Este artigo foi escrito por Selena Aravena de Andrade.
Eu nasci e fui criada na Igreja de Jesus Cristo. Meus pais e minha família são membros fiéis, e nós moramos no Brasil. Minha família tem uma história profunda na Igreja — foram pioneiros no estado de São Paulo. Tive pais incríveis, que também eram líderes na Igreja, e cresci totalmente imersa na vida da Igreja. Passei pela Primária, pelas Moças e, aos 16 anos, tomei a decisão de sair da Igreja.
Eu nunca tinha desenvolvido um testemunho próprio. Minha fé era baseada nas crenças dos meus pais, não nas minhas. Eu tinha dificuldades com certos ensinamentos da Igreja, especialmente com a forma como as mulheres eram tratadas. Achei difícil continuar, então, quando me formei no ensino médio e no seminário, aos 16 anos, eu tinha certeza — eu iria sair. E saí.
No começo, achei que finalmente estava experimentando a liberdade pessoal, que podia ser quem eu realmente era, sem restrições. Mas eu não estava preparada para o quanto tudo se tornaria difícil. Comecei a beber, usar drogas, ir a festas e me cercar de pessoas que eu não deveria. Achei que estava vivendo a vida do meu jeito, mas, na verdade, eu estava perdida.
Um chamado que eu não pedi
Sempre tive uma relação muito próxima com meu pai. Então, quando contei a ele que me mudaria para os EUA para cursar a universidade, ele ficou preocupado. Um dia, enquanto conversávamos na cozinha, senti algo que não sentia há muito tempo — o Espírito Santo. E foi claro: eu deveria servir uma missão.
Meu pai sentiu o mesmo. Em voz alta, ele disse: “Você devia servir uma missão. Eu sei que você está sentindo o que eu estou sentindo.” Mas eu neguei. Eu não queria voltar para a Igreja. Não queria mais aquela vida.
Fui para os Estados Unidos e morei com minha tia e sua família, todos os membros da Igreja. Minha mãe foi comigo no primeiro mês para me ajudar a me instalar e, durante esse tempo, decidiu que queria visitar todos os templos da Califórnia. Minha família ficou animada com a ideia, então fui junto — não porque me importava, mas porque queria passear.
No começo, era só mais uma viagem para mim, mas eu sabia que minha família estava orando por mim. E eu podia sentir isso.
Tudo mudou no Centro de Visitantes do Templo de Oakland. Conheci duas missionárias lá e, durante a conversa, mencionei que minha melhor amiga estava servindo missão no Brasil. E então, pela segunda vez, senti — o Espírito Santo me dizendo que eu deveria servir uma missão. De novo, ignorei.

A resposta que eu não conseguia negar
Quando completei 18 anos, decidi voltar ao Brasil para ajudar a cuidar da minha avó doente. Ainda não estava frequentando a Igreja.
Um dia, meu bispo me ligou e pediu para eu ir à reunião de domingo. Eu aceitei. Quando cheguei, ele me chamou de lado e me levou ao escritório. Fez uma oração e, sem hesitar, começou a falar exatamente sobre como eu estava me sentindo. Disse que sabia que eu estava cansada das pessoas me dizendo para servir missão, que eu nem ia mais à Igreja e tudo isso estava me frustrando. Ele entendia.
Mas ele olhou para mim e disse: “O Senhor te ama. Ele precisa de você.” E, pela primeira vez, eu não consegui negar.
Fizemos metas pequenas — frequentar a Igreja, parar de beber, começar o Instituto. E, quando percebi, já tinham se passado dois meses.
Então, um dia, li minha bênção patriarcal, algo que eu já sabia de cor. Mas, dessa vez, vi algo que nunca tinha notado antes: “Você deve prestar testemunho a todos os seus parentes, pessoas e montanhas.” E, mais uma vez, senti — eu precisava servir uma missão. Mas, ainda assim, eu não queria.
Conversei com meu pai, e ele disse algo que me marcou: “Nem todo mundo recebe tantas respostas quanto você.” Ele estava certo. Eu nem tinha perguntado, mas Deus continuava me respondendo.
Finalmente, sentei no escritório do meu bispo e disse: “Eu preciso servir uma missão.” Ele sorriu e me contou que, da primeira vez que me chamou para conversar, já tinha se preparado para me dizer que o Senhor queria que eu me preparasse para servir.
E eu comecei a chorar.

Do meu testemunho ao meu segundo desvio
Me preparei e fui chamada para servir na Missão Brasil Juiz de Fora. Servi com honra e de todo o coração. No começo, não entendia por que estava ali, mas sabia que um dia entenderia. Foi na missão que ganhei meu testemunho da Igreja, do Livro de Mórmon e da Restauração.
Quando voltei para casa, alguns meses depois, começou a pandemia. Foi um tempo difícil para todos. Trabalhei vendendo testes de COVID-19 e fiquei tão ocupada que comecei a faltar às reuniões de domingo. Não tinha chamado, e mesmo tentando focar no evangelho, eu não estava forte o suficiente.
Um ano e meio depois, eu estava afastada da Igreja novamente.
Comecei a namorar um homem católico e fomos morar juntos. Mas, em 2024, decidimos nos casar — porque eu tinha tomado a decisão de voltar para a Igreja.
Agora, um ano depois, estou me preparando para voltar ao templo.

A dor que me trouxe de volta ao lar
Nem consigo descrever a dor que senti quando estava longe de Deus. Eu não precisava que ninguém me julgasse — eu era meu pior julgamento. Sentia como se tivesse sido deixada de lado. Mas, no fundo, eu sabia que precisava colocar minha vida em ordem. Eu sabia que precisava me arrepender. E não consigo colocar em palavras a paz e o amor que senti quando o fiz. Foi como voltar para casa. Porque é isso que o evangelho sempre foi para mim — lar.
Estou longe de ser perfeita, mas sou eternamente grata pelo evangelho restaurado na Terra, pela Expiação do Salvador e pelo dom do arrependimento.
Eu voltei para casa porque meu Pai me chamou. Senti isso de todas as formas possíveis — nos ossos. E agora, eu sei que Ele quer que eu fique até nos encontrarmos de novo.
Houve momentos em que me senti abandonada, inútil, impotente e indigna. Mas esses sentimentos não vinham de Deus. Eram apenas minha própria miséria e pecados refletindo de volta para mim.
Dou meu testemunho de que todos nós somos chamados a voltar para casa — para a Igreja de Jesus Cristo, para o evangelho, para Deus. Este é o evangelho restaurado de Jesus Cristo na Terra. Estamos todos nessa jornada juntos. Jesus Cristo vive. Ele nos ama. Ele caminha conosco a cada passo do caminho. E mesmo quando nós o deixamos, Ele nunca nos deixa. Estamos gravados em Suas palmas.
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