Pergunta

Sempre me perguntei o que aconteceu com as dezesseis pedras de luz tocadas pelo dedo do Senhor para o Irmão de Jared. Não consigo encontrar nada nas escrituras. Algum profeta já comentou sobre isso?

Resposta

Esta é mais uma daquelas perguntas para as quais realmente não temos uma resposta definitiva.

Quando o Senhor ordenou aos Jareditas que construíssem embarcações para atravessar o “mar tempestuoso”, Ele deixou claro que fontes convencionais de luz não seriam suficientes. Elas não poderiam ter janelas, que seriam “quebradas em pedaços”, nem poderiam “seguir pela luz do fogo” (Éter 2:23–25). 

Diante desse dilema, o Irmão de Jarede demonstrou tanto engenhosidade quanto humildade. Ele “fundiu dezesseis pequenas pedras; e elas eram brancas e límpidas, como vidro transparente”, e suplicou: “com teu dedo toca estas pedras, ó Senhor, e prepara-as para que brilhem na escuridão…para que tenhamos luz enquanto cruzarmos o mar” (Éter 3:1, 4).

Em resposta, o Senhor tocou as pedras, imbuindo-as de luz divina. Quando o Irmão de Jarede viu o dedo do Senhor, “o véu foi retirado de seus olhos” e ele recebeu uma visão extraordinária do Senhor e de todas as coisas que haviam sido e que seriam sobre a Terra. 

Esse encontro tipifica o princípio de que os esforços humanos e a intervenção divina atuam juntos, com Deus ampliando a iniciativa fiel.

Um dos aspectos mais significativos desse episódio é o equilíbrio entre o arbítrio e a graça de Deus. O Senhor não especificou como o problema da luz deveria ser resolvido, mas perguntou

“O que quereis que eu prepare para vós?” 

Isso apresentou um desafio: agir com fé, usar o intelecto e o esforço, e então recorrer a Ele. A solução do Irmão de Jarede — fundir pedras e pedir poder divino — tornou-se o meio para um milagre.

Buscar a ajuda Deus

Hugh Nibley, renomado pesquisador e santo dos últimos dias, observa: 

“O homem não pode se salvar sozinho, e ainda assim Deus requer que ele realize atos de obediência que exigem cérebro e força antes que Ele o ajude”. 

O padrão é instrutivo: quando fazemos tudo o que podemos, o Senhor intervém para fazer o que não podemos.

Céticos às vezes descartaram as pedras de luz dos Jareditas como fantasiosas ou sem sentido. No entanto, uma análise mais atenta de fontes antigas revela a presença surpreendente de lendas semelhantes — pedras e pérolas luminosas que fornecem luz em tempos e lugares de profunda escuridão.

Tradições judaicas e do Oriente Próximo apresentam semelhanças marcantes com o relato Jareditas. Algumas fontes relatam que Deus forneceu a Noé uma pedra ou pérola luminosa para iluminar a Arca durante o dilúvio. 

Em alguns textos judaicos, é descrito que, quando “o Senhor disse a Noé para construir… a arca”, ele recebeu instruções de colocar uma pedra preciosa ou cristal no interior, que “brilharia à noite e se apagaria durante o dia”, permitindo a Noé marcar a passagem do tempo. 

Isso se relaciona com o misterioso “sôhar” de Gênesis 6:16, palavra traduzida como “janela” ou “luz”.

Outros relatos de pedras de luz

Outras tradições mencionam maravilhas semelhantes. O relato de Jonas descreve, em algumas fontes rabínicas, como “uma pérola suspensa dentro do peixe” iluminava a estadia de Jonas nas profundezas. 

Fontes mandeanas, árabes e até algumas cristãs falam de pérolas e cristais que irradiam luz divina, muitas vezes servindo como guia, revelação ou proteção em circunstâncias perigosas e escuras.

O motivo das pedras de luz não termina com a narrativa Jaredita. No Israel bíblico, os misteriosos Urins e Tumins — objetos usados por sacerdotes para receber revelação — são considerados por algumas tradições como pedras brilhantes. 

Escritos cristãos antigos, como os de Efrém da Síria, também associam pérolas e gemas à luz, conhecimento e presença divina.

As instruções do Senhor ao Irmão de Jarede uniram o motivo das pedras luminosas às tradições posteriores das pedras “intérpretes” sagradas.

Como parte do relato Jaredita, o Senhor dá ao Irmão de Jarede “duas pedras… para selá-las também com as coisas que escreverdes”, prometendo que “essas pedras ampliarão aos olhos dos homens as coisas que escrevereis”, conectando o conceito de “pedras de luz” tanto à luz literal quanto à luz da revelação. 

Esse vínculo surge em escrituras posteriores, como na promessa de que aqueles que vencerem receberão uma “pedra branca” como Urim e Tumim (Apocalipse 2:17; Doutrina e Convênios 130:10–11).

Para estar próximo do Senhor

Além disso, as pedras de luz servem como um fio de luz que conecta temas de revelação, simbolismo do templo e o processo pelo qual os humanos se aproximam do divino.

O Monte Shelem, onde o Irmão de Jarede moldou e apresentou as pedras, é significativo em si mesmo. A Bíblia e o Livro de Mórmon aponta para montanhas como locais sagrados para revelação — lugares onde profetas se encontram face a face com Deus. 

Esse padrão aparece nas experiências de Moisés, Néfi e até do próprio Cristo. Assim, as ações do Irmão de Jarede tornam-se, de certa forma, um “padrão de templo”: subida ao solo sagrado, confronto com os limites da mortalidade e recebimento da luz e presença de Deus.

A história das pedras que dão luz nas embarcações, por vezes, foi ridicularizada por seu sobrenaturalismo. Mas, como John Tvedtnes observa, 

“A ideia de pedras que brilham no escuro pode parecer estranha para a mente moderna, mas tais crenças eram comuns em tempos antigos.” 

Existem diversas tradições do antigo Oriente Próximo, do folclore judaico medieval, em textos cristãos e até lendas árabes de pedras, cristais e gemas que forneciam luz, conhecimento ou proteção pelo poder de Deus.

Portanto, embora o destino físico das dezesseis pedras permaneça um mistério não revelado nas escrituras, seu verdadeiro valor não está em sua localização, mas no que aprendemos com a experiência do irmão de Jarede. 

Elas são um testemunho da fé que busca soluções, do poder de Deus para ampliar nossos esforços e da luz — tanto literal quanto espiritual — que Ele oferece àqueles que O buscam na escuridão.

Fonte: Ask Gramps

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