. Durante o período em que se achava acamado, sua esposa morreu de câncer. A família o levou para o funeral em uma cama de hospital. Pouco depois do enterro, fomos visitá-lo em sua casa. Quanto mais ele falava, mais surpreso eu ficava com o espírito de paz e de luz que o cercava. Ele disse que não conseguia parar de pensar em como sua vida tinha sido afortunada — muito abençoada pela mulher com quem havia se casado, pelos filhos que o Senhor lhes dera, e por sua rica vida juntos na pequena e agradável cidade onde moravam. Ele ria enquanto dizia o quão abençoado se sentia, pensando nas viagens do tipo “felizes para sempre” que ele e sua esposa fizeram nos primeiros anos de casamento, mesmo sem ter dinheiro para isso.

 

Ele falou de sua admiração pelos pioneiros que deixaram Nauvoo a fim de se estabelecerem em Utah. Lembrou-se de que muitos deles haviam recebido a investidura no Templo de Nauvoo para fortalecê-los durante sua travessia naquele terrível deserto. Cada sinal que vinha dele era autêntico; ele não dava sinal nenhum de que sentisse pena de si mesmo. A luz em seu rosto e o espírito na sala me diziam que eu estava contemplando o sagrado processo de santificação que, paradoxalmente, parecia deixá-lo melhor mesmo em meio àquela condição física deteriorada.

Naquela noite, li em D&C 101:2–5: “Eu, o Senhor, permiti que lhes sobreviessem aflições [e] todos os que não querem suportar a correção (…) não podem ser santificados” (grifo do autor). A simplicidade mansa e humilde que buscamos além da complexidade tem um preço — embora nem sempre venha por meio de sofrimento físico. O sacrifício pode assumir muitas formas, nem todas explicáveis plenamente pela razão.

Então, vi nosso filho Tom e sua esposa, Tracy, vivenciarem o nascimento de uma criança com uma grave paralisia cerebral. Como o bebê podia nascer de modo antecipado, Tracy ficou em repouso absoluto por nove semanas. Apesar do desconforto e das advertências médicas, ela se tornou obstinada em manter a gravidez até que o bebê sobrevivesse ao nascimento. Certa noite, ela sentiu que, de alguma forma, seu sacrifício se assemelhava ao exemplo do Salvador — o de conceder a força de seu corpo para fortalecer um outro. Esse entendimento a ajudou a enxergar sua experiência como um privilégio, não como um fardo.

Eles deram ao bebê o nome Chaya, que significa “vida”, em hebraico. Chaya nunca foi capaz de andar, de falar ou de se alimentar sozinha. Mas seu sorriso podia iluminava uma sala. Logo no início, Tom deu a Chaya uma bênção na qual ele reconheceu o nascimento dela como um evento decisivo na vida de seus pais. Ele sentiu que Deus conhecia suas circunstâncias e que a condição daquela criança tinha um grande propósito. A família havia sido convidada a oferecer um sacrifício que, de alguma forma, tornaria o sacrifício do Senhor mais significativo para eles. Chaya acabou falecendo aos 15 anos de idade, mas as convicções que eles sentiram após a bênção do pai floresceram continuamente no seio da família.

Algo em torno dessas duas experiências me trouxe de volta ao significado de “fé inteligente”. Aquelas prolongadas e degradantes doenças e, na sequência, a morte de meu amigo e da Chaya desafiavam qualquer explicação racional, mas eu havia presenciado seus efeitos santificadores. Descobri que uma busca equilibrada por conhecimento, por mais valiosa que seja, talvez não precise se constituir em nosso objetivo final. O simples conhecimento de algo não nos santificará; não nos tornará capazes de viver na presença de Deus. E nossas circunstâncias santificadoras nem sempre terão uma base racional. Dada sua própria natureza, a fé, em última análise, levar-nos-á além dos limites da razão. Portanto, se condicionarmos nossa fé à racionalidade, poderemos nos distanciar de uma experiência santificadora, acabando por não descobrir o que a experiência poderia nos ensinar.

Ainda que ceder a tais experiências transformadoras seja necessariamente um passo de fé, não chegaremos nesse ponto até darmos os passos necessários na direção daquela luz que nosso conhecimento pode alcançar. Viver uma vida repleta de sacrifícios na busca de um propósito para essa mortalidade, especialmente durante aqueles dias em que tudo parece não ter sentido, vai nos providenciar a experiência de que necessitaremos para que apreciemos o valor de nossa santificação.

Na equilibrada postura de aceitação do ideal e do real, damos valor ao individualismo e à razão, mas valorizamos igualmente nossa fé na autoridade de Deus. Não faria sentido querermos voltar a uma simplicidade tão inocente a ponto de completamente colocarmos de lado a razão ou a fé. A simplicidade que vai além da complexidade nos convida a perceber que uma abordagem equilibrada, por si só, não é suficiente. Quando formos pressionados ao extremo, atingiremos um novo nível que se inspirará mais profundamente em nossas raízes hebraicas.

