Este é um trecho do artigo originalmente publicado no blog Teologia Mórmon: “Como reagir as injustiças do mundo – a lei da Guerra do Senhor”. Para acessar o conteúdo completo clique aqui.
Sou pacífico, mas não pacifista. A religião que creio é assim também. O Salvador é o Príncipe da Paz (Isaías 9:6), mas ao mesmo tempo, é o Senhor dos Exércitos (Tiago 5:4). Ele mesmo disse: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada” (Mateus 10:34).
Essas declarações podem parecer surpreendentes – mas apenas para aqueles que não estão familiarizados com as escrituras. Afinal, há uma guerra sendo travada: o mal contra o bem, Satanás contra Deus (Daniel 7:21-22,25; Apocalipse 13:7; 1 Néfi 14:13).
Os princípios extraídos da Palavra de Deus nos ajudam a compreender como agir quando nossos direitos são violados.
Um Mundo de Injustiças
Este mundo é decaído, e Satanás reina (D&C 1:35). Essa é uma vida de testes e provas (Abraão 3:25), e há muita injustiça causada pelo pecado. Homens e mulheres retos sofrem devido aos pecados do mundo. O Elder Quentin L. Cook, comentou:
“Da perspectiva limitada de (…) alguém que só vê o mundo pelo prisma da mortalidade, com suas guerras, violência, doenças e males — esta vida pode parecer deprimente, caótica, injusta e sem sentido.”
Entretanto, o apóstolo acrescentou que “a Expiação cobre todas as injustiças da vida.” [1]
Nem toda injustiça será corrigida neste mundo mortal. Alguns iníquos poderão obter vantagens que são negadas aos justos. Essa aparente distorção faz parte do Plano de Deus. Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos – seus caminhos são mais elevados (Isaías 55:8-9). Há uma serie de habilidades, dons e atributivos que desenvolvemos ao passarmos por injustiças – tais como fé, paciência, esperança, empatia, etc.
O amor é a resposta para injustiça
O Elder Robert D. Hales ensinou como responder aos que nos tratam com injustiça:
“Amando. Seja qual for a raça, o credo ou a convicção política, se seguimos Cristo e mostramos Sua coragem, nós devemos amá-los. Não sentimos que somos melhores do que eles. Em vez disso, desejamos com amor mostrar a eles uma maneira melhor — a maneira de Jesus Cristo. Sua maneira leva à porta do batismo, ao caminho estreito e apertado do viver justo, e ao templo de Deus. Ele é “o caminho, e a verdade e a vida” (João 14:6). Somente por meio Dele nós e todos os nossos irmãos e irmãs podemos herdar o maior de todos os dons — vida eterna e felicidade eterna. Ajudá-los, ser um exemplo para eles, não é para os fracos. É para os fortes. É para você e para mim, santos dos últimos dias, que pagam o preço de seguir a Jesus, respondendo aos nossos acusadores com coragem cristã.” [2]
A obediência aos mandamentos de Deus nos enche de amor. O Élder John H. Groberg, que serviu na Presidência dos Setentas, disse:
“Quanto mais obedientes somos a Deus, maior é nossa vontade de ajudar os outros. Quanto mais ajudamos os outros, mais aumenta nosso amor a Deus, e assim por diante. Quanto mais desobedientes a Deus e mais egoístas formos, menos amor teremos. (…)
Quando estamos repletos do amor de Deus, conseguimos fazer, ver e compreender coisas que de outra forma não veríamos nem compreenderíamos. Quando estamos repletos do amor Dele somos capazes de suportar a dor, superar o medo, perdoar sem reservas, evitar as desavenças, recobrar as forças e abençoar e ajudar as outras pessoas de um modo que surpreenderá até a nós mesmos.” [3]
Mesmo estando cheios de amor, pode ser que a maneira certa de reagir não seja dando a outra face, pois o amor à Deus, o amor a seus mandamentos e o amor a nossas famílias, pode exigir que reajamos de maneira diversa. Explicarei.
Discernindo como reagir às injustiças
A melhor maneira de discernir como reagir é buscando o Espírito de Deus, que pode nos ensinar a verdade de todas as coisas (Morôni 10:5). Com o Espírito não podemos ser enganados (D&C 80:3).
