Muitas vezes, ao ler comentários na internet vindos de alguns dos críticos mais amargos, alienados e irados da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, lembro-me fortemente de uma passagem perto do fim de A Última Batalha, que é, por sua vez, o volume final da maravilhosa série de sete livros de C. S. Lewis, As Crônicas de Nárnia:
“Aslam ergueu a cabeça e sacudiu a juba. No mesmo instante, um maravilhoso banquete apareceu aos pés dos anões: tortas, assados, aves, pavês, sorvetes e, na mão direita de cada um, uma taça de excelente vinho. Mas de nada adiantou. Eles começaram a comer e a beber com a maior sofreguidão, mas notava-se claramente que nem sabiam direito o que estavam degustando. Pensavam estar comendo e bebendo apenas coisas ordinárias, dessas que se encontram em qualquer estrebaria.
Um deles disse que estava comendo capim; outro falou que tinha arranjado um pedaço de nabo velho; e um terceiro disse que havia achado uma folha de repolho cru. E levavam aos lábios taças douradas com rico vinho tinto, dizendo:
– Puááá! Muito bonito! Beber água suja, tirada do cocho de um jumento! Nunca pensei que chegássemos a tanto!
Mas logo cada anão começou a desconfiar de que o outro havia conseguido algo melhor que ele, e daí começaram a se agarrar e a discutir, e a briga foi ficando cada vez mais feia, até que, em poucos minutos, todos estavam engalfinhados numa verdadeira luta livre, e todas aquelas iguarias espalharam-se por seus rostos e roupas e esparramaram-se pelo chão.
Mas quando finalmente se sentaram de novo, cada qual esfregando seu olho roxo ou o nariz sangrando, começaram a dizer:
– Bem, pelo menos aqui não há nenhuma trapaça. Não deixamos ninguém nos levar no bico. Vivam os anões!
– Viram só? – disse Aslam. – Eles não nos deixarão ajudá-los. Preferem a astúcia à crença. Embora a prisão deles esteja unicamente em suas próprias mentes, eles continuam lá. E têm tanto medo de serem ludibriados de novo que não conseguem livrar-se.”

Presos pela desconfiança
Essas palavras sempre me vêm à mente quando leio certos comentários e críticas raivosas sobre a Igreja. Assim como os anões da história de Aslam, muitos desses críticos estão diante de um banquete espiritual, mas acreditam estar cercados apenas de feno e sujeira. O Evangelho está diante deles: belo, abundante e cheio de luz, mas sua amargura os impede de saboreá-lo.
Eles se julgam sábios, cautelosos, “imunes ao engano”, e por isso recusam tudo o que poderia curá-los ou alegrar-lhes a alma. Estão presos não por muros, mas por pensamentos. Sua cela é feita de desconfiança. Como disse Aslam, “eles não nos deixarão ajudá-los”. Quando escolhem a astúcia em vez da fé, o orgulho em vez da humildade, fecham-se para o Espírito.
O convite do Salvador para “ouvi-Lo” é constante. Ele fala através das escrituras, dos profetas, das experiências pessoais e das simples impressões do coração. Mas quem se recusa a ouvir só escuta o eco de sua própria descrença.
Assim como os anões em A Última Batalha, muitos olham para a luz e insistem que ainda estão na escuridão. Cristo os chama com amor, oferece-lhes o banquete do arrependimento e da paz, mas, por medo de “serem enganados”, recusam-se a provar o vinho do Espírito. E, no fim, acabam provando apenas a amargura que criaram para si mesmos.
Mas e se, em vez de recusarmos a ajuda do Salvador como os anões, escolhêssemos dar à fé o benefício da dúvida?
Quando escolhemos acreditar, mesmo sem entender tudo
A autora Claire Kennedy contou que sua primeira oração não foi para desafiar Deus, mas para pedir o desejo de acreditar. Ela não pediu provas, pediu um coração disposto. E foi por meio dessa simples oração que descobriu a verdade de que o evangelho e a Igreja de Jesus Cristo haviam sido restaurados na Terra.
O presidente Russell M. Nelson ensinou que “a fé é o maior poder que temos à nossa disposição nesta vida”. Ainda assim, muitos de nós a trocamos por ceticismo, como os anões que escolheram “a astúcia à crença”. A fé não exige que tenhamos todas as respostas, exige apenas que confiemos Aquele que as tem.
Claire Kennedy nos lembra que as dúvidas não precisam limitar nossa fé. Quando as encaramos como oportunidades de crescer, elas se tornam “tijolos espirituais que edificam nosso testemunho”. Em vez de olhar para o banquete e enxergar palha, podemos escolher ver o milagre — ainda que não o compreendamos totalmente.

A liberdade está em acreditar
Assim como ela, podemos seguir alguns passos para “ouvi-Lo” mesmo quando o mundo grita o contrário:
- Começar pelo desejo. “Orar pelo desejo de acreditar”, escreveu Claire, “aumenta nossa fé na crença de que nossas perguntas podem e serão respondidas” (ver Alma 32:27).
- Compreender quem somos. Quando lembramos que somos filhos amados de Pais Celestiais, reconhecemos que Deus deseja o nosso bem — e que Ele quer nos guiar.
- Ser paciente. Nem todas as respostas vêm de imediato. Às vezes, o Senhor apenas nos sussurra: “Tenha paciência. Confie em Mim.”
- Dar poder à fé, não à dúvida. Como ensinou o Élder Dieter F. Uchtdorf, “duvidem de suas dúvidas antes de duvidarem de sua fé”.
- Escolher acreditar. O presidente Nelson aconselhou: “Se tiverem dúvidas, escolham acreditar e permaneçam fiéis. Estudem com o desejo de crer e permitam que o Senhor os oriente em sua jornada espiritual.”
Quando damos à fé o benefício da dúvida, permitimos que o Salvador abra nossos olhos para o banquete diante de nós. E, de repente, o que antes parecia apenas feno e água turva revela-se pão da vida e vinho da alegria.
Cristo continua a nos chamar, mesmo quando não queremos ouvi-Lo. Ele não força, apenas convida. E quando finalmente O ouvimos, descobrimos que a liberdade que buscávamos sempre esteve ao alcance de uma simples escolha: acreditar.
Fonte: Meridian Magazine
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