A propósito, o élder Maxwell afirmou que “devemos ter nossa cidadania em Jerusalém com um passaporte para Atenas”.44 Parte do sacrifício que o Senhor pode exigir de nós é o de que aceitemos o que Ele “achar que [nos] deve nos infligir” (Mosias 3:19) sem querermos entender por que precisamos passar por alguma noite tenebrosa da alma. Confiaremos que, em algum momento, a luz do poder expiatório de Cristo sobrepujará nossas trevas e nos abençoará com compreensão.

Embora admirasse a boa intelectualidade, o élder Maxwell acreditava que a vida de um discípulo educado tem mais a ver com a consagração do que com a erudição. Ele acreditava que a “intelectualidade fiel [poderia se tornar] uma maneira de adorar, como uma outra forma de consagração”. Mas ele ficava preocupado com intelectuais e alunos que preferem examinar e medir tanto o evangelho como a Igreja com base no que aprenderam em suas disciplinas acadêmicas — mais do que examinar suas disciplinas utilizando as lentes do evangelho.

Quando o élder Maxwell me pediu para escrever sua biografia, pensei, inicialmente, que a grande contribuição de sua vida iria ser tornar-se um poderoso modelo para os santos dos últimos dias dotados de instrução. No entanto, minha pesquisa logo me mostrou que a mensagem principal de sua vida tinha mais a ver com o verdadeiro discipulado do que com o aprendizado acadêmico. Por exemplo, sua compreensão da palavra discípulo evoluiu com o tempo. Ele usou o termo pela primeira vez na década de 1960 como sinônimo de membro da Igreja. Posteriormente, como comissário de educação da Igreja no início dos anos 1970, ele ficou preocupado com a crescente influência do secularismo moderno. Ele começou, então, a usar a palavra discípulo para descrever os membros da Igreja que resistiam aos cantos de sereias seculares. Mais tarde, ele veio a conhecer membros da Igreja que cresciam espiritualmente ao enfrentarem dificuldades. Ele foi sentindo que aquelas pessoas eram os verdadeiros discípulos.

Seu chamado para o Quórum dos Doze em 1981 estimulou-o a dedicar mais atenção para se tornar um discípulo de Cristo mais fiel. Como reflexo de sua grande determinação em alcançar uma vida melhor, seus textos e suas palestras naquele momento se concentravam mais no relacionamento pessoal do discípulo com Cristo e como o Senhor nos ajuda a desenvolver atributos cristãos tais como paciência, esperança e humildade de coração. Ele também passou a ver o discipulado mais como um processo do que como uma escolha isolada, percebendo que o Senhor às vezes faz uso da adversidade para ensinar a Seus seguidores o que eles precisam aprender para crescer.

Por isso ele escreveu, de uma forma que ganharia sentido pessoal para ele, que “o próprio ato da escolha de se tornar discípulo pode acarretar um certo sofrimento pessoal. [Tal] sofrimento e correção são expressões decorrentes de um discipulado profundo, no momento em que o Senhor nos carrega “até o máximo de nossa fé; [e] no limite de nossa confiança; [e] vamos vivendo em meio a um aprendizado ministrado pelas mãos de um Pai amoroso”.45

Então, quando seus médicos lhe disseram em 1997, quando ele tinha 70 anos de idade, que ele havia adquirido uma forma agressiva de leucemia, não foi nenhuma surpresa ele ter dito a sua esposa, Colleen: “Eu já devia ter presumido que isso iria acontecer”. O que ele quis dizer? Neal Maxwell, o zeloso estudioso do discipulado, matriculado anos antes para receber aulas divinas, estava agora sendo aprovado pelo seu tutor para seus estudos clínicos de pós-graduação. Nos sete anos restantes, ele abraçou de corpo e alma o doloroso processo de santificação como roteiro final de seu aprendizado.

A maioria das pessoas que vivencia uma doença terminal tem dificuldades para superar os sofrimentos decorrentes, mas isso não aconteceu com o élder Maxwell. Ele passou por um período de testes e de refinamentos. E por haver decidido que não permitiria que sua miséria o sucumbisse, ele passou a assimilar o que sua nova compreensão lhe ensinaria, ajudando-o com isso a ensinar outras pessoas. Ele aprendeu espiritualmente que o Senhor o havia dado a leucemia para que ele “pudesse ministrar com mais autenticidade”.

Como resultado, quem já o conhecia havia anos descobria nele, naquele momento, um novo refinamento, uma maior empatia, uma maior sensibilidade espiritual e uma compaixão mais atenta às necessidades das outras pessoas. O élder Maxwell acolheu essa experiência como um presente, não como uma conquista. Ele sabia que o Senhor estava lhe dando um coração novo e santificado, cheio de atributos divinos, afirmando: “O coração do homem natural é muito egocêntrico e rude”. Mas “a adversidade consegue suprimir a hipocrisia ali presente em excesso. [Para mim, então,] tornou-se uma enorme aventura espiritual, que eu não gostaria de ter perdido. E mesmo que isso tenha incorrido em [custos elevados], foi uma grande bênção. Eu sei que as pessoas podem pensar que estou sendo um herói ao dizer isso, mas essa é a pura verdade”.46

Ter visto de perto a experiência do Élder Maxwell, assim como ter acompanhado a experiência de meu amigo com esclerose múltipla, mudou minha perspectiva acerca de meu “questionamento religioso”. Passei a ver mais do que um mero equilíbrio, sentindo um desejo mais elevado de desenvolver a capacidade de fazer sacrifícios que resultam em santificação. Aqueles que buscam a santificação devem com frequência pagar um preço elevado, que ultrapassa nossa compreensão lógica. Em vez de buscar uma explicação racional, o élder Maxwell dizia com segurança que tinha total confiança no amor de Deus por nós, mesmo sem compreender o significado de todas as coisas (ver 1 Néfi 11:17).