“Quando os verdadeiros discípulos buscam a orientação do Espírito, eles recebem a inspiração adequada para tratar cada opositor. E a cada um, os verdadeiros discípulos respondem de maneira a convidar o Espírito a estar presente. Paulo lembrou aos Coríntios que sua pregação “não [consistia] em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder” (I Coríntios 2:4).” [4]
“Cremos que todos os homens devem apelar para as leis civis a fim de conseguir reparação de todas as injúrias e agravos, quando se lhes infligirem maus-tratos pessoais ou infringirem-se seus direitos à propriedade ou reputação, onde existirem leis para protegê-los; mas cremos que todos os homens são justificados por se defenderem e defenderem seus amigos e seus bens e o governo de ataques ilegais e de violações de direitos cometidos por qualquer pessoa, quando não se puder apelar de imediato às leis nem se puder obter auxílio.” (D&C 134:11)

A Lei da Guerra: lidando com a injustiça
- Se os inimigos do povo de Deus ferirem os servos de Deus e seus famílias uma vez, isso deve ser suportado com paciência, sem injuria e sem desejo de vingança. O Senhor promete uma recompensa para os que forem fiéis devido essa injustiça. Se, contudo, não houver paciência isso será considerando, perante Deus “uma medida justa”.
- Se os inimigos do povo de Deus ferirem os servos de Deus e seus famílias pela segunda vez, isso deve ser suportado mais uma vez com paciência, sem injuria e sem desejo de vingança. O Senhor promete que a primeira recompensa será centuplicada!
- Se os inimigos do povo de Deus ferirem os servos de Deus e seus famílias três vezes, isso deve ser suportado com paciência, sem injuria e sem desejo de vingança. O Senhor promete que a recompensa que já foi centuplicada será “quadro vezes duplicada”!
Agora veja. Vamos pensar em um caso hipotético, e simples. Uma moça da Igreja tem sua maçã furtada. Se ela suportar essa injustiça com paciência, sem injuriar os que a criticaram e sem desejar vingança – receberá uma bênção de Deus. Se a prática do furto de maçãs se repetir uma segunda vez, e ela permanecer fiel, sua bênção será multiplicada por 100! Essas bênçãos não estão especificadas, então, Deus pode nos abençoar como desejar – e segundo nossas necessidades.
Podemos pensar que em bênçãos tal como a cura de uma doença, um novo e emocionante emprego, a capacidade de aprender um novo idioma, a conversão de um familiar ao evangelho, e muito mais. Essa bênção seria aumentada muito mais, a cada injustiça provocada.
Conclusão
“Algumas pessoas pensam erroneamente que responder com silêncio, mansidão, perdão e ou prestar um humilde testemunho são sinal de fraqueza ou passividade. Mas, amar nossos inimigos, bendizer os que nos maldizem, fazer bem aos que nos odeiam e orar pelos que nos maltratam e perseguem (ver Mateus 5:44) exige fé, força e acima de tudo coragem cristã.Quando não retaliamos — quando damos a outra face e resistimos aos sentimentos de raiva — nós também estamos seguindo o exemplo do Salvador. Mostramos Seu amor, que é o único poder capaz de subjugar o adversário e responder aos nossos acusadores sem devolver na mesma moeda. Isso não é fraqueza. Isso é coragem cristã. (…)
Isso não quer dizer que temos que comprometer nossos princípios ou enfraquecer nossas crenças. Não podemos mudar as doutrinas do evangelho restaurado, mesmo que ensiná-las e obedecer a elas nos torne impopulares aos olhos do mundo. Contudo, mesmo quando sentimos vontade de falar da palavra de Deus com ousadia, devemos orar para estarmos cheios do Espírito Santo (ver Atos 4:29, 31). Nunca devemos confundir ousadia com a dissimulação de Satanás: o despotismo (ver Alma 38:12). Os verdadeiros discípulos falam com calma confiança, não com orgulho e arrogância.” [5]
[1] “Os hinos que eles não puderam cantar”, Conferência Geral outubro de 2011
[2] “Coragem Cristã: o Preço de Seguir Jesus”, Conferência Geral novembro de 2008
[3] “A Força do Amor de Deus”, A Liahona Novembro de 2004
[4] Idem a nota 2
[5] Idem a Nota 2
Oi, Lucas! Gostei do seu artigo até chegar no ponto “A Lei da Guerra: Lidando com a injustiça”. Da forma como você descreveu então a pessoa deve aceitar passivamente que suas coisas sejam roubadas (seu exemplo foi a moça e a maçã) e se isso ocorrer uma segunda e ainda uma terceira vez deve continuar aceitando, assim, na boa? Fiquei imaginando a cena: a moça estava para comer sua deliciosa maçã, veio um cara e a tomou; daí ela, entristecida, pega mais um dinheirinho que tinha no bolso, vai lá no mercadinho da esquina e compra outra maçã. Quando se prepara para dar a primeira mordida vem o mesmo ladrão e a toma, pela segunda vez. Novamente ela procura se ainda tem algum dinheiro e encontra algumas moedas num bolso que não mexia há muito tempo, e volta ao mercadinho adquirindo uma terceira maçã. Já faminta, olha pra todos os lados para garantir que não vai ser surpreendida e quando vai morder: bingo! O cara passa correndo e leva sua terceira maçã!! E agora, sem dinheiro e sem maçã, ela ainda não deve fazer nada a respeito? Não vai procurar uma delegacia, não vai denunciar o ladrão, vai ficar assim, eternamente sendo roubada, esperando por “bençãos” que caiam do céu?? O ladrão até vai se apaixonar por ela, pois sabe que pode a atacar o quanto quiser que sempre irá sair com algo seu!!! Depois das maçãs virão outras coisas… Olha, me desculpe, mas isso é ser trouxa! Ser Cristão não significa ser trouxa, me desculpe! Jesus ensinou: “sede puros como as pombas, porém prudentes como a serpente”. Eu poderia falar muito sobre isso mas pra não ficar extenso, vou ficar só nisso: se pensar nas características das serpentes, elas são um dos animais mais venenosos que existem, mas isso só é utilizado para DEFESA, pois ela nunca ataca, apenas se defende! E Jesus disse que devemos ser prudentes como elas, ou seja, não procurarmos problemas, não atacarmos ninguém, MASSSSSS nos defendermos! E se defender significa tomar atitude! Não deixar que os outros nos façam o mal, não revidando, mas nos protegendo. Um abraço!
Tem razão. Acho que o exemplo não foi bom. Desculpe. Eu não agiria assim. Mas veja: eu disse que a maçã foi furtada, não roubada (não houve violência e grave ameaça). Ademais, eu acho que legítima defesa é essencial. Na primeira e na última afronta precisamos nos defender. Não podemos ser passivos. Gosto de um exemplo dado pelo Elder Oaks. Ele disse:
“Como exemplo do meu conceito de lutar contra o mundo, quero contar-lhes uma experiência pessoal que nunca mencionei em público. Foi algo que aconteceu
há mais de 50 anos. Eu era sargento da Guarda Nacional de Utah, tinha completado 21 anos de idade e concluído todos os estudos necessários para qualificar-me para oficial, no posto de tenente de artilharia. Só faltava uma coisa: precisava passar no exame médico. Apresentei-me na unidade médica do exército. Os que ali trabalhavam eram da reserva, como eu, o que talvez explique o que aconteceu. Um cabo aplicou-me um teste de daltonismo. Mostrou-me umas doze páginas cheias de pontinhos coloridos e perguntou qual era o número que eu via nos pontinhos de cada página. Depois que terminei o teste, ele fechou o livro, com certa aspereza, e disse: “Sargento, você nunca poderá se tornar oficial porque é daltônico”.
Fiquei perplexo. Se eu era daltônico, tinha ficado sabendo naquele momento. Decepcionado e um pouco ofendido, decidi que se eu, que era sargento, não podia passar no exame médico para oficial, não seria rejeitado por um cabo, que era meu inferior hierárquico. Exigi que fosse atendido pelo capitão, que era médico e estava em sua mesa, do outro lado da sala. Lutei contra o sistema e fiz isso com tamanha insistência que o cabo, relutante, acabou levando-me para ver o capitão.
“Qual é o problema? perguntou o médico. Expliquei o ocorrido, e ele pegou o livro de pontinhos coloridos da mão do cabo e, para alívio meu, aplicou-me o teste pessoalmente. Depois de eu ter-lhe dito todos os números que via naqueles pontinhos coloridos, ele falou com muita franqueza para nós dois, dizendo: “Sargento, você passou no teste. Cabo, você é que é daltônico”.
Foi assim que me qualifiquei para o posto de tenente da Guarda Nacional de Utah, o que me abriu muitas portas e me proporcionou importantes experiências de vida. Há momentos em que é preciso lutar.” (Serão do SEI para os Jovens Adultos • 4 de Novembro de 2007 • Élder Dallin H. Oaks)