Há não muito tempo, um estudante amigo nos fez uma visita. Meses antes, havíamos conhecido seu pai em um hospital, internado com uma doença terminal em estado avançado. Apesar de suas dúvidas e lágrimas, esse pai expressava muita paz e muito propósito. Ele sabia que seus dias estavam contados, mas aceitara o desafio de seu presidente de estaca de ler as escrituras e internalizar tudo o que pudesse sobre a doutrina da santificação. Seu semblante e seus pensamentos eram semelhantes aos que eu já havia visto antes, com meu amigo e com o élder Maxwell. Compartilhamos algumas palavras com o intuito de encorajá-lo, mas foi ele quem nos ofereceu uma perspectiva espiritual.

Seu filho voltou para nos contar que seu pai havia acabado de falecer. Ele então nos falou do que seu pai lhe havia ensinado sobre santificação durante aquelas semanas finais, e isso havia mudado decisivamente sua visão da vida cotidiana. Com base na experiência de seu pai, ele disse que, agora, não queria esperar até que tivesse uma doença terminal. Ele queria viver sua vida de uma maneira melhor — mais à semelhança do que ele chamou de “coisas da eternidade”. A visita desse aluno de certa forma ilustrou para nós a simplicidade que vai além da complexidade, embora eu provavelmente soubesse que ele teria de pagar seu próprio preço elevado, passando a examinar mais sua própria complexidade pessoal.

Existe algo no sacrifício consagrado de um coração quebrantado e de um espírito contrito que nos enriquece com visão interior, levando-nos a um grau mais elevado do que um simples equilíbrio pode nos levar — embora esse alicerce equilibrado possa nos ajudar a avançar para o alto. A simplicidade que vai além da complexidade não nos pede para sacrificarmos qualquer coisa de valor em nosso raciocínio, embora reconheça os limites da razão. No entanto, sob essa ótica mais elevada, necessitamos de uma investigação ainda mais rigorosa, especialmente sobre como nutrir as coisas da eternidade.

Nesse nível de amadurecimento da simplicidade, ser um verdadeiro discípulo não é tanto uma questão do que se faz ou de como se pensa, mas sobre o que somos e quem somos — e quem estamos nos tornando. No decorrer de sua vida adulta, o élder Maxwell gradualmente transferiu a ênfase de suas preocupações de nível “macro” ligadas à secularização e aos problemas sociais para as de nível “micro”, mais voltadas à escala pessoal de como viver nossa vida. Não que os problemas “macro” não fossem importantes — ele apenas tinha ciência de que os problemas “micro” são aqueles com os quais podemos fazer alguma coisa. E, a longo prazo, ele tinha conhecimento de que a maneira do evangelho de mudar o indivíduo é a única forma duradoura de mudar a sociedade. Conforme ele disse, no final, não existem palavras hifenizadas, a exemplo de discípulo-intelectual. Se, no final, não formos discípulos autênticos, não importará tanto o que possamos ser além disso.

A pintura abaixo é uma versão visual de como adentrar na simplicidade que vai além da complexidade. É a representação do pintor suíço Eugene Burnand de João e Pedro, verdadeiros discípulos, correndo para o túmulo bem cedo na primeira manhã de Páscoa. Nas palavras de João, os “dois corriam juntos” (João 20:4; grifo do autor) até chegarem ao sepulcro.

Esses dois rostos captam a ansiosa tensão entre a fé e a razão. Visto que ninguém jamais havia ressuscitado dos mortos, seria irracional para João e para Pedro pensar que Cristo viveria novamente. Tanto que eles não O entenderam quando disse que logo iria deixá-los: “Um pouco, e ver-me-eis (…); [e] a vossa tristeza se converterá em alegria” (João 16:17 –20). Entretanto, seu rosto também mostra sua fé e esperança crescendo para superarem seus medos racionais. E ao encontrarem, finalmente, o Senhor ressuscitado, o fato de Pedro e de João terem tido fé suficiente para correr até Ele, acentuou o impacto derradeiro da complexidade que cultivaram.

Esta pintura nos fala sobre partir para a ação, mexer-nos — logo cedo, como na manhã de Páscoa. Não precisamos aguardar até contrairmos uma doença terminal para levar a sério as coisas da eternidade. Podemos sentir nesse exato momento a emoção de acelerar nossos passos ao corrermos para encontrá-Lo. E podemos intensificar, desde já, nosso desejo de viver mais perto dessa presença eterna, para que Ele nos prepare melhor para aquela complexidade adicional santificadora que nos aguarda.

Notas